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21 de dezembro de 2009

O Alheio

por carolina fellet

Saí quieta e vazia para a rua.
Vi uma moça tomando suco de açaí.
ARGH!
Aquilo tem cor e textura de esgoto.

Pelo menos, preenchi-me com uma reação:
Ojeriza.

Saí quieta e vazia para a rua.
Um senhor com quem cruzei
Tinha olhos de fígado que trabalha mal.
Eles eram amarelados.
Fiquei pensando na cruz daquele homem.

Depois, passaram por mim:
Duas moças voluptuosas,
Um hippie-ressaca dos anos 70,
Um corcunda carregando verduras
E um jurista empedernido com seus processos.

Haja matéria-prima para minhas refeições diárias.

20 de dezembro de 2009

por carolina fellet

Durante uma fase do ano ela só vomita. Excede-se na dieta durante 365 dias e, num momento, o organismo se cansa de metabolizar empada, churros, rabanada.

17 de dezembro de 2009

Reprovada em Educação Física

por carolina fellet

Nunca havia tido problema com as matérias da escola. Matemática, média sete e meio, mas jamais no vermelho. Certo dia, sem prenúncios, um pessoal alto, musculoso e queimado de sol entrou na sala de aula de Ana Irene e apresentou a ela e a seus coleguinhas, que tinham entre oito e nove anos, uma tal de Educação Física.
Já era sabido entre a família da garotinha que o instinto de sobrevivência dela era demasiado. Ana Irene tinha medo de altura, de piscinas e mares, de pegar carona com pai de amiga que andava a mais de 60 Km/h.
Dona Ivete, mãe de Irene, achava que a filha tinha medo da vida, e temia que a menina estagnasse, enquanto suas contemporâneas estivessem progredindo.
Na cabecinha de Aninha, participar de um esporte que envolvesse bola era infringir a autoproteção inerente à condição humana. Principalmente quando o alvo eram os próprios corpos das pessoas participantes da disputa, como acontece nas queimadas.
Por isso, por mais que ela se destacasse nas redações extraordinárias que escrevia, teve que repetir um ano na escola por não frequentar as aulas de Educação Física.

Vingança é um prato que se come frio?

por carolina fellet

Soube de um noivo que estava a um mês do casório e descobriu que sua noiva o traía com um amigo dele que lhe seria padrinho de casamento. Até chegar ao altar, nenhum mosquito entrou na boca do aspirante a marido, já que este preferiu silenciar-se.
No fatídico dia do casamento, todavia, o noivo combinou com o chefe do cerimonial do evento de veicular – durante o “sim” – um vídeo que aquele tinha preparado para, teoricamente, homenagear a amada.
Com muita pompa, a cerimônia caminhou elegante até a exibição da filmagem, cujo conteúdo mostrava a noiva em momento “caliente” com o amigo do ex-futuro marido.
Este emudeceu na hora do “sim”, mas foi bastante eloquente neste pronunciamento: “já paguei a festa toda. Agora, aproveitem!”.
O próprio acaso dá conta de se vingar daqueles que são desleais. Como diria Cazuza: “se você achar/Que eu tô derrotado/Saiba que ainda estão rolando os dados”. Mas, às vezes, é preciso (e satisfatório) tomar decisão quando se está sob o próprio ponto de ebulição.

15 de dezembro de 2009

por carolina fellet

No fim do dia, Juliano à irmã Ana Catarina:
- Não comi quase nada hoje. Só uma Ruffles.
Ana Catarina replica:
- Eu comi frango grelhado, duas trufas de chocolate amargo e engoli uns sapos também. E minha capacidade para metabolizar sapos está bastante defasada.
por carolina fellet

NÃO às árvores megaostensivas que são oferecidas a Jesus durante o Natal. O Cara andava de sandália franciscana, poxa!

O homem que não conheceu a vírgula

por carolina fellet

Duas transeuntes. Um mendigo.
Mendigo: - Donamedáumtrocado?
A uma transeunte: - Só um minutinho, vou pegar na carteira.
Mendigo: eutôquerendocomprarumtênispronataltávinteedoisrealdonameajudaapagarsessentarealpraeumorarlánoaltodomorro...
A outra transeunte: - Tome aqui um trocado.
Mendigo: - Seprecisardomeuserviçoeucapinofaçofaxinavaicomdeuseupegobicotáprecisandodomeuserviço.

14 de dezembro de 2009

por carolina fellet

Sob vodka, vislumbram a beleza das situações.
E a garota é só sobriedade.

Acostumadas com o sexo,
Meninas pós-modernas se versam em roupas insinuantes.
E a garota ainda é regida pelos princípios de infância.

Semblante blasé dos transeuntes.
E a garota: “bom dia” e obrigada”.

De repente, todos agarraram uma seriedade.
E a garota é fluida.

Ninguém se revela ao outro
Sem Ipod, MP20 e vários outros andaimes.
E a garota é a cara, um disfarcezinho de olheiras.
E a própria coragem.

11 de dezembro de 2009

Autor dos livros “Estado ao Vento” (Funalfa Edições) e “Pequenas Coisas” (Nankin Editorial), o jornalista e escritor Gustavo Goulart me deixou postar neste espaço, em primeira mão, esta poesia inédita que foi assinada por ele em novembro de 2009.

Onde posso pôr minha tinta em ti?
Se nem sei onde pousa tua linha fria?

Qual cheiro usar de guia
Se tua primeira rosa já foi colhida?

Qual meu estatuto de poeta e homem
Que não sabe o teu, de ser clara e mulher?

E que cárcere é este

que insistes em me pôr?

Onde não há porta,
Chave ou janela...

Só amor?

8 de dezembro de 2009

por carolina fellet

Domingo.
Meninos adoram. Jogam bola com devoção.
Porque não processaram a cultura rígida que a vida habita
Nem se lembram da ladainha trazida pela segunda-feira.

O céu também se repete,
O mar se repete,
A configuração da vida se repete
E tudo está em dia. Sem negar fôlego.

Para os lúcidos,
O domingo traz um véu de melancolia,
Já que dá a quem o vive a possibilidade de ser só céu,
Só a vida genuína,
Só o divino.
Somente enquanto durar o domingo.

6 de dezembro de 2009

Ercília, a grã-grossa

por carolina fellet

Os três filhos receberam a mesma educação. Até pela faixa etária de cada um – o maior está com 29; a do meio, 26 e a caçula, 24 –, estiveram sob igual efervescência da mãe (dona Vivalda) durante o processo de domesticação da cria.
Por mais que dona Vivalda tenha investido maciçamente na educação dos três, Ercília, a filha do meio, desafiando alguns ensinamentos da mãe, gosta de posar de grã-fina. Roupas de estilistas italianos. Carro conversível. Joias H.Stern. Maquiagem sofisticada.
Porém, dentro de casa, bebe cachaça até sucumbir a um sono de 1001 noites.
Legítima grã-grossa.

Por que poesia

por carolina fellet

Porque com ela se vislumbra a eternidade: matéria-prima das pétalas, talhe perfeito de uma pata de onça, braveza ultrarrecente de um leão.

2 de dezembro de 2009

por carolina fellet

Duda é menina do bem. Os espíritas diriam: "alminha antiga" (já que não cultiva acidez nem coleciona desafetos para si). Mas a garota tem uma insatisfação (de que eu fiquei sabendo quando ouvi uma conversa dela no ônibus com a vizinha): ter 24 anos e ainda usar sutiã menina-moça”.

Memórias fetais

por carolina fellet

Adoraria ter lucidez da minha época de feto. Eu e meu submarino nadando em águas novas e perscrutando mistérios alheios.
por carolina fellet

No cursinho de inglês, Maurício, de treze anos, fala ao professor:
- Preciso sair um pouco mais cedo hoje porque tenho prova de topografia. Tudo bem?
Enquanto o professor dialoga com o aluno, Ana Bia, colega de Maurício, fica pensando sobre a utilidade de se estudar topografia aos treze anos. E conclui: “é para quando ele for conhecer o Everest”.
por carolina fellet

Há cinco anos, a primeira coisa que Catarina faz depois de acordar é alimentar Carmem, sua tartaruga.
Catarina continua viva e misturados a esse fôlego estão todos os seus hábitos. Portanto, mais uma vez, ela acorda e segue à varanda, a fim de cuidar do seu bichinho de estimação.
Chega lá, mexe no aquário e a tartaruga está sem reação. Talvez seja o calor. Troca a água e nada! Observa Carmem por um tempo e vê que ela está morta.
Sem a menor cerimônia, a morte vem sutil como a própria vida... De repente, acostuma-se com ela.

