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25 de fevereiro de 2005

Simultâneo

Um amor que compense as erosões oriundas do tempo , que erradique relevos de pequenos martírios espalhados . Um amor que vire epidemia . Como letras sobre letras , sem espaços , ilegíveis , como uma música em uníssono , como todas as indumentárias juntas , em uma necessidade humana de usar e abusar. É assim o amor de que o humano precisa : O verniz condizendo exatamente com o âmago. O "bonito" acarreta a "bondade" , a "riqueza" desencadeia o "princípio básico". E o amor é neve que não sucumbe ao sol , é saber lidar com a novidade sem manuais , é ser índio em selva de estetas , é escancarar olheiras , acordar ao meio dia e dar "bom dia" à empregada revoltada , é não se programar para a programação do dia .

24 de fevereiro de 2005

R.G.

Talvez fosse uma boa proposta para protagonizar novas ficções este meu ininteligível cerne .Até então a minha tônica era a sombra de palavras apagadas das outras pessoas. O que eu jurava me levar a , me trazia redundantemente a este íntimo , feito gangorra que dança , dança , dança e depois iclina-se a uma área pequena . Meu Deus ... todos são confeccionados com dedicação e eu sou este desleixo da natureza . Um ser que é fantoche dessa linfa que vive em mutação , incessantemente dissonante . Nas lidas humanas sempre aquém dos assuntos , diante de risos ensaiados , um silêncio vindo de todo sentido do Chaplin . Ainda não achei a identidade para essa minha certeza consistente .

23 de fevereiro de 2005

Começo

Iniciar é sempre tão difícil ; tentar encontrar o embrião dessa força que me assola demanda coragem , resistência , estudo , trabalho árduo . E , para finalizar , o embrião encontra-se à deriva na linfa . Um banquete a minha disposição ... e eu prefiro a garantia de um pão de forma seco . O amor vem como a cidade de que todos falam mas não está no mapa , vem como a nossa não timidez diante de circunstâncias constrangedoras , vem ... sem que a gente saiba por quê .Que clichê bíblico!E o silêncio é a maior prova da minha evolução ... não preciso que precisem de mim , não preciso de objeções nítidas , tenho apenas a convicção de que sinto , de que meu cerne oscila , oscila e , aparentemente , estou conivente com as aberrações que invadem meus ouvidos , meus olhos .

22 de fevereiro de 2005

Natureza

Ela repara como a natureza dá um prazo curto à beleza . As rosas subitamente ficam lindas . E , amanhã , a beleza já parece meio opaca. A natureza que faz cintilar é a natureza que resseca . É estranho acordar pronta , sem necessidade de andaimes e amanhã ser vassalo de olheiras carentes de um disfarce .

21 de fevereiro de 2005

Paradoxo

Vivo em total dissonância . Quase sempre que me chamam vem um susto súbito para me avisar que fui chamada . Carolina . Este nome não me parece estranho ; parece tão bonito , nítido a todos , indubitável . E portanto , não condiz comigo . Às vezes tenho cara daqueles nomes que cada um escreve de um jeito . É isso mesmo ? Como é que é ? Desboto de tanto falar : -Ah! é assim mesmo . Sempre uma nova safra de dúvidas para um clichê como resposta. Mas sou Carolina . E é só isso ; simples como ter a certeza de que não há certeza para a própria natureza , não há gabarito sobre o porquê de a maçã ser vermelha e bem talhada . Somos rasos como a compreensão do som de Carolina .

20 de fevereiro de 2005

Rápido

Não sei se sou o mês de setembro ou se sou essa avidez que me vem esperando que fique certo este futurozinho . Não sei ; sinto . Sinto e encontro identidade para as minhas revoluções . Sei que tenho , mas não sei por que tenho . Também enxergo as árvores , vejo esse céu que quase me obriga a vê-lo e não sei o porquê do céu . Por que estou aqui ? Por quê? Por que agora eu estou pensando no que já virou registro em minha vida ? Por que de tardezinha as árvores sucumbem ao vento? Às vezes meu traquejo parece meu império , mas de noite , quando a demanda humana torna-se exígua , vejo que sou dependente desses meus deuses . E como sou .

