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29 de outubro de 2005

Universo Paralelo

Sou o mundo. Mas o mundo duo. Enquanto meu materialismo coincide com o materialismo de formas, cores, texturas, espessuras, dinâmica, meu impalpável enxerga as abstrações do âmago. Olhos: tenho-os aos montes, em excesso. Olhos estrangeiros, que saem do mundo do Nada e desembocam no mundo do Tudo. "Olhos órgãos". Olhos virgens ao dia-a-dia. As minhas sensações trazem consigo olhos: alguns míopes, alguns hipermétropes, alguns puros e perfeitos.

23 de outubro de 2005

Mundana

Nesse fim de semana me esqueci de meus jardins intrínsecos. Abstive-me das flores de hesitação. Dediquei-me ao corpo. À diversão da carne. À dança mundana. Ao jogo de fêmea que demanda seduzir alguém apaixonante. Pus uma indumentária preta, uma nova epiderme a minha epiderme diária, horária, cansativa e fui à rua, ao som, a gentes de todo tipo. Diverti. Preenchi a plenitude dos solos mais superficiais da essência. E hoje estou mais alma. Estou mais Carolina. Ontem fui uma alegoria qualquer.

21 de outubro de 2005

Rapaz libidinoso

O jardim da saudade se sobrepõe ao jardim da libido. Esta sai do baú de tempos de fundo de caneca. Novas águas equivalem a novos tempos. Novos tempos me sopram a libido e as ervas da saudade entram em uma orquestra perfeita.
Aquele rapaz é libidinoso. E a libido faz bem a minhas terras murchas. A libido faz crescer flores raras, faz colorir meus céus, faz atrair pássaros inéditos.
A libido é matéria de que necessito. Mas depois que meus ventos intrínsecos erradicam o instantâneo da libido, ficam lacunas em minha vigília.
Libido e cerne nunca entram em um acordo.

16 de outubro de 2005

A mais fresca insegurança

Mudam-se as estéticas das flores. Mas a engrenagem que as faz é a mesma. Estou à mercê de uma insegurança. Estou perante um jardim versátil, moderno e, ao mesmo tempo, tradicional.

14 de outubro de 2005

Receita Errada

Há quem possua um ingrediente indevido. Às vezes sobressai o mal. Sobressai o monstro. Em todo resto há mesmas vidas sendo setas à nossa condição.

12 de outubro de 2005

Terreno Baldio

Abstenho-me de depilações amiúde. Detesto estabelecer cancelas à velocidade da Natureza. Estou com o terreno cujas gramas são orquestra em incessante atividade. Fiquei nua ao mistério, à estranha existência dos pêlos que não param de se proliferar. Não cansam de existir. Vêm do mundo do Nada e desembocam no mundo do tudo. Os pêlos são da religião das gramas.

Com licença

Meu corpo é um desrespeito. Vão acontecendo bônus de células sem minha permissão. As tristezas, à deriva, reúnem-se em sindicatos. A volúpia rompe águas de lagoa, delineia-se ao vento da vida e se faz inteligível a meu interruptor. Liga-se, enfim, radicando eletricidade ao asilo do corpo.

11 de outubro de 2005

À espera do livro

Estava ansiosa para que meu livro chegasse. Compararam tanto as minhas escritas com as da poeta da década de 70, que eu fiquei aflita, aflitíssima para conhecê-la, apalpá-la, estuprar a minha curiosidade. Demorou. Demorou muito. A avidez foi gritando a mim, expandiu-se, tornou-se uma árvore robusta com direito à mudança de cores e de espessuras. Minha árvore foi assassinada hoje, com a chegada de uma vida travestida de palavras a minha casa.

9 de outubro de 2005

Milagre

Consegui estar. E depois disso vivo um sexo infindável com o delineador dos dias. A vida coincidindo com asfalto, sinais, cimento, uniformes, roupas, maquiagens. Viver é a maior força da tapeação dos dias. E nem se dá importância à existência. Os nossos jardins começam a se manifestar de acordo com as circunstâncias banais do cotidiano.

8 de outubro de 2005

Orgasmos Múltiplos

Viver é estar à mercê das oscilantes intensidades que se inclinam a tudo que compõe a vida. Até a palma da minha mão atinge o clímax quando, entregue a um feixe de água, culmina no que há de mais agradável à pele. O ouvido chega ao ápice quando coincide com os fios sonoros criados por Bach. O paladar transcende quando cutuca a tônica do brigadeiro. Meu olfato vive sua multidão com os ares da cozinha logo cedo, habitada pelo café. A visão chega à plenitude no momento em que um pássaro preto e branco esbanja a vitrine exímia de uma vaidade da Natureza. Viver são orgasmos múltiplos oriundos da fluidez do Tempo.

Segredo

O segredo tem prazo curto. Curtíssimo. O segredo não vive. É segredo por não contribuir à engrenagem da existência. No entanto, no momento em que deixa de ser a inconsciência, ganha todo o palco da existência. A partir do "dessegredo" é que se tem acesso à vida.

7 de outubro de 2005

Uníssono

Por que nasci gente? Que estranha fatalidade da vida: incumbir minha existência da condição humana. Eu queria nascer pássaro, que vive em uníssono. Viver o duo de ser humano é mero martírio.

5 de outubro de 2005

Recepção

Enquanto minha vida morre à noite, diante do estupro do sono, o mundo prepara a recepção a mim, para logo cedo, quando eu retomar a consciência da vida.

3 de outubro de 2005

Dessabedoria

Tenho a cega capacidade de enxergar. A insipidez que culmina no paladar. O surdo dom de ouvir. A inodora fonte do prazer de cheirar. A insensível sensibilidade de tatear. Viver é gozar o tudo de que não se sabe.

1 de outubro de 2005

A Mariana, meu amor

Mariana, que fado pesado para o tempo, hein?! Incumbir-se de você não é atividade fácil. Incumbir-se de você demanda trabalho árduo, diário, horário. Não sei por que você ganhou existência como gente, querida. Você, com essa sua essência evoluída, merecia um patamar superior de vida. O bom é que eu posso degustar da sua companhia, do seu amor, da sua plenitude, da sua perfeição.
Mariana, involuntariamente, meu cerne elegeu você como o grande amor da minha vida, como a evasão para meus momentos de solidão, de depressão, de sofrimento, como a complexidade que me assalta diariamente perguntando: por que brotei nesse lugar habitado por criaturas tão fantásticas?
Marianinha, ser espectador de você é presenciar o céu em dia de estética privilegiada, é ouvir "ária na 4ª corda" e transcender até os bastidores da existência. Estar com você é me esparramar integralmente e aliviar meu coração.
Te amo. O tempo nunca se esquecerá de manter nosso amor casto em dia.

Do seu bichinho-da-seda,
Carol.