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30 de maio de 2010

por carolina fellet

Ouvir muitas vezes a mesma música,
Comer brigadeiro todos os dias,
Usar o Cool Water® até para ir ao mercado.

E o sentido já não processa o que lhe é oferecido
Com a expectativa que eu queria.

A empolgação da Ivete fica até esquálida.
A magnitude do chocolate fica até insípida.
E o Cool Water® fica batido igual perfume Avon®.

O bom é racionalizar todas as oferendas aos sentidos,
Para que eles não nos traiam.
por carolina fellet

Primeiro encontro com um paquera. Inconscientemente, a pretensão é alardear os próprios méritos como um cabotino antigo. Porque se deseja que o outro configure a melhor impressão a nosso respeito, e diante dela, posteriormente, à mercê da própria área privativa do pensamento, deseje um reencontro para nos destrinchar um pouco mais.

Olá, muito prazer

por carolina fellet

Apesar de ser falante com os íntimos e até despudorada na escrita, perante situações novas, me classifico como um bicho-da-seda retraído.
Não sei que rebuliço acontece entre minha tríade ID, EGO e SUPEREGO em momentos-estreias. Que características minhas posso colocar ao alcance do outro? Devo contemporizar aos moldes da simpatia, da seriedade, da distância ou da aproximação no diálogo? Mostro meu lado perspicaz ou minha admiração por Chico Xavier?

27 de maio de 2010

por carolina fellet

Agradeço a Deus por ter me trazido à luz sob a forma humana e, por conseguinte, dotada de inteligência para trafegar entre as experiências e as palavras com a maior liberdade.

21 de maio de 2010

In memorian

por carolina fellet

Só adulta fui entender essa expressão.
Quem morre escapa de vez das nossas vistas. Perde a representação nesta dimensão.


A memória de quem fica é que estende a vida do morto.

20 de maio de 2010

Sobre velório

por carolina fellet

Quão animalesco é o velório.

Aquele corpo estendido.
Uma interseção
Entre este mundo
E a outra dimensão.

E os mosquitos a postos,
Salivando pelo banquete
Que lhes surge.

19 de maio de 2010

por carolina fellet

Salão de cabeleireiro e véspera de prova foram feitos para psicopata. Gente comum – em cujo corpo circulam sangue e temperatura – não suporta essas situações.

18 de maio de 2010

Botox

por carolina fellet

O botox me dá a impressão de um soco que culminou em inchaço febril.
por carolina fellet

Mal começou a novela “Passione” e eu já tenho uma resistência a ela. Apelar para o “portuliano” (mistura de português com italiano) é subestimar a inteligência do telespectador.
por carolina fellet

Quando se tem um amor terno não é necessário estar sempre por perto do contemplado com esse sentimento.
Ver-lhe a janela acesa e saber que dentro daquele cômodo a vida pulsa. Isso basta.

14 de maio de 2010

por carolina fellet

A angústia mostra sua fisionomia àqueles que se privam do percurso e se arremessam a um futuro em que tudo funciona corretamente.

Sobre o funk

por carolina fellet

Funk traz para a praia da consciência aquilo que o pudor acoberta durante a temporada pela vida.
Quase ninguém está preparado para assistir a si mesmo sem censura.
Repare você quando vê numa fotografia de revista um órgão interno do corpo humano. Não lhe causa certa repulsa?
Imagine, então, você se vendo nu e cru; com seus fetiches, suas más inclinações e seus ímpetos mais vis?!
Por isso talvez você não goste de funk. Ele tem o dom de lhe trazer você.

Reynaldo Gianecchini

por carolina fellet

Nunca concordei com a adjetivação “gostoso” para qualificar camaradas com os quais nós, mulheres, nunca tivemos uma experiência mais íntima.
Por mais que o Gianecchini seja superlativamente lindo e sacie minhas vistas – em se tratando de supremacia de beleza a elas –, não me sinto à vontade para batizá-lo de “gostoso”.
Afinal, não lhe provei a eletricidade.
Bem que gostaria!
por carolina fellet

Inconscientemente, as pessoas acatam o ar que trafega por aí. Com as ideias, parece que a coisa se repete. Porque os escritores, ainda que tenham uma dicção própria, sempre discursam os mesmos assuntos.
por carolina fellet

Muita gente que convive comigo me diz que sou um doce.
...
Na área privativa da consciência, fico pensando: não posso me casar com um diabético!