Patrícia, a caladinha

por carolina fellet

Beleza. Pai rico. Carro zero quilômetro para uso exclusivo dela. Namorado apaixonado. Sexo. Corpo legal. Extravasada à beça.
Predicados da felicidade para esta temporada carnal.
Mas ela é infeliz, a tal da Patrícia Caladinha.
O que lhe falta é ruminar um pouco o mundo: os tons de galhos novos e caducos das árvores, a partitura do bem-te-vi que amanhece mais cedo que o sol. Falta-lhe processar com a própria chama os fios que a enlaçam rumo à Vida.
por carolina fellet

Por anos a fio, Clarice é que incitava meus atos e filosofias. Devo a ela, portanto, enorme respeito e uma caloria generosa da memória.
por carolina fellet

Dentre os recursos desta multimídia viva inerente a mim, fico com a voz. Que magnífico extrapolar em palavra dita o pensamento.
por carolina fellet

Conhecer as profundezas das próprias águas é importante. Vir para a praia da existência é mais que isso; é imprescindível, porque a vida – pelo menos esta temporada material – é feita principalmente daquilo que os cinco sentidos reconhecem sem grandes esforços.

1 de dezembro de 2009

Recital de piano e transgressão

por carolina fellet

Todo mundo já sabe que o Brasil tem os poros abertos para culturas estrangeiras. Isso é muito positivo para trazer aos sentidos do povo brasileiro experiências extraordinárias. Até 1994 (eu com nove anos), meus ouvidos não conheciam Bach. Dali para frente, pude sentir o compositor dentro de mim. O que seria de Bach se não existissem os ouvidos? Numa excursão maior, chego à conclusão de que Bach está dentro da minha audição; às vezes, latente, embora sempre lá.
Não era disso que queria falar!
...
Realmente é superinteressante o país sofrer de xenofilia (e não xenofobia), mas existem certas culturas que não cabem no diagrama que foi feito em princípio para recebê-las. Liszt, por exemplo, fez várias composições fúnebres que combinam muito bem com o céu acinzentado de cartão-postal europeu. Com o Brasil de Fernanda Abreu, no entanto...

29 de novembro de 2009

por carolina fellet

Janice nunca gostou de beijar em público, porque se sentia como protagonista de pornochanchada com entrada franca.

27 de novembro de 2009

por carolina fellet
O apelo à beleza era imprescindível em suas preces. Diante desta temporada material da existência, ser bela era, sim, demasiadamente importante para ela. Por isso, intercalava os pedidos de saúde e sucesso profissional com o desejo esperançoso da beleza.
O grande empecilho para que essa vontade se incorporasse à realidade é que entre fé e as manobras fatais da Natureza existe um território de redemoinhos a se adaptar, já que ninguém é capaz de impedir as determinações metafísicas às próprias vidas.
...
Tinha dias que Liz estava de fato muito bonita. Todavia, sob o “mexer de pauzinhos” invisível da Vida, não estava muito bonita em outras épocas. Por mais que redobrasse a fé, na tentativa de penetrar o território da beleza, fracassava. Porque não se suplanta Deus.
Naquela quinta-feira de dezembro, queria arrumar um namoradinho, a fim de preencher o sentimento que tinha experimentado com seu primeiro amor e que agora, como uma cirurgia mal sucedida, estava aberto e incômodo. Produziu-se toda e foi para uma discoteca sofisticada da cidade onde morava. Chegando lá, sob olhos mais amadurecidos, não conseguiu vislumbrar outra coisa, além desta: “as pessoas vêm para cá, a fim de saciar seus instintos primários e pronto! Não transferem à essência a experiência de dançar, paquerar, conversar, achar bonito e feio. As situações se bastam sendo situações. Parece não haver o que processar”.

26 de novembro de 2009

Amor de pai

por carolina fellet

Amor de pai é um atalho ao sossego e à felicidade. Principalmente porque amortece os filhos, depois de eles se arriscarem em descobertas e se quebrarem em reincidências. Por mais que haja técnicas e técnicas que ensinem os pais a educar seus filhos, o amor talvez seja a melhor ferramenta para fazê-lo. A capacidade de persuasão desse sentimento desafia qualquer William Waack. Isso posso dizer por experiência própria.
Na contramão disso, amor de pai aprisiona, uma vez que sob ele estão os parâmetros nos quais devemos ser enquadrados, e a sutileza desses parâmetros é tanta que eles se confundem com o sentimento. Daí, nós, filhos, ficamos inconscientemente à mercê do diagrama em que nossos pais nos colocam, já que desrespeitar o amor (e como conseguinte a educação que lhe está embutida) é antinatural. O amor é sempre mais fatal que nossa psique.

24 de novembro de 2009

por carolina fellet

Ter uma cara, um nome, um sobrenome significa que, para se aproximar de alguém, é preciso percorrer um caminho. Às vezes grande, praticamente uma rodovia: Ubirajara da Silva Lisboa Albuquerque. Outras, uma vila pequenininha: Bia Buff. Era para todos estarem carecas de saber disso. No entanto, numa dentada de onça, invadem a gente sem antes atravessar nosso atalho.
...

Ana Talita vende salgados numa lojinha situada em Bicas. Tem clientela fixa e boa. Vez por outra, lhe aparece freguesia nova. Geralmente gente que vem de fora. Em vez de esse pessoal lhe respeitar a fisionomia, no mínimo, viola-a: “uma coxinha com catupiry e uma Coca-Cola®”. Assim, a lida fica difícil pra cachorro. E Ana Talita até se esquece de ser gente
por carolina fellet

Empolgação para ir à pizzaria. Catarina demora no chuveiro. Mafalda não consegue se despedir de Ariadne ao telefone. Eustáquio está desperdiçando combustível com a Chevy ligada na garagem, enquanto espera as moçoilas. Brigam por discordâncias. Mas o apetite lhes insiste e toda a família segue rumo à pizza.
Em 40 minutos, saciam os instintos e voltam para casa. Depois de uma hora, a pizzaria encerra o expediente e o mundo cai em sono profundo.
por carolina fellet

Saudade saudável sinto de você, Conde M. Sempre que minha memória relê nossa história, me vem à luz todo o bom que vivemos. Os contratempos? Foram evacuados pela expiração profunda que aprendi na Ioga.
por carolina fellet

O temperamento voa baixo, quase tocando as circunstâncias. Acaba ritmado por elas: se é sexta-feira, baixa-lhe o DNA de Zeca Pagodinho. Quando começa a semana, é um “down” total.
por carolina fellet

Amanhecia com o que conhecia:
Praias, carinho de mamãe Mariana, brigadeiro, colega de escola.
Ainda não havia vivido Amor.

Belo dia,
Partes ainda latentes dos sentidos
Foram violadas por Ele.


Ela nunca mais amanheceu igual.
por carolina fellet

Dedicar-se a alguma forma de arte é o apelo de quem enxerga a vida sob graus especiais.

23 de novembro de 2009

por carolina fellet

Posso apresentar o Mahatma Gandhi como meu namorado que meu irmão irá dizer:
- Cuidado “quesse” (leia-se “com esse”) cara, hein?!
por carolina fellet

Por que as pessoas mentem sobre o que irão fazer no sábado à noite? Minha irmã sempre dizia:
- Vou sair com a Flaviana.
Depois eu descobria que a “Flaviana” tinha barba, um metro e noventa e atendia por “Luciano”.

Ah! Isso é traça filhinha.

por carolina fellet

O ano? ... ... ... ... 1997. O cenário: casa de uma família abastada de Santos Dumont – MG. Mãe e filha estavam no quintal da mansão. Varal lotado de calcinhas de uma das empregadas da família. A menininha percebeu que havia um furo estratégico em cada uma das peças íntimas, e perguntou à mãe: “para que servem esses furinhos, mamãe?” e esta lhe respondeu: “Ah! Isso é traça, filhinha. Agora vamos entrar porque está tarde”.

22 de novembro de 2009

por carolina fellet

A vida vem por fora nos mastigando aos pouquinhos. Subitamente, nos engole rumo à morte definitiva.
por carolina fellet

A maneira quase unânime de amar é um fóssil da adolescência que insistimos arrastar por aí. Nunca ponderamos corretamente os graus. Por isso, sofremos pelos extremos excesso ou insipidez.

17 de novembro de 2009

Maria Gadú

por carolina fellet

Muito me admira essa mocinha supertalentosa que, apesar de estreante na Vida, já lhe demarcou com firmeza seu território.
Surgiu nas grandes mídias como parece ser nos bastidores; na própria vida. Não fez como a saudosa Cássia Eller que apelou até para vestido no início de carreira.

De antemão

por carolina fellet

Esta perspectiva que se precipita,
Dá mil veredictos
E enxerga longe.

Mal começamos.
E já tenho enredo para 237 páginas.

Imagino a gente variando de estação.
Da libido ao tédio,
Muitas intempéries.
Lágrimas e a evaporação feita pelo acaso.

Tempos depois,
Nenhuma palavra.
Apenas o movimento do amasso
Alterando os hábitos carecas da nossa imaginação.

Estamos renovados.
Sinto-me em dia com o viço.

Um dia, porém,
A maré fica baixa.

E somos, então, cenário a essa modificação,
Que nos é outorgada.

Aí, querido, é preciso mudar de estação.
por carolina fellet

Cara tem tripla jornada de trabalho.
E sempre separa o trocado para a gandaia.

É sagrado!
Como a própria vida.
Todo dia agradecida
Nas preces.

Será que vou ficar pra titia

por carolina fellet

Quem já passou dos 40 diz que eu e estes meus 24 anos usamos fraldas. Mas tem muitas contemporâneas minhas se separando do marido ou com um cacho de filhos.

