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27 de julho de 2007

Solução provisória para a fome

A obesidade mata mais que a fome.
Eu faria uma errata: a obesidade mata a fome, garante energia às 89567958 futuras safras de gentes na África. Quanta fartura! Não posso ver uma Dona Gorda.

25 de julho de 2007

Lhes

Num dos cômodos, todos dormiam. Dormiram mil dias... Levantaram-se num súbito, sob as vanguardas das tecnologias. Estas lhes entraram através de uma seringa, e lhes penetraram os sonhos e as expectativas.

20 de julho de 2007

Feira à mostra

Mais uma vez, o enredo permeia a carência que faz sombra no anonimato.
Uma mulher, faixa etária que transcende os vinte e poucos, um metro e setenta e cinco às custas de um salto de uns dez centímetros, cabelos negros e longos, castigados por uma química dessas ultra-práticas e pós-modernas, seios quase transbordantes, calça jeans bem justa, pouca maquiagem, muita exibição.
Quando meu tino vivia enfurnado nos parâmetros genéricos, eu sequer dava cartas próprias a esse tipo de aparição: assistia a uma mulher trajada com panos de dimensões irrelevantes e, num gesto de concordância às culturazinhas, julgava-a volúvel às predileções machistas e, conseqüentemente, um ser respeitável pelos cordões que têm como pingente os falos. Estes se acendem quando se topam com feiras à mostra.
Fiquei por uns quarenta minutos no mesmo antro da mulher-impulso desta história. Observei-a com devoção a meus instintos, a minhas culturas mecânico-naturais. No cômodo das minhas precipitações, surgiu-me: que magnetismo envolve uma psique a ponto de ela extrapolar sua carência através de um corpo praticamente despido? Carne de açougue não-taxada. Vaidade ordinária. Esse discurso veio-me junto à gramática da piedade... E esta só me vem perante catástrofes alheias. A piedade é minha maior pequenez.
Não me veio uma didática que satisfizesse minhas expectativa sobre o porquê de tantos comportamentos banalizados, embora encharcados de idiossincrasias.

O prazo da unicidade

Abundância da unidade humana.
Daqui a uns tempos, devoto do pacote-praticidade, o Cosmo irá sintetizar o homem aos cachos. Vantagem aos passionais, que recorrem a amigos postiçamente piegas para ir à padaria.
Muita gente; muita gente mesmo. Filas que esperam por profissionais de saúde, por extravasadas na porta das discotecas, filas de banco, de ônibus, etc. Coincidência: todos à mercê do anonimato. Alguns, resignados por nascença, não se incomodam com a condição; outros, todavia, querem a notoriedade, esta “-cida” de todas as carências. Crença.
Há uma cantorinha cheia de atitudes postiças que entrou pro cenário do roque nacional há pouco. Fico atônita, com os sentidos desalinhados, nas vezes em que ela se pronuncia nas mídias e faz questão de enobrecer as maiores banalidades; será que ela quer criar um selo de ouro a todas as obviedades mais maltrapilhas que existem? Será que ela quer outorgar importância ao desimportante? Será que ela foi acometida pela síndrome da onipotência?
Todos queremos tomar frente de vanguardas, todos queremos poder patentear qualquer mísera coisa. Talvez isso seja o estopim de um sentimento inaugurado pela vigília mecanizada pelos meios de comunicação. Num diálogo entre duas pessoas, elas trocam as impressões através de uma oratória impecável, como se estivessem sendo perscrutadas por uma quantidade imensurável de pessoas, ainda individuais.

18 de julho de 2007

Acidente de avião

17 de julho de 2007: Acidente com avião da TAM nas imediações do aeroporto de Congonhas.

Aos que restam, à mercê do Cosmo, não há invenções humanas ou imposições do Fado a que recorrer. Um sentimento genérico ressurge o nazi – fascismo: calemo-nos e fiquemos involuntariamente à espreita da perplexidade – flor danosa, fatalmente inevitável.
São cento e setenta e seis assentos. Desespero unânime, como dá conta de tanta gente? Pânico didático, bem explicadinho, ao encontro da provável última manifestação da fatalidade.
Contemporizar à dinâmica do fim aciona o instinto de sobrevivência, e este em dimensões deturpadas, com filosofias trágico – instantâneas niilistas. Não é hora de poetar; não é hora de filtrar o sentimento conforme os funis da razão, mas como a mídia está dormindo, como a proximidade com as minhas intempéries íntimas é bem mais nítida, tem-se o talento, ou a frieza de metaforizar o contexto.
Ainda há vias para se fazer uma conclusão opinativa:
As tragédias entoam uma mensagem audível a todas as repartições dos nossos preconceitos, das nossas pequenezes, da unicidade do nosso sadismo. A tragédia ameniza nosso estresse com o tosco, faz a gente amar os insípidos com mais altruísmo... A tragédia é uma escola que divulga valores divinos; a tragédia é a igreja na prática.