13 de maio de 2010

por carolina fellet

Nunca tive oportunidade de viajar para a Rússia. Desconheço, portanto, salvo através de fotos e da televisão, a geografia do país, uma vez que meus olhos não podem se arremessar até lá.
Para se chegar a um lugar distante, é preciso recorrer a um meio de transporte e a uma batelada de burocracia. Todavia, com o instrumento de que dispomos para viajar nas nossas próprias águas, podemos ir a fundo nesta existência que abriga nosso âmago.
Com essa ferramenta, podemos ponderar os graus de cada sentido, a velocidade dos ímpetos, as regiões compostas pelos vacilos, as terras firmes.
Podemos esparramar toda nossa química sobre a bancada da nossa consciência. E diante de todo líquido ficaremos apavorados com nossa tamanha ignorância.

12 de maio de 2010

Sobre a sensualidade

por carolina fellet

Estava assistindo a uma cena de “Viver a vida” (novela das 21h transmitida pela Rede Globo entre setembro de 2009 e maio de 2010) em que a personagem Alice, vivida por Maria Luisa Mendonça, estava prestes a transar com Osmar, interpretado por Marcelo Valle. A atriz surgiu sob uma bela lingerie preta às vistas do “affair” na trama.
Concomitantemente a isso, pensei – do lado de cá da televisão – na sensualidade de que tantas e tantas brasileiras são partidárias. Pelas ruas, é praxe o espetáculo de calças superjustas aliadas a blusas tomara que caia e saltos mega-altos.
Não há iguaria melhor para as vistas – principalmente as dos homens – do que um corpo feminino bem talhado e realçado. Porém, romper a privacidade da sensualidade e trazê-la à pele soa antinatural. É como incorporar a tristeza vestindo-se com roupas em tons pastéis.
O interessante da sensualidade é ela ser precedida e também incitada por um certo mistério. Expô-la como mamões frescos à venda na quitanda rompe com o propósito dela. Afinal, lascívia tem muito a ver com sutileza. Com descoberta. Com diálogo sensorial.
Por outro lado, existem tantos homens e mulheres que adotam uma postura tão distanciada do próprio charme que ficam parecendo pedagogos que gostam de fazer cartaz e organizar excursão de adolescente.
Assim fica infértil o campo da paquera.

11 de maio de 2010

Suco de meditação

por carolina fellet

Deixe seus pés se molharem,
Mas não se afogue.

Você está somente flutuando nesta vida.
Você não é isto.
Você é metafísica pura.

Miligrama

por carolina fellet

Para quase tudo neste mundo civilizado há uma medida, um parâmetro, um manual. As escolas abordam as mesmas matérias; os cursos superiores oferecem especializações em áreas que existem desde o tempo em que a vovó era solteira; o ponto do brigadeiro ainda é um dos mais difíceis entre a população dos doces; o primeiro beijo, assim como as primeiras vezes, é insosso.
Tanta teoria tenta nos prevenir do mal, do equívoco, da frustração, mas somente a vivência das situações é que sintetiza reações dentro de nós. E à medida que a gente se habitua aos acontecimentos que interceptam nossas vidas é que os anticorpos vão sendo produzidos pela força clandestina que nos acompanha desde sempre.
...
Ontem, com os olhos arremessados no livro “O mundo pós-aniversário”, da americana radicada na Inglaterra, Lionel Shriver, fiquei pensando na vocação unânime que as mulheres têm de amar. E a ferramenta de que elas dispõem para exercer o amor é bastante falha. Haja vista o desejo do gênero feminino de embaçar o mundo e suas implicações, a fim de sobreviver de afeto.

Uma querida chamada Hilda

por carolina fellet

94 anos. Em abril de 2010, dona Hilda, amiga da vovó – já falecida –, decolou da vida rumo ao território misterioso da morte.
Todas as atitudes das quais me lembro dessa senhora sempre surgiam da pureza – valor tão coagido por tantos outros nesta vida. Frequentemente ela telefonava para minha casa simplesmente para dizer: “filhinha, você reparou como o dia está lindo? O céu está tão azul!”. Na época, eu, adolescente, ficava com os olhos marejados. Hoje, já adulta, me comovo completamente com essa memória.
Nunca presenciei dona Hilda cabisbaixa, desarrumada ou fatigada. Ela sempre estava “nos trinques” para recepcionar a alegria. Apesar de diabética, quando fugia da vigília dos filhos, sucumbia a bombons, a doces caseiros e a qualquer “junk food” que estivesse na mão de uma criancinha.
A senhorinha querida não era de muitas palavras: jamais a ouvi falando mal dos outros; eram raras as vezes em que sua voz sobressaía diante de um encontro entre amigas. Em contrapartida, seu semblante sempre me atraía, haja vista o tamanho daquele carisma.
Querida dona Hilda, você está bastante viva, cheia de viço, imersa nas minhas melhores químicas.
Adoro você. Enquanto me houver consciência.
Carol.