16 de novembro de 2009

por carolina fellet

Situação vista
Sob a perspectiva da insegurança:
Semblante alheio equivocado,
Palavras não ditas,
Cores embaçadas.
“Eu” como a arena do mundo
.

Para cumprir tabela

por carolina fellet

Se tivesse que fazer um balanço do dia, Solange falaria da metafísica envolvida no sono. Porque de manhã queria acordar para ficar em dia com os compromissos, mas essa força oculta a impediu de fazê-lo.

15 de novembro de 2009

por carolina fellet

Camarada ficou a fim de conhecer Neiva na balada. Pediu-lhe um beijo, ela negou. Mas mantiveram um diálogo amistoso. Ao final do bate-papo, ele conseguiu o telefone da garota. Antes, porém, um tropeço na hora de anotar o contato no celular:
Camarada: - Neiva de quê, hein?
Neiva: - Jesus não é de Nazaré? Põe aí, Neiva de Juiz de Fora.

14 de novembro de 2009

Depilação

por carolina fellet

Há muito, Ângela não depilava a virilha. Na última vez que se arriscou nas puxadas dolorosas, a moça que lhe fez a jardinagem deu-lhe um espelho para que ela olhasse as “vergonhas” podadinhas e bonitinhas.
Instantaneamente a isto, todo o interior de Ângela tingiu-se de pudor. Todavia, para evitar constrangimentos, ela utilizou o espelho e seguiu as recomendações da profissional.
...
À noitinha, fazendo um balanço do dia, Ângela, de si para si: “minha vida é integralmente outorgada a mim. Algumas partes, eu aceito bem; outras, não. Será por quê?”.
E foram dormir. Ela e a virilha podada.

Pensando na vida

por carolina fellet

O melhor é ter expectativas em relação à vida?

Como a vida é por natureza insubordinada, o melhor é deixá-la correr?

Nascemos já sendo e morremos sem saber ser!
por carolina fellet

Quero novo amor,
Para ser primavera,
Que diverte os olhos.

Amor espontâneo
E fatal como a Natureza.

Não quero óculos de sol,
Agasalho,
Guarda-chuva.

Quero que seja assim:
Flores que atiçam as cores das minhas vistas.

Viagem de ácido

por carolina fellet

Decidi passar um final de semana no Rio. Por mais que sol e praia não estejam entre minhas predileções, que saudade que eu tô de pisar o mar, meu Deus.
Olhar para aquela manifestação gigantesca e equipará-la à minha condição – coração que bate autônomo, órgãos que se viram sozinhos etc. e tal – leva-me a crer que a vida é uma grande viagem de ácido. E eu quero mais é curtir todo esse barato.
por carolina fellet

Sociedade X Princípios familiares: que duelo, hein?!

13 de novembro de 2009

Playboy com a Fernanda Young, eu comprei!!!!!!!!

por carolina fellet

Quase todo mundo tende a e gosta de se enxergar em alguém que tenha grande projeção, principalmente entre os meios de comunicação de massa. Não é à toa que existem concursos e mais concursos de sósias por aí.
Numa devoção a isso, comecei a observar, com graus mais afiados, a escritora-roteirista-apresentadora e irreverente Fernanda Young. Ainda que ela seja muito mais original que eu, encontro semelhanças entre nós duas: somos branqueeelas, gostamos de atribuir humor às situações e escrevemos.
Daí, comprei a Playboy veiculada em novembro, que traz a Young na capa e no conteúdo da revista. Foi uma forma de eu me imaginar sob os holofotes daquelas lentes despudoradas e, consequentemente, me soltar um pouco das amarras que compõem o universo feminino do qual faço parte.
O devaneio foi tão grande que me achei tão contemplada com a beleza quanto Fernanda. E fiz sucesso por onde passei...

Chuva, funk, suor

por carolina fellet

É preciso mudar de estação. Como é!
Tem tanto literato que insiste numa mesma temática e, por isso, perde muito do movimento da Vida. Perde nascimento da noite. Metafísica envolvida na gargalhada. Um voyeurismo. Perde um beijo, uma dança-catarse, uma boa balada.
...
Ema e Samuca. Casamento de quatro anos. Ainda que o balanço final da relação deixe boiar sobre o líquido da consciência boas (ou ótimas?) memórias, ambos ficaram desgastados: esgotaram-se empolgação, lascívia, diálogo e expectativas. Motivados pela natureza da paixão e da covardia, Samuca e Ema pelejaram várias reconciliações. Empreitadas fracassadas. No entanto, sob um súbito flash de sensatez, decidiram acabar com o casamento e ser felizes.
Na última quinta-feira, Ema, recatada por DNA, esbaldou-se ao som do MC Marcinho no Privilège*. Antes de entrar na boate, a chuva competia com o vento para se manifestar à população de Juiz de Fora, sua cidade querida. O vestidinho azul, o cabelo ajeitado e a maquiagem foram sabotados pela convulsão climática. Mas o pique para a noite manteve-se inteiro, inviolável.
Quem conhece Ema do centro espírita, do curso de inglês, dos sorrisos dóceis e do ponto de ônibus, não a identificaria naquela noite. Um acesso de adrenalina a enlaçou. Foi tão fatal quanto a machadada da morte. Só que o golpe lhe escorria pelo corpo através de populações e populações de suor. Era a vida. Era a vida muito em dia com Ema.


*Privilège é uma casa noturna de Juiz de Fora

10 de novembro de 2009

por carolina fellet

Dou à luz intenções distorcidas.
Estou com raiva da sua cara,
Mas acabo lhe dando um sorriso.

As verdades ficam retidas entre os dentes.

Erosão nas minhas células.
Rombos nesta vida.

Só consigo expelir o conflito
Quando faço um parto irretocável das minhas intimidades.

Haja técnica de medicina.
por carolina fellet

Por mais que Fátima Bernardes sopre o mundo rumo à minha casa, a sensação que tenho, às vezes, é de que minha existência fica tão enclausurada sob a própria condição humana que parece fugir dos holofotes da Vida.
por carolina fellet

Pessoa normal utiliza automóvel para facilitar o acesso às situações. Há os que extrapolam isso e fazem do traslado o grande evento. É o meu caso. Quando saio dirigindo, não penso no destino a que o carro me levará, nem nas implicações da saída. O volante exige tato de mim que preciso apelar a meus malabarismos para controlar a direção.

8 de novembro de 2009

Jeitinho brasileiro

por carolina fellet

Nunca haviam se visto. No entanto, chamam-se mutuamente de “meu amor”:
- Meu amor, que horas são?
- 16h45, meu amor.

Em vez de enfrentarem esta imensa rodovia para chegar à moça – Ana Elizabeth – fazem um caminho alternativo e mais curto; chamam-na de “Beth”.

De quanto mais distante vier a cultura, maior é o abraço que o brasileiro lhe dará. Lembra-se da moda dos árabes que se radicou por aqui por muito tempo?

Por mais que o Chico Buarque seja superovacionado por quase todo mundo, brasileiro curte mesmo é Zeca Pagodinho.

Enquanto existem países onde se falam dois ou mais idiomas, aqui cada indivíduo possui sua própria língua: um fala problema, o outro, pobrema, o outro, poblema, o outro, plobema e o outro, ploblema.

6 de novembro de 2009

por carolina fellet

O corpo estava todo em conflito.
Para dar mais gravidade à situação, eis que surge a alma – conflituosa por nascença.
Naquela noite, sequer dormi. Depois de vencer o céu usando de autocatequese como instrumento, meu caminho se iluminou rumo a este percurso: “não se tem as rédeas da Vida”.

Época de escola

por carolina fellet

A fase de produzir redação na escola possui cargo vitalício. É praxe o professor querer saber como está seu português e lhe pedir que escreva vinte linhas sobre determinado assunto. Tive uma professora que sempre dizia: “tema livre, pessoal!”. E isso me deixava mais ou menos à vontade, porque liberdade excessiva é uma forma de condenação.
Àquela época de 5ª série, não escrevia com desenvoltura; sequer tinha interesse por essa atividade. Só me considerei mais destra no assunto a partir de uma forte dor no peito que tive durante uma madrugada de leituras. Desde aquele dia, passei a vislumbrar alma em todas as coisas que pareciam demasiadamente óbvias para mim.
Descobri que as frutas possuem um espectro, que o céu é cheio de sentidos ocultos etc. etc.
Lembro-me de que, no tempo de escola, os mestres gostavam que nossas redações estivessem impregnadas de citações. Queriam que fôssemos repetições de obras já concluídas e com a última camada de tinta. Com isso, nossa criatividade morria ainda broto.

5 de novembro de 2009

por carolina fellet

A vida poderia ser muito mais dinâmica, caso não tropeçássemos naquilo que não aceitamos e, no entanto, habita nossa condição humana.

Safári em Juiz de Fora

por carolina fellet

Duas semanas de superempolgação. Araceli enfurnara-se no armário como uma traça, a fim de escolher a combinação ideal para a extravasada na véspera do feriado.
Mobilizou carona, aroma, xampu especial, meia fio 15, maquiagem caprichada.
Mas Araceli, coitada, foi barrada na entrada do baile.
Sem a menor delicadeza, o segurança que estava à porta da boate disse-lhe:
- A casa tá lotada. Hoje não entra mais nem uma cabeça.
O jeito foi buscar outra diversão.
Mas foi tudo tão insosso como as últimas páginas de grandes romances.

