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29 de dezembro de 2010

A alguém especial

A partir das habilidades com que meus pés roçam a vida,

Reconheço texturas, temperaturas, prazer e dor.

Sou cheia de ciência para recepcionar o Mundo,

Embora Ele nunca se revele inteiro a mim.

Já fui toda fruta – bendita descoberta da maçã.

Já fui toda tristeza,

No momento em que o tempo viu-se incumbido

[de instituir em mim a química da decepção.

Já fui enganada por finas lâminas de gelo,

Mas já visitei outra dimensão – sem avião nem nada –

Apenas me submetendo a radiações de inteligência alheia.

Deus às vezes se excede através de trovões letais.

E também se supera (ou supura) por meio de uma sinapse caprichada

Cujo produto chega inteirinho para mim.

Pronto para o consumo imediato.

27 de dezembro de 2010

Por estar mais maciça de tempo do que eu, mamãe às vezes tenta me blindar contra algumas radiações da vida. Mas são inevitáveis os meus percalços.

A fraqueza alheia, por vezes, é o oásis dela.

23 de dezembro de 2010

Família

Família é realmente superimportante para qualquer pessoa, porque quem vem para a Terra sob o formato humano e fica exposto diretamente às radiações da Vida estabelece para si uma aura de incessante amargura.

15 de dezembro de 2010

Enquanto os bichos vivem a rudeza que lhes é imposta, a gente convive com ternura, compaixão, altruísmo.

É um privilégio ter vindo humano para a Vida.

13 de dezembro de 2010

Em vez de Ticiane se embasar na própria fortaleza intrínseca para agir e lidar com as pessoas, ela empreita toda a sua expectativa nas situações. Portanto, a personalidade dela, embora seja de ossos, é submetida ao molejo que somente os cartilaginosos aguentam.

9 de dezembro de 2010

Sobre ter filhos

Ter filhos é intermediar Deus ao novo, o qual é curioso, inquieto e livre para receber comandos e conhecimentos.

Conduzir um serzinho à Vida, portanto, demanda inteligência e cautela.

O que se vê, no entanto, é pai optando pela paternidade como uma obrigação civil, e não devido ao desejo de se envolver integralmente nessa missão. O produto disso são filhos vivendo suas naturezas de um jeito autônomo – como a grama, o vento, o céu – e se encalacrando com os barros das descobertas e seus respectivos tropeços.

Não menosprezando a biologia dos vegetais, eles próprios precisam ser regados de duas a três vezes por semana. Se se trata de ser humano, o comprometimento com este deve ser bem maior, porque além da subsistência ele precisa de carinho. E não dá para ser autodidata em se tratando desse tema.

Viagem para a Disney substitui ensinamento de educação e de bondade? Brinquedo supertecnológico dispensa afeto dos pais? Coração de babá tem o mesmo conteúdo de coração de mãe?

O que você, pretenso pai, tem para contar/ensinar a seu pretenso filho? Vale a pena trazer para a vida alguém de quem você será o guardião?

Tenho muita pena desses que vêm à luz seres humanos e vivem como mato; respeitando apenas a natureza que lhes convém.

4 de dezembro de 2010

Relatividade

Chega sexta-feira e meu ânimo se altera como a primavera dita mudanças à vegetação.

O Acaso

Cumprindo a própria obrigação, o telefone ressoou. E minha sexta-feira, que até as 16h25 era grama verdinha, perdeu-se no barro.

O coração sumiu com seu maestro e ficou dissonância pura. O paladar recebeu os mandamentos do amargo para processar.

Os sentidos todos se atormentaram dentro da minha casa.

“Só o acaso estende os braços a quem procura abrigo”.

3 de dezembro de 2010

Sobre a solidão

por carolina fellet

Conforme vislumbrara, a vida não lhe estava fácil, porque a solidão – por mais que lhe trouxesse criatividade – a blindava contra desabafos, carícias e o próprio exercício do humano.

Por sorte, mantinha no apartamento onde morava a atmosfera que era dela. Os cômodos, os pertences, as comidas excediam a natureza de impessoalidade inerente a eles: tudo ali era uma extensão de Blima.

Chegar em casa todos os dias sem ter quem a aconchegasse era como se toda a natureza estivesse à mercê do nada; privada do sentido humano para recepcioná-la.

A situação se agravou e a moça solitária apelou a vizinhos e agendas antigas. Nessa busca, angariou alguns pares de ouvidos e de olhos e um pouco de atenção.

Todavia, como os donos desses materiais vitais possuíam aflições também, quase nada puderam fazer por Blima.

...

Um dia, enfurnada no laboratório das próprias químicas, ela atritou dois emplastos do corpo, reconheceu Deus dentro de si e alcançou o Supremo

26 de novembro de 2010

Panelas

por carolina fellet

Mamãe sempre foi entrosada com a culinária.

Já eu... Tenho ojeriza a panela em cima de trempe ligada.

Sinto-me tão ameaçada como se estivesse diante de uma cobra pronta para inocular em mim seu veneno.

Panela é coisa viva.

19 de novembro de 2010

Natureza humana II

por carolina fellet

É fatal: em determinado momento do dia, ela sente-se cansada da natureza humana que lhe é imposta a todo momento.

11 de novembro de 2010

Querido Conde M.,

por carolina fellet

Não o guardo nas várzeas da minha memória porque as utilizo como depósito do número do meu CPF, do itinerário para a faculdade e dos dias em que faço ioga.

Os resíduos do nosso namoro de mais de quatro anos espalharam-se entre alguns de meus sentimentos mais nobres e transformaram-se em um centímetro que seja do meu progresso enquanto gente.

Obrigada por ter me apresentado à dimensão da volúpia sob a velocidade de quem quer se encantar pelo percurso. Obrigada por ter usado da sua beleza física e sentimental comigo durante o tempo em que estivemos juntos.

Perdão pelos momentos em que agi de acordo com os comandos do egoísmo e, portanto, fui-lhe injusta.

Feliz aniversário.

Agora sem presentes, sem beijinhos, sem amassos, embora com muito carinho.

Carol.

9 de novembro de 2010

O falo

por carolina fellet

O falo é figura importante na vida de qualquer mulher. O problema é seu entorno: o dono dele. Que tem hábitos próprios, timbre de voz, inclinações...

8 de novembro de 2010

Vislumbrando o futuro alheio

por carolina fellet

No perímetro em que ela se aloja na balada; na fila da casa lotérica; no posto de gasolina... Por onde ela passa, há sempre um oriental farejando minha irmã.

Já disse a ela que o futuro lhe reserva um vendedor de caneta-choque.

7 de novembro de 2010

Relações pós-modernas

por carolina fellet

O cara com quem você saía a tratava com delicadeza e gentileza.

De repente, já que o convívio prescinde de cerimônia, ele – o cara com quem você saía – torna-se rude perante o relacionamento.

Como se o mar abstivesse de sua natureza líquida e dinâmica e sucumbisse à biologia das areias.

6 de novembro de 2010

O vírus

por carolina fellet

Numa pretensão, o vírus entrou no meu corpo como um estupro. Amanheci gripada.

...

Depois fiquei pensando:

Os vírus pegam as mulheres que eles quiserem. Afinal, até a Sandy gripa.

Sobre a beleza

por carolina fellet

A beleza das branquelas é sazonal: no inverno ela resplandece.

5 de novembro de 2010

Sobre o processo de domesticação da cria

por carolina fellet

Há quem deixe a própria cria no quintal de casa; à mercê dos quatro ventos.

Quem vem para a vida sob o status humano quer ser gente, ora.

E isso implica o processo de domesticação feito pelos pais.

28 de outubro de 2010

Cargo político

por carolina fellet

Quem se inclina à política deveria ter como característica principal o altruísmo, já que representar o povo é agir em prol dele.

