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30 de dezembro de 2008

Dúvida que não cala

Por Carolina Fellet


Por que todo mundo dá panetone a porteiro em época natalina?

Ir à praia?

Por Carolina Fellet
Soa muito estranho o ser humano vislumbrar entretenimento na praia. Porque nesta as manifestações vitais céu, sol, mar, areia e seus afins se conformam ser o que são, despem-se, entregam-se à própria condição
e interagem entre si: o sol esturrica a areia; esta é afogada pelo mar; este reflete raios solares.
Rompendo a intimidade dessa ciranda surge o bípede com telencéfalo desenvolvido e ele parece estar vitimado por uma pane, afinal, praia não é lugar para esse bicho freqüentar (com trema, já que seu charme resiste
às mudanças ortográficas).

25 de dezembro de 2008

Natal no Privilège


Por Carolina Fellet
Natal: nascimento do homem que foi a melhor materialização da bondade e da luz.
Privilège:
casa noturna situada em Juiz de Fora, que fica na Zona da Mata Mineira. Como em outras boates, no Privilège, instintos associados à libido e ao hedonismo são as leis principais. Conciliar o aniversário do Menino Jesus a sentimentos vis me soa meio dissonante.
*Em lilás, link.

23 de dezembro de 2008

Morte seguida de consumo excessivo de drogas, trânsito de transeuntes no Natal e um pequeno safári

Por Carolina Fellet

Estou careca de saber que ninguém se agüenta e é justamente por isso que as ruas estão lotadas de transeuntes ávidos por não sei o quê.
Em época de Natal, andar na rua dá mais adrenalina que se amontoar em um jeep e seguir rumo a um safári. Isso porque há gentes de toda a estirpe: de pseudo-finos que se emperiquitam para ir a shoppings - mas sequer conhecem os mandamentos básicos da boa educação - a tupiniquins assumidos que o atropelam ao transitar pelas calçadas e galerias.
Outra forma muito comum de se esvair de si mesmo neste século XXI é tomando comprimidinhos entorpecentes em festas, celebrações, encontros entre amigos etc.
Numa dessas tentativas de extravasar de si próprio, uma linda jovem de 20 anos e de cujo nome não me lembro, bem perto do Natal de 2008, refugiou-se definitivamente de si: morreu e deixou pai, mãe, irmãos e afins inconsoláveis.
Portanto, se você não estiver se suportando:
*
leia livros de um autor que possua idéias bem diferentes das suas e penetre-lhe no universo;
*
faça ioga e perscrute cada postura e respiração;
*
observe o universo dos bichinhos (vale até inseto) que o rodeiam. Eles estão sob o mesmo mistério que você;
*cante e vá a shows;

*dance sozinho no quarto;
*converse com o espelho;
*use roupas diferentes daquelas com as quais você está acostumado;

*mande um cartão para um colega meio insosso;

20 de dezembro de 2008

Catástrofe em SC


Por Carolina Fellet

A Natureza é autônoma.
Existem listas de cautelas –
Obtidas
a partir do empírico –
Para lidar com ela.

Mas,

Perante qualquer transgressão humana,
Um refluxo cósmico.

2 de dezembro de 2008

Curriculum Vitae

Por Carolina Fellet
Enquanto, no ínterim da faculdade, todos estagiaram,
Produziram materiais jornalísticos em intervalos subumanos de tempo,
Acompanharam
as tendências do mercado,
Eu perscrutei o que fosse de encontro às máximas acadêmicas.

Por quê?
Porque as profissões aprendidas são arquétipos meio desbotados e rejeitados pelo
Tempo.

Passeio Turístico

Por Carolina Fellet
A aragem do centro da cidade sepulta uma ratazana, através das brechas de gentes que transitam pelo calçadão de Juiz de Fora.
São
cinco horas da tarde.
Essa mesma aura choca-se com a face de duas adolescentes que se excederam no ruge para realçar as maçãs do rosto.
O escatológico cortejando a perfeição.

30 de novembro de 2008

Profissão do futuro: ventríloquo

Por Carolina Fellet
Ser esteta está na moda.
À medida que os comportamentos se alteram,
O mercado
de trabalho o acompanha.

