Total de visualizações de página

29 de abril de 2007

Gentleman

O terreno por onde transitam os gentlemen é um acervo de grandes despistes.
Houve tantas lutas, rebeliões e sangrias para se teorizar a igualdade dos sexos. O homem se aprimorou no trato com as mulheres, tornou-se mais cortês ou usou e usa de postiços para fazê-lo.
Como é bonito o rapaz que trata a namorada muito bem. Manda-lhe cartões com versos de Shakespeare. Abre-lhe a porta do carro. Dá-lhe presentes fora de datas especiais. Liga-lhe de segunda a segunda. Leva-a a lugares que potencializam o romantismo dos amantes. É lindo! Talvez seja a cobiça mais ferrenha de todas as mulheres heterossexuais.
Mas eu desconfio, e muito, dos garotos que se graduam em Universo Feminino e passam a exercer a função de mãe, melhor amiga, conselheira insubstituível sobre a relação. Pode ser que você esteja à mercê de um cara extremamente possessivo. Pode ser que a cafajestagem dele extrapole os limites das probabilidades e ele use dessa ferramenta como experiência para a própria eficácia para sedução.
Não vamos, no entanto, demolir nossa cidade de castelos. Vamos morar em castelos separados, por que não?! Vamos viver da própria ficção de acreditar em amor-perfeito. Mas jamais se esquecer de que o eu deve preceder o nós. SEMPRE.

28 de abril de 2007

Açougue

É tão inescrupulosa aquela exposição de bovinos – pretéritos nas mega- geladeiras dos açougues. Não há nenhuma conotação religiosa nisso. Apenas um reforço à existência do bom senso.
Pense bem: faz-se uma cova imensurável para o acervo do futuro humano. Já com os bois, expõem-nos em vitrinas enormes e os taxam. Cemitério. Antro de cadáveres. Decomposição prestes a compor uma comilança.

Ficção Mental

As terrinhas que fazem fronteira com meu tino me manipulam com garras de pinça. Às vezes, estou lúcida e concordante perante meus carnavais. A imaginação me coloca diante de fileiras e fileiras de espectadores; daí, sobrevivo das performances. O Mundo parece me enxergar por trás de um grande visor. Ping – pong: o Mundo é o panóptico e eu sou T.O.C..
Meu amante fica a minha espreita. Assiste a minha nudez. Além de a visão alcançar longas distâncias, os outros sentidos o fazem também. Uma consciência biônica faz casa no meu corpo. A liberdade que, de nascença, já é paralítica, fica mais e mais comprometida.
Tento organizar meus pensamentos como as colônias que a Natureza estabelece às abelhas. Pretensão vã. Divago e me perco e enlouqueço.

27 de abril de 2007

A morte de tantos Tios Patinhas

Seu próprio destino o estampa como indivíduo de sorte. Pense bem, você tem status para carregar até a morte e depois reencarnar com regalias e mais regalias. Não sei se esse aparato todo alberga sua felicidade, seu contentamento. Tantas vezes, o tio Patinhas se mata. Mas não creio ser seu caso. Você é tão bonito, tem uma namorada para inquietar sua boca, seu silêncio.

25 de abril de 2007

Beijo

Duas superfícies inicialmente secas vão se ampliando, se ampliando e, de repente, uma está dentro da outra. Neste instante, já transcenderam o estágio umedecido. O beijo é líquido.
Nos bastidores, nos corpos dos indivíduos que compõem a trama do beijo, uma espécie de efeito – anilina radica-lhes uma volúpia; volúpia instantânea, como a proliferação imediata da cor.



**Beijar é uma boa maneira de se iniciar uma pesquisa de campo, de se entender um significado incipiente da Metafísica, de se filosofar acerca da espreita das divindades sobre a Humanidade.

24 de abril de 2007

Autoconfiança

Um poeta ilustre me deu respaldo a dizer muito em poucas linhas.
Eu nunca tive vocação para Sherazade. As tentativas? Todas vãs, inconsistentes.