O que se vê, entretanto, é gente fazendo carreira profissional com a política, a qual oferece salários astronômicos em troca de poucos esforços.

Ora, ser vereador, governador, senador, presidente como empreendimento deturpa completamente a função da política – cujos benefícios a seus aliados deveriam ser meramente simbólicos.

27 de outubro de 2010

Sim e Não

por carolina fellet

NÃO às drogas ilícitas.

NÃO ao álcool.

SIM ao efeito colateral do antialérgico.

Para garantir a sonolência de uma noite de sonhos...

26 de outubro de 2010

Visita

por carolina fellet

Encher a casa de visita aos finais de semana é uma alternativa para vencer o tédio e salvar o próprio casamento.

19 de outubro de 2010

A ira

por carolina fellet

O que fazer quando a química do próprio corpo está toda empreendida na ira?

A que deus recorrer?

Roer a unha até o sabugo?

Irada, sou nula.

Somem em mim todas as possibilidades humanas.

14 de outubro de 2010

Independência feminina

por carolina fellet

A Independência das mulheres – se é que foi conseguida – apresenta muitas falhas.

Por um recalque trazido da antiga condição de submissão a homens machistas, mulheres pós-modernas entram para relações conjugais munidas de armas até os dentes.

Se eles querem azul, elas lutam pelo amarelo.

Se eles preferem pedir uma pizza e passar o fim de semana em casa, elas escolhem jantar fora.

Minhas contemporâneas querem levantar a bandeira da própria autonomia a partir do muque obtido com a revolta perante vidas e vidas de opressão – afinal, foram tantas as amélias.

Será que isso funciona?

Educação Física

por carolina fellet

Hoje entendo por que não gostava de Educação Física na escola.

É que nos jogos, geralmente, nossos corpos é que eram o alvo da bola.

E o que é que eu faria com meu instinto de autopreservação?

Nunca consegui superá-lo.

Sustentabilidade

por carolina fellet

Se por conta própria a natureza já se excede – haja vista, nas bancas de supermercado, as frutas, verduras e legumes com tamanhos exagerados –, imagine quando as siliconadas estiverem mortas e seus respectivos silicones precisarem ser degradados?

Prece

por carolina fellet

Que eu consiga contornar situações difíceis. Se não me for possível, que eu caminhe carregando-lhes o peso, a fim de alcançar um músculo rígido que me deixe potente o bastante para resistir à natureza das circunstâncias.

A trapaça

por carolina fellet

A natureza me trapaceou.

Desde que “fiquei mocinha”, aos 11 anos, estou esperando a manifestação dos bustos e quadris.

Já se passaram 14 anos e eu continuo usando sutiã menina-moça.

Anjo da Guarda

por carolina fellet

Dizem que todas as pessoas têm um mentor espiritual – o popular anjo da guarda.

O da dona Silvana é um gourmet, afinal ela só pensa em hamburger, lasanha, canelone.

5 de outubro de 2010

Tipo exportação

por carolina fellet

Papai quer me mandar para os EUA, porque meus irmãos moraram lá e falam um inglês fluente. E eu sou brasileira analfabeta de norte-americano.
A sensação que tenho talvez seja a mesma dos escravos diante da alforria, afinal, fui acostumada a mamãe e papai e irmãos resolvendo tudo para mim.
E se com bom e velho portuga eu me embaraço com as burocracias, imagine em outro país?!
Que agonia!

O gringo

por carolina fellet

Perante um gringo, há um mistério.
Porque o pensamento dele é processado conforme um código diferente do nosso.

Inteligência: fiel companheira

por carolina fellet

A melancolia, por vezes, é efeito colateral da inteligência. E esta, quem a tem, possui companhia fiel.

3 de outubro de 2010

Casa

por carolina fellet

Casa é gravidade nesta vida. Por mais que percorramos de um lado a outro, queremos sempre regressar-lhe.

No tatame

por carolina fellet

Luta no tatame é uma tentativa de calar Deus.

26 de setembro de 2010

Sobre a tristeza

por carolina fellet

Já que tudo nessa vida é pura especulação...

Será a tristeza o prenúncio de uma felicidade?

18 de setembro de 2010

Toxina botulínica

por carolina fellet

Que pretensão desafiar as manobras certeiras do Tempo com toxina botulínica, tintura de cabelo, viagra, reposição hormonal, cirurgia plástica.
Quem é que pode manter o céu azul? Estacionar a maturação das flores? Interromper o fôlego do mar? “Desnascer” um bebê e “desmorrer” um vovô?

Natureza humana

por carolina fellet

Às vezes peço licença para exercer minha natureza humana. Esvaziar a comporta de xixi, extirpar o mau-hálito com uma boa escovação de dente, tirar o sebo sintetizado pelo próprio corpo.
Outras vezes, procuro o outro, para novamente exercer minha natureza humana.
Quero ver e ser vista. Lustrar meus predicados e atrair atenções, como se eu fosse a gravidade do lugar por onde passar.
Recolho-me em dor. Desabrocho-me em flor, a fim de conquistar aquele rapaz desimpedido. Pura natureza humana. Abre e fecha; ilumina e escurece; entende e desconhece.

Nelson Rodrigues

por carolina fellet

O preconceito com Nelson Rodrigues equipara-se ao preconceito com a própria natureza humana. Afinal, o dramaturgo apenas registrou – através da palavra – as reações (e a tomada ou não de atitude a partir delas) das pessoas perante o corriqueiro. Nada mais.

17 de setembro de 2010

Não às partituras

por carolina fellet

“A” é geografia de som.

Assim como a clave de sol

E toda a partitura o são.


Bom mesmo é musicar a vida

A partir das batidas do coração.

9 de setembro de 2010

Pensamento do dia

por carolina fellet

Quem se atenta à metafísica, por mais que se ocupe com alguma burocraciazinha deste mundo material, jamais se priva de vislumbrar um pouco da eternidade em tudo. Porém, chega uma hora em que aterrissar nesta dimensão, nas zonas erógenas, no valor de cada coisa que ganhou carne e veio para o mundo é fundamental.

3 de setembro de 2010

Vidinha de alma

por carolina fellet

Insisto em escrever sobre a vida das almas. É que tem muita gente que insiste em anestesiar esta temporada orgânica e se arremessar a outra dimensão. Poxa! Vidinha de alma deve ser muito chata. Sem região erógena... E sem brigadeiro.

31 de agosto de 2010

Curiosidades do mundo Pós-Moderno

por carolina fellet

O mundo mudou.
O velho alicate da manicure foi substituído por uma piscina natural repleta de peixinhos que se alimentam de cutícula.
O talentoso cérebro dos taxistas cedeu espaço ao GPS.
Cursinhos de inglês perdem aluno progressivamente. Os estudantes preferem aprender idiomas estrangeiros “in loco”.
A sangria das mulheres estancou. Basta elas tomarem meia-dúzia de cápsulas.
A nova geração nasce sem siso.
Indesejáveis pelos são extirpados com o laser.
Felicidade sintética é vendida nas farmácias.
“Procura-se um amor” permanece vitalício nas manchetes de jornal.
E as manicures continuam sendo o veículo de comunicação mais eficaz.

Ex

por carolina fellet

Dia desses me deu uma vontade de ligar para o ex. Mas, como sempre faço um balanço com as sugestões articuladas pelo meu ID e SUPEREGO antes de tomar qualquer decisão, optei por não lhe telefonar.
Afinal, vai que ele tenha extirpado de toda a linfa a “estação carolina”. E eu estou sem nutrientes básicos para me lhe enraizar de novo.