Então,
Conforme
as mulheres botocadas perdem os movimentos da face –
Inclusive os da boca –
A profissão mais promissora do momento é a de ventríloquo.

28 de novembro de 2008

por carolina fellet

Vem vento da janela do vizinho...
Fica retido na fresta...

Balança blusas umedecidas o varal...
Mostra a metafísica.

Documentário


Por Carolina Fellet


Olho nu, às vezes, deixa escapar a tônica da cena.
A centopéia
rebola,
Mas a gente se distrai com o céu
e com as sombras que ele faz no gramado.
No vídeo, os quadris das mil perninhas mexem sem pudor.

Pan


Por Carolina Fellet


O estado em que a vida se estagnou encontra identidade em tudo que se alimenta da minha janela.
A luz vinda
do vizinho,
O movimento bem suave das
bananeiras,
A tartaruga dentro do aquário.

Novas safras de gente

por Carolina Fellet



A casa é, por DNA, estática.
Nela há uma família.

Impressões e sentimentos
Dramatizam os móveis,
Movimentam
os quadros
E dão alma aos quartos.

Quando surge a outra geração,
Sob olhos blasé e tio Patinhas,
Todos salivam por
promissoras heranças
Em meio aos escombros.

26 de novembro de 2008

por Carolina Fellet
O tempo em Juiz de Fora vai do blasé à cocaína no ínterim do mesmo dia.

Anda, a vida está correndo

Por Carolina Fellet


Não vale a pena.
Não, não vale mesmo.
Discórdia.
Porque
a Vida trava-se nessa mazela,
Na manutenção dessa má digestão
.


Enquanto poderia estar em dia com um belo canteiro de orquídeas,
Enquanto poderia estar sintetizando aromas
ao encontro do Oriente.


Não.
A discórdia não compensa.
Os motéis poderiam estar
empapuçados de prazeres.
A vaca poderia cumprir sua serenidade ruminando o dia todo 100g de matinho.
Mas a discórdia engessa o Mundo.

O que era para ser um segundo,
De repente,
É um freezer de sorrisos.

Sentimento outorgado

Por Carolina Fellet
A angústia – com sua mancha invencível – tingiu todo o oceano da garota.
Não há
mais movimentos,
Não há mais enfe
rmos.
O universo está paralisado.

12 de novembro de 2008

Troca de DNA

Por Carolina Fellet

Gosto de olhar para o alto.
Telhados se rendem
ao céu.
O céu me evapora.
Passo a sê-lo.
E quando me retomo,
Fico
demasiadamente tonta.

5 de novembro de 2008

Virtualizar


Por Carolina Fellet
Esvaziei todas as gavetas. Me desfiz de tanta matéria. Me rendi ao desfigurado.

26 de outubro de 2008

Lindemberg e o caso Eloá

Por Carolina Fellet
Esses rapazes com ciúme patológico geralmente possuem dentro de si uma química na qual não se pode confiar.
Eles julgam os outros de acordo com o próprio caráter volúvel.
*Muita mulher solitária, vítima de desamor generalizado, sem dúvida, sentiu inveja do papel de Eloá nessa tragédia real.

24 de outubro de 2008

As celebridades e o céu


Por Carolina Fellet
Ontem à noite, Adriana ficou matutando o porquê de as pessoas que são estampadas em colunas sociais e/ou abordadas pelas mídias ganharem uma mítica toda especial. Ela chegou à conclusão de que essas celebridades tornam-se uma espécie de Deus. E, portanto, a onipresença biônica a que elas ficam sujeitas fazem-nos devotos delas. Amém.

22 de outubro de 2008

Ensaio sobre a eternidade


por Carolina Fellet


O cemitério é descoberto pelo grande fôlego.

Em torno dos túmulos, matos em dia.


Nos vãos das gavetas,

População próspera de poeira.


Entre o cadáver,

O vigor incansável da decomposição.


As calças, as blusas, os sapatos, os potes, os cortes são devastados pela dissimulação do mofo.


Da ciranda com o céu brotam minhas rugas.