19 de fevereiro de 2005

Condizer

Meu verniz jamais irá condizer com meu cerne . O cerne é sempre esse monstro enorme . Qualquer trator humano é tênue em relação à força dessa alma ... dessa insistência .Por mais que eu coloque parafernálias na minha carcaça , por mais que eu tente transparecer minha natureza , ela sempre escorrega e foge ; foge como se tivesse uma grande culpa de algo ininteligível .

18 de fevereiro de 2005

Transcender

Abandonar a velha carcaça do cerne não é nada fácil . Muito labor se faz necessário . Talvez todo o alvo da censura de Tempos Modernos exprima a demanda . Tudo bem , muito difícil , mas não utopia . Percebi que o mundo , com sua quantidade , com suas diferenças , alturas e nanismos , beleza e desgraça é exíguo para extirpar o mundo inédito que me habita . Porque a beleza , os excessos , os números que vivem; tudo isso é controlável , visível , alcançável . E este cerne inquieto não silencia com aspirina , com minha razão ... eu só vejo , sinto o aroma e manipulo a rosa . Não a entendo . Não consigo perscrutar a perfeição que ela tem . E é assim com o âmago . É assim ... é assim com a leitura que não se restringe ao abecedário , que demanda , simultaneamente a razão e o (in)consciente ; é assim com as partituras que não se bastam com dó , ré , mi , fá , sol , lá , si . Elas exigem uma coesão inexplicável ...uma razão vassalo dos rios internos . Tudo razão seria privar-se do que acha melhor , ser mono , sempre .E é tão mais interessante ser duo. Tocar todas as notas , formar um monossom , ler todas as letras ao mesmo tempo , concluir rápido , solitariamente . Minha natureza agora tem duas árvores .

17 de fevereiro de 2005

Enfim sou

Até então não tinha liberdade para ser ... havia , involuntariamente , um lipídio que me fazia impermeável ao mundo ;ao meu mundo. Um lipídio gigante , que surtia efeitos colaterais diariamente . Algo diagnosticável , inteligível e que mexia com profundezas fortes , invencíveis . Ousado . Muito ousado ele , porque impedia as minhas fortes pretensões , inibia a força da minha libido , atacava a grande tristeza que de vez em quando impera . Mas ele enfraqueceu ... ir de encontro a todas aquelas forças o desgastou muito . E ele sucumbiu , morreu . E hoje eu vivo , ufa! , hoje eu vivo . Graças .

16 de fevereiro de 2005

Acabei o livro

Finais geralmente sugerem sessão encerrada , porta fechada , cláusulas diárias já cumpridas , hora de descanso . Tão estranho , mas esse final me abriu portas , atiçou meu desejo de iniciar , deu vazão a tanta coisa . Tudo que já estava em andamento permanece em andamento ; não concluí nada . Estava viciada em querer soluções rasas , objetivas para o enigma mais ininteligível da vida : A vida . Tenho acesso ao código dos trovões , do gás hélio , dos números atômicos mas , em se tratando de vida , nada de praticidade . Não há o que entender . Viver ultrapassa a função integral de entender . Há como mergulhar na vida , tomar sol , se refrescar ... mas concentrar-se nela e ir fundo buscando razões é fadar um insucesso. Acabar ,às vezes é tão ruim . Ter vida diante dos fins deveria ser descartado . Acabaríamos e restaria o insípido ...não sofreríamos . Restaria este humano que , de humano , nada tem . Restaria nosso ir e vir apenas . Que todo nosso âmago saísse de férias , ganhasse a alforria quando houvesse fins . Seria tão bom ... nos livraríamos das mais agudas dores e , simplesmente , cumpriríamos os dias previsíveis e sem risco .

15 de fevereiro de 2005

Por quê?