Sobre a dependência química

por carolina fellet

Não sou usuária de drogas e nem simpatizante – nunca fui!
Porém, percebo que os toxicômanos da minha geração tiravam muito mais proveito dos efeitos dos entorpecentes. Escreviam, compunham melodias e letras de músicas, pintavam quadros...
Hoje, dependentes químicos babam e morrem em festa rave.

26 de agosto de 2010

por carolina fellet

Pessoas se encastelam e deixam a natureza do inanimado dominá-las. Ter riqueza é interagir com as posses; dinamizá-las rumo à Felicidade.

24 de agosto de 2010

por carolina fellet

Todo "new rich" que se preza faz mechas no cabelo. A impressão que dá é de que a pessoa está estampada.
Então, aí vai um conselho para os mechados: não vistam xadrez nem bolinhas.

21 de agosto de 2010

Homens: são todos iguais?

por carolina fellet

Decepção amorosa é tão fatal quanto o despontar de um par de seios – para as mocinhas. Linda ou feia, gorda ou magra, inteligente ou burra, animada ou depressiva, ela sempre aparece em determinado momento da vida de qualquer menina.

Àquelas que empreendem muita expectativa no parceiro, a primeira frustração amorosa pode ser letal. Porque em vez de o tempo seguir seu status natural e aliviar a dor da perda – ou de traição e maltrato – ele parece potencializá-la. Consequentemente, liquida a saúde (ou a própria vida) de quem esteve sob suas rédeas.

Assim que me estreei na seção da paquera, estive sujeita a seus louros e a suas intempéries, inevitavelmente. E o que pude ponderar disso é que os conflitos se enraizavam em mim com muito mais facilidade que as glórias.

Por anos a fio, ficava imersa nas águas paradas da tristeza; sem vislumbrar melhora e novas perspectivas. Encarava o desleixo masculino como consequência de uma falha única e exclusivamente minha.

Porém, como na Natureza, as pessoas variam de estação: amadurecem, atentam-se a outros sentidos, mudam de gosto, desenvolvem expectativas diferentes.

Comigo não foi diferente.

Meu âmago conseguiu – com os destroços das minhas relações malsucedidas – me transportar à razão.

Hoje racionalizo meus fracassos, principalmente os amorosos, e penso: tudo de extraordinário que o outro possui é mais uma projeção nossa em relação a ele, e menos uma verdade autossuficiente.

Em suma: os homens são, sim, todos iguais. Os “melhores” são apenas o produto de nosso investimento altruísta neles – bonzinho, bonitinho, trabalhadorzinho...

12 de agosto de 2010

Tatuagem e piercing: novas perspectivas

por Carolina Fellet

Quando a pauta desta matéria foi pensada, sua principal intenção era associar as intervenções estéticas em questão ao fetichismo. Afinal, o próprio habitat das tattoos e dos piercings – a pele – é cheio de regiões erógenas.

No entanto, o foco pretendido cedeu espaço a outras interpretações a essas alterações estéticas.

....

Existem muitos registros que relacionam as primeiras tatuagens, feitas entre 4000 e 2000 a.C. no Egito, e os primeiros piercings, utilizados pelos esquimós no Alaska, a, respectivamente, rituais religiosos e demarcação da transição para o mundo adulto.

Na segunda metade do século XIX, o Governo inglês utilizou a tatuagem como forma de identificação de criminosos. Posteriormente, no Brasil, a partir de 1960, os estabelecimentos em que as tatuagens eram feitas situavam-se nas imediações dos portos, onde funcionava também a zona boêmia. Não tardou para que as prostitutas se rendessem aos adereços cravados na própria pele. Por esses motivos, principalmente, é que a tatuagem, por muito tempo, esteve associada à marginalidade.

Atualmente, alterações no corpo são cada vez mais comuns; ora para homogeneizar as pessoas – quase todos querem estar magros e não medem consequências para chegar às medidas desejadas –, ora para diferenciá-las, através de cortes e tintura de cabelo, de tatuagens e perfurações.

O estudante, DJ e pretenso funcionário público Rafael Kegele Lignani, 23 anos, fez seu primeiro piercing aos 18, assim que saiu do colégio ortodoxo onde estudava. “Piercing dentro daquela escola era sinônimo de problemas homéricos”. A primeira tatuagem ele fez por volta dos 20 anos.

Hoje em dia, as perfurações e tattoos de Lignani formam uma família: são dois alargadores – um em cada orelha; um piercing na sobrancelha e outro no queixo. Além de três tatuagens: uma no ombro e mais duas – uma em cada panturrilha.

O porquê dessas intervenções estéticas o jovem atribui, genericamente, ao charme que lhes é natural, mas faz algumas restrições: “uma tatuagem de uma índia ou a de um rosto mal-executado não podem ser incluídas nessa categoria de intervenções extremamente charmosas”.

Com a jornalista Vivian Oliveira Ribeiro, 24, a primeira alteração no próprio corpo aconteceu mais cedo; quando ela tinha 16 anos. “Juntei dinheiro e paguei (um piercing no umbigo). Tudo com o consentimento da minha mãe”. Depois, Vivian fez outros furos nas orelhas e um no nariz. A primeira tatuagem ela fez aos 19, também sob aprovação dos pais.

No seu atual balanço de perfurações e desenhos, encontram-se três tatuagens e três piercings. Cada um deles representa para ela um gesto de vaidade.

Também jornalista, Roberta Barreto, 24, colocou o primeiro piercing muito precocemente; aos 13 anos. O motivo? Um pacto com as colegas da época – que também se submeteram a perfurações – cujo lema era não se afastarem umas das outras.

Aos 21 anos, Roberta tatuou no pé a frase “Papai, obrigada!”, em homenagem a seu falecido e saudoso pai. Hoje, ela já tem uma pequena coleção de alterações feitas na própria pele.

Para ela, tatuagem é muito mais que modismo e ato de vaidade. “Não creio que haja tantas pessoas que marcam o corpo apenas para parecer moderno”.

O que diz o especialista

Segundo o tatuador Hugo de Oliveira Lemos, 24, tatuar é “traduzir a ideia de uma pessoa para um desenho no corpo”, o que ele classifica como expressão artística. O significado dado a esta cabe ao tatuado, que, em muitos casos, escolhe o desenho a ser feito no próprio corpo sob influência da mídia – em especial da televisão – e da situação por que está passando.

Quem não se lembra da tatuagem que a atriz Deborah Secco fez em homenagem ao namorado da época Falcão? Depois de aparecer no Fantástico falando sobre o gesto de amor, muitas “deboras” fizeram tattoos com os nomes de seus amados em diferentes partes do corpo.

De acordo com Hugo, os preços das tatuagens variam. Levam-se em conta o tamanho, o local, o material usado. O preço mínimo cobrado por um profissional que utiliza produtos de qualidade é em torno de R$60,00.

E você, já decidiu a parte do corpo que vai abrigar sua tattoo?

10 de agosto de 2010

por carolina fellet

Encontro a dois programado para o fim de semana sempre traz uma alegria a mais para os dias úteis. Como o queijinho na pipoca; o caramelo no fundo do pote de sundae e o beijo com sabor de Sete Bello®.

Piriguetes

por carolina fellet

Às vezes sinto inveja das piriguetes, que têm audácia e muita saúde.
Mas cá fico eu com meu fôlego que aguenta cinco minutos de esteira.

Sobre falar ao telefone

por carolina fellet

Meu trauma de falar ao telefone talvez seja explicado pelo naipe de gente – sem civilidade e sem objetividade – que trafega na linha.

No fim das contas, esse pessoal serve de antídoto para minhas inseguranças.