Guerra dos sexos

por carolina fellet

O grande problema da mulher dentro da relação amorosa é o desejo que ela tem de formatar o homem sob os graus do universo feminino. Daí, coloca-lhe anelzinho, leva-o às compras, faz catarse usando o ouvido dele como divã.
Discórdia na certa!

4 de novembro de 2009

Documentário produzido por ex-alunos da Estácio JF é exibido no festival Primeiro Plano

Catadores de papel. O que pensar sobre eles? São profissionais? Qual o seu papel na sociedade? Essas e outras perguntas foram respondidas pelos jornalistas Ana Carolina Fellet e Marlan Kling no curta documentário “O lixo e a sobrevivência”, que será exibido no Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades.

O vídeo começou como um trabalho de conclusão de curso de Comunicação na Faculdade Estácio de Sá Juiz de Fora (FESJF) e, segundo Ana Carolina, “foi uma tentativa de extravasar a mesmice da monografia tradicional e deixar como memória uma produção mais democrática e palatável para as pessoas.”.

Para a produção, donos de compra e venda de materiais recicláveis, catadores de papel, populares e o vereador Bruno Siqueira foram entrevistados. “Fizemos perguntas óbvias para as pessoas, como por exemplo: o trabalho dos catadores traz consequências para a sociedade? E, a partir das respostas, montamos o documentário. Enfrentamos contratempos, mas o resultado foi legal.”
É a primeira vez que o trabalho será apresentado ao público, como conta Marlan. Indagado sobre como surgiu a idéia de inscrever o curta na mostra competitiva do Festival, ele afirma que a mesma surgiu no ano passado, quando assistiu ao 7º Festival Primeiro Plano. “Eu disse
que gostaria de produzir um documentário para participar neste ano de 2009. Conversei com a Ana Carolina e, após definir o tema, partimos para prática.”


“O lixo e a sobrevivência” também está inscrito na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na 5ª CINEOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, no 4º Festival de Cinema de Muriaé e na Mostra CineBH 2010. A exibição no Festival Primeiro Plano acontece dia 29, às 17hs, no Cinearte Palace.

Agência Experimental de Jornalismo
Jornalista responsável: profª Izaura Rocha
Texto: Mariana Mello – 2º período de Jornalismo

3 de novembro de 2009

Tempo tempo tempo

por carolina fellet

Marco meu tempo com cartelas de pílula vazias.
Novamente, preciso fazer depilação. O pelo cresceu e no terreno ao lado, quanto matagal.
Já faz dois meses que terminei o namoro.
E o choro sempre vem, tecnológico e solitário.
É terça-feira de novo.

29 de outubro de 2009

Na coluna do César Romero

FESTIVAL
Marlan Kling e Carolina Fellet participam da mostra competitiva do festival Primeiro Plano com o curta “Lixo e sobrevivência”. O trabalho de conclusão do curso de comunicação na Estácio mostra a dura realidade dos catadores de papel.

27 de outubro de 2009

por carolina fellet

Vamos aproveitar esta temporada carnal, porque vidinha de alma deve ser muito chato.
por carolina fellet

Malvino Salvador é o Brad Pitt em outros tons. É um pretexto para a manifestação metafísica da lindeza.

22 de outubro de 2009

Passo a passo para sair com o gato

por carolina fellet

Depois de se conhecerem, fica combinado um encontro. Não recomendo a você, garota, ir de vestido. Porque o tecido, geralmente fino, aumenta a voltagem da libido.
Nas primeiras saídas, calça jeans e blusa discreta. Invista primeiro na vernissage de sua vida interior. Mostre seus predicados mais nobres. O gosto por caminhadas em região arborizada, música boa e leitura enriquecedora. Exiba uma de suas peculiaridades mais possantes, como o talento para pintar borda de toalhinha.
Passados alguns meses, vale um decote “V”, calça jeans justa e um salto alto bem fálico. Vale olho bem pintado, batom vermelho e garras afiadas.
Falar boas verdades deve demandar tempo. Resguarde-as para o dia da grande lascívia.
E, aos poucos, sirva-se. Moderadamente
.

Escombros do dia

por carolina fellet

Preocupação com um emprego ortodoxo.
Aflição aliviada por lavação de roupa.
Banho às pressas.
Horário do ônibus.
Avenida debilitada pelo temporal.
Dois frascos de 200g de comida para tartaruga.
Aula de inglês reúne tanta individualidade e estranhamento.
Presente para o papai: hoje é aniversário dele.
Blusinha e pulseirinha novas. Terminei o namoro e quero renovar os ares.
Comi tanto na festinha e reuni uma dúzia da família.
Agora, antes de dormir,
Enfio tudo num saco de lixo de 50 litros.
Porque amanhã tem novo céu. nova Carolina.
por carolina fellet

Assim que a fase da latência sexual é violada, o encanto acontece integralmente devido à beleza do outro. Garoto de 12 anos quer namorar a intelectual esquisitinha da sala ou a gostosinha cobiçada por no mínimo mais 15 garotos?
O Tempo vai se cumprindo conforme suas metas mais ou menos genéricas – promover velhices, lascívias, chuvas – e a atração exclusiva pela beleza torna-se pálida.
O que passa a valer são os bastidores das pessoas. Começa-se a juntar os cacos dos gestos e das ideias daqueles que estão no perímetro do nosso convívio e, subitamente, um dos componentes dessa geometria começa a transitar com mais frequência pelas calçadas das nossas vontades. E, de repente, tropeço de paixão.

A um professor universitário

por carolina fellet

Namorava. E eu era um trem seguindo a linha do meu caráter. Nas raras vezes em que olhava para um rapaz, era olhar de soslaio.
No entanto, como nada que habita a condição humana é rígido, você inquietou todo meu líquido. Mar revolto. Pescadores atordoados. Naus à deriva.
Não me contive. Precisei dedicar-lhe estas linhas, antes de experimentar um pouco de você, do seu sabor e do meu próprio apetite.

O Orkut e o Voyeurismo

por carolina fellet

Desde muito pequena, numa desobediência aos princípios trazidos pela mamãe e obedecendo meus comandos mais intrínsecos, apreciava as canelas dos vizinhos dentro de suas casas. Se eu os visse de corpo inteiro, talvez a apreciação não teria tanta graça. O grande barato era dar-lhes as fisionomias que minha imaginação talhava instantaneamente.
Mais tarde e com menos ingenuidade, canela de vizinho não mais me entusiasmava. Passei a contemplar garotos bonitos e casais em transe de libido. A grande tônica disso é se envolver completamente com o outro sem deixar transparecê-lo; e se render à fiação invisível que enlaça a realidade.
Hoje, com a banalização do Orkut, os sintomas associados ao Voyeurismo são sintetizados a partir de uma potência esquálida dentro do nosso corpo. As canelas dos vizinhos não deixam mais lacunas à imaginação: a vizinhança agora aparece de corpo inteiro na foto. E olha dentro dos meus olhos. E ainda me esbanja um sorriso.
São os novos rumos da tecnologia alterando o DNA da vida.

20 de outubro de 2009

Sobre a tatuagem

por carolina fellet

A tatuagem está muito atrelada ao fetichismo. O próprio habitat dela já o revela. Porque tudo que busca realçar o corpo e consegue cumpri-lo com maestria acaba penetrando o território da volúpia.
por carolina fellet

À tarde, conflito.
O poder do invisível alastra-se, com a rapidez do colorido da anilina desvirginando o incolor, dentro do meu corpo.
Sou vítima das vontades ocultas da vida.

18 de outubro de 2009

Toda noitada, todo dia de trabalho árduo, toda empreitada têm sua cena.
...
Estava num show de roque pesado. Transitava de um lado a outro carregando comigo apenas minha sobriedade. De repente, me aconcheguei num canto cujo cheiro deslocou meu olhar a um maconheiro velho apertando sua erva.
Depois disso e dentro da vastidão de uma madrugada emaranhada em diversão, minha atenção sucumbiu a outras atrações do evento.
Mais tarde, novamente o maconheiro. Agora perante a apresentação de uma banda cover do Guns N´Roses e sob a profundidade de um sono alfa.

Privilaje

por carolina fellet

Como tudo que passa pela esteira da vida, o Privilège já teve seu tempo de glamour. Hoje é Privilaje.

*Privilège é uma casa noturna situada em Juiz de Fora - MG.

16 de outubro de 2009

Sonhar não custa nada?

por carolina fellet

Iate. Praia bonita. Roupas de grife. Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Montanha. Filtro solar. Casacos de pele de coelho. Jipe. Passagem aérea. Visita a pontos turísticos.
O miolo das vontades está sempre atrelado à riqueza, à beleza e ao conforto. Você se imagina numa cama King Size com seu gato ou num beliche das Casas Bahia?
Você prefere chocolate Castor ou trufas de rum da Kopenhagen? Prefere dirigir um Celta um ponto zero ou um New Beetle?
Por mais simples que sejam os desejos, eles não fazem fronteira com trabalho árduo, avenida movimentada e lotação. O bom e o ruim são imiscíveis dentro da nossa psique. E encarnar coisas boas demanda, sim, dinheiro e sossego.