E fico desbotando minhas dúvidas : Mas por quê?? Por quê? A verdade é que não há um porquê. Não há uma razão objetiva , visível , que encaixe exatamente nos meus achismos e que vire , portanto , uma certeza. Fico ensaiando delicadezas e na hora do ato,sai tudo errado . É que o silêncio sozinho é tênue e o momento em que o processo humano se faz, torna qualquer sensação distorcida .Por isso tanto suporte , tanta máscara ... ser nu é repelir as pessoas .

14 de fevereiro de 2005

Muito

Ter um mundo a tomar conta exige um trabalho árduo . Tantos acertos , tantas objeções , tanta cláusula a cumprir , tantos e tantos . Escolher a melhor máscara para começar o dia não é simples. Não é simples como o que já está carimbado em nós , devido a tanto uso e desuso , uso e desuso . Começado o dia , pelo menos um exército já foi vencido . E agora restam as outras fatias , algumas doces , excelentes , outras pesadas , indigestas pra caramba . E assim a gente se alonga , se exercita , cansa e fica forte . É muito pra mim assimilar cada dia . Prefiro ficar longe do entendimento objetivo das coisas . Viva o existencialismo.

12 de fevereiro de 2005

Corpo e Alma

A empáfia dos estetas serve de canal para pensarmos que eles têm a alma em harmonia total com o verniz . Na verdade , eles sabem que tudo isso é um andaime em que eles se apóiam para sentir-se mais consistentes . Eu também preciso de suportes ... detesto sair sem meus rebuscamentos . Quando o faço , preciso convencer o mundo de que não fui eu que estive ali . Faço apelos silenciosos : "Não me vejam , não me percebam".A gente tem uma necessidade embrionária de se mascarar ... às vezes se assumir é comprometer-se .Já tive necessidade de botar minha alma a baixos preços ; quis abraçar o mundo com estes braços tênues . Fracassei , claro! Hoje minha alma é cara , bem cara e não aceita pagamentos a infindáveis prestações .

11 de fevereiro de 2005

Consumismo

Não há sobras de mim para existir nesse momento. Fui totalmente consumida . O que prevalece andando , indo e vindo é a espécie que insiste em ficar viva . É a espécie que é a mesma , porém se difere nos carecas , nas estetas , nos maltrapilhos e nos novos ricos . A gente não se parece , por causa da demanda de cada um : Há quem se baste para ir às ruas , há os que precisam de salões e grandes vaidades , há quem escolha a melhor máscara e vai . E hoje , talvez meu império seja suficiente pra me mover .

10 de fevereiro de 2005

Exército

E subitamente me veio essa vontade de amar . Mas logo surgem as objeções . Como a chuva que despenca sem molhar , porque todos já estão precavidos .Sou uma escala minúscula da natureza . Uso das aspirinas que esse ser é capaz de fazer ,para me conter .Não quero sucumbir . Me envolver é fadar martírios , atiçar esperanças . E é péssimo se apoiar em esperanças , é péssimo . Viver de esperança é tentar mascarar utopias . Que os deuses me livrem disso. Quero ser rasa , é tão mais simples ... Não quero corpo e alma dissonantes .

9 de fevereiro de 2005

Incerteza

O que pode se esperar do "depois de" ? Um acordar renovado? Nem sei , mas eu tinha que saber ... Afinal , a vida anda tão certa . Vou ao destista esperando uma certeza : trocar as pecinhas do aparelho . Vou à escola esperando pela tempestade de cultura do professor . Vou ao cinema pra ter a certeza de que a vida é mesmo redundante . Vou ao banheiro para jogar fora essa sensação insuportável . Vou ao banheiro pra não virar um bicho , extirpar odores que prometem aparecer se eu não lutar contra ... vou ....para . Parece que o "ir" demanda um fim . Então , quem vai , vai sempre em busca de um retorno. Eu queria ir , ir até cansar e dormir . Dormir sem a ditadura de ter que acordar cedo no outro dia . Queria dormir como fruto de idas e idas .