Que são autônomas como estes meus seres superficial e profundo.


por Carolina Fellet

Não tem entusiasmo com elogios regados a saliva e espontaneidade. Porque as palavras são verdades nanicas.

por Carolina Fellet


Sobre minha superfície,
Impressões digitais da mamãe.
Quanta tinta:
Tiques, timidez, altruísmo.

20 de outubro de 2008

Dois em um

Por Carolina Fellet
Estávamos nós dois.
De repente, pensei, mas não o revelei.
E você materializou
meu pensamento, me chamando para uma extravasada libidinosa através de um bilhete no guardanapo.
Ganhou uma enorme sustância a sua posição como meu namorado.
A palavra não foi dita e diluída diante
da primeira fragrância do Avon®.
Foi escrita e fossilizada para a posteridade.

19 de outubro de 2008

Poesia de aluna da Estácio JF é destaque em evento cultural

Minha participação no evento Vitrine Café
Matéria sobre esta pessoa no site da faculdade


A acadêmica Carolina Fellet, do 7º período de Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora (FESJF), irá fazer parte das atividades do Vitrine Café, que acontecerá esta noite às 21h, no Café Acústico (Avenida dos Andradas, 197, Jardim Glória). O evento, de caráter cultural, terá os mais diversos tipos de atrações para os visitantes, como a exposição fotográfica de Aline Moreira, as obras plásticas de Paula Velloso e da professora de Design Gráfico da FESJF, Tainá Novellino, além das produções de vestuário de marcas como a Chico Rei e outras atrações. Um dos destaques da noite será o trabalho poético de Carolina, que abordará temas ligados à modernidade e à tecnologia, como os impactos da ditadura da beleza e as tendências trazidas pela globalização.
A estudante afirma que, desde cedo, já tinha um interesse pela arte de compor. “Escrevo poesia desde criança, desde quando eu aprendi a me expressar através da escrita,” diz ela. Carolina já participou (e foi vitoriosa) em vários concursos de poesia, assim como o amigo Hermany Tafuri (da UFJF), que ficou em primeiro lugar em uma seleção feita na Itália em setembro.
Os textos de Carolina já conquistaram fãs, como o colega de sala Eduardo Vanini, que idealizou o evento desta noite. “Assim que idealizou o Vitrine Café, ele se lembrou de mim e me convidou para participar do evento,” diz ela, sobre como soube das apresentações e se tornou parte delas. “Desde então, me empolguei com a idéia de me entrosar com um acontecimento desse porte.” As entradas para o Vitrine Café custam R$ 7 (com um desconto de R$ 2 para quem tiver o flyer do evento). Os visitantes terão não só a oportunidade de se divertir um pouco, como também terão uma mostra do que a criatividade pode fazer. Segundo Carolina, as pessoas “devem se arriscar nos talentos que lhes são inerentes.”
Mais informações sobre o evento pelo telefone 3215-7518. Para saber mais sobre os trabalhos de Carolina, acesse o seu blog
http://www.anabokov.blogspot.com/



Agência Experimental de JornalismoJornalista responsável: profª. Izaura Rocha Bolsista: Pedro Vieira – 4º período de Jornalismo

HipóTESE

POR cAROLINA fELLET

Eu gostaria de ter habilidade para fazer enxertos.
A princípio, eu iria transpor minha vocação para romancear a vida aos dias de hoje.
O enciclopédico sucumbiria a um grande amor platônico e confundiria a finalidade dos sentidos, a partir de uma goteira constante destinada ao ser amado.
Depois, eu traria a serenidade, que me vem a conta-gotas, inteira. Toda de uma vez. A fim de eu viver mais pousada nas situações.

8 de outubro de 2008

JF Folia (a micareta de Juiz de Fora)


Por Carolina Fellet



A pílula anticoncepcional tomou o lugar do pão de cada dia. Ela é tomada religiosamente. Todo dia.
Concomitante a isso, a bandeira do machismo extravasa a altura de um arranha-céu.
A mulher contemporânea aceitou ser objeto de desejo masculino. Muito em breve, isso será até regulamentado por lei. Ela (a mulher moderna) vai à rua com os peitos transbordando a roupa; malha à beça para incitar a libido do macho.
E beija MUUUUUUUUUUUUUUITO nas micaretas.
Antes de vulgaridade, antes do juízo de valores, festas assim são extremamente anti-higiênicas.
*com essa moda de traição, ainda tem a questão do incesto... Quantos irmãos não se beijam, involuntariamente, nesses eventos?
E as atitudes comuns nesses carnavais fora de época estão se consolidando e culminando em tradição. A tradição que traz à tona nosso período primata...