6 de agosto de 2010

por carolina fellet

Com a agressividade de um bandido sob o efeito da cocaína, o rapaz perguntou à mocinha, na balada: “tem namorado”? E ela lhe respondeu, hesitante: “t-tenho; te-nho sim”. E o homem insistiu: “tá falando sério ou tá me dichavando”? Quase que ela perguntou se ele queria só o cordão ou levaria os anéis também.


4 de agosto de 2010

por carolina fellet

Em entrevista ao Jô, o vice-presidente da República, José Alencar, mostrou que tem magnetismo ímpar para contar histórias.

Através de um vocabulário sem rebuscamentos, ele envolve seus casos num fio firme e o entrelaça em quem o estiver ouvindo.

Pura sedução!

por carolina fellet

O problema é quando se empreita ânimo nas coisas mortas. Desespero para comprar a roupa exposta na vitrine. Aflição para pagar a prestação da Hilux.

por carolina fellet

Em pequena, adorava o universo das domésticas. De dia, elas eram formiguinhas com funções acumuladas e, de noite, supernamoradeiras.

por carolina fellet

Como tenho inveja da Hebe Camargo com sua respectiva segurança.

3 de agosto de 2010

O ipê

por carolina fellet

Sabe aqueles dias em que, numa súbita reflexão sobre a vida, a gente diagnostica um vazio total; nada de perspectivas? E sair da inércia é tão arriscado que é preferível permanecer onde está, porque qualquer movimento pode ser letal?

Transitar pela casa de um lado a outro apenas cumprindo a natureza humana. Essa é a ação que se espera dos melancólicos, os quais se dividem em dois grupos: os melancólicos-burros e os melancólicos-inteligentes.

Os primeiros se matam precocemente; sem antes cogitar a possibilidade – positiva ou negativa – de vida pós-túmulo. Já os últimos aproveitam dos recursos de que dispõem desde o nascimento para transformar as percepções em algum feito.

Rejane é uma melancólica-inteligente.

Por isso, em um de seus acessos de melancolia, ela foi para a sacada de sua casa para observar – entre transeuntes e automóveis – o ânimo da natureza. Olhou primeiro o céu, depois uns arbustos que formavam uma cerca natural em toda a extensão da rua. Por fim, seu campo visual foi invadido por um ipê amarelo e recém-nascido num quadrado de terra em meio à calçada para pedestres.

A imposição daquela vida ali no meio-fio transportou Rejane a 360º de horizonte.

...

Nunca mais ela se esqueceu do ipê de sua rua.

2 de agosto de 2010

Sobre a vingança

por carolina fellet

Não arrisco minhas delicadas mãozinhas em empreitadas de vingança. Porém, quando a Natureza resolve fazê-lo em meu nome, fico-lhe muito grata.

30 de julho de 2010

por carolina fellet

Os excessos da natureza surgem sob variados fôlegos: através do ar, do mar, da chuva, do sol...

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As duas irmãs foram para o restaurante – como compensação à ida a uma colação de grau – e fizeram o pedido.

O ínterim da espera foi nutrido pela incontinência verbal-volumétrica de uma jovem senhora que lhes estava sentada atrás.

A mulher conseguia conectar a temática “células-tronco” à natureza extraordinária das salamandras siberianas. Como acontece nessas pesquisas virtuais, em que as pessoas acessam o Google® buscando o horóscopo do dia e acabam se inteirando do novo técnico da seleção brasileira.

Além da variedade de assuntos, a jovem senhora contava seus casos num volume digno de quebrar taças.

Parece que existe uma relação entre falar muito e falar alto. Assim como quem tem incontinência fecal e acaba deixando escapulir um pouco de xixi em cada incontrolável evacuada.

29 de julho de 2010

27 de julho de 2010

Pode parecer mórbido

por carolina fellet

Estava dentro do carro, na avenida principal da cidade, quando um cego foi incorporado pelo meu campo visual. Ele vinha vindo ladeado por três pessoas que lhe davam suporte.

Assim que o vi, tive a reação que todo mundo tem: compaixão. Afinal, a minha cruz – comparada à dele – é de ouro 18 quilates.

Porém, à medida que o engarrafamento inquietava minhas ideias, vislumbrei algumas regalias que só os deficientes possuem.

Assento preferencial, direito a uma fatiazinha de orçamento público, carinho – ou pelo menos respeito – quase unânime das pessoas.

Enquanto quem vem à luz com “tudo nos trinques” é obrigado a exercer as virtudes de que fora incumbido pela Natureza. Tarefa difícil.

Presídio

por carolina fellet

Penitenciária subestima essa multimídia orgânica que são os sentidos. Para exercer a visão, paredes de concreto. Para o olfato, a falta de higiene dos sanitários. Para o paladar, comida insípida ou azeda. Para ouvir e tatear: o Nada.

Quem está preso deixa de exercer o status humano.

Os países baixos da tia Janete

por carolina fellet

O bicho humano, além de ser cíclico diante das determinações da natureza, o é também perante os hábitos adquiridos.

Tem mulheres que cismam com um corte de cabelo e o usam por anos a fio, até se lhe cansarem um dia e mudarem o alvo da paranoia. Aí, elegem uma roupa, um sapato ou uma bijuteria para ser uma extensão delas próprias.

Entre o público masculino, existe sempre a preocupação de conquistar o mulheril. Consequentemente, a tática para consegui-lo é superdesejada por ele. A que for mais persuasiva será a eleita. Caso seja perfume importado... Dá-lhe tina de perfume importado.

Tia Janete é um exemplo clássico de que somos todos cíclicos. Lá pelos 20 e poucos, após ter violado o território do sexo, ela passou a escolher os parceiros de transa a partir de um critério étnico-sazonal: no verão, copulava com descendentes de italiano; no inverno, com japoneses radicados no Brasil há mais de cinco anos. Nas outras estações, optava por brasileiros mesmo, mas de diferentes estados do país.

Pode-se afirmar que a região pélvica – ouvi dizer que existem neurônios espalhados por todo o corpo humano – de tia Janete tem muita bagagem cultural.

23 de julho de 2010

por carolina fellet

À noite, antes de sucumbir ao sono, panorama geral. Momentos intactos na memória, embora moribundos na realidade– em respeito à própria natureza.

por carolina fellet

Quanto conforto traz um afeto verdadeiro. Os postiços, em contrapartida, nos deixam mais inseguros; sem perspectivas.

por carolina fellet

Precisa-se de um amor para exercer a natureza que é minha, embora esteja latente. Quero-o não por acreditar na reação a dois, e sim, no que existe dentro de mim. Amor é puro egoísmo.

19 de julho de 2010

por carolina fellet

Tem gente que administra ingredientes e se diz cozinheiro.
Culinária demanda essa coisa metafísica que é o talento.

17 de julho de 2010

18 de julho

por carolina fellet

Nascer é aumentar a plateia para o espetáculo da vida. Se pensarmos com um pouco de afinco, perceberemos quão extraordinário é viver e processar todas as mensagens que vêm da natureza. Antes dos nove meses que precederam o 18 de julho de 1985 – data em que vim à luz – eu não estava configurada para interagir com a própria existência, nem com a variedade do Cosmo. E, de repente, eis que o Mundo me engloba para si.

por carolina fellet

Estômago cheio não é visto a olho nu. Por isso, brasileiro come mal. Hilux, todavia, quase não cabe no campo visual das pessoas. E, no entanto, ela é vista aos cachos trafegando por aí.

