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31 de agosto de 2008

Trâmites da economia

por Carolina Fellet

Eu sou extremamente adaptável às variações da economia.
Se você está acostumado a lidar com essa moeda, não se preocupe, sou altamente contemporizável a ela.

Terminar na solitária

por Carolina Fellet


Não sei para que ter um companheiro,
Ainda que escolhido a dedo.


Em vez de flores,
Boa programação,
Aprendizado,
E perfume original,
A necessidade de se aniquilar.


Entupir-se de hormônios,
Para saciá-lo e não engravidar;
Falar bem baixo para evitar vexame;
Maquiar-se sempre;
Penteado em dia;
Depilação exímia.


Em vez de prazeres intempestivos,
Uma mensagem atrevida.
Ou uma ausência,
Uma indiferença própria do invisível.


Não sei para que ter um companheiro.
Se é sempre um indivíduo,
Do mesmo jeito,
Irredutível e cheio de tique da cultura da casa dele.


Um cara que não se reinventa
E nem tenta,
Porque sabe que será um fracasso.


Todo mundo tem um companheiro.
Será que é para tirar um bom proveito,
E saciar as demandas primárias,
Sem que termine na solitária?

20 de agosto de 2008

Seja um funcionário público! Salário inicial de R$3579834798,00

Por Carolina Fellet

Os chimpanzés e os seres biônicos –
Estes mantidos a tecnologias para se embelezar,
Para se informar,
Para se higienizar –
Possuem a característica vitalícia que consta no DNA,
E que implica o instinto de sobrevivência.


Enquanto os primeiros se matam para saciar os instintos primários,
Os últimos se matam para saciar os instintos primários.

E para que isso seja possível hoje,
É preciso ingressar-se no funcionalismo público.


Ainda que você faça um curso técnico de corte e costura no Senac,
Não perca tempo:
Assim que sair o edital para o concurso de costureiras do Senado,
Inscreva-se.

16 de agosto de 2008

Marmitex

Por Carolina Fellet

Olimpíadas em Pequim,
A beleza biônica de um saradão,
Declaração de amor que deveria ser inviolável,
De repente,
Disseminada no Orkut.


Metástase,
Quanta metástase.
Vamos curar essa patologia dos excessos.


Prefiro a moda dos monges reclusos
A essa exposição com superestima.
Ahhhhhh
Uhmmmmmmm,
Respire fundo.
Vamos meditar!
Você consegue ser politicamente incorreto,
E não usar piercing,
Dispensar a tatuagem,
Prescindir do encher a cara.

Nesta mistura estão todas as minhas químicas de protesto:
Do presidente ao caso de incesto na província,
Da decadência literária ao cheiro de xixi em Juiz de Fora,
Do beijo que eu não lhe roubei em momento oportuno
À briga que não causei em hora imprescindível.


As matérias dos telejornais do SBT são muito curtas,
E o jeito aleatório do Silvio Santos me alegra.


A seriedade estúpida de quem é sério
E desconhece que se é perecível me incomoda.
E muito.


10 de agosto de 2008

Você vem sempre aqui?

Por Carolina Fellet

Carona depois de um bate-papo falsamente despretensioso.
Três dias de avidez,
Quase um inventário de angústias.
Mas, antes que ele acontecesse, o telefonema:
- Garota, adorei conhecê-la.
A gente pode fazer alguma programação nesta quinta-feira.


Premeditados.
A fim de não dar foras,
De surtir boas impressões
E reverberar a sensação de entusiasmo incipiente.

Saem amiúde,
Até o momento em que se sentem despidos do zelo,
E, portanto, à vontade e leves,
Com a espontaneidade parida pelo convívio.