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25 de fevereiro de 2009

Profissão: ser


Por Carolina Fellet
Se se pensar bem, ter sido materializado como gente é uma baita sorte. No entanto, muita gente passa despercebida pela própria existência. Daí, não procura refinar-se e, consequentemente, as próprias curiosidades e buscas giram em torno de fofocas, baixa cultura e o supérfluo, enfim.
Por outro lado, há aqueles que, com excesso de falta de humildade, acham que vieram à luz a partir de outra matéria-prima, e não da utilizada na composição da Humanidade. Esses humanos à parte costumam deslumbrar-se com viagens a Barcelona, com restaurantes em cujos cardápios só constam iguarias e com movimentos que vão de encontro a culturas vigentes.
Estes últimos indivíduos sofrem de uma miopia crônica em relação à deterioração a que estão sujeitos e à ignorância inerente à vida. A primeira porque, nas poses e nos acessos de vaidade, eles ignoram as idas ao banheiro para evacuar e a condição de incessante “perecer” a que estão sujeitos. Afinal, já se nasce morrendo um pouco. E, por fim, eles ignoram a própria ignorância quando se enchem se propriedade para opinar sobre qualquer assunto que seja. Nós somos outorgados a nós mesmos. Que know how a gente tem, portanto, para falar com intimidade das coisas?
As patricinhas anencéfalas, que comem qualquer culturazinha e juram ter total intimidade com ela, são caricatas. Mas quem quer se abster totalmente do universo já pré-estabelecido também o é.

24 de fevereiro de 2009

Acontece no Brasil


Por Carolina Fellet
A frequência utilizada por controladores de voo para se comunicar com pilotos estava sendo aproveitada por uma rádio pirata. Entre a programação exibida por esta, predominavam músicas da “baixa” cultura.
Numa viagem, o piloto estava à espera do ditado – pelo controlador de voo - do destino que deveria cumprir. E, eis que lhe penetra o ouvido: “quer dançar, quer dançar, coloca o bumbum no calcanhar.”
O baile funk desorganizou o esquema delicado de se chegar aos lugares através do ar. Ainda bem que existe uma colônia próspera de Sorte no território nacional.

21 de fevereiro de 2009

Escova: ( ) progressiva ( ) inteligente ( ) de chocolate ( ) definitiva


São tantas as opções de alterar o DNA das madeixas que a brasileira hesita na hora de se desnaturar
Por Carolina Fellet

Com esse tal de estica e puxa, a negação à natureza ganhou a aceitação da maioria da sociedade.
Cabelos belíssimos, sedosos e dançarinos natos, num súbito, sem prognósticos e bom senso, foram submetidos a químicas e temperaturas extraordinárias. Resultado: conforme a máxima de homogeneizar os sanduíches do Mc Donald´s, as mulheres brasileiras quiseram tornar-se iguais.
Agora, alteraram-se algumas funções dos ventos. Eles não mais embalam os cabelos dessas criaturas pós-modernas, afinal, as madeixas perderam o movimento em prol de uma estética estática.

17 de fevereiro de 2009

Juventude gadget


Por Carolina Fellet


Gadget é uma gíria atribuída a algumas inovações tecnológicas.
Estas são amigas (ou inimigas) inseparáveis dos jovens,
Porque eles não aguentam entregar-se ao silêncio interior,
Que é cheio de notícias.

E também, apresentar-se índio ao mundo
É aceitar estar à mercê de perscrutações e julgamentos alheios.

Sob o acasalamento ininterrupto entre a juventude e as máquinas,
Aquela se alimenta, veste-se, pensa, bebe e sobrevive ilhada da Vida.

Recessão mundial


por Carolina Fellet


O mundo está em crise.
Não pela má circulação do fluido econômico,
Mas devido à epidemia do luxo.

De repente,
Todos quiseram apoderar-se de castelos com lustres de cristal.

Daí, inadimplência.
Falência de bancos norte-americanos.
E, por conseguinte, convulsões mundiais.

16 de fevereiro de 2009

Conforme e desconforme


Por Carolina Fellet

Num dia dentro dos conformes,
Um desconforme:
Nada de sangria.

Climene estava grávida.
Susto incipiente,
Mas uma felicidade que se estendeu aos nove meses da gestação.

Roupinhas, quartinho, chá de bebê.
Enorme zelo para lhe escolher o nome:
João Cabral.

À medida que a criança crescia,
Os pais lhe impunham a cultura da boa educação,
Dos bons modos à mesa,
Do altruísmo.

Num dia dentro dos conformes,
Um desconforme:
Climene viu o nome do filho na manchete do jornal.

João Cabral não era um colunável do segundo caderno,
Nem um articulista de renome.
Ele fulgurava entre uma gangue que assaltava à mão armada.

A partir daquilo, a vida de Climene foi só desconforme.

15 de fevereiro de 2009

Guerra: consequências contrapondo consequências


Por Carolina Fellet


Sangrias foram imprescindíveis.

Enquanto homens se ocupavam com as batalhas,
Carência de mão-de-obra levou as mulheres ao posto deles.
Depois, declaração de direitos universais.

Mulher não deve ser tratada como “sub-”.
Agora pode impor-se,
Fazer sexo livremente
E viver decentemente.

13 de fevereiro de 2009

Adulto, criança e formação da personalidade


Por Carolina Fellet
A questão “educar filhos” na minha casa era tão natural que parecia prescindir dos esforços dos meus pais. Os ensinamentos deles funcionavam como a produção e eliminação de urina naqueles indivíduos que não têm controle dos esfíncteres. Atitudes de que era incumbida a Metafísica; isso é o que me parecia.
Há uns dias, e depois de um bom tempo inserida na fase adulta, fiquei tentando decifrar as destrezas de aranha que minha mãe utilizava para me ensinar boa postura à mesa, fino trato social e o uso necessário dos comandos da boa educação. Não consegui realizá-lo.
Não me lembro de mamãe ou papai me xingando, me chantageando, nem compensando antigos maus tratamentos com porta-malas de carro cheios de presentes. Consequentemente, aguça minha dúvida acerca da forma como eles me entrosaram com a boa educação.
“Comportar-se”, conforme recomendações póstumas à época em que habitávamos selvas e que vivíamos versados em instintos principalmente, é resultado de condicionamento.
Mamãe e papai sempre me deixaram viver de acordo com as ficções que fazem casa no cérebro infantil. E, nos tratos sociais, os ensinamentos se davam baseados em mímicas: mamãe faz, filhinha faz.
Deu certo!
Porque, depois de adulto, a cultura defendida e divulgada pelos progenitores pode ser alterada pelo nosso discernimento de gente grande.

5 de fevereiro de 2009

Para entender a sociedade

Por Carolina Fellet
Para convencer a psique a agir,
Uns se entopem de Corão, outros de Jesus Cristo, outros de Hitler.
Daí, suicídios, conformismos, sadismos.

4 de fevereiro de 2009

por Carolina Fellet



Prédios: túmulos em cujo interior moram vivos.
A vida se abstém de seu Batimento sem hesitar.
E se rende a quantidades celestiais de mármores e granitos.
Sob esses céus, cumpre as necessidades primárias para manter-se viva,
E ainda vislumbra chances de se entreter.

Acidente Doméstico II


Por Carolina Fellet
Discórdia no quarto da frente.
Alguns juram que culturas individuais irão mudar.
Querem porque querem homogeneizar temperamentos.

Diante desse achismo,
Prefiro entrosar-me com minha insignificância.