Tome nota!

Por Carolina Fellet

A juventude da minha geração – 1980 – é mantida pela tecnologia de ponta.
Esses homens biônicos, cujos músculos são tão rígidos que beiram romper a qualquer instante, me instigam em um aspecto: eles (os homens biônicos) são tão biônicos que até a ereção o é e, portanto, precisam tomar um “smurf” antes de copularem.

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Em relação aos médicos, ninguém fez melhor definição que Fiódor Dostoiévski quando afirmou que quem lhes crê é supersticioso. Concordo plenamente, haja vista que, como qualquer profissional, os médicos são preparados para realizar procedimentos em nosso corpo; e não salvar nossas vidas das fatalidades invencíveis.

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O homem tem, nesta temporada orgânica da existência, a chance de se organizar melhor, em se tratando da lida com os outros no dia-a-dia; de simplificar os empecilhos para chegar ao bem-estar e, no entanto, enrola-se mais que um formigueiro em chamas.
Em casa de dois ou mais andares, repare como os habitantes transitam carregados de utensílios para todos os lados. Enquanto as formigas o fazem com uma única pretensão e de forma esquemática.

6 de outubro de 2008

Dramaturgia

Por Carolina Fellet


A inadimplência faliu um banco nos EUA.
E a Bovespa despencou.

O luxo está ameaçado.

Vou me abster das regalias.
Guardar um pouco da verba para fazer jus

Ao prazer de interpretar a vida.

Consertos em geral

por Carolina Fellet


Lá no quartinho de entulho da psique dou jeito nos erros dos transeuntes com que cruzo.
Cabelo emaranhado,
Dente escurecido pelo tratamento de canal,
Nariz muito adunco,
Pele esburacada.

Esse acerto eu faço sem que ninguém saiba.
Ou sequer perceba.

É num quartinho dissimulado pelos sentidos.
Meus movimentos e correções não transbordam o líquido.
E morrem antes de chegar aos meus tiques.

Churrascaria

por Carolina Fellet


Sangria hedionda.
Pressentimento na fazenda.
Sadismo dentro do prato ensangüentado.
Cemitério e prazeres.
Mortos no espeto.
Saliva no aparelho bucal do homem.
Estranha lei da vida.

1 de outubro de 2008

Bolhas, dores, ardências e afins

Por Carolina Fellet
Andei demais. E o que me guia rejeita meus esforços. Nos pés: bolhas.
Meu corpo compõe meu percurso e, no entanto, age autônomo, dissociado do meu conjunto. Aquele dói enquanto minhas repartições abocanham alegria, e arde no momento em que meu oculto se diverte sob o sol.
Esta temporada orgânica espirra – ATCHIM - em situações mais indevidas: momentos fúnebres, reunião de pais e catecismo.

Misoginia (de mulher a mulher)

Por Carolina Fellet
O homem brasileiro é o grande culpado pela rejeição, por parte das mulheres, às mulheres.
Porque, sob o jeito “não perde uma”, nem que seja no olhar, ele incita a desconfiança no gênero feminino inteiro.
A solução: importar um container repleto de gringos civilizados e pudicos para cá.

30 de setembro de 2008

Por que a Rosa Salopé ganhará as eleições em Juiz de Fora?

Por Carolina Fellet
Perante a sociedade patriarcal em que vivemos, levar o gênero feminino ao poder soa extremamente estranho.
Portanto, Rosa Salopé chegará à Prefeitura devido a seu nível de testosterona no corpo. Caso contrário, se ela fosse franzina e falasse em tons agudos, isso não aconteceria.