15 de outubro de 2009

Quando a relação acaba

por carolina fellet

Ficar viúvo é muito triste. Não dá para negar. Mas, por a viuvez ser uma imposição da Natureza – que é perfeita –, as pessoas acostumam-se com isso e, subitamente, começam a perceber que “viúvo é quem vai”. Geralmente, envolvem-se em outros relacionamentos e se dão muito bem com eles e com a saudável memória daquele que se foi.
No entanto, quando um namoro (ou uma união qualquer) termina sem morte, a perda é mais sofrida. Porque o defunto fica vivo. Circula pelo Centro da cidade. Vai a festas. Paquera outros. Dança com outros. Beija-os. Faz sexo com outros.
Enquanto a barreira da viuvez é outorgada e inafiançável, a do fim de namoro sem morte acontece por uma série de constrangimentos e rancores, que nos aniquilam mais que o fim dos dias e do mundo. Que nos matam devagarzinho e com requintes de crueldade.

Voz interior

por carolina fellet

Se as pessoas dessem mais vazão à própria consciência, as instituições de ensino superior e os cursos profissionalizantes teriam presença esquálida na configuração da realidade.
Engrenar os cinco sentidos rumo à auto-observação, em vez de perscrutar o que nos cerca, é o começo do sucesso profissional e pessoal, já que desempenhar atividades com as quais o DNA tem afinidade gera alcances que superam recomendações e probabilidades.
Os escritores, por exemplo, carregam consigo a matéria-prima dos trabalhos que desenvolvem. Eles aproveitam das próprias estações sentimentais – tristeza, entusiasmo –, para discorrer, sob a dicção que lhes é inerente, sobre os mais diversos assuntos. Com pintores, músicos, dançarinos, creio que não seja diferente.

9 de outubro de 2009

Sobre a instituição “casamento”

por carolina fellet

O ar está exalando lamento. Casais já não se aguentam e se culpam mutuamente pelo fracasso da união.
O engano disso está na assinatura do réu. Quem carrega (ou deveria carregar) a culpa da situação não é o marido, a mulher; não são os filhos. A configuração do casamento é que é falha.
Ora, crescer conforme os ensinamentos dos pais (ou de quem o criou) e depois se adaptar a uma nova cultura – à do cônjuge – demanda muita ciência.
Ciência essa que só é alcançada quando muitas intempéries já foram vencidas e depois de a natureza ter nos degradado um bocado.

Desenvolvimento sustentável e as mulheres siliconadas

Por Carolina Fellet

*Um pouco de humor!



A preocupação com o desenvolvimento sustentável está tão generalizada que só pode ser comparada à quantidade de materiais enviados para biópsia todos os dias.
Ainda que a necessidade de se cuidar do ecossistema esteja enraizada em nossas mentes, não agimos conforme essa premissa. Basta observarmos as 1079341³ mulheres que se submetem a implantes de silicone no próprio corpo todos os dias.
Sem dúvida, esse material irá comprometer grande parte do fôlego vital, no momento em que as mulheres siliconadas estiverem mortas e em processo de decomposição.
A única maneira de poupar a “Mãe Natureza” de tamanho desgaste será reciclando os escombros dessas senhoras biônicas todos os dias.

6 de outubro de 2009

Papo de ônibus

por carolina fellet

Dia desses, estava no assento do ônibus e ouvi – já que ouvido não tem cortinas – um estudante de biologia dizer a uma amiga que existem neurônios espalhados por todo o corpo. Daí, pude concluir que algumas mulheres têm a concentração de inteligência na região pélvica. Ora, ali também há sabedoria.

4 de outubro de 2009

Nenhuma Novidade

por carolina fellet

As experiências estão soltas por aí,
Para que sejam lambidas por safras e safras de gente.

A morte está solta.
Abocanhando quem – apesar de vivo – já está em processo de decomposição.

As tristezas também estão alastradas,
Com vontade de prosperar como erosões mentais.
Até levar o próprio hospedeiro à catástrofe sentimental.

A alegria faz ciranda com os sentidos humanos.
Retira-se um pouco desse camarada e ruma àquele.

E, assim, a Vida brinca com a gente!

1 de outubro de 2009

Por que mulheres se casam com jogador de futebol

por carolina fellet

Pela TV ou a partir de meia dúzia de linhas jornalísticas, tem-se a impressão de que aquelas mulheres monumentais que se aproximam de jogadores de futebol o fazem a fim de desfrutar a grana que esses esportistas ganham.
Porém o fato não é tão óbvio quanto parece. O dinheiro dos ronaldos e kakás é apenas a força que lhes incita a empolgação e a autoestima. E, para manter uma relação amorosa, é imprescindível que cada parte esteja satisfeita consigo. Porque o namoro (ou casamento, ou união) deve representar um bônus – e não um ônus – nas nossas vidas.

25 de setembro de 2009

Estatísticas da Clausura

por carolina fellet

Dulce acabou de se graduar em administração e emendou a conclusão do curso com um estágio em São Paulo.
Filomena terminou uma relação conjugal de 17 anos e já se encantou pelo Rivotril® de 2mg.
No trânsito da Av. Rio Branco, há mais de duas horas, 375 motoristas estão dentro do carro.
Às 15h35 de hoje, 3.597 cidadãos se esbarravam no Calçadão da Rua Halfeld.
Num bairro afastado do Centro, sobre a folha de uma bananeira, uma maritaca reclama da própria vida de maritaca: “não aguento mais ficar cantando e voando”.
...
As pessoas geralmente passam o dia encaixotadas: saem de casa, entram no carro, vão para o trabalho. Na diversão, shopping ou restaurante... Ou uma balada com ar viciado.

24 de setembro de 2009

234 5678

por carolina fellet

Ainda que o itinerário pela memória seja enorme - e, por conseguinte, alguns trechos desse percurso ficam esquecidos -, às vezes somos surpreendidos por uma lucidez repentina e generalizada.
Nunca havia dado muita importância à música do Gabriel Pensador que intitula este texto. Até que um dia vivi situação semelhante à proposta pelo músico/letrista, e me senti aconchegada pela canção, que estava bastante camuflada em minhas entranhas psicológicas.
...
...
Esse trabalho autônomo e minucioso (de resgatar passados distantes) da psique me levou a outra excursão mental, na qual a perplexidade assumia a direção.

O Safári

por carolina fellet

1460 dias de relação tradicional: fidelidade, entrega, pensamento fixo, bons papos e volúpia. Algumas poucas e curtas intempéries e pequenos acessos de ciúme.
Como um enfarte repentino e fatal, o namoro acabou. Lá se foram virgindade, sentimentos extrapolados em mensagem de celular e o cheiro, a voz, os trejeitos e a aura do companheiro.
Agora restam os escombros desse tempo enorme que foi vivido a dois. E o velório dos momentos memoráveis divididos com o parceiro perdura... ... ... ... ...
Para tapear a tendência à autossabotagem inerente aos sentimentos, nada mais possante que vir para a praia da alma à procura de agrados instantâneos e de fácil acesso: um amigo antigo, de repente, pode ser promovido a um affair. Com este, pode-se seguir um itinerário clandestino e sem destino.

23 de setembro de 2009

por Carolina Fellet

Enquanto eu, Carolina, fui cortejada com uma música do Chico, minha prima Christianne foi ovacionada com um funk da pesada. Que discrepância. Principalmente porque eu sou mais despachada e a prima é mais fresquinha.

22 de setembro de 2009

por carolina fellet

Camarada teve recurso na loteria da Vida para comprar um bom carro e insiste em agir sob os moldes de um troglodita. Apesar de ele danificar os ambientes por onde passa, a natureza é insuperável: continua sintetizando lindas plantinhas. É Nela que devemos nos embasar. Sem hesitar e sem vir para o raso, porque neste haverá trogloditas na certa.

20 de setembro de 2009

De “a sós” a só

Por Carolina Fellet

A sós, o mundo paralisa suas atividades.
Concentra-se todo na eletricidade do atrito de dois corpos.

Sozinha, somente lembrança dos compromissos do dia.

7 de setembro de 2009

Kit Comportamental

por Carolina Fellet

O hábito dos dois beijinhos nunca me soou natural. Sempre me sinto exageradamente bloqueada quando sou apresentada a alguém: não sei se infrinjo a bochecha alheia e beijo o desconhecido, se apresento a minha bochecha à boca alheia, e ainda que quantidade de umidade devo colocar no beijo – caso eu opte pela primeira opção e avance rumo a uma bochecha alheia.
Prefiro estender uns 40 centímetros de braço a um “estranho”, não para sinalizar distância física, mas em devoção à pouca intimidade que nos une.

1 de setembro de 2009

por Carolina Fellet

Pelas ruas de Juiz de Fora, é um tal de terceirizar o autoexame.

29 de agosto de 2009

por Carolina Fellet
O olho é mais óbvio: reconhece a silhueta de cara. E assim são o paladar e o olfato. Já o cérebro tem temperamento difícil: precisa mergulhar dentro de si para tentar entender.