Carnaval

É apenas mais uma máscara . Dessa vez , com o tempo sendo nosso vassalo . E todos os dias a gente põe máscaras : De manhã para falar "bom dia" sem ao menos ter sentido os incipientes ares , diante do primeiro compromisso , no almoço depois de lavar as mãos conforme manda o figurino ... A máscara de carnaval dá certo desgaste ; consome um pouco da linfa . Mas com as outras máscaras acaba nem sendo tão diferente . Acabei sucumbindo ao convite dos meus irmãos ... escolhi minha máscara de paetês e fui-me embora pra Pasárgada , pra minha Pasárgada . Foi bom , valeu a pena , porque pude escolher , pude gostar de mim diante do espelho ; não tive que improvisar semblantes ...foi espontâneo .

7 de fevereiro de 2005

Reflexo

E acabo me inventando de acordo com os meus efeitos diante das pessoas . Até então eu era um emaranhado de sentimentos , sensações , instintos , vendavais me carregando . Não sei se eu era esse docinho , esse mau humor , essa delicadeza , esse bicho . Meu espelho são papai , mamãe , João , Portuguinha e os transeuntes que invadem a minha avenidinha . Exijo de mim uma identificação . Sou então a idéia longa ... sou também a matéria-prima e um produto . Para , talvez , combinar com outros produtos nas prateleiras . Quando eu for consumido , com certeza , reclamarão de mim ou então se surpreenderão comigo . Já nem sei . Para meu maior conforto , cismei em fazer a minha própria suma . O porém é se eu me perder no meio de todas as outras sínteses ,,, talvez o que escolhi pra me representar não condiga com meu verdadeiro cerne .

5 de fevereiro de 2005

Palavras

Tinha certo pudor para lidar com as palavras . Elas eram como essas criaturas cheias de suportes , das quais a gente fica com medo de se aproximar . Pa-la-vras . Antes de usá-las, queria pôr um "vossa" para mostrar que estou muito aquém de sua importância . Total respeito às palavras . Apenas um aceno a elas ; nada de dois beijinhos e "tá tudo bem?" . Por isso , meu andaime era usá-las ao mínimo , desfrutar da mudez. Afinal , não há regra para os semblantes , né?! Amiúde , as palavras foram invadindo meu mundo ... no início , nossa relação era meio tímida . Jamais trocava de roupa na presença delas, por exemplo . E elas , só ficavam nítidas diante da minha lamparina . Depois , passamos a ficar mais "light" e já nos cumprimentávamos com um linguajar mais coloquial e tal. Agora acredito que minhas melhores amigas , as íntimas mesmo , são as palavras . Tem algumas meio afetadas ... mas nenhuma é utopia .

4 de fevereiro de 2005

Exceder

Saio pra dançar . Uma espécie de seringa suga restos de alegrias inaproveitáveis , tristezas , amores que ficaram pela metade . E me esvazio . Fico permeável a novas graças . E , novamente , uma epidemia de antigüidades impera . E a dança agora , além de movimentos , tem sentidos enormes , revoltas da década passada , lembranças sublinhadas de alegria . E não mudo de máscara . Olhos , boca , semblante nem tomam nota ... são vassalos desta razão . Mas, na profundidade censurada pelos sensatos ,há um vai e vem enorme . Nos bastidores tem tanta história incrementada , tanta necessidade de manter um sigilo . Não sei por quê .

2 de fevereiro de 2005

Lentes

Ainda que essa minha mania de olhar fixamente pro sol e depois tentar enxergar com nitidez o que se passa prevaleça , acredito que , mesmo com lentes de ponta o que vejo com miopia não mudaria . É isso mesmo , Carolina ! Banho frio , conexão com a realidade , terra . As pessoas gostam de ser sádicas por mera insegurança . Talvez não tenham a ousadia de transformar uma construção em farelos , mas gostam de ver o mundo murcho , insípido para , então , se destacar . O sadismo pra mim é fruto de uma grande hesitação ... é querer sentir-se poderoso diante das tragédias alheias . Eu acho tão mais interessante cintilar diante de outras estrelas . Sinceramente , detestaria ser a chama diante de cinzas e cinzas .