27 de setembro de 2008

Carro forte

Por Carolina Fellet

Esqueça a bolsa com seus documentos
E seus pertences lá no bar.


Que tal seguir uma outra ideologia?

Abdicar-se do trabalho mecânico,
E aproveitar dessa sua temporada orgânica.
Porque o resto será transgressão.
E ninguém o perceberá.


Aproveite do decote,
Da carne firme, mas sem vulgarizar.


Use da inteligência
Para destrinchar o óbvio.
Questionar, questionar.
Até chegar a Deus.


E depois de ganhar o Mundo,
Pode voltar para o seu sigilo.

26 de setembro de 2008

Em busca de quê?

Por Carolina Fellet


Dentre as químicas permitidas,
Descobri o antialérgico.
Para aquietar minhas convulsões marítimas.


Nesse dia, não o tinha tomado.
Dentro de mim: pá virada.


Sob os olhos envidraçados da lotação,
Às onze da noite,
Vi um cara de meia-idade tragando um Carlton,
No quinto andar do prédio onde mora.

Imediatamente,
Fiz a estatística entre nossos desesperos.

E:
O meu, eu controlo com o efeito do livro do Osho,
E através de uma série ininterrupta de respiração premeditada.
E ele, coitado, é devoto do inanimado.
Naquele cilindro fumegante, ele deposita a fé, o orçamento, o passatempo, a angústia.


Enquanto eu ensaio a essência a acreditar nos meus hábitos,
Ele terceiriza a paz a cada tragada.

22 de setembro de 2008

Acidente Doméstico


por Carolina Fellet


Acabaram-se as notícias do telejornal.
Aí,
Os mais novos começaram a implicar
Com o velho da família.

Porque este fora sempre um palhaço,
Que chegava com mil e uma novidades no bolso da calça.
De repente,
O velho sentiu-se fatigado.
E aquietou-se.

Véi mal-humorado. PAFT.
Prepotente. PAFT.
Sarcástico. PAFT.
Vou sair de casa. PAFT.
Entoaram os familiares.

Os egos sucumbiram a ampolas dos piores instintos.
Gritos.
Gemidos.
Choros.
Grunhidos.
Anarquias.

No velório desse movimento brusco,
Uns se enfurnaram no quarto e acabaram dormindo.
Outros assistiram à TV e se olharam de soslaio.
E o oxigênio veio-lhes com componentes do constrangimento.

18 de setembro de 2008

O futuro das macumbas

por Carolina Fellet


Esta espécie ofegante e
Toda a versatilidade de Vida,
Vinda das mãos da Onipresença,
Render-se-ão aos formatos –
Ainda inenarráveis –
Da Tecnologia.

E aí:
Adeus pato,
Gato
Rato
Galinha
Vaca
Coel
ho
Leopardo

Tigre
Reinos animal e vegetal.

Com que itens, portanto, serão feitas as macumbas?
Com lanche do Mc Donald´s®

17 de setembro de 2008

E a Vida?


por Carolina Fellet


A Vida é a gravidade que o(a) leva de cara ao chão. E ainda o(a) olha com indiferença depois, diante dos ferimentos.


Seu Juraci recebeu o resultado do exame de sangue.
Quis evitar as verdades,
Mas a Vida extravasa qualquer barreira física:
As frestas.
Os ônibus.
Todo o hermeticamente fechado.
E atinge sua presa,
Cumprindo-se (a Vida).

Quem está lendo –
Às escondidas –
Um livro do Índex,
É vitimado pela Vida.


A Vida é soberba pura.

Porque, querendo ou não querendo,
Ela vem e age
Faz e acontece
Desmorona
Eleva a temperatura
Distrai-se conosco.


Carne nova da criancinha.
Seios consistentes da gostosa.
Pele mole, pelanca, velhinha.
Colágeno...


15 de setembro de 2008

Catarse


Por Carolina Fellet


A MELHOR DELAS (CATARSE) É INGERIR UMA LATA DE COCA-COLA®




Enquanto não conheço o outro lado
E desprezo minha vocação à mediunidade,
Permaneço envolvida por essa película temperamental.

Hoje violaram as cláusulas do verão.
O céu desceu ao chão,
Reduzindo a eternidade.