16 de julho de 2007

Bênção Metafísica
Há muito, neste tempo extenso, mas numa encarnação diminuta, já cogitava minha afinidade pelo inanimado, já que este contemporiza àquilo que a gente lhe atribui. Amor mútuo, fidelidade, monogamia.
Cismo ser algumas mímicas das culturas que são enobrecidas como atributos divinos: você deve relacionar-se, beijar, encher-se de sensações voluptuosas, etc. Sofrer uma melancolia dúbia? Para quê? Prefiro a melancolia solitária da nascença.
A moda vitalícia que me fica à espreita é a nostalgia; e pouco me adianta uma doutrina, cuja pretensão-mor é a do resgate e a do conforto. Fulgura a depressão.
As mãos clandestinas do Cosmo, por mais que me ponham diante de espetaculares e desenvoltas manifestações do civilizado, ou então perante a ratificação das divindades, desembocam no raquitismo das minhas possibilidades enquanto gente.
A vida é uma penitência que, por vezes, surge altruísta com uma nesga de claridade. Minutos de bênção...
NAMORAR
Para muitos, para os falantes mancos da Língua Portuguesa, namorar demanda preposição. Erro de gramática, acerto sentimental. Tudo bem! O que importa é o coração.
A alguns, no entanto, por mais que a intimidade com o Português já lhes rendeu inúmeros orgasmos, o namoro exige complemento. Fulaninho namora CONTRA sicraninho. Porque é tanta rixa, é tudo tão chulo. Fico horrorizada com o comportamento dos humanos unidos. É inumano.
E banal, vazio como este texto.

12 de julho de 2007

Pequeno ensaio desembasado sobre o Amor
O amor é transgressor; não há leis que o regem e, portanto, as psiques do diálogo amoroso ficam dando destinos – labirintos ao sentimento discursado por Camões e cantado por artistas que se prezam. Novelo entre tino e inconsciência, desatino consciente.
Ama, quem é hospedeiro de uma depressão perene, embora, num privilégio casual, contemporiza a momentozinhos banais, arriscados de felicidades. Ama, quem rompe os pudores e os semáforos comportamentais, e permite-se desvirginar; ama, quem vive de extremos, mas no momento do amor pende a somente um lado.
O amor é a covardia de querer abdicar-se de tudo; é o zelo de ser exímio por vaidade; é uma identidade que se preocupa duplamente. O amor abrange a caverna intrínseca de cada um e lhe mostra um acervo vastíssimo de naturezas inerentes à condição humana. O amor é a penitência mais sofrida da humanidade.

6 de julho de 2007

Insipidez

Sobressai esta desintimidade entre o mundo de artifícios que fazem sombra na Natureza e esta própria. Desentendimento crônico. Insatisfação. Falo sem utilidade. Corpo presente.

Seção de Opinião

A comilança de neo-culturas é coisa de personagens de quadrinhos. Certos conservadorismos merecem poltrona de destaque, merecem o físico dos vinte e poucos, mesmo sendo matusalém

Frade

Nosso mar nos trai;
A Natureza é traiçoeira,
Abusa da ignorância dos seus hospedeiros.
Caí em tontura do meu próprio líquido.
Me atormentei,
A ponto de esquecer o tino da minha profissão.

Diriam os kardecistas,
Obsessão.

Comecei me abstraindo da lógica,
Contei degrau por degrau,
E tropecei...
Interpretei o espectro da dramaturgia das telenovelas,
Daí, não lhe prestei atenção,
Me escapou o enredo,
Me escapou a pretensão barata de se satisfazer
Com os frascos de indústria cultural.

Tentei imunizar os sentidos do óbvio,
Da camada cutânea de tudo;
Fui pela sombra,
Em nome da sombra,
Ao encontro da sombra.

Uma gramática alternativa se lançou a mim,
Alguma habilidade psicológica tentou apagar meus arquivos,
Mas me restaram destroços dos velhos tiques.