10 de maio de 2010

A soberba dos prazos de validade

por carolina fellet

Agendas e marcações de prazo de validade em medicamentos, documentos e alimentos ignoram a vulnerabilidade dos fatos. “Daqui a dois anos o senhor retorna para mais uma consulta”, diz a secretária do médico ao paciente.
No ínterim de dois anos, um coração sadio, sob as rédeas de uma equipe clandestina, abandona suas atividades e aposenta-se de vez. Todos os compromissos do dono desse órgão vital, consequentemente, ficam órfãos.
No fundo do frasco do xampu está carimbada a data de validade do produto: 26/07/2014. Até lá, dá para uma careca se fazer e, portanto, dispensar o uso do sabão para as madeixas.
Estipular datas é brincar um pouco de Deus, que antecipa céus e maneja o Acaso.

As tais das células-tronco

por carolina fellet

Desde que trouxeram à baila a temática das células-tronco, muita esperança foi sintetizada em lares de todo canto do mundo e muita ovação foi destinada a cientistas e cientistas que estão envolvidos no assunto.
Descobrir que determinados ingredientes do corpo podem resgatar a saúde de alguns órgãos – e respectivas funções – desse próprio físico parece algo surreal. A tendência é de atribuir aos pesquisadores do tema um caráter messiânico.
Porém, especialistas em células-tronco se sujeitam a fazer corretamente o traslado do material dessas células-mãe rumo ao destino que as aguarda. Em suma: pesquisadores e cientistas trafegam com todo o Divino que lhes é ofertado de bandeja.
Portanto, não entendo muito o deslumbramento diante do advento em questão. Também não compreendo as pessoas não se embasbacarem diante da imponência de uma árvore, de uma mão, de um céu matematicamente mesclado, de um sol, da capacidade veloz de a chuva se fazer chuva.
Vou ficar sem entender.

9 de maio de 2010

por carolina fellet

Andar de ônibus é matéria-prima imprescindível para quem gosta de filosofar como uma implosão mental.
...
Carina cabe no rol dessas pessoas..
Dia desses, ela observava (perscrutava até) duas senhoras bastante humildes conversando. Ambas alteravam com a maior propriedade o idioma – português – através do qual dialogavam. “eis trocô as lâmpda?”.
Era uma sinfonia toda nova aos ouvidos.
...
O ônibus daquelas senhoras chegou e Catarina permaneceu, de longe, lendo os lábios delas. Lábios contorcionistas como os falantes de russo.
por carolina fellet

Numa sessão de auto-observação, a garota encontrou, finalmente, a causa de sua angústia: projeção. O futuro – sempre incerto – era onde ela se aconchegava. Daí, sofrimento fatal.

6 de maio de 2010

por carolina fellet

Muito frequentemente, sinto-me fora desta dimensão. Vou para o curso de inglês, para a ioga, para os compromissos, e parece que tudo isso não faz jus à minha natureza.
A impressão é de que estou dispersa da vida e de que a única gravidade que me prende a ela são minha carne e meus ossinhos.
por carolina fellet

Principalmente nos períodos que antecedem a menstruação, Ana Tereza, 34 anos, agarra-se às mandíbulas da saudade.
Sente falta da época em que ia para o sítio dos avós ladeada pelo cacho de primos, além de frutas, pão com presunto e Coca-Cola®. Lamenta muita coisa do passado, embora a gravidade de seu pesar a projete a um futuro remoto, mas fatal.
Ela fica cogitando a própria consciência nostálgica depois da vida e se remoendo pelos equívocos que cometeu, pelos prazeres que recusou e pelo excesso de pudor.
...
Angústia é filha biológica da projeção.
por carolina fellet

Amiúde, aparecem ótimos humoristas no Programa do Jô. A moda é eles se apresentarem sob o formato “stand up”.
Nessa semana, o talento que preencheu minha memória seletiva foi um gordinho que perscrutou com maestria a psique das mulheres durante o coito.
Ele simulou o tédio no qual o gênero feminino se estaciona no ínterim do ato e, como antídoto a isso, revelou que nós, mulheres, apelamos ao retoque (mental, claro!) do ambiente onde estamos copulando: “uma mão de tinta aqui cairia bem; uma mesa de centro enfeitada com vaso de tulipas salvaria este lugar da impessoalidade”.
Depois dessa representação, que até extravasa o conceito da verossimilhança e penetra o território da realidade, fiquei com pena dos homens!