Há umas tapeações a se fazer
E,
Nesse ínterim,
A Vida – a legítima –
Vai se consumindo
Acreditando que eu esteja distraída.


Mas eu a olho
Nem que seja de soslaio.
E fico humilhada,
Aniquilada,
Perante a aparência blasé que a Vida carrega.

Resolvo uns trabalhos no papel,
Outros invisíveis,
Embora vivos no cotidiano ciberespacial.


E deus imaterial me vem à cabeça
Já que o mundo hoje conta com
As existências sem semblante para funcionar:
Portão eletrônico,
Cancela automática,
Vírus online,
Conta digital.

12 de setembro de 2008

Montanha e Mar

Por Carolina Fellet

Sortudos são os moradores da Atlântica
Ou de qualquer endereço que desemboca no mar.


Eu vivo afundada sob montanhas,
Diante de um cabresto (geográfico) generalizado.


Então, restou-me
Optar por sensações que equivalem à brisa marítima:
o namorado,
amigos desajustados,
tartaruga de aquário e seu metabolismo de vaca.


Regar as plantas para que suba um ar fresquinho
Um caderninho

Para conter as convulsões das minhas ondas cerebrais.

10 de setembro de 2008

A 2

Por Carolina Fellet

Moradas erguidas,
Casais subnutridos de si.
E, por isso,
Encaracolados um no outro.
Inércia de uma avenida.


A primeira marcha do ônibus
É que movimenta a avenida.
Onde uma menina está parada –
À mercê dos trâmites da própria libido.


Da menina vem vindo o namorado
Trajando um casaco pós-moderno,
Cujos tons se confundem em misturas desbotadas.


O resto se embaça
Porque o ônibus já está longe.
Desfigurando os futuros.
Assegurando transgressão à cabeça.

4 de setembro de 2008

Anárquico-manifesto às patricinhas

Por Carolina Fellet

Quem mandou você escolher um mr. Testosterona?
Agora fica aí,
Amontoada junto a sua megalomania.


Sozinha,
Empedernida sob traços desembasados
E inconsistentes de um estilista ovacionado pela mídia.


Perdida sob o pó da maquiagem,
Vaidade.

Não.

A angústia,

Seu legítimo salto.

Você é tão bonita.
Gostosinha.
Tem até um timbre legal.
Mas não articula bem suas idéias.

Você optou pelos códigos mudos:
Bolsa, roupa, brinco, cores e tons, traços e texturas.
Não sabe concatenar um texto interessante.


E aí,
Todos te usam.
E o “te usar” é apenas um sintoma
Do desprezo que a rodeia
E a norteia
Com uma dieta de melancolia.


Coma
Coma muita melancolia
Até chegar a uma rua
Onde rodas de samba,
Diálogos improvisados
Façam você se atentar para valores mais espessos.

31 de agosto de 2008

Trâmites da economia

por Carolina Fellet

Eu sou extremamente adaptável às variações da economia.
Se você está acostumado a lidar com essa moeda, não se preocupe, sou altamente contemporizável a ela.

Terminar na solitária

por Carolina Fellet


Não sei para que ter um companheiro,
Ainda que escolhido a dedo.


Em vez de flores,
Boa programação,
Aprendizado,
E perfume original,
A necessidade de se aniquilar.


Entupir-se de hormônios,
Para saciá-lo e não engravidar;
Falar bem baixo para evitar vexame;
Maquiar-se sempre;
Penteado em dia;
Depilação exímia.


Em vez de prazeres intempestivos,
Uma mensagem atrevida.
Ou uma ausência,
Uma indiferença própria do invisível.


Não sei para que ter um companheiro.
Se é sempre um indivíduo,
Do mesmo jeito,
Irredutível e cheio de tique da cultura da casa dele.


Um cara que não se reinventa
E nem tenta,
Porque sabe que será um fracasso.


Todo mundo tem um companheiro.
Será que é para tirar um bom proveito,
E saciar as demandas primárias,
Sem que termine na solitária?