22 de abril de 2007

,mas o PIB da China estava errado

Acho que essa correção que fizeram ao cineasta-escritor-comentarista Arnaldo Jabor serve de jargão a todos os tecnicistas de plantão, plantão não remunerado.
Se a música é boa, ele diz que não há nenhum traço de música erudita, portanto, não tem qualidade. Se o rapaz é um gato e articulado, comunicativo: ele não é nada mais que isso! Na padaria Mini Pão, o atendimento é péssimo e um tolo ainda me diz: eles são instruídos para um atendimento padrão. Padrão de péssima qualidade, reprovado pelo Inmetro.
O estudante de Jornalismo, em regra, pega todas as teorias e as come, impensando nas prováveis conseqüências. Come todas elas. Por vezes, como a digestão é custosa, ficam – as iguarias – a os perturbar.
Eles se vestem com uma atadura que corresponde, fielmente, às máximas angariadas em cada teoria. E contestam o professor porque Jornalista tem que ser crítico.
- Professor, eu fiquei muito confusa em sua prova porque você igualou o sentido de matéria com o de artigo. Existem várias diferenças entre essas duas expressões e... ... ...
- Cara aluna, pelo estilo da prova, subentendi que você compreenderia a abordagem descompromissada das palavras.
O cara foi inteligente. Ele emendou a forma ensaiada como a garota se pronunciou e, ironicamente engajado, pôs um ponto final no discurso. Conclusão: a menina não tinha outra alternativa em vista, a não ser calar-se.
A todos os tecnicistas uma faixa:
,MAS O PIB DA CHINA ESTAVA ERRADO!

Debutante

Quinze anos de vida dá valsa.
Quinze anos de cão sucumbe.
Quinze anos de foto dá amarelo.
Quinze anos de velhice dá calvo.
Quinze anos de caule dá tronco.
Quinze anos de galinha dá baba-de-moça.

Quinze anos de arcada dá atrito.
Quinze anos de obra dá cidade.
Quinze anos de firma dá tradição.
Quinze anos de dente dá cárie.

Quinze anos de escola dá alienação.
Quinze anos de namoro, incesto.
Quinze anos de crime, serial.Quinze anos de castigo, loucura.

Quinze anos de indústria dá poluição.
Quinze anos de dias dá matemática.
Quinze anos de morte, saudade.

20 de abril de 2007

Metástase Noturna

Hoje só teve noite.
Acho que a Terra não girou;
A natureza ultimamente tem se alterado,
Se abstraído dos compromissos tradicionais.

Na época da vovó,
Os ciclos menstruais eram infalíveis.
De vinte oito e vinte oito dias,
Recepção à sangria.

Os mares não extrapolavam as medidas,
As criancinhas brincavam com seus baldinhos
Na água.
Os Tsunamis não punham o povo
Em liquidificador.

Hoje só teve noite.
Nada usou uma nesga de luz
Para se mostrar.
O tempo parece radical-mega-conservador.
Repete uma ladainha irredutível
Que amedronta as casas humanas,
A vizinhança,
A mãe,
O pai,
Os velhinhos,
Os vitimados pelas fatalidades.

Letra e melodia

Vamos brincar de Deus, Erick?!
Tentar a harmonia entre a metafísica do som,
E a articulação das palavras?

A dissonância não seria má idéia.
Hein?!
Versos sem métrica
Sobrepostos a decassílabos.

Camões e poesias marginais,
Em um varal de cordéis.
Textos prosaicos junto a bulas de remédio,
Caderno de receitas com a Bíblia Sagrada,
Texto hermético ladeado por linguagem visual.

Que tal Zequinha de Abreu e Tchaikovsky?
Mariana Fellet e Erick Vidal?
Seu Antônio, do calçadão
Com a bateria do Vidigal?

Canarinhos e maritacas insones?
Aulas de harmonia desconcertantes?

18 de abril de 2007

O arroz que dança na peneira

A vida acoplada à consciência de si mesma não agüenta a quietude. A ignorância dos grãos é que lhes garante a felicidade. Ah, como eu queria ser algo inanimado!

