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29 de abril de 2010

por carolina fellet

Arrependimento às vezes vem após uma palavra dita e já diluída pelo tempo e transformada em pó de asfalto.
Imagine diante de uma tatuagem: aquele borrão multicolorido o perseguindo como um pavão sempre aberto.

28 de abril de 2010

Sobre a timidez

por carolina fellet

Tímidos são, a princípio, grandes presunçosos. Eles acham que o mundo está sempre prestando atenção neles. Daí, qualquer tropeço poder ser fatal.

27 de abril de 2010

por carolina fellet

Papai está com suspeita de dengue. Para a confirmação, o médico pediu-lhe um exame de sangue. Hoje cedinho, uma técnica do laboratório veio à minha casa realizar a coleta. Quando olhei a maleta dela cheia de sangue, pensei nos morcegos que rondam meu bairro.

26 de abril de 2010

Fila

por carolina fellet

Fila é um bom lugar para destrinchar o comportamento humano. Uma hora de fila dá para levantar hipóteses a uma futura teoria da psicologia.
.....
Meu campo visual engloba um casal que, pela fisionomia, está se desentendendo. Aciono minha atenção e aproximo os dois de mim, como um pescador com sua rede que fisga peixes no mar. De repente, descubro que o motivo da rixa é banal: ela quer fumar um cigarrinho e ele não quer que ela fume. O rapaz não está se preocupando com os efeitos nocivos do tabagismo, e sim em se firmar macho, vigilante e sobressalente. Por isso, ele toma o cigarro da mão da companheira, joga-o no chão e pisa-lhe reduzindo todas as possibilidades do prazerzinho da amada.
Ambos saem da fila que os levaria à boate carregando consigo uma promessa de discórdia.
Pequenos episódios que trazem à tona farelos de primitivismo.

Noitada e a outra dimensão

por carolina fellet

Muros de rímel,
Gloss,
Blush,
Cool Water®.

Casais se desentendendo.
Consciência tecnologicamente alterada.

Tudo impelido pela gravidade da volúpia.

O vestido mais sexy,
O vocabulário mais malicioso,
O beijo mais molhado.

Outra dimensão.

No regresso,
Perna quebrada,
Cara ralada,
Todo âmago muito machucado.

Segunda-feira.

25 de abril de 2010

por carolina fellet

Quando Francisca fez 17 anos, ganhou de presente um bolo enfeitado por uma foto de seu rosto impressa em papel comestível. A princípio, adorou a ideia. Porém, quando presenciou todo mundo comendo sua imagem, sentiu-se vulgar.

22 de abril de 2010

por carolina fellet

É muito agressivo o cheiro da sua evacuada sair do banheiro rumo às narinas de quem está/vive à sua volta.
Queria ter as rédeas dos odores.

Juiz de Fora, 22 de abril de 2010

por carolina fellet

Há dias, principalmente quando a família se reúne durante o feriado ou fim de semana no mesmo ambiente, em que sentimentos e pensamentos ficam latentes. Apenas ímpetos vêm à praia... Todo o resto fica num submarino.

Dupla

por carolina fellet

O grande potencial do abacaxi – seu sabor – só existe porque há um paladar que lhe fica à espera. O azul do céu é a visão de quem o vê. A voz é a exploração de uma área da audição.
A vida vem sempre em dupla.

Salamandra siberiana

por carolina fellet

Diante desta miscelânea de ideias que trafegam na minha consciência, um assunto recém-chegado tem me tomado a atenção. É a salamandra siberiana. Ela vive até sob - 40ºC e, curiosamente, congela-se por um período, deixando todas as suas atividades biológicas em “stand by”. Depois volta à vida como alguém que saiu para comprar pão e em quinze minutos está em casa de novo.
Como é que acontece esse controle? On. Off. Salamandra viva. Salamandra em coma. Salamandra viva. Salamandra em coma.
Embora alguns não percebam, tudo é puro desconhecimento.

21 de abril de 2010

Escrever não seca

por carolina fellet
Desde meus contatos incipientes com as letras, enxerguei nelas um atalho que me levava ao “extrapolar”.
De repente, conseguia extravasar através de cartinhas que escrevia à vovó e a toda família. Oficializaram-me como a escrevente dos “Fellet”. Até hoje sou eu quem assina cartões de aniversário, casamento e comemorações que acontecem no meu antro.
Fugindo desse percurso mais informal da escrita, quis fazer uma rota mais formal, a fim de participar de concursos literários e algumas publicações.
Isso, depois de ter sentido, subitamente, uma forte dor no peito no meio de uma madrugada. Porque, a partir desse episódio, comecei a vislumbrar eternidade na vida; o que me pareceu muito promissor para as letras.
Tudo me parecia incessante. Durante uns cinco anos, destrinchei as frutas, os céus, os sons e a metafísica, enfim.
Passada essa temporada, gradativamente, fui me cansando do tema.
Cheguei a pensar que ele era finito e que, portanto, meu grande prazer de escrever estava ameaçado.
Curiosamente, não tive medo.
Meus escritos ficaram meio ralos durante alguns meses, embora vivos.
Algum tempo se passou desse quase-coma e, involuntariamente, a matéria-prima dos meus textos alterou sua natureza.
Abdiquei-me de assuntos transcendentais – como a flor que abre mão de sê-lo e segue rumo à condição de fruto – e me inclinei ao saldo dos diálogos que mantenho com as pessoas e à observação e ao efeito das circunstâncias que interceptam meu dia a dia.
Escrever não seca!
por carolina fellet