16 de julho de 2010

por carolina fellet

Quando se deseja conquistar alguém, talvez por um automatismo embutido no inconsciente, a pessoa apela a um dos próprios predicados e tenta mostrá-lo ao pretenso-parceiro. Os dotados de corpos bonitos apelam a roupas que os realçam. Quem é inteligente investe na lábia. Os vulgares correm para o trópico da própria vulgaridade e ficam lá até pintar a melhor oportunidade voluptuosa. E os sem-jeito permanecem à espera de um amor trazido pela metafísica.

por carolina fellet

Ir para a balada implica o exercício simultâneo dessa multimídia viva que são os cinco sentidos.

por carolina fellet

Como a vegetação está sempre sujeita ao ânimo do tempo – seja para florescer ou murchar completamente – o âmago das pessoas vive em função do ambiente onde elas vivem.

15 de julho de 2010

A língua do "igualzim"

por carolina fellet

Conseguir contabilizar o número de ideias que trafegam pela nossa mente diariamente demanda muita concentração. No ônibus, em casa, no trabalho, na faculdade... Sempre somos uma rodovia demasiadamente movimentada por informações e respectivas reações a elas. Na hora de trazer à luz um dos tantos pensamentos que compõem a nossa psique, muita gente se embaralha. Afinal, não é fácil escolher o melhor assunto para explorar num diálogo, principalmente se ele for inesperado. Por isso, vejo gentes e gentes, na tentativa de equacionar as ideias e introduzir um assunto, dizer: “igualzim (leia-se “igualzinho)”. “Igualzim, saí com o Nenzim pra beber uma cerveja e acabei atrasando pro serviço de manhã”.

Tem também o recurso do “tipo assim”, do “ô, véi”... Todos com a mesma intenção: a de afunilar os tantos e tantos pensamentos que invadem mentes e mentes diariamente, para trazê-los ao conhecimento de outrem. .

por carolina fellet

Se as palavras fossem materializadas a partir de um órgão do corpo, Janete já teria enfartado esse órgão há tempos.

12 de julho de 2010

Choque de gerações

por carolina fellet

As duas filhas – sossegadas com o predicado “abastado” que lhes engloba a família – só pensam em ter um amor.

E a mãe, superpreocupada, concentra toda a sua atenção na queda da Bolsa de Valores.

10 de julho de 2010

por carolina fellet

Não quero saber de amigos ou afins desovando seus recalques em mim. Se eu lido bem com minha hortinha de frustrações, por que é que o outro não pode consegui-lo?

por carolina

Os 25 anos estão se aproximando. Como conseguinte, um afastamento da vida rumo à cova. Processada essa lógica, uma campanha de empolgação me ganha: seja feliz!

por carolina fellet

A existência – essa coisa que não é minha, e sim, manufaturada a partir de mão de obra clandestina – me impele profundamente. Nessa temporada aqui na Vida, a coisa de que mais tenho medo é ter minha integridade física ameaçada.

9 de julho de 2010

por carolina fellet

Ser careca é mais estado de espírito que falta de cabelo.
Tem homem que fica calvo e incorpora como derrota a calvície. Daí, à medida que as pessoas olham para ele, toda a química do fracasso paira no ar.

8 de julho de 2010

por carolina fellet

Em casa foi sempre SIM.
Diante do primeiro NÃO entoado pelo mundo, o subconsciente foi civilizado pelo trauma.
E hoje meu comportamento é todo configurado sob os graus desse impacto.

2 de julho de 2010

por carolina fellet

Muita gente tem vindo para a vida sem a promessa dos sisos no DNA. Há tecidos que não precisam do ferro quente para ficar lisos. o GPS esnobou o cérebro dos taxistas. Ainda que as manicures representem o meio de comunicação mais eficaz, a internet transmite os fatos em tempo real.
O mundo está mais prático. Mas um costume já carequinha e banguelinha se arrasta e se prolifera rumo à consciência das pessoas: a busca por um refúgio.
Há quem acredite que a recompensa a todo cotidiano duro esteja num bom beijo de língua que eleva a voltagem da libido. Então, vassalo dessa crença, esse alguém está sempre atrás de uma presa. Tem os que tentam se acertar com a família - outorgada pelo Divino e muitas vezes tão encalacrada entre si. Há os que se inclinam à caridade e, por fim, os descrentes de tudo,que vislumbram o próprio porto seguro no inanimado.

30 de junho de 2010

O soco

por carolina fellet

Ana Cecília fora configurada – por Sula, sua mãe, – para agir com diplomacia sempre. Contrariar a expectativa de um interlocutor qualquer era uma infração gravíssima dentro da constituição da família.
Com isso, a menina cresceu regida pela obrigatoriedade de ser infinitamente supereducada perante as circunstâncias – o que lhe ameaçou o alcance dos sentidos.
Até os vinte e poucos anos, recebia as pessoas e as situações que lhe interceptavam a vida sem tecer-lhes críticas nem lhes apresentar resistência. Porém, à medida que paulatinamente foi violando a dimensão do mundo adulto, numa mera inclinação à própria natureza psicológica, agiu conforme um palanque que empresta o megafone às impressões que lhe trafegam. Adeus ensinamento de dona Sula. Abaixo a diplomacia.
...
Já bastante aconchegada às medidas da estação “adulto”, nas férias de 2008, Ana Cecília – neste momento com 28 anos – preparava-se para um baile de formatura de um amigo muito querido.
Marcou cabelo e maquiagem no salão, comprou um bolero de pele de coelho para compor o vestido de gala e proteger-se do frio de julho. Encheu-se de boas expectativas, inclusive a de conhecer um rapaz cheio de predicados, já que estava solteira fazia cinco meses.
A maratona de ir para salão fazer cabelo e maquiagem aliada ao período pré-menstrual culminou em enxaqueca.
Apesar de ter ojeriza a remédios e seus efeitos colaterais, Ana Cecília se rendeu à possibilidade de serenidade (biônica) trazida pela Neosaldina®. E seguiu rumo ao tão esperado baile.
Os movimentos de pescoço seguidos por uma pausa vindos de alguns rapazes em direção a ela fizeram-na sentir-se bonita. E olhares lubrificados com desdém oriundos de meia dúzia de mulheres fizeram-na sentir-se ainda mais bonita.
Porém, essa zona de conforto durou apenas os 45 do primeiro tempo.
A moça estava enraizada na pista de dança – através de movimentos ritmados conforme a música – quando, subitamente, um careca superbaixinho – não alcançava o busto de Ana – e superestranho a abordou e, na frequência da azaração, balbuciou-lhe dez palavras elogiosas.
Para uma mulher bonita, embonecada, regada a perfume importado, a abordagem teve o efeito de um soco. O careca estranho se equiparou a Ana Cecília, já que ficou confortável para cantá-la. Em contrapartida, ela sentiu-se a estranheza em carne e osso.
Imediatamente, correu para o banheiro do local, procurou um espelho para tentar achar onde estava o erro contido na própria estampa.

27 de junho de 2010

por carolina fellet

Loiras vivem em função de sua loirice. Então, os homens as escolhem, porque o atalho para se lhes chegar é simples.

25 de junho de 2010

por carolina fellet

Devo ter cara de embaixada. Só pode!
Gente vem falando francês comigo. E inglês. E até sânscrito.

23 de junho de 2010

Profissão

por carolina fellet

A importância da profissão na vida de uma pessoa vai muito além de subsistência. O efeito moral - positivo - é o maior triunfo de quem tem um emprego.

A derrota

por carolina fellet

Ninguém está preparado para a derrota. Principalmente em se tratando de território amoroso. A natureza selvagem e inerente a qualquer um de nós fica completamente ameaçada.