Para ler em sala de espera

Por Carolina Fellet
A morte é coisa antiiiga e ainda rende notícia.
Casamento é instituição falida, mas ainda comove.
Crianças existem aos montes, mas inauguram sentimentos nobres em nós sempre que nos lhes aproximamos.
O ápice do paladar está numa boa e velha colherada de brigadeiro ou nas memórias primorosas da língua?

28 de agosto de 2009

Gripe Suína

Por Carolina Fellet

A Vida estava saturada de fabricar o mesmo mundo todo dia: frutinha ácida, nuvenzinha rechonchuda, aguinha insípida... Para inovar, sintetizou um vírus da gripe diferentão, cuja primeira transmissão se deu de um porco para uma criança.

23 de agosto de 2009

Horário a combinar

Por Carolina Fellet

Não quero repelir as pessoas
Através dos meus mecanismos de autoproteção:
Rispidez e formalidade.

Também não quero que,
Sem pedirem licença e desculpa,
Entrem na minha casa
E abram gavetas.

Está difícil precisar minha postura,
Afiar minha dicção
E ajustar a tranquilidade do âmago
Com os novos atos desta natureza humana.

22 de agosto de 2009

Domesticando o Tempo

Por Carolina Fellet

Agora será foto.
Agora será festa.
Agora será encontro romântico.
Agora será sexo.
E o Tempo se cumprindo.

Agora será altruísmo com velhinho.
Agora, conversa despretensiosa.
Agora é a hora de o ônibus passar.
Depois, consulta com o dentista.
Até parece que se tem a rédea do Tempo.

Sobre a mesa, uma agenda,
Para antecipar futuros
E manejar o Acaso?


21 de agosto de 2009

Lição de vida no Mc Donald´s

Por Carolina Fellet
Tarde de sexta-feira nada promissora na Zona da Mata Mineira.
Ana está à toa e vai – a convite da mãe Delizeth – para o Mc Donald´s comprar uns lanchinhos. Fazendo jus à praticidade do mundo pós-moderno, elas optam pelo “drive thru” e surpreendem-se com um gesto nobre do camarada que lhes estava à frente dentro de um táxi.
O homem, provavelmente sem grande poder aquisitivo, pagou uma corrida para que os dois filhos curiosos e empolgados se divertissem com aquela pequena excursão gastronômica que é o tal do “drive thru”.
O taxista, no exercício da profissão, cumpriu o itinerário que lhe convinha e as crianças pediram os sanduíches de dentro do carro. Que barato, meu Deus.
A emoção dos dois era contagiante. E o exemplo daquele pai fez a sexta-feira de Ana se acender de bons prenúncios.

17 de agosto de 2009

Fila de formigas

Por Carolina Fellet
Queria experimentar, por um dia que fosse, ser formiga.
Conhecer-lhe a tônica da vida. Apenas para descansar um pouco desta natureza humana.
Viver para sobreviver me parece mais interessante que viver para acumular, tratar doenças e descobrir curas.
...
Curar e depois sucumbir à tragada do Sr. Fim. Estranho...
O pensamento humano, no balanço geral, equipara-se à ignorância da formiga.
Um pouco dela, portanto, eu já sou.

Grave anemia

Por carolina Fellet

Os ânimos estão esquálidos. Não sei por quê. Há pouco, recebi elogios e parecia que os sonhos deixariam de ser meras vontades frustradas e se instalariam no vasto e misterioso território da realidade.
O que é, afinal, a realidade? É o que garante a subsistência dos cinco sentidos? As sangrias que acontecem dentro do meu sexto sentido não são realidade? Quando se está em crise de felicidade nada mais eficaz que sentir – com o sexto sentido – o cheiro da própria decomposição. Daí, vê-se que a seriedade pode ser banida da vida como os dentes sisos.

Lei 245³, artigo 764²

Por Carolina Fellet

Por dentro deste corpo,
Mãos clandestinas vão tecendo
Pensamento, sentimento, sensação.

Por fora,
Quanta obrigação:
Ver céus, ouvir martelada, inalar perfume Avon®.

Que profissão difícil a de viver!

Sem preparo,
Somos jorrados do gozo à Vida,
Tendo que acatar um idioma, uma família, uma escola.

A cárie de Marilda

Por Carolina Fellet
Marilda cuida com compulsão dos próprios dentes. De seis em seis meses ela vai ao dentista com a mísera intenção de aplicar flúor e fazer uma limpeza bucal com direito a motorzinho.
Desta vez, a partir de uma olhada cuidadosa, o dentista detectou uma pequena cárie no penúltimo dente do lado esquerdo da boca da paciente. Ela, inconformada, acionou o superego, ou seja, a parte exigentíssima da psique, para listar as prováveis causas daquela obstrução, mas não as encontrou.
...
Fatigada de tanta indignação, Marilda recorre a uma rota alternativa e atribui a situação à metafísica, afinal, a mulher estava quieta e inofensiva cumprindo seu itinerário na Vida e, subitamente, o Cosmo a invade através da erosão dentária.
“Que falta de respeito! A metafísica deveria contentar-se com seu voyeurismo: ela já me conhece nua, já é ciente dos meus prazeres e frustrações, sabe exatamente dos meus pensamentos mais sigilosos. Não me conformo. Não mesmo” – reflete Marilda.

14 de agosto de 2009

Ímãs de geladeira

Por Carolina Fellet
Até hoje meu organismo me (des) homenageia com lembranças daquele queijo que estava dentro do pão de batata.

Semana de cáries, hemograma completo, sangramentos irregulares e desatino.

Meu irmão mobiliza toda a redondeza para sair e comprar coxinha de catupiry.

Enquanto a Vida vai tecendo seu infindável fio, me alieno com um pouco de literatura.

12 de agosto de 2009

por Carolina Fellet

Preciso expelir os farelos de dissimulação com a qual enfrentei o dia.
Primeiro, um encontro que me transporta a sensações de que eu não tenho as rédeas.
Depois, iluminar sentimentos invioláveis.
E, para arrematar, contar uma mentira...
Que, embora não destrua castelos alheios, me deixa muito desapontada.

9 de agosto de 2009

A gênese do Carnaval

Por Carolina Fellet

Com o que sobrou da circunstância,
Fiz meu último Carnaval.

Um olhar esperado
E frustrado na própria expectativa
Rendeu-me um verso do enredo.

A volúpia interrompida por um problema de família
Estendeu-se a mares de libido.

Fantasia.
Como compensa ter imaginação.

Senão,
Se seria apenas bicho bípede.

5 de agosto de 2009

Sobre as lembranças de vendedorinha

Por Carolina Fellet

Após quatro anos do envio do currículo,
Depois de esperanças já esquálidas e pretensões mudadas,
Gilka é chamada para trabalhar numa livraria.

Vender livros, a essa altura, não faz parte dos seus sonhos,
Mas,
Para ventilar um pouco o hábito quase maníaco de frequentar instituições acadêmicas,
A jovem adulta se entusiasma com a mudança de ares.
E descobre que trabalhar numa livraria está mais voltado à psicologia que à economia.

Cada cliente deseja um produto, mas, essencial e previamente,
Um caminho suave e amistoso para se chegar a esse produto.

Portanto, em vez de realizar vendas instantâneas ao computador,
A atenção dada ao freguês é primordial.

Quantos casos,
Quantos desabafos,
Quantas cantadas,
Quanta prepotência,
Quanta pressa e intolerância.

Ter sido vendedorinha deixou Gilka mais articulada,
Mais cheia de autoestima,
E menos aterrorizada com a possibilidade de trabalhar e se sustentar.

3 de agosto de 2009

ATCHIM

por Carolina Fellet

Quando, de repente, me faltou matéria-prima para escrever,
Eis que a Vida me aniquila através de uma gripe.

Minha parte interior, que seguia movimentada
Sob libidos, pretensões, trabalho árduo e diário,
Recatou-se com tanta discrição que eu a perdi de vista.

Meu corpo, numa intenção de se mostrar bem vivo,
Manifestou-se em dores...
Meu corpo foi todo dor.

Apesar de essa fotografia estar muito mais inclinada à morte
E a cenários lúgubres,
A gripe e a ambiência que ela causa são uma grande metáfora da vida.

Está-se – ainda que contra a própria vontade e crença – incessantemente à mercê
do invisível, do minúsculo, do insignificante... Do impalpável.

28 de junho de 2009

Carregador de caixas

Por Carolina Fellet

Enquanto a Europa parece ter dado certo, o Brasil acorda com a necessidade de se matar um leão por dia. Por isso, carregar caixas é profissão aqui. Foi numa dessas empreitadas, que seu Neca trouxe à tona uma dor no meio da palma das mãos. Caso nunca tivesse transportado uma caixa, não daria vazão a essa manifestação metafísica que é a dor no centro da palma da mão.

26 de junho de 2009

O Orgasmo de dona Josélia

Por Carolina Fellet

Transcendendo geografias e privacidades, a voz de dona Josélia chega a meus ouvidos.
Em visita à Malásia, fiquei sabendo que, sob um de seus orgasmos, ela fez tremer a região sudeste do país.