20 de agosto de 2008

Seja um funcionário público! Salário inicial de R$3579834798,00

Por Carolina Fellet

Os chimpanzés e os seres biônicos –
Estes mantidos a tecnologias para se embelezar,
Para se informar,
Para se higienizar –
Possuem a característica vitalícia que consta no DNA,
E que implica o instinto de sobrevivência.


Enquanto os primeiros se matam para saciar os instintos primários,
Os últimos se matam para saciar os instintos primários.

E para que isso seja possível hoje,
É preciso ingressar-se no funcionalismo público.


Ainda que você faça um curso técnico de corte e costura no Senac,
Não perca tempo:
Assim que sair o edital para o concurso de costureiras do Senado,
Inscreva-se.

16 de agosto de 2008

Marmitex

Por Carolina Fellet

Olimpíadas em Pequim,
A beleza biônica de um saradão,
Declaração de amor que deveria ser inviolável,
De repente,
Disseminada no Orkut.


Metástase,
Quanta metástase.
Vamos curar essa patologia dos excessos.


Prefiro a moda dos monges reclusos
A essa exposição com superestima.
Ahhhhhh
Uhmmmmmmm,
Respire fundo.
Vamos meditar!
Você consegue ser politicamente incorreto,
E não usar piercing,
Dispensar a tatuagem,
Prescindir do encher a cara.

Nesta mistura estão todas as minhas químicas de protesto:
Do presidente ao caso de incesto na província,
Da decadência literária ao cheiro de xixi em Juiz de Fora,
Do beijo que eu não lhe roubei em momento oportuno
À briga que não causei em hora imprescindível.


As matérias dos telejornais do SBT são muito curtas,
E o jeito aleatório do Silvio Santos me alegra.


A seriedade estúpida de quem é sério
E desconhece que se é perecível me incomoda.
E muito.


10 de agosto de 2008

Você vem sempre aqui?

Por Carolina Fellet

Carona depois de um bate-papo falsamente despretensioso.
Três dias de avidez,
Quase um inventário de angústias.
Mas, antes que ele acontecesse, o telefonema:
- Garota, adorei conhecê-la.
A gente pode fazer alguma programação nesta quinta-feira.


Premeditados.
A fim de não dar foras,
De surtir boas impressões
E reverberar a sensação de entusiasmo incipiente.

Saem amiúde,
Até o momento em que se sentem despidos do zelo,
E, portanto, à vontade e leves,
Com a espontaneidade parida pelo convívio.

31 de julho de 2008

Escatologia

por Carolina Fellet

Fui ao centro espírita,
Não em busca de altruísmo
Ou de outras utopias.
Mas a fim de melhorar minha misantropia.


Ao meu lado, sentou-se um homem
Que não conseguiu se concentrar na palestra.

Em devaneio com a própria desatenção,
Ele enfiou um dedo dentro da boca,
E lhe retirou os escombros do que havia comido.


Fui ao centro espírita para tratar minha misantropia,
Mas não agüentei a cara impecável do passista.

28 de julho de 2008

Tantas bocas

Por Carolina Fellet


Meu interior são bocas famintas,

Que ingerem – sem higiene –

O que lhes vem à frente.

Imediatamente,

Comi seu jeito,

E ele se contemporizou ao meu conteúdo:

Sou agora um transgênico.

27 de julho de 2008

Zilda

por Carolina Fellet

Sob a lascívia de dois jovens pobres,
Unidos por frisson e falta de perspectiva,
Iniciou-se a materialização de Zilda.


Zilda veio à luz como um equívoco.

Em esquinas com caixotes,
Paredes engolidas por matagal,
Bancos de praça,
Debaixo de decotes e fragrância do Avon,
É que os pais da mulher se encontravam.


Um belo dia, o ciclo - pontual -
Sempre em dia,
Não veio.
E o receio se confirmou como certeza:
É gravidez!


A falta de perspectiva aumentou seus índices,
Enquanto o frisson se rendeu ao caos do inesperado:
Mais uma vida para se abrigar no barraco.


Diante de lutas e lutas e lutas,
Zilda conquista sua subsistência:
trabalha em casa de família,
é babá por uns dias...
Vive salpicando alegrias.
Sempre em dia com a Vida.