4 de maio de 2010

O estar de cada coisa

por carolina fellet

Já faz quase oito meses que a solteirice é meu status. Isso implica muita coisa. Desde contar minhas descobertas e experiências durante o romance a minhas amigas - sempre que as encontro - a me aventurar nas possibilidades do final de semana.
O acontecimento que mais pesa nessa minha condição concerne ao celular. Antes, ele tremia todo anunciando a chegada de mensagens e mensagens de carinho, o que entusiasmava toda a população da minha vida interior. Agora, nas raras vezes em que ele vibra, é para destacar: “ a VIVO informa...”. Imediatamente, meu cerne processa a química da decepção.

Idiomas

por carolina fellet

Existem idiomas que são tão passionais. Pelo que ouço do japonês – língua –, percebo que seus falantes empregam tanto sentimento em cada sílaba que gesticulam.

O vendedor de paçoca

por carolina fellet

Todo excesso do mundo foi concentrado no cara que vende paçoca pelas ruas de Juiz de Fora.

3 de maio de 2010

por carolina fellet

Homem alia-se a uma magra para dar satisfação social. Na hora da sapecada, porém, prefere a fartura de 500g de uma picanha.
por carolina fellet

O incômodo-chefe na visita ao ginecologista, em vez de ser a completa nudez diante das vistas do médico, é ter que falar de si objetivamente, como cada ingrediente da receita exposto na bancada da cozinha antes da mistura. “Estou a fim de transar com meu namorado. Qual a medida devo tomar?”. Quando o problema é gástrico, ou oftalmológico, ou ortopédico, o paciente fica imune a grandes exposições, já que não precisa cogitar muito da sua vida íntima.
... ... ...
Por que é que todo mundo tem a necessidade de se blindar? Que ouro é esse que necessita de esconderijo? Que horas acionar o botão do “isso eu posso falar”? Mesquinharia consigo mesmo sempre deixa a própria piscina cheia de ratos. Depois, no processo de recuperação, só mesmo uma diálise profunda.

2 de maio de 2010

por carolina fellet

Sábado à noite.
As duas são irmãs siamesas por afinidade.
Mal o Tempo se vestiu de sábado, elas já entram no dilema “com que roupa?”.
Nesse dia, porém, resolveram se aquietar em casa.
Uma foi silêncio aparente, embora congestionamento de memórias; a outra, três latas de Skol®.
É que na semana que vem será o casório de uma amiga das duas,e elas querem resguardar as energias.
por carolina fellet

Perante qualquer compromisso – de segunda a segunda, diante de agenda monótona ou de uma bela e frutífera festa de casamento – lá me fareja o acaso.

Enfim 2010

por carolina fellet

Em janeiro, geralmente as pessoas são dispensadas da rotina. E, como não se aguentam nuas e cruas, inventam novos compromissos para preencher as férias. “Resorts”, voos
de asa-delta, praias, montanhas.
Por um mês, há um transe generalizado de si mesmo. A voz interior dos indivíduos cala-se, a fim de dar espaço ao que lhes é extrínseco. Para estender essa letargia, em fevereiro, ainda tem o carnaval.
...
Somente depois da quarta-feira de cinzas é que as pessoas enterram seu silêncio, são reanimadas pelo muque do calendário e voltam a si.
Bem-vindo a 2010.

Eu registro, tu registras, ele registra

por Carolina Fellet
Registrar é moda que supera até o “rebolation”.
Futuros papais abdicam-se da emoção do parto do primogênito, a fim de registrar-lhe a vinda à luz.
Os primeiros passos trôpegos de uma criancinha descartam a reação dos possíveis espectadores e se rendem aos olhos biônicos de uma câmera digital.
Formatura, casamento, “rave”, caminhada ecológica. Tudo foi transferido para uma memória distaaaaaaaante. O presente está inalcançável.
Que futuro prometido será esse?

365 dias de carnaval

por Carolina Fellet

Na fila, uma postura.
Para o ascensorista, bom dia.
Com o namorado, entusiasmo.
Sinalizar a chegada
E despedir-se na saída.

Com o pai, assuntos neutros.
Com os amigos, palavrão.
Refeição no restaurante: talheres.
Pizza em casa se come com a mão.

No Rio, malandragem.
Em Minas, autoproteção.

No final da maratona de cada dia,
Haja ressaca de carnaval.