Total de visualizações de página

30 de setembro de 2005

Ao garoto que é meu avesso

Hoje não estou exata à consciência. Não sei por que delinearam formas aos sentimentos, afinal o curioso da abstração é a abstração. O tempo me consome com misturas indecifráveis, com forças órfãs como a minha existência.
Amei com o sublinhado da libido meramente. E isto culmina em escassez de vida; em erosão, em solidão, em sabotagem à própria alma. Mas, com isso, saciei certas tendências inerentes à vida. Refleti inúmeros fluxos de vida. Avistei outras vidas até então latentes em mim.
Não quero podar jardins alheios. Quero sexo com meus jardins intrínsecos. Quero transcender o tempo como caracol. Redundantemente voltada a mim, à minha descoberta. E depois sairei com pé-sim e pé-não ao mundo.
Só serei o outro quando eu me for.
Decidi.

28 de setembro de 2005

O mesmo pronome

Ele pode ser um novo verbo à minha vida. Uma promessa que atiça certas raridades. Uma experiência que se assemelha a blusas idênticas sobrepostas. Ele é um dia de sol tímido, de chuva rala, de ventos gozando com pudor, sem derrubar vasos de jardim.
Ele é este milagre da existência, mas sem sabê-lo. Ele preocupa-se com a estética e em ser sociável. Mas é a eloqüência de um troglodita. Carrega uma volúpia que jura dela ser isento. Ele é um travesti... Afinal, fala o contrário das palavras originais que lhe vêm à mente.
Ele é a repetição da Natureza. Mas usa da bengala (que nos torna deuses) como instrumento de erosão às flores do inconsciente. Quero um incumbido da Natureza mais dedicado à linfa, mais espectador-ator dos versos que se delineiam espontaneamente à consciência.
Queria um amor - ponte à área de difícil penetrabilidade às ondas do cerne. Um amor que me conduzisse a um crime qualquer. E o fizesse involuntariamente. Queria o sabor mais agudo das manifestações da Natureza. Porque, quando isso se faz é a hora de desvirginar-se de vez. E obter o orgasmo de cada engrenagem viva que se compromete com a Vida.

25 de setembro de 2005

Reflexões

A vida é moderna. Ela sempre se apresenta seguindo a mais recente intervenção do Fado.
----------------------------------------------------------------------------------
O inconsciente é esteta. Ele é exímio na preparação de uma sensação.
----------------------------------------------------------------------------------
Engravido de vida todo dia.
----------------------------------------------------------------------------------
A vida insiste em minha vida.
----------------------------------------------------------------------------------
Tempo é o nome que se dá às mudanças de máscara do mundo.
----------------------------------------------------------------------------------
Delineio meu inconsciente. É tão exótico desenvolver estética à abstração... à abstração intrínseca da gente.

22 de setembro de 2005

CAROLINA

Carolina rima com menina. E o que é menina? É ter uma vagina? Ou aspirações diferentes das dos meninos? Às vezes nem me lembro do Fado de menina. Fico apenas sendo essa vida assexuada das vidas que me habitam.
A tristeza não se exibe com saias, com paetês na indumentária. A depressão não disfarça olheiras com base, a alegria não pinta as unhas de vermelho. O mau-humor não se segura em um sutiã.
Sou palco à manifestação do mundo, como sr. Zé, Dnª. Zuleide, o cãozinho Xavier, a tartaruga Ruth, a begônia Marli, o passarinho Zeca, O Rio São Francisco, o milho Chico.

21 de setembro de 2005

Inveja

Inveja é inerente à existência. Como a manifestação ousada das sensações. Invejar é colorir o âmago com uma só cor e castrar assim a manifestação da selva colorida e heterogênea que é a vida. Imagino a Floresta Amazônica escondendo o verde, o marrom, o vermelho, o roxo, o azul claro, o rosa e exibindo somente um cinza insípido que não atiça sentimentos humanos. Isso é inveja.
Inveja é estar com a piscina "cheia de ratos". A inveja consome nossa linfa, nossa poesia, nossa oportunidade de estarmos a par do Tempo. Meu "eu" é vencido pelo Império Onipotente da inveja. Mas, eu "desafio o instinto dissonante".

Viva Renato e Cazuza... os quais, com certeza, já se manifestaram em outra forma de existência. Em uma coisa mais valiosa e mais superior que a condição de humano.

18 de setembro de 2005

Depois da Festa

Depois da intensidade, da inconsciência estimulada pelas cores, formas e sons mundanos, restam lacunas cinzas, secas. Feito a morte vivendo sem findar. Gozar à noite é válido para a noite. Para o dia já seria muito labor: sol a exibir-se, azul purinho. Felicidade seria demais, seria demanda enorme a disposições pequenas. As almas ficam sem sentidos, ficam fracas como a profundidade dos estetas.

