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29 de dezembro de 2010

A alguém especial

A partir das habilidades com que meus pés roçam a vida,

Reconheço texturas, temperaturas, prazer e dor.

Sou cheia de ciência para recepcionar o Mundo,

Embora Ele nunca se revele inteiro a mim.

Já fui toda fruta – bendita descoberta da maçã.

Já fui toda tristeza,

No momento em que o tempo viu-se incumbido

[de instituir em mim a química da decepção.

Já fui enganada por finas lâminas de gelo,

Mas já visitei outra dimensão – sem avião nem nada –

Apenas me submetendo a radiações de inteligência alheia.

Deus às vezes se excede através de trovões letais.

E também se supera (ou supura) por meio de uma sinapse caprichada

Cujo produto chega inteirinho para mim.

Pronto para o consumo imediato.

27 de dezembro de 2010

Por estar mais maciça de tempo do que eu, mamãe às vezes tenta me blindar contra algumas radiações da vida. Mas são inevitáveis os meus percalços.

A fraqueza alheia, por vezes, é o oásis dela.

23 de dezembro de 2010

Família

Família é realmente superimportante para qualquer pessoa, porque quem vem para a Terra sob o formato humano e fica exposto diretamente às radiações da Vida estabelece para si uma aura de incessante amargura.

15 de dezembro de 2010

Enquanto os bichos vivem a rudeza que lhes é imposta, a gente convive com ternura, compaixão, altruísmo.

É um privilégio ter vindo humano para a Vida.

13 de dezembro de 2010

Em vez de Ticiane se embasar na própria fortaleza intrínseca para agir e lidar com as pessoas, ela empreita toda a sua expectativa nas situações. Portanto, a personalidade dela, embora seja de ossos, é submetida ao molejo que somente os cartilaginosos aguentam.

9 de dezembro de 2010

Sobre ter filhos

Ter filhos é intermediar Deus ao novo, o qual é curioso, inquieto e livre para receber comandos e conhecimentos.

Conduzir um serzinho à Vida, portanto, demanda inteligência e cautela.

O que se vê, no entanto, é pai optando pela paternidade como uma obrigação civil, e não devido ao desejo de se envolver integralmente nessa missão. O produto disso são filhos vivendo suas naturezas de um jeito autônomo – como a grama, o vento, o céu – e se encalacrando com os barros das descobertas e seus respectivos tropeços.

Não menosprezando a biologia dos vegetais, eles próprios precisam ser regados de duas a três vezes por semana. Se se trata de ser humano, o comprometimento com este deve ser bem maior, porque além da subsistência ele precisa de carinho. E não dá para ser autodidata em se tratando desse tema.

Viagem para a Disney substitui ensinamento de educação e de bondade? Brinquedo supertecnológico dispensa afeto dos pais? Coração de babá tem o mesmo conteúdo de coração de mãe?

O que você, pretenso pai, tem para contar/ensinar a seu pretenso filho? Vale a pena trazer para a vida alguém de quem você será o guardião?

Tenho muita pena desses que vêm à luz seres humanos e vivem como mato; respeitando apenas a natureza que lhes convém.

4 de dezembro de 2010

Relatividade

Chega sexta-feira e meu ânimo se altera como a primavera dita mudanças à vegetação.

O Acaso

Cumprindo a própria obrigação, o telefone ressoou. E minha sexta-feira, que até as 16h25 era grama verdinha, perdeu-se no barro.

O coração sumiu com seu maestro e ficou dissonância pura. O paladar recebeu os mandamentos do amargo para processar.

Os sentidos todos se atormentaram dentro da minha casa.

“Só o acaso estende os braços a quem procura abrigo”.

3 de dezembro de 2010

Sobre a solidão

por carolina fellet

Conforme vislumbrara, a vida não lhe estava fácil, porque a solidão – por mais que lhe trouxesse criatividade – a blindava contra desabafos, carícias e o próprio exercício do humano.

Por sorte, mantinha no apartamento onde morava a atmosfera que era dela. Os cômodos, os pertences, as comidas excediam a natureza de impessoalidade inerente a eles: tudo ali era uma extensão de Blima.

Chegar em casa todos os dias sem ter quem a aconchegasse era como se toda a natureza estivesse à mercê do nada; privada do sentido humano para recepcioná-la.

A situação se agravou e a moça solitária apelou a vizinhos e agendas antigas. Nessa busca, angariou alguns pares de ouvidos e de olhos e um pouco de atenção.

Todavia, como os donos desses materiais vitais possuíam aflições também, quase nada puderam fazer por Blima.

...

Um dia, enfurnada no laboratório das próprias químicas, ela atritou dois emplastos do corpo, reconheceu Deus dentro de si e alcançou o Supremo