Ojeriza a relações que caem no esquema dos ratos. Hora para telefonar para o amante, hora para ir à casa da sogra, hora para o entretenimento, hora para o beijo de língua, hora para o sexo. Buquê no dia seguinte.
Um pouco de incerteza é imprescindível para que um relacionamento valha a pena. Porque ter sempre uma boca a postos, um abraço o esperando, uma lascívia... Vira rotina. E desta todos se cansam muito rapidamente.
Interessante é: será que ele vai me ligar no sábado? Ligo ou não ligo para chamá-lo para o cinema? Meu beijo foi bom? Acho que a língua poderia ter trabalhado com mais esmero.

18 de abril de 2010

Cólica menstrual

por carolina fellet

É tão transcendental a tal da cólica menstrual.
O corpo que a recepciona segue seu curso e suas obrigações biológicas e, subitamente, é interceptado pela dor da eliminação de um óvulo. Promessa de vida que se vai e nos acena do vaso sanitário.

15 de abril de 2010

por carolina fellet

Pessoas marcantes são atemporais. Se elas nasceram em 1930 ou no século XXI não importa. Elas não se restringem ao tempo em que vivem. Vão além. Vão muito além.
por carolina fellet

Mamãe sempre me ensinou a compreender as pessoas e seus respectivos defeitos. A intenção era me modelar conforme as proporções da bondade.
No percurso dessa minha temporada pela vida, vou encontrando desafetos e intempéries.
De repente, toda a domesticação feita pela mamãe é testada.
Penso e repenso.
Contratempos são importantes para que nos atentemos a nossas próprias reações e descubramos o divino que nos habita.

13 de abril de 2010

por carolina fellet

Sob algumas perspectivas, escola emburrece.
A relação que o aluno desenvolve com o livro, por exemplo, a qual é incitada pelos professores, é falha, uma vez que aquele deve extrair deste citações e citações, a fim, principalmente, de complementar resposta de prova.
Ora! Ficar perscrutando livro para repetir o que lhe está escrito não faz jus à inteligência. Ao contrário, engessa a atividade do pensamento.
O barato da leitura é processar-lhe o conteúdo na tentativa de desenvolver a própria dicção. Seja no pensamento, na fala. Seja na comunicação, enfim.

Biópsia, eletro e afins

por carolina fellet

Para a medicina moderna, a biópsia é como o deus todo-poderoso que decide o destino das almas: foi bonzinho e pagou impostos, vai para o céu; foi mauzinho e não cedeu o assento para o velhinho no ônibus, vai para o inferno.
Se se der um espirro, imediatamente, o doutô lhe falará: “vou recolher esse material e enviá-lo à biópsia”.
Independente de o resultado ser bom ou ruim, o paciente se sente um tanto quanto glamourizado por ter feito esse exame. Dá status dizer aos amigos num evento social: “cara, fiz uma biópsia”. Equivale a dizer “tenho um Chrysler” a uma loira gostosa.
O mesmo acontece com o eletro.
Principalmente se um jovem o fizer. A adrenalina que gira em torno da feitura de um eletro vai além do frisson de se voar de asa-delta.
Caso um playboy queira contar vantagem a um amigo, nada mais eficaz que dizer a este: “manu, fiz um eletro”. Isso é mais potente que revelar ter comido 15 piriguetes no JF Folia.
Por fim, tem o tal do Rivotril® 2mg, né?!
Que convulsão marítima será essa que ninguém consegue conter por conta própria?
É preciso um freio biônico à tristeza e a sentimentos afins.
Antigamente, tristeza era matéria-prima indispensável aos poetas e pensadores.
Hoje ela é reprimida à beça.
Quanto protesto à Natureza.

12 de abril de 2010

por carolina fellet

Sábado à noite todo mundo quer desencalhar. Maluzinha põe o vestido que já veio com a Pombagira da loja e vai para a balada. Duduzinho chega na janela para paquerar as transeuntes. Vovô Reinaldo capricha na escovação da dentadura para sair com a viúva do coronel Silveira.
As virgens suspiram por seus amores platônicos da televisão.
No domingo bate aquela ressaca da sem-vergonhice.

O grau de civilidade

por carolina fellet

Não sou nenhuma expert em se tratando de relação amorosa. Até pela data de minha estreia nela: o primeiro beijo só aconteceu aos 17 anos.
Porém, hoje, à beira dos 25, já posso trazer à luz um item imprescindível a um pretenso parceiro: seu grau de civilidade.
Trogloditas que desejam consumir suas presas com a velocidade de um “fast-food” me repelem profundamente.
Se o ambiente onde vivo e por onde costumo passar fosse povoado por rapazes dessa estirpe meramente, eu iria canalizar meus instintos para a caridade e para pesquisas profundas sobre temas que me interessam.