15 de setembro de 2005

Espiões

A vida me espia. É isto. O céu está vivendo inteiramente sobre a vida que me habita. O passarinho passa rapidamente incumbido com essa gigantesca receita que é a vida. O vento surge com sua vida outorgada. A palmeira esbanja seu talhe, seu verde recente e seu amarelo que sucumbiu à força da vida que vive por detrás do sol. O som do raio existindo e as cores menos exploradas pela Natureza se pronunciam. A vida é esse feixe de matéria e de essência de que não se sabe. A vida é a força de um roxo-violeta, de um músculo se manifestando, de uma onda anêmica do mar, de uma tempestade instantânea, de um cochicho das aves, de um contorcionismo de macaco. A Vida. A vida. São em nome de que essas tapeações ao Tempo? Para que ir, resolver e concluir tudo? Não se sabe o resultado da infindável equação de existir. Soma-se tudo e chega-se ao Nada?

14 de setembro de 2005

Carolina e Natureza

Não consigo. Tento, tento, tento. O céu muda de moda, o canto do galo cala, os pés se preparam para a volta. O dia se foi. A noite prepara-se a um novo dia. A menarca assalta a vida da mocinha. A vida se cala e eu não chego a conclusões. Não chego a conclusões. Não-chego-a-conclusões. Nãochegoaconclusões.
A Natureza nunca se finda... tantos vermelhos em rosas, em bicos de passarinhos, em bicos de bustos. Vermelho é força. Como o músculo adquirido em um trabalho árduo. Vermelho... minha tara. O vermelho gritando em maçãs, desfilando em rosas, exuberante em bocas libidinosas. O vermelho anêmico pelo cansaço. O vermelho pálido da derradeira fatia de vida. E vem o amarelo, o VERDE para eu poetar sempre mais e mais. A força da vida que vive em tudo. O suor com sua transparência inerente me habitanto agora... O mundo é o que não se sabe. Sabe-se muito até atingir o patamar de plena sabedoria: a de não saber nada.

13 de setembro de 2005

Quantidade de Vida

Não sei o quanto de vida tem para me ser.
Será que ainda há muita vida querendo me viver?
Quando será que meus ouvidos se cansarão de ouvir?
Meus olhos, de ver?
Quando meus sonhos deixarão de sê-los?
Quando?
Quando a vida não mais me for,
será que outras vidas virão em corpos
Com bustos por se fazer?
Quando a vida não mais me for,
De que virão os incipientes seres?
Virão pretos?
Virão ricos?
Virão em época de trabalho árduo da Natureza?
Virão junto às flores?

12 de setembro de 2005

O Mundo em nossas mãos

Com a caneta grito meu mundo mais íntimo. As eloqüências mudas da alma ganham vida. Como o amarelo que fica até certo ponto latente e depois se manifesta em uma rosa à deriva. Como a acústica dos passarinhos que entra na engrenagem de existir.

Mundar

Viver é mundar.
O som é porque meus ouvidos são
A cor é porque meus olhos são.
Não haveria Bach se não houvesse ouvidos.
Não haveria vermelho se não houvesse minha visão.

Vivo? Não.
Mundo.

O mundo me é.
A cada passo o céu se exibe
A cada ida a volta se aproxima
O Tempo é meu sexo infindável.

O Tempo é a libido, o desespero,
A morte, a solidão, a alegria.
Ojeriza. Tesão. Fugacidade.

10 de setembro de 2005

Nascer

Quis nascer em outrora. Para ter o paladar do "não ser". Só sou porque existe em mim uma tal de consciência. E ser consciente da inconsciência é enlouquecedor.

7 de setembro de 2005

Companhia

Demando companhia
Como a estrela demanda a escuridão para cintilar
Como a maçã demanda o vermelho para ser maçã
Como o som demanda trampolim para ser som.

Demando companhia
Como o desespero precisa de grito,
Quebras,
Entrega,
Desejo de morte.

Demando companhia,
Como a necessidade imposta de um espirro.

Demando companhia,
Como a salvação de um "mais lá que cá".

5 de setembro de 2005

Vivendo

A vida é viva
Como o som pronunciado
E, só então, sendo som.
A vida é viva em orquídeas
No contorcionismo dos passarinhos.

A vida é viva na minha tristeza
Nesta casca que é o máximo que conheço
A vida é viva nas casas com cheiro de bolo
O cheiro é vida
E o senti-lo também.

A vida é tudo que, despudoradamente, gruda na alma
E fica latejando e fazendo rir e fazendo crescer
Os troncos do nosso império.

Nosso império de insistências
Nosso império de paixões unilaterais
Nosso império de libidos e "dessabedoria" de tudo.

2 de setembro de 2005

Saudade

Saudade é um abuso à nossa fatia esteta
É reconhecer rosas tênues em grande quantidade de rosas
A saudade é uma moda forte, de inverno
Amores indo bem são modas de verão
Mas o que precede são panos, panos
E os efeitos são sempre
Estéticas monumentais.

Saudade é adrenalina que gruda
E leva a longas caminhadas
E retorna cheia de seqüelas.

Saudade é alienar-se do Mundo
E desvirginar a metafísica
Que vive como espiã da Vida de tudo.