*Dona Josélia mora em Juiz de Fora, MG, Brasil, há 74 anos e nunca saiu da cidade.

20 de junho de 2009

por Carolina Fellet

Todo dia, uma avalanche.
As ferramentas manufaturadas pela própria psique não conseguem conter a natureza involuntária. Então, com Osho, aprendi a ser blasé.

Acidente com o Airbus 447

por Carolina Fellet

Esse fôlego que estoca medos, vontades, frustrações e, por vezes, a necessidade de se parecer sério, em átimos de tempo, sucumbe.
O "da boca para fora" sequer questiona nossas aptidões e nos abstém daquilo de que vivemos: do flat orgânico.
Morrer sempre me pareceu um passo heroico.

10 de junho de 2009

Insutilezas do mundo moderno

TEXTOS EXPOSTOS NA PRAÇA ANTÔNIO CARLOS DURANTE O ANIVERSÁRIO DE JUIZ DE FORA

Escova: ( ) progressiva ( ) inteligente ( ) de chocolate ( ) definitiva

São tantas as maneiras de alterar o DNA das madeixas que a brasileira hesita na hora de optar pela forma como irá se desnaturar.
Com esse tal de estica e puxa instantâneo, a negação à natureza dos cabelos ganhou a aceitação da maioria das mulheres.Fios belíssimos, sedosos e dançarinos natos, num súbito – sem prognósticos e bom senso – foram submetidos a químicas e temperaturas extraordinárias. Resultado: conforme a máxima do Mc Donald´s de homogeneizar os sanduíches, as mulheres brasileiras quiseram tornar-se universais; a par do Inmetro da beleza.Agora, alteraram-se algumas funções dos ventos. Eles não mais embalam os cabelos dessas criaturas pós-modernas, afinal, as madeixas sucumbiram à inércia das escovas que petrificam os fios.

*

Boca de Botox

As bocas de botox, quando suas donas (ou seus donos) estiverem mortas, competirão o processo de decomposição com as garrafas PET.
Num futuro qualquer, haverá campanhas de reciclagem para as bocas botocadas. Elas são nocivas ao meio ambiente.

*
Importação em alta

É cultural essa mania terrível de o brasileiro girar o corpo, em até 360º, para olhar o traseiro de uma mulher. Com essa recessão generalizada, não seria má ideia importarmos um container cheio de gringos. Corações partidos...
*
Estoque

Eu e meus congêneres temos parentesco com o conteúdo dos almoxarifados. Porque, ainda que nos movimentemos, estamos sempre cercados pela inércia dos imóveis e pela clausura dos transportes.

*
Por quê

Não sei por que os branquelos dão a impressão de serem ilibados.
*
Telefonefobia

Em época de raros encontros face a face, sofrer de telefonefobia não é nada fácil.

*
Sudeste do Brasil

O Sudeste brasileiro aniquila as criaturas. Vejo advogados, médicos, universitários, intelectuais e até supersticiosos empedernidos sob discursos postiços.

*

Xenofilia

Enquanto o resto do mundo deseja preservar a própria cultura e suas idiossincrasias, brasileiro adora degustar gringo.
*
Pagodão

No Brasil, para algum alerta se tornar legítimo, é preciso transformá-lo em pagode. Repare as campanhas de combate à dengue. Enquanto se falou sério sobre as más consequências do Aedes aegypti, a sociedade não se mobilizou. No entanto, quando as rádios começaram a tocar um pagode cuja letra se referia aos perigos da dengue, esta quase foi extirpada do território nacional.
*
Por favor, Senhores

Há senhores que já passaram da hora de agarrar um terço, mas insistem em correr atrás de carne nova.
*
Se o advento do sobrenome existe para singularizar as pessoas, para que recorrer ao já enferrujado piercing?
*
O sedentarismo do século vai para...

O sedentarismo do século não vai para os funcionários públicos que ficam hibernados em suas repartições, nem para as criancinhas que comem hambúrguer no recreio das aulas. O sedentarismo do século vai para aqueles que se intoxicam de televisão e depois não aguentam se concentrar em outras alternativas para o conhecimento.
*




17 de maio de 2009

Evolução

Por Carolina Fellet

Nascer, crescer... Manter-se bicho.
Educação é luxo!

O Sudeste brasileiro

Por Carolina Fellet

O Sudeste brasileiro aniquila as criaturas. Vejo advogados, médicos, jornalistas, joalheiros afastados das próprias idiossincrasias. E empedernidos sob um discurso postiço. Em contrapartida, o nordestino e o sulista, em quase tudo que fazem, passam humanidade. Não sei dizer por quê.

7 de abril de 2009

A culpa é da banda larga


por Carolina Fellet


Os sentidos estão tontos,

porque, desde o primeiro gene humano

até pouco tempo atrás,

estava-se acostumado com a velocidade normal das circunstâncias.

E houve um rompimento.


Os sentidos estão atônitos,

já que a fala deu uma acelerada postiça,

e os ritmos agora se baseiam em batidas de corações enfartantes.


Neste incipiente século XXI,

de tanta sobrecarga,

os olhos são também ouvidos.


Agilidade perante o semáforo.

Dois dias para produção e entrega da monografia.

30 respirações orientais para evitar o colapso dos ímpetos.


No fim do dia, o balanço

são órgãos supurados:

hepatITE, enxaquECA, lordOSE.

12 de março de 2009

EUA e Alemanha: jovens matam e se matam


Por Carolina Fellet
Não foram episódios sem precedentes, afinal, tanto nos EUA como na Alemanha já houve casos de mortes sucedidas pelo suicídio do assassino. Como já se cogitam por aí, talvez a própria exibição pela mídia desses ocorridos é que incite as pessoas a praticar atrocidades.
Tudo bem! Isso pode até proceder. A televisão, principalmente, por ser muito verossímil, traz as circunstâncias para bem perto das nossas retinas e as torna (circunstâncias) reais e viáveis de acontecer com qualquer um de nós. Isso acaba, por vezes, alimentando nossos ímpetos e os enaltecendo a atitudes.
No entanto, o motivo principal que leva jovens norte-americanos e europeus à matança e ao suicídio é a repressão aliada ao perfeito funcionamento da esteira social.
Desde bebês, os americanos se contêm. Não se ouvem barulhos nos restaurantes e nas áreas públicas. Não se veem casais se beijando em público. Assim que ingressam na faculdade, é preciso que garotos norte-americanos saiam de casa. Casam-se cedo e precisam se enquadrar no esquema “família perfeita”. Aparentemente “de uma hora para outra” se rebelam através de atos como o do rapaz que matou 10 pessoas numa cidadezinha americana e do alemão que matou não sei quantos em uma escola e no itinerário adjacente a ela.
É que a tolerância deles supurou. Porque tudo de que eles precisavam ficava-lhes a postos. Tudo funciona na sociedade deles. Diferentemente da cultura no Brasil, em que se necessita lutar todos os dias para viver bem e com dignidade. Essa busca incessante do brasileiro faz bem à essência humana. A estagnação é o prenúncio do desastre.

5 de março de 2009

Patrimônio psicológico

Por Carolina Fellet
O duto mais inteligente para se chegar à Inteligência é o da convivência com as pessoas. O filme “Quem quer ser um milionário”, de Pierre Coffin, corrobora isso através das experiências vividas pelo protagonista Jamal, as quais o levaram a 20 milhões de rúpias.
Somente através da convivência, principalmente com os mais próximos e íntimos, é que consegui aprimorar sentimentos mais nobres e oprimir as reverberações de quando eu habitava a selva. Alterei meu DNA. Para melhor.
Em contrapartida, conviver com pessoas desnaturadas, que leem livros e os repetem sem ganhar porcentagem das vendas e sem contemporizar ao próprio jeito as ideias neles aprendidas, é muito chato. Não exerço tolerância com enciclopédicos. Por isso, carolinizo (sou Carolina) o que aprendo.

4 de março de 2009

Cerimonial às novas ideias

Por Carolina Fellet
Palavra nova. Novas regras da ortografia portuguesa. Estética sem precedentes. E o cérebro os aceita.
O fetinho (ideia nova), em pouco tempo, entrosa-se com os matusaléns que povoam a massa encefálica. “2+2” troca figurinha com a lembrança do tio velho e falecido. Novas regras da ortografia portuguesa enterram regras senhoras. Cemitério que visito com frequência, embora agora esteja sob o ritmo do novo povoado.

Gripe e outras mazelinhas

Por Carolina Fellet
Com tanta abundância vital para o vírus da gripe se hospedar, por que ele se aloja nas pessoas e compromete-lhes o dia-a-dia? De repente, num pensamento presunçoso – ainda bem que transgredir não se limita a fôlegos orgânicos – atinjo o Surreal. Neste, fico com uma quase-certeza de que gripar e adoecer (de outras maneiras) são chances dadas do Destino às pessoas para que elas se elevem um pouco em pensamentos extraordinários e em sentimentos mais consistentes que os rotineiros.
Quando se gripa, as prioridades mudam. O prazo de entrega da monografia dá lugar à urgência para se transplantar um pulmão. Pequenas rixas com parentes e agregados se rendem a filosofias antigas e vitalícias: quem sou eu? De onde eu vim? O que estou fazendo aqui? Para onde irei?
É saudável gripar!