20 de junho de 2010

17 de junho de 2010

Para o F.M.

por carolina fellet

Querido F.M.,

Já tem uns 12 anos que você transita pelas áreas mais privilegiadas da minha memória. Ou seria da minha vontade? Sei que o englobei para mim involuntariamente talvez. Assim como meu sentido acata a propaganda da Coca-Cola®. No emaranhado de compromissos, sentimentos, ímpetos, correntezas contrárias à vontade do meu cerne, existe um espaço que o aconchega, ainda que eu não faça opções.
Depois desse tempo todo de sentimento unilateral e platônico, como no videogame, consegui sair da dimensão da perspectiva e trazê-lo para bem perto de mim; para dentro da minha boca e dos meus desejos, neste momento, repercutidos em eletricidade no corpo.
E ai foram dois encontros surpreendentes. O primeiro menos que o segundo. E uma pane aconteceu no desenrolar dessa história que mal teve fôlego para começar. Você se esquivou das minhas vistas, embora esteja inteiriço e incrustado nas minhas moléculas. Não resisti e lhe enviei uma mensagem. E um silêncio turbulento me veio como resposta. Isso não tem tanta importância. Eu confesso-lhe que gosto de me enfurnar em áreas de natureza desconhecida. E um namoro de quatro anos me deixou muito amortecida para vários impactos dessa vida.

15 de junho de 2010

Copa do Mundo: sentimento universal

por carolina fellet

Quem gosta da profissão é assim: canaliza o suco das experiências ao próprio ofício. É praxe um empresário vislumbrar lucro em tudo; um professor de português corrigir – ainda que mentalmente – os erros ortográficos das placas de trânsito.
Com um pretenso-escritor não é diferente. Tudo lhe serve de matéria-prima para um texto promissor. Conversa fiada, situação embaraçosa, primeiro encontro, corrupção, o grotesco e, obviamente, o auê trazido pela Copa.
Sob um efeito manada, ignorante do porquê, embora volúvel como a água, fico superempolgada com a seleção brasileira nessa época. Empreendo minha adrenalina, minha expectativa e concentro todos os meus instintos e ímpetos no molejo da bola.
Depois que a partida termina fico pensando: por que é que a vibração com o futebol permanece dentro de mim como uma habilidade nata, ainda que não o seja?

13 de junho de 2010

O que angariei no Dia dos Namorados

por carolina fellet

Se eu estivesse namorando provavelmente não conseguiria perscrutar o que acontece com os enamorados na data que os homenageia. Já que estaria envolvida em comprar presente para o parceiro e em me embonecar para o encontro - sempre promissor - que acontece entre os amantes nesse dia.
A solteirice me possibilitou uma “supervisão” e, por conseguinte, um bom balanço sobre o 12 de junho.
Uma rápida pesquisa no Google me trouxe à luz o porquê da comemoração. É que as vendas caíam muito nessa época do ano e os comerciantes, sempre salivando lucro, inventaram a campanha: “presenteie quem você ama”. Como brasileiro é prolixo para interpretar texto, ele não só presenteou o cônjuge com uma joia ou algo equivalente, como também foi para restaurante e motel. 12 vezes sem juros.
Quantos e quantos ex-namorados não estão pagando contas de um namoro que já é pretérito? Uma arrastação de cadáver danada.
E as portas de restaurante? Abarrotadas de gente megaproduzida e pronta para declarar um amor cheio de tropeço embora, neste momento, travestido da melhor das boas intenções.
Engarrafamento nos motéis. Haverá, com certeza, uma série dissonante de gozos por ali. Namorados que exageram no timbre a fim de corroborar o amor que sentem pelas parceiras. E namoradas com a melhor lingerie. Com a melhor performance e dançando creu na velocidade 100.
Dia dos Namorados é presentear, jantar e transar. Ô vidinha de rato!!!

8 de junho de 2010

por carolina fellet

11 de junho. Última chamada para as solteiras. O embarque para o universo conjugal está prestes a acontecer.
por carolina fellet

Ana Carolina. Até chegar a mim, acho que já acabou o combustível. Afinal, é uma rodovia grande: a-n-a-c-a-r-o-l-i-n-a. Por isso, sou praticamente obrigada a adotar o "Carol", pelo qual tantas cadelinhas de madame também atendem.

Ensaio empírico sobre Brasília

por carolina fellet

Quem mora adora. Não trai por nada. Podem oferecer a beleza do Rio de Janeiro com a passividade de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais a um brasiliense que ele não emigra da própria quadra.
Ir a Brasília pela primeira vez – já se somam 10 anos que o fiz – equivale a desvirginar algumas regiões até então latentes nas vistas. As construções são supergrandiosas, a natureza – salvo nos períodos mais secos – é multicolorida. O céu. Ah! O céu de Brasília. É “traço do Arquiteto”. Parece que o azul está mais próximo da gente; querendo nos tocar; misturar as dimensões; nos transportar à carne do Infinito.
Os shoppings são povoados por atrações que são ovacionadas em todos os cantos do mundo. Tem loja da Louis Vuitton, restaurantes com filiais esparramadas pelos quatro ventos, butiques super-requisitadas.
Em contrapartida, há uma cólera alojada nas moléculas da cidade. O luxo talvez seja seu principal estimulante: carros megaluxuosos, roupas estilosíssimas, botox que desafia gravidade e degradação do Tempo esmagam os cidadãos. E deixam seus interlocutores (leia-se “visitantes”) com a sensação de estarem dialogando com alguém que usa lentes de contato e que, portanto, esquiva-se da própria essência.
Ser cigano na capital federal me parece muito promissor, haja vista a carência da população local no que concerne a valores mais metafísicos como misticismo.
Será que o edital para videntes já saiu por lá? E qual será o salário inicial?

2 de junho de 2010

Arrumar mala

por carolina fellet

Em criança, o processo de arrumação de mala lhe causava angústia. É que, em sua cabecinha, a vida já havia automatizado. De repente, a vulnerabilidade que a bagagem sugere a amedrontava. Imagine. Castelos da Barbie®, coleguinhas da escola, lugares a que estava acostumada a ir, cheiros, sorvetes caseiros. Tudo ficaria longe de sua percepção; estacionado naquela cidade que ela deixaria rumo a um lugar todo novo onde passaria as férias.
Essa impressão acompanhou Alessandra por muitos e muitos anos. Boa parte da vida dela foi repreendida por esse freio dissonante.
Um dia, já adolescente, na aula de ioga, ela meditou profundamente e conseguiu chegar a uma superconsciência da Vida. Até perceber que não tinha as rédeas da própria existência, nem o domínio do tempo. E acalmou-se, doando-se à gravidade das coisas importantes mesmo.

1 de junho de 2010

Discurso indireto

por carolina fellet

Muitas e muitas pessoas são tão prolixas para se expressar e agir. Eu me incluo nesse rol...
Dia desses, conversando com um primo, ele me contava que a namorada dele havia lhe dado um terno muito bonito de aniversário. A tônica da questão nem era o cortejo, e sim, a necessidade de a roupa ser submetida a alguns acertos, já que estava larga.
No final de semana passado, a manicure me ligou para mudar o horário da unha. Em vez de simplesmente me perguntar se eu poderia ir às 17h, pormenorizou a confusão em que se encontrava sua agenda.
...
Há dias aguardo o momento oportuno para dizer-lhe tudo o que sinto. Enquanto isso, de centímetro a centímetro, vou me inclinando para o fim.

O primogênito

por carolina fellet

Não sei por que tantos casais insistem em ter filhos aos cachos, se é sempre o primogênito o maior destinatário do amor deles. O primeiro filho é quem desperta nos pais a química da paternidade; é quem os faz vencerem inseguranças mil.
Doses diferentes de carinho emanadas para os filhos geram muito mal-estar.
Caso o amor seja todo empreendido no primogênito, nada melhor que a mãe recorrer a pílulas, DIU, adesivos de hormônio com efeito contraceptivo. Para poupar o mundo das radiações da carência.

