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31 de dezembro de 2006

Desenho Animado

Condena. Protesta. Censura. Depois, é presa das próprias desenvolturas a que chegou para inocular na Humanidade. As próprias arapucas que sempre armou, num vento, cuja direção foi eleita pelo Destino, cercam-na, ferindo todos os sentimentalismos e o vasto ego complicado que lhe veio de nascença. É tudo tão Piu-piu e Frajola.

27 de dezembro de 2006

Brasília

O suor não escorre;
Caso haja um transeunte,
É protesto,
Manifesto,
Anarquia,
Passeata.

Endereço inusitado,
Árvore tropeçando no asfalto,
Português sem tendências.

Primos, gentes diferentes,
Tio, cemitério, tristeza unânime...
Céu repetitivo,
Extensão dos céus das Minas.

Meninas madames,
Rapazes elegantes,
Juventude movida a Diesel.

Só um instante,
Já estou aqui há dias e,
de nada sei,
desconheço os espaços por que já passei.

Sinto as sensações a que minha bússola me induz.
As geografias são pretexto a minhas melancolias...
Na verdade, é tudo tão superficial,
Quanto os maciços investimentos na estética.

19 de dezembro de 2006

Inconsciente, consciente

Sou? Nem pensar! Isolem. Abençoem-me com águas, ainda que irrelevantes, bem intencionadas. Águas-recepcionistas de apartamentos de luxo. Não posso cismar em querer achar que sou. Não sou. Na noite em que as dores no peito me apareceram e eu, enfim, dei um veredicto de que nada, até então, condizia com o que eu esboçava acerca da existência, gerei nitidez, enorme nitidez a minha ignorância enquanto compromisso às escondidas da Vida.
...
Vou com este caminhãozinho velho, com a vida em frete. A alma é tão vigorosa; um vigor nocivo, sabe? O corpo é frígido. Exceto nos momentos de libidos itinerantes. De súbitas e órfãs felicidadezinhas.

18 de dezembro de 2006

Criação

Adoro os seus dilemas. Não sei se compro um laptop grande ou pequeno; meia calabresa e meia presunto e mussarela? Não, uma inteira de frango com catupiry.
Os canteiros do centro da cidade, a esta época de natal, estão parecendo sopas escaldantes.
(de dentro do carro): uma boa noite aos rapazes.

14 de dezembro de 2006

Antônimo

Lísia não tem o poder explícito do Falo, embora possua possante masculinidade em sua dinâmica diária de se mostrar à vida. Carrega a vagina denotativa e a feminilidade e delicadeza e sensibilidade de um clitóris.

11 de dezembro de 2006

No elevador

Como um helicóptero de resgate em ação, a sensação do fim aproximava-lhes da cabeça. Oito pessoas. O limite do elevador marcava oito pessoas. Minutos se estendiam à validade de um dia. Foram vinte minutos imensuráveis de sufoco.
Espelho embaçado. Condição psicológica enfurnada na facilidade – então avessa – de se respirar. Pânico. Sistema digestivo comprometido. Calor oriundo de um complexo de neuroses.
A maior questão que lhe vinha à cabeça era: “como ficará minha família após esta asfixia de que morrerei?”. Tudo resultou como os finais felizes das histórias infantis. Acabou indo a um bar, deixando-lhe, em uma das paredes, um dos versinhos que costumava escrever.
Voltou para casa. Lavou-se. Tomou seu estimulante para o sono. Acordou esteticamente ilesa.

10 de dezembro de 2006

Grande Circo

Datas imprevisíveis
Artista: Mariana F.
Entrada franca

Mariana alude as pessoas mais observadoras à ingenuidade com que se apresentavam os mágicos de muito antigamente. Da época em que os avós iam ao circo com o propósito principal de ver truques tão bem feitos que esbarravam nos segmentos da realidade.
A família está dentro de casa, discutindo para que endereço vai se mudar. Todos opinam. Querem fidelidade à casa que viram na foto. Sem uma nesga de diferença. Pedro Paulo faz questão de que seu quarto seja de frente para a rua.
Robson, o patriarca, respeita o empenho dos filhos, mas já não possui tanto empenho com as coisas do Mundo. Há bem pouco, perdera o irmão com quem tinha mais afinidade. À mesa, eles festejam uma cobiça. Fogos de Copacabana. Barulho. Emoção. Empenho. Risos. Ao silenciar o assunto, parece que as pretensões não sairão do status de pretensões. Mas, acaba que tudo acontece. A dimensão dos planos é imensurável. A realidade é fúnebre como uma obra inacabada, embora aproveitada para bandinhas alternativas se apresentarem a preços de bananas no Brasil. Que sonhem, portanto a família de Mariana F.
O assunto segue um nexo. A evolução apresentou ao homem a coesão das coisas. Há, obviamente, as mentes vitimadas pelos distúrbios. Daí, pensam sem seqüência.
Ai. Não me interessa as porcentagens da Ciência, da Medicina. Muito me interessa a poesia que se dissimula em tudo que é permeável aos sentidos.
Mariana F., sem consciência disto, retira de uma cartola implícita, palavras que destoam da expectativa dos seus convivas. O marido fala de economia e ela cita versinhos da época em que fazia a quarta-série. E ri sozinha. Diverte-se como um recém nascido que é o mel purinho de autenticidade.
Conto-lhe casos dentro do carro, ao som dos nossos ídolos da MPB. Ela parece estar concentrada em minha amostra de palavras em esteira. Quando cesso, ela me diz:
- Esse Chico Buarque é mesmo um gênio.
Ela nos ilude como um mágico. Todos os dias, posso ter um circo gratuito à disposição. Exatamente um circo. Itinerante. Espalhafatoso. Performático.
Preciso deixar-lhe um bilhete. Faço-o. Quando volto, na tentativa de um pronunciamento mudo, olho-a e ela sugere ter cumprido o que eu lhe havia pedido. De antemão, sorrio a ela.
Partimos para o diálogo dito. Ela me agradece por eu ter lavado as louças. E eu novamente a olho, encharcada da pureza. Da pureza que bafora dos desatentos e ingênuos.
Nenhum bilhete é urgente. Nenhuma burocracia é urgente. A morte até que é um pouquinho urgente, demanda agilidade, velocidade... Antes que a Natureza inicie seu jantar e nos sobre os ossos daquilo que um dia foi imensa dinâmica, imenso mundo.

7 de dezembro de 2006

Prestes ao Xadrez

Que tranqüilidade elas têm para se enfurnar no hipotético cotidiano de certas pessoas que lidam na sociedade. Num ato obscuro, como bandidos hábeis, fartos de didáticas, Andréa e Alessandra prognosticam, equivocadamente, a lida das pessoas.
Ao invés de manufaturarem as sensações com filosofias, com citações abstratas, batizam as pessoas das alquimias a que a condição humana é submetida. É crime. É inverdade. Suposições de sentidos carentes de vitalidade. Por isso, intromissão na vida alheia. Banditismo. Merece, indubitavelmente, punição.