1 de março de 2009

Livro e Filme (crítica)




por Carolina Fellet


Sobre o livro O Nascimento do Prazer




Quando se é criança, por a ficção ter muito mais fibra que a realidade, é relativamente fácil se chegar ao prazer. Na fase adulta, no entanto, com a necessidade de se pisar – sem desequilibrar – a esteira social, a chegada ao prazer torna-se demasiado difícil.
A estrada desconhecida e, portanto, cheia de novidades e riscos para se chegar ao prazer é que é a tônica do livro da norte-americana Carol Gilligan.
O chato do livro é que ele é feito basicamente de alusões: ora à mitologia, ora a relatos de experiências incipientes de Freud, ora a clássicos da Literatura. Esses embasamentos de que foi feito o tornam sem personalidade. O bom dele se refere a reflexões originais a que nos leva: em que um trauma pode culminar, por exemplo.




Sobre o filme Quem quer ser um milionário




Mais importante que se empanturrar de clássicos, de viagens internacionais e de idiomas complexos é permitir viver as situações de forma a lhes extrair conhecimento. Foi assim que Jamal, personagem principal de “Quem quer ser um milionário”, conquistou seus vinte milhões. Vencido um passado de perdas, inclusive a morte da mãe, e misérias, ele tem a oportunidade de participar de um jogo estilo “Show do Milhão”. Diante deste, o destino e as pessoas parecem desfavoráveis a Jamal, haja vista o estilo de vida do rapaz - “vender o almoço para conseguir a janta” - e o fato de o porta-voz do jogo-programa tentar atrapalhar as escolhas do garoto.
A grande mensagem do longa alude-se a “conviver é o melhor canal para a sabedoria”.


25 de fevereiro de 2009

Profissão: ser


Por Carolina Fellet
Se se pensar bem, ter sido materializado como gente é uma baita sorte. No entanto, muita gente passa despercebida pela própria existência. Daí, não procura refinar-se e, consequentemente, as próprias curiosidades e buscas giram em torno de fofocas, baixa cultura e o supérfluo, enfim.
Por outro lado, há aqueles que, com excesso de falta de humildade, acham que vieram à luz a partir de outra matéria-prima, e não da utilizada na composição da Humanidade. Esses humanos à parte costumam deslumbrar-se com viagens a Barcelona, com restaurantes em cujos cardápios só constam iguarias e com movimentos que vão de encontro a culturas vigentes.
Estes últimos indivíduos sofrem de uma miopia crônica em relação à deterioração a que estão sujeitos e à ignorância inerente à vida. A primeira porque, nas poses e nos acessos de vaidade, eles ignoram as idas ao banheiro para evacuar e a condição de incessante “perecer” a que estão sujeitos. Afinal, já se nasce morrendo um pouco. E, por fim, eles ignoram a própria ignorância quando se enchem se propriedade para opinar sobre qualquer assunto que seja. Nós somos outorgados a nós mesmos. Que know how a gente tem, portanto, para falar com intimidade das coisas?
As patricinhas anencéfalas, que comem qualquer culturazinha e juram ter total intimidade com ela, são caricatas. Mas quem quer se abster totalmente do universo já pré-estabelecido também o é.

24 de fevereiro de 2009

Acontece no Brasil


Por Carolina Fellet
A frequência utilizada por controladores de voo para se comunicar com pilotos estava sendo aproveitada por uma rádio pirata. Entre a programação exibida por esta, predominavam músicas da “baixa” cultura.
Numa viagem, o piloto estava à espera do ditado – pelo controlador de voo - do destino que deveria cumprir. E, eis que lhe penetra o ouvido: “quer dançar, quer dançar, coloca o bumbum no calcanhar.”
O baile funk desorganizou o esquema delicado de se chegar aos lugares através do ar. Ainda bem que existe uma colônia próspera de Sorte no território nacional.

21 de fevereiro de 2009

Escova: ( ) progressiva ( ) inteligente ( ) de chocolate ( ) definitiva


São tantas as opções de alterar o DNA das madeixas que a brasileira hesita na hora de se desnaturar
Por Carolina Fellet

Com esse tal de estica e puxa, a negação à natureza ganhou a aceitação da maioria da sociedade.
Cabelos belíssimos, sedosos e dançarinos natos, num súbito, sem prognósticos e bom senso, foram submetidos a químicas e temperaturas extraordinárias. Resultado: conforme a máxima de homogeneizar os sanduíches do Mc Donald´s, as mulheres brasileiras quiseram tornar-se iguais.
Agora, alteraram-se algumas funções dos ventos. Eles não mais embalam os cabelos dessas criaturas pós-modernas, afinal, as madeixas perderam o movimento em prol de uma estética estática.

17 de fevereiro de 2009

Juventude gadget


Por Carolina Fellet


Gadget é uma gíria atribuída a algumas inovações tecnológicas.
Estas são amigas (ou inimigas) inseparáveis dos jovens,
Porque eles não aguentam entregar-se ao silêncio interior,
Que é cheio de notícias.

E também, apresentar-se índio ao mundo
É aceitar estar à mercê de perscrutações e julgamentos alheios.

Sob o acasalamento ininterrupto entre a juventude e as máquinas,
Aquela se alimenta, veste-se, pensa, bebe e sobrevive ilhada da Vida.

Recessão mundial


por Carolina Fellet


O mundo está em crise.
Não pela má circulação do fluido econômico,
Mas devido à epidemia do luxo.

De repente,
Todos quiseram apoderar-se de castelos com lustres de cristal.

Daí, inadimplência.
Falência de bancos norte-americanos.
E, por conseguinte, convulsões mundiais.

16 de fevereiro de 2009

Conforme e desconforme


Por Carolina Fellet

Num dia dentro dos conformes,
Um desconforme:
Nada de sangria.

Climene estava grávida.
Susto incipiente,
Mas uma felicidade que se estendeu aos nove meses da gestação.

Roupinhas, quartinho, chá de bebê.
Enorme zelo para lhe escolher o nome:
João Cabral.

À medida que a criança crescia,
Os pais lhe impunham a cultura da boa educação,
Dos bons modos à mesa,
Do altruísmo.

Num dia dentro dos conformes,
Um desconforme:
Climene viu o nome do filho na manchete do jornal.

João Cabral não era um colunável do segundo caderno,
Nem um articulista de renome.
Ele fulgurava entre uma gangue que assaltava à mão armada.

A partir daquilo, a vida de Climene foi só desconforme.

15 de fevereiro de 2009

Guerra: consequências contrapondo consequências


Por Carolina Fellet


Sangrias foram imprescindíveis.

Enquanto homens se ocupavam com as batalhas,
Carência de mão-de-obra levou as mulheres ao posto deles.
Depois, declaração de direitos universais.

Mulher não deve ser tratada como “sub-”.
Agora pode impor-se,
Fazer sexo livremente
E viver decentemente.

13 de fevereiro de 2009

Adulto, criança e formação da personalidade


Por Carolina Fellet
A questão “educar filhos” na minha casa era tão natural que parecia prescindir dos esforços dos meus pais. Os ensinamentos deles funcionavam como a produção e eliminação de urina naqueles indivíduos que não têm controle dos esfíncteres. Atitudes de que era incumbida a Metafísica; isso é o que me parecia.
Há uns dias, e depois de um bom tempo inserida na fase adulta, fiquei tentando decifrar as destrezas de aranha que minha mãe utilizava para me ensinar boa postura à mesa, fino trato social e o uso necessário dos comandos da boa educação. Não consegui realizá-lo.
Não me lembro de mamãe ou papai me xingando, me chantageando, nem compensando antigos maus tratamentos com porta-malas de carro cheios de presentes. Consequentemente, aguça minha dúvida acerca da forma como eles me entrosaram com a boa educação.
“Comportar-se”, conforme recomendações póstumas à época em que habitávamos selvas e que vivíamos versados em instintos principalmente, é resultado de condicionamento.
Mamãe e papai sempre me deixaram viver de acordo com as ficções que fazem casa no cérebro infantil. E, nos tratos sociais, os ensinamentos se davam baseados em mímicas: mamãe faz, filhinha faz.
Deu certo!
Porque, depois de adulto, a cultura defendida e divulgada pelos progenitores pode ser alterada pelo nosso discernimento de gente grande.

5 de fevereiro de 2009

Para entender a sociedade

Por Carolina Fellet
Para convencer a psique a agir,
Uns se entopem de Corão, outros de Jesus Cristo, outros de Hitler.
Daí, suicídios, conformismos, sadismos.

4 de fevereiro de 2009

por Carolina Fellet



Prédios: túmulos em cujo interior moram vivos.
A vida se abstém de seu Batimento sem hesitar.
E se rende a quantidades celestiais de mármores e granitos.
Sob esses céus, cumpre as necessidades primárias para manter-se viva,
E ainda vislumbra chances de se entreter.

Acidente Doméstico II


Por Carolina Fellet
Discórdia no quarto da frente.
Alguns juram que culturas individuais irão mudar.
Querem porque querem homogeneizar temperamentos.

Diante desse achismo,
Prefiro entrosar-me com minha insignificância.