9 de abril de 2010

por carolina fellet

Onça e sua respectiva braveza
Lesma e sua textura molenga
Bem-te-vi e sua acústica
Eu e minhas naturezas misteriosas.

A quitanda e o divino

por carolina fellet

Desde que meus olhos – não os olhos-órgãos, e sim os superolhos da alma – se afiaram para vislumbrar grandiosidade na vida, passei a achar quitanda uma morada de Deus.
Isso porque ela é um antro de cores, texturas, aromas e formas.
A melancia e sua genética generosa, por exemplo, transportam minha imaginação para a origem da vida.
De onde vêm as cores?
As formas?
E os aromas e texturas?

8 de abril de 2010

Revista do Faustão e a descoberta da decepção

por carolina fellet

Quando eu era criança, sempre que mamãe saía para a rua, ela me trazia um agrado. Docinho de carroça, bloquinho de anotação, bolsinha da Hello Kitty.
Certa vez, o presente veio em um envelope. Imaginei que fosse um papel de carta. Mas mamãe negou que o fosse. Ainda ficou fazendo mistérios com o embrulho.
Minha expectativa já estava quase supurada quando ela me autorizou a abrir o agrado. Subitamente, a quebra de expectativa: era uma revista do Faustão. ... ... ...
Preenchendo um formulário que vinha anexado a ela, concorria-se a um caminhão cheio de eletrodomésticos.
Pergunta:
De que forma um fogão, uma geladeira, uma máquina de lavar roupas poderiam alegrar uma criança?
Naquele dia, senti a química da decepção no meu corpo.
Nunca mais fui a mesma!

Teoria para os carecas

por carolina fellet

Tenho uma teoria para os carecas. Bem sei que, toda vez que se lança um palpite sobre algum tema, fica-se sujeito a uma palma de mão ávida para dar um tapa na cara alheia.
Tudo bem. Ofereço-lhe aqui uma bochecha.
...
Para estar bonito, o cabelo demanda hormônio. Prova disso são alguns anticoncepcionais que não só blindam a mulher contra gravidez, mas também lhe favorecem o viço das madeixas.
Então, se um homem é calvo, muito do hormônio que lhe seria destinado ao cabelo, poderá se concentrar na região pélvica.
Já fico imaginando a parceira desse careca.
Fatigada de tanto copular.

7 de abril de 2010

por carolina fellet

Seriedade é estupidez.
Porque
Cada aurora significa 1 cm
De maior proximidade com a cova.

Legal
É usufruir dos sentidos
Interagindo com o Cosmo
E processando informação.
por carolina fellet

Sou a procuradora da mamãe. Quando ela não está em casa sou eu quem põe a mesa, lava a louça, esquenta o leite e descasca o mamão.
Ô, vida!

6 de abril de 2010

por carolina fellet

Um metro e oitenta centímetros.
Para mulher, é bonitinho na passarela. Como transeunte, porém, fica parecendo girafa foragida do zoológico.

5 de abril de 2010

Opinião

por carolina fellet

Fórmula 1 é o esporte mais sem-propósito que tem. Sob uma velocidade biônica, pilotos disputam quem será o vencedor da corrida. As onças com suas respectivas velocidades merecem respeito, porque correr, no contexto delas, não é antinatural. Já os pilotos...

4 de abril de 2010

por carolina fellet

Meus escritos ganharam sustância a partir do dia em que senti uma enorme dor no peito. Desde então, comecei a vislumbrar eternidade na vida.

3 de abril de 2010

Oftalmologia

por carolina fellet

Por muito tempo achei que o efeito das coisas sobre mim fosse diretamente proporcional a meu empenho com elas. Se eu amasse alguém, portanto, ele me amaria sob a mesma voltagem de sentimento. Porém, cresci e este processo levou consigo um pouco da minha miopia. Bem sei, hoje, que sentimentos não podem ser colocados em equação.
por carolina fellet

Já me embebedei de um único ímpeto. E a ressaca foi exageradamente duradoura.

Sobre a carência

por carolina fellet

A visão por si só se sustenta. Não é preciso que eu recorra a um auxílio externo para que ela enxergue. Com outros órgãos isso também acontece. O coração pulsa por conta própria. O fígado metaboliza o que lhe chega.
No entanto, na seção do invisível, existe uma frota que depende de um combustível extrínseco para sair do nosso corredor de hospital. É a tal da carência.

2 de abril de 2010

por carolina fellet

Tantos vivem em outra dimensão,
Para evitar pecados e enganos dessa Vida.

Abdicam-se dos prazeres,
De pequenos (e necessários) deslizes
Para serem ovacionados na temporada celestial.

Ficar levando vidinha de alma –
Arrasta daqui para lá –
Não me parece muito interessante
Quando ainda se é matéria.

1 de abril de 2010

por carolina fellet

Em se tratando de mulheres, a gravidez é o grande boicote à galinhagem.