Família... Ah! Família

por carolina fellet

O ideal seria a permanência em alguns graus da infância. Nesta fase, como quase tudo é novidade, as vistas e percepções em geral não são afiadas para qualificar as situações e experiências. Não se tem a delimitação correta que discerne o bem do mal.
À medida que a consciência perante a vida vai se apurando, os problemas começam a surgir. E a reação a eles, inevitavelmente, vai sendo sintetizada dentro da psique. Nada passa ileso pelo processamento da razão. Nada.
A família de Cristiane vivia pacificamente. Mais pelo silêncio que imperava entre eles do que pelo grau de civilidade que lhes era próprio. A partir de um dia a princípio comum, sob uma luminosidade metafísica, em um dos irmãos de Cristiane, surgiu uma rixa com o pai.
Esta dissonância implicou muitas modificações na ambiência familiar. Nada passa ileso pelo processamento da razão. Além de os defeitos do pai virem à praia da lucidez, outras discordiazinhas foram levantadas pelas irmãs de Cristiane para que a guerra se firmasse contra o primogênito.
Toda a aragem remota da infância agora era um fóssil tão cobiçado e necessário.
por carolina fellet

Dedicar palavras – principalmente escritas – a alguém é como dar-lhe um pedaço do próprio coração. Cheio de correnteza de sentimento, ímpeto e emoção.

30 de maio de 2010

por carolina fellet

Ouvir muitas vezes a mesma música,
Comer brigadeiro todos os dias,
Usar o Cool Water® até para ir ao mercado.

E o sentido já não processa o que lhe é oferecido
Com a expectativa que eu queria.

A empolgação da Ivete fica até esquálida.
A magnitude do chocolate fica até insípida.
E o Cool Water® fica batido igual perfume Avon®.

O bom é racionalizar todas as oferendas aos sentidos,
Para que eles não nos traiam.
por carolina fellet

Primeiro encontro com um paquera. Inconscientemente, a pretensão é alardear os próprios méritos como um cabotino antigo. Porque se deseja que o outro configure a melhor impressão a nosso respeito, e diante dela, posteriormente, à mercê da própria área privativa do pensamento, deseje um reencontro para nos destrinchar um pouco mais.

Olá, muito prazer

por carolina fellet

Apesar de ser falante com os íntimos e até despudorada na escrita, perante situações novas, me classifico como um bicho-da-seda retraído.
Não sei que rebuliço acontece entre minha tríade ID, EGO e SUPEREGO em momentos-estreias. Que características minhas posso colocar ao alcance do outro? Devo contemporizar aos moldes da simpatia, da seriedade, da distância ou da aproximação no diálogo? Mostro meu lado perspicaz ou minha admiração por Chico Xavier?

27 de maio de 2010

por carolina fellet

Agradeço a Deus por ter me trazido à luz sob a forma humana e, por conseguinte, dotada de inteligência para trafegar entre as experiências e as palavras com a maior liberdade.

21 de maio de 2010

In memorian

por carolina fellet

Só adulta fui entender essa expressão.
Quem morre escapa de vez das nossas vistas. Perde a representação nesta dimensão.


A memória de quem fica é que estende a vida do morto.

20 de maio de 2010

Sobre velório

por carolina fellet

Quão animalesco é o velório.

Aquele corpo estendido.
Uma interseção
Entre este mundo
E a outra dimensão.

E os mosquitos a postos,
Salivando pelo banquete
Que lhes surge.

19 de maio de 2010

por carolina fellet

Salão de cabeleireiro e véspera de prova foram feitos para psicopata. Gente comum – em cujo corpo circulam sangue e temperatura – não suporta essas situações.

18 de maio de 2010

Botox

por carolina fellet

O botox me dá a impressão de um soco que culminou em inchaço febril.
por carolina fellet

Mal começou a novela “Passione” e eu já tenho uma resistência a ela. Apelar para o “portuliano” (mistura de português com italiano) é subestimar a inteligência do telespectador.
por carolina fellet

Quando se tem um amor terno não é necessário estar sempre por perto do contemplado com esse sentimento.
Ver-lhe a janela acesa e saber que dentro daquele cômodo a vida pulsa. Isso basta.

14 de maio de 2010

por carolina fellet

A angústia mostra sua fisionomia àqueles que se privam do percurso e se arremessam a um futuro em que tudo funciona corretamente.

Sobre o funk

por carolina fellet

Funk traz para a praia da consciência aquilo que o pudor acoberta durante a temporada pela vida.
Quase ninguém está preparado para assistir a si mesmo sem censura.
Repare você quando vê numa fotografia de revista um órgão interno do corpo humano. Não lhe causa certa repulsa?
Imagine, então, você se vendo nu e cru; com seus fetiches, suas más inclinações e seus ímpetos mais vis?!
Por isso talvez você não goste de funk. Ele tem o dom de lhe trazer você.

Reynaldo Gianecchini

por carolina fellet

Nunca concordei com a adjetivação “gostoso” para qualificar camaradas com os quais nós, mulheres, nunca tivemos uma experiência mais íntima.
Por mais que o Gianecchini seja superlativamente lindo e sacie minhas vistas – em se tratando de supremacia de beleza a elas –, não me sinto à vontade para batizá-lo de “gostoso”.
Afinal, não lhe provei a eletricidade.
Bem que gostaria!
por carolina fellet

Inconscientemente, as pessoas acatam o ar que trafega por aí. Com as ideias, parece que a coisa se repete. Porque os escritores, ainda que tenham uma dicção própria, sempre discursam os mesmos assuntos.
por carolina fellet

Muita gente que convive comigo me diz que sou um doce.
...
Na área privativa da consciência, fico pensando: não posso me casar com um diabético!

13 de maio de 2010

por carolina fellet

Nunca tive oportunidade de viajar para a Rússia. Desconheço, portanto, salvo através de fotos e da televisão, a geografia do país, uma vez que meus olhos não podem se arremessar até lá.
Para se chegar a um lugar distante, é preciso recorrer a um meio de transporte e a uma batelada de burocracia. Todavia, com o instrumento de que dispomos para viajar nas nossas próprias águas, podemos ir a fundo nesta existência que abriga nosso âmago.
Com essa ferramenta, podemos ponderar os graus de cada sentido, a velocidade dos ímpetos, as regiões compostas pelos vacilos, as terras firmes.
Podemos esparramar toda nossa química sobre a bancada da nossa consciência. E diante de todo líquido ficaremos apavorados com nossa tamanha ignorância.

12 de maio de 2010

Sobre a sensualidade

por carolina fellet

Estava assistindo a uma cena de “Viver a vida” (novela das 21h transmitida pela Rede Globo entre setembro de 2009 e maio de 2010) em que a personagem Alice, vivida por Maria Luisa Mendonça, estava prestes a transar com Osmar, interpretado por Marcelo Valle. A atriz surgiu sob uma bela lingerie preta às vistas do “affair” na trama.
Concomitantemente a isso, pensei – do lado de cá da televisão – na sensualidade de que tantas e tantas brasileiras são partidárias. Pelas ruas, é praxe o espetáculo de calças superjustas aliadas a blusas tomara que caia e saltos mega-altos.
Não há iguaria melhor para as vistas – principalmente as dos homens – do que um corpo feminino bem talhado e realçado. Porém, romper a privacidade da sensualidade e trazê-la à pele soa antinatural. É como incorporar a tristeza vestindo-se com roupas em tons pastéis.
O interessante da sensualidade é ela ser precedida e também incitada por um certo mistério. Expô-la como mamões frescos à venda na quitanda rompe com o propósito dela. Afinal, lascívia tem muito a ver com sutileza. Com descoberta. Com diálogo sensorial.
Por outro lado, existem tantos homens e mulheres que adotam uma postura tão distanciada do próprio charme que ficam parecendo pedagogos que gostam de fazer cartaz e organizar excursão de adolescente.
Assim fica infértil o campo da paquera.