17 de abril de 2007

Nair Bello in terça-feira, 17 de abril de 2007

Eu não tenho certeza da Vida Eterna,
Eu não afirmo a reencarnação,
Eu vejo a morte,
Eu vejo a vida:
As duas, meio concluídas.
Óbvias em aparência.
Mas obscuras, em se tratando da linfa.

Não sei em que orgânico culminarás,
Não sei se as almas são, de fato, aladas,
Não sei qual é a sombra do processo de decomposição,
Só sei,
Só percebo, melhor, o que meus sentidos ingerem.

Hoje o tempo se esvaiu de tu.
Talvez para dar conta dos trigêmeos
Que estão prestes à vida na favela.
O Tempo te emudeceu.
Mas, as habilidades da Tecnologia te eternizaram.

Ainda que Deus não te eternize,
As novas consciências estão em incessante gênese...
Os novos galhos das velhas árvores saberão de ti.

Mesmo se a alma não for alada,
O Novo sempre te alcançará,
Sempre,
Sempre,
Sempre.
Enquanto houver matéria disponível à condição humana.
NAIR BELLO.

Procissão

Vamos fazer nossa p r o c i s s ã o;
Eu não poderia carregar esta cruz sozinha.
Deixei você preocupado, não é?
Seria nobre meu sigilo,
Mas sou plebéia.
Por um simples motivo:
Fui materializada como gente.

Mutante

É!
É verdade!
Papai sempre me recomendou mo-vi-men-to.
E eu achava que ele iria favorecer meu tédio.

Achava mesmo:
Esse troca-troca postiço,
Esses cafés dormidos de lanchonete de alta rotatividade
,
Gente de toda idade –
Com seus discursos estereotipados –
Suas roupas manjadas
E o esmalte degrade,
Conforme a maiorIDADE.

Daí, desvirginando meu radicalismo,
Saí.
Observei a teia de pessoas que saem,
Ao trabalho,
Às compras,
À vadiagem.

Daí,
Concluí:
Tudo demanda mudança.
As fachadas das lojas,
O corte de cabelo,
Um anseio,
Um medo,
As tipografias,
O design dos carros,
As crianças,
A seriedade e a sisudez.

Amor, amor, amor

Não sei se invento,
Se o amo,
Se você é mero vapor da volúpia.
Qual é meu intento?

Por vezes,
Os instintos se embaçam,
São exércitos disfarçados...
Na prontidão de enfrentar a psique.

Esconde-esconde.
Eu sinto, mas não posso?
Eu posso, mas não sinto?
Até onde eu devo me permitir levar?
Pela metafísica?
Pela minha autonomia?

Não existe autonomia na vida!
É tudo nazi-fascismo.
A gravidade é uma conseqüência do Fascismo.
Fascismo das Fatalidades
Que compõem o Mundo,
Em uma valsa presunçosa.

14 de abril de 2007

Atuais conjunturas

O medo é a espera de um veredicto do Futuro. O medo é o desviver em prol de uma fantasia mesquinha que estar por vir.

5 de abril de 2007

Mulherzinha

Uma baforada – relâmpago do inconsciente,
Às vésperas do domingo de Páscoa,
Disse-me, aos gritos:
Tu não és uma mulher convencional.

Algumas máximas do manual de etiqueta
À mesa,
Diante de cerimônias sociais,
Perante relações humanas, enfim,
Subornam os sentidos femininos,
Ou simplesmente e igualmente vitais:
Os dos Homens e os das mulheres: os dos seres.

As mulheres mentem,
Entopem os instintos com uma bola de algodão,
Saem de saias, numa fajuta insinuação.
Basta – lhes um vestido,
Para que se sintam extremamente femininas.

Elas rosnam,
Porque um rapaz fez um comentário autêntico,
Selvagem, embora sincero.
Elas denotam fortaleza,
Mas se esfarelam com perdas conjugais.

Ah! Mulheres.
Minhas congêneres,
Embora aflitas em nome de um exército inventado,
Civilizado,
Postiço.
Vamos voltar à época dos bichos,
Da desordem.