Tentei me acostumar ao novo,
Como vejo alguns transeuntes bem entrosados
Com as novas tecnologias,
Com as boas novas da medicina estética,
Falando sozinhos,
Submissos aos adventos.
Falando sozinhos,
À mercê do próprio eco.

O ovo não deveria ter se rompido,
Eu preferia os automatismos conformados,
A tanto acervo de novidade.
Acho que sou covarde,
Vou virar frade.

5 de julho de 2007

Escola

Quando pequena, Melissa abstraía com demasia na sala de aula. Os professores olhavam a ela com uma certa preocupação de ela ter dificuldade em concentrar-se; inequívoco: a garota não pousava a atenção sobre o que estava sendo dito. Por instinto, apresentava uma ojeriza a didáticas e a maneiras simplistas de se explicar as coisas; desde as convencionadas às mais transcendentes. E involuntariamente se distraía em outros mundos mudos, embora com oratórias muito mais atraentes.
Em vez de memorizar a representação das coisas e o seu respectivo significado, fazia viagens psicodélicas para culminar no senso comum. Pensava que tudo que havia chegado à obviedade demandou muito estudo, muita filosofia. E, assim, pouco lhe importava a matemática explícita das ciências.
Uma vez, numa aula de redação, a professora pediu aos alunos que fizessem um desenho bem original e o explicassem. Melissa transgrediu o pedido, e esboçou os símbolos que aludem ao feminino e ao masculino. Abaixo da ilustração, escreveu: meu desenho, professora, pode não ser original, mas minha idéia é. E continuou: enquanto todo mundo se satisfaz ao saber que o símbolo tal representa as mulheres e o outro, os homens, eu estabeleci uma relação entre os símbolos e o mundo palpável e quis lhe contar: as meninas devem permanecer virgens para serem respeitadas, endeusadas, canonizadas; por isso, na região da genitália, o bonequinho recebeu um traço que, numa referência a outro símbolo, dá-nos a idéia de proibido. Os homens, no entanto, devem cultivar o falo sempre ereto, rígido, em devoção à masculinidade que lhes cabe. Portanto, dá-lhe ao bonequinho uma seta ascendente.
A inteligência vem do perscrutar individual que algumas raras pessoas têm; elas analisam o espectro das coisas nítidas e inquestionáveis aos comuns.

3 de julho de 2007

Uma pretensa juristinha

Marta Suplicy virou notícia. Esta nasce quando as coisas parecem culminar no óbvio, mas, por um deslize, transgridem um principiozinho qualquer da obviedade e caem na fatalidade das mídias.
Maria Cecília acabou de se tornar bacharel; foi aluna dedicada, esteve sempre muito aquém das faltas permitidas, fez sua monografia baseada no Português machadiano e é discente mais ovacionada pelos professores. Ah, estagiou na defensoria pública e num escritório do cunhado da sobrinha de um juiz famoso na cidade.
Estava em um momento extra-ortodoxo: batia um papo virtual com uma paquera e simultaneamente acessava sites de informação. Em um destes havia a seguinte interação com o nauta: o que você achou da declaração da Ministra sobre o caos nos aeroportos? Mande sua opinião. Sempre muito erudita, não por herança familiar; os pais eram ricos, embora não intelectuais. Erudita por opção, como existem os maltrapilhos por opção. Maria Cecília sabia do histórico de Marta, da época em que ela explorava seu status de sexóloga. E sentiu, sob a declaração “relaxa e goza”, que a ministra do Turismo quis apenas se popularizar no comportamento tão induzido hoje em dia: SEJA PAN!
Os professores de cursinho pregam o PAN: goste de química analítica e ame a gramática francesa; estude muito aos finais de semana e faça sexo com seu namorado; as lanchonetes comercializam o PAN: xis tudo, coma dois e pague um, refil de refrigerante; os pais brigam pelo PAN: corte esse cabelo, produza-se, saia menos, eu não gosto daquele Raoni; não demonstre que você não sabe o que seja jurisdição: seja PAN.
Numa tentativa de vir ao raso, ao povão, Martinha virou Madalena.
A promoção já aconteceu, e os achismos de Mª. Cecília estão mortos, sem cruz, numa gaveta hermeticamente fechada.

Japonês


Japonês sobressai.
Que gen é esse que tá sempre na cara?!
Japonês cruzou com macaco;
Saiu de olho puxado.