11 de maio de 2010

Suco de meditação

por carolina fellet

Deixe seus pés se molharem,
Mas não se afogue.

Você está somente flutuando nesta vida.
Você não é isto.
Você é metafísica pura.

Miligrama

por carolina fellet

Para quase tudo neste mundo civilizado há uma medida, um parâmetro, um manual. As escolas abordam as mesmas matérias; os cursos superiores oferecem especializações em áreas que existem desde o tempo em que a vovó era solteira; o ponto do brigadeiro ainda é um dos mais difíceis entre a população dos doces; o primeiro beijo, assim como as primeiras vezes, é insosso.
Tanta teoria tenta nos prevenir do mal, do equívoco, da frustração, mas somente a vivência das situações é que sintetiza reações dentro de nós. E à medida que a gente se habitua aos acontecimentos que interceptam nossas vidas é que os anticorpos vão sendo produzidos pela força clandestina que nos acompanha desde sempre.
...
Ontem, com os olhos arremessados no livro “O mundo pós-aniversário”, da americana radicada na Inglaterra, Lionel Shriver, fiquei pensando na vocação unânime que as mulheres têm de amar. E a ferramenta de que elas dispõem para exercer o amor é bastante falha. Haja vista o desejo do gênero feminino de embaçar o mundo e suas implicações, a fim de sobreviver de afeto.

Uma querida chamada Hilda

por carolina fellet

94 anos. Em abril de 2010, dona Hilda, amiga da vovó – já falecida –, decolou da vida rumo ao território misterioso da morte.
Todas as atitudes das quais me lembro dessa senhora sempre surgiam da pureza – valor tão coagido por tantos outros nesta vida. Frequentemente ela telefonava para minha casa simplesmente para dizer: “filhinha, você reparou como o dia está lindo? O céu está tão azul!”. Na época, eu, adolescente, ficava com os olhos marejados. Hoje, já adulta, me comovo completamente com essa memória.
Nunca presenciei dona Hilda cabisbaixa, desarrumada ou fatigada. Ela sempre estava “nos trinques” para recepcionar a alegria. Apesar de diabética, quando fugia da vigília dos filhos, sucumbia a bombons, a doces caseiros e a qualquer “junk food” que estivesse na mão de uma criancinha.
A senhorinha querida não era de muitas palavras: jamais a ouvi falando mal dos outros; eram raras as vezes em que sua voz sobressaía diante de um encontro entre amigas. Em contrapartida, seu semblante sempre me atraía, haja vista o tamanho daquele carisma.
Querida dona Hilda, você está bastante viva, cheia de viço, imersa nas minhas melhores químicas.
Adoro você. Enquanto me houver consciência.
Carol.

10 de maio de 2010

A soberba dos prazos de validade

por carolina fellet

Agendas e marcações de prazo de validade em medicamentos, documentos e alimentos ignoram a vulnerabilidade dos fatos. “Daqui a dois anos o senhor retorna para mais uma consulta”, diz a secretária do médico ao paciente.
No ínterim de dois anos, um coração sadio, sob as rédeas de uma equipe clandestina, abandona suas atividades e aposenta-se de vez. Todos os compromissos do dono desse órgão vital, consequentemente, ficam órfãos.
No fundo do frasco do xampu está carimbada a data de validade do produto: 26/07/2014. Até lá, dá para uma careca se fazer e, portanto, dispensar o uso do sabão para as madeixas.
Estipular datas é brincar um pouco de Deus, que antecipa céus e maneja o Acaso.

As tais das células-tronco

por carolina fellet

Desde que trouxeram à baila a temática das células-tronco, muita esperança foi sintetizada em lares de todo canto do mundo e muita ovação foi destinada a cientistas e cientistas que estão envolvidos no assunto.
Descobrir que determinados ingredientes do corpo podem resgatar a saúde de alguns órgãos – e respectivas funções – desse próprio físico parece algo surreal. A tendência é de atribuir aos pesquisadores do tema um caráter messiânico.
Porém, especialistas em células-tronco se sujeitam a fazer corretamente o traslado do material dessas células-mãe rumo ao destino que as aguarda. Em suma: pesquisadores e cientistas trafegam com todo o Divino que lhes é ofertado de bandeja.
Portanto, não entendo muito o deslumbramento diante do advento em questão. Também não compreendo as pessoas não se embasbacarem diante da imponência de uma árvore, de uma mão, de um céu matematicamente mesclado, de um sol, da capacidade veloz de a chuva se fazer chuva.
Vou ficar sem entender.

9 de maio de 2010

por carolina fellet

Andar de ônibus é matéria-prima imprescindível para quem gosta de filosofar como uma implosão mental.
...
Carina cabe no rol dessas pessoas..
Dia desses, ela observava (perscrutava até) duas senhoras bastante humildes conversando. Ambas alteravam com a maior propriedade o idioma – português – através do qual dialogavam. “eis trocô as lâmpda?”.
Era uma sinfonia toda nova aos ouvidos.
...
O ônibus daquelas senhoras chegou e Catarina permaneceu, de longe, lendo os lábios delas. Lábios contorcionistas como os falantes de russo.
por carolina fellet

Numa sessão de auto-observação, a garota encontrou, finalmente, a causa de sua angústia: projeção. O futuro – sempre incerto – era onde ela se aconchegava. Daí, sofrimento fatal.

6 de maio de 2010

por carolina fellet

Muito frequentemente, sinto-me fora desta dimensão. Vou para o curso de inglês, para a ioga, para os compromissos, e parece que tudo isso não faz jus à minha natureza.
A impressão é de que estou dispersa da vida e de que a única gravidade que me prende a ela são minha carne e meus ossinhos.
por carolina fellet

Principalmente nos períodos que antecedem a menstruação, Ana Tereza, 34 anos, agarra-se às mandíbulas da saudade.
Sente falta da época em que ia para o sítio dos avós ladeada pelo cacho de primos, além de frutas, pão com presunto e Coca-Cola®. Lamenta muita coisa do passado, embora a gravidade de seu pesar a projete a um futuro remoto, mas fatal.
Ela fica cogitando a própria consciência nostálgica depois da vida e se remoendo pelos equívocos que cometeu, pelos prazeres que recusou e pelo excesso de pudor.
...
Angústia é filha biológica da projeção.
por carolina fellet

Amiúde, aparecem ótimos humoristas no Programa do Jô. A moda é eles se apresentarem sob o formato “stand up”.
Nessa semana, o talento que preencheu minha memória seletiva foi um gordinho que perscrutou com maestria a psique das mulheres durante o coito.
Ele simulou o tédio no qual o gênero feminino se estaciona no ínterim do ato e, como antídoto a isso, revelou que nós, mulheres, apelamos ao retoque (mental, claro!) do ambiente onde estamos copulando: “uma mão de tinta aqui cairia bem; uma mesa de centro enfeitada com vaso de tulipas salvaria este lugar da impessoalidade”.
Depois dessa representação, que até extravasa o conceito da verossimilhança e penetra o território da realidade, fiquei com pena dos homens!

4 de maio de 2010

O estar de cada coisa

por carolina fellet

Já faz quase oito meses que a solteirice é meu status. Isso implica muita coisa. Desde contar minhas descobertas e experiências durante o romance a minhas amigas - sempre que as encontro - a me aventurar nas possibilidades do final de semana.
O acontecimento que mais pesa nessa minha condição concerne ao celular. Antes, ele tremia todo anunciando a chegada de mensagens e mensagens de carinho, o que entusiasmava toda a população da minha vida interior. Agora, nas raras vezes em que ele vibra, é para destacar: “ a VIVO informa...”. Imediatamente, meu cerne processa a química da decepção.