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31 de março de 2005

Conotações do Tempo

O acaso acaba por sempre dar a mesma conotação às coisas. Novos namoros, e um vigor em cima da certeza de que tudo ficará muito bem. Novos convívios, cabeças diferentes e uma semana hiper diferente. E semanas e semanas juntos e os diálogos ficam previsíveis, já se conhece a geografia de cada criaturinha que há bem pouco era coisa inédita nas nossas vidas. O inédito já demanda novidades. Estou certa de que agora... e o "agora" varia tanto como a aparência dos campos nos dias em que a estação vira-se do avesso. Meu momento já se foi, porque eu pensei nele e ele agora é arquivo histórico. Nunca senti nada tão efêmero quanto a minha linfa inteira. Meu cerne talvez seja a mais veloz natureza. Porque, enquanto o céu é azul durante grande parte do dia, eu transcendi a segunda, a terça, a quarta, eu enxerguei as primeiras estrelas logo cedo, quando acordei. Tudo parece tão fresco. Mas eu me lembro, ao abrir as fotografias aqui dentro, de já ter sentido essa parafernália obscura nos meus tempos de criancinha. Nos tempos em que a clave de sol saía de mim sem pudor. Nos tempos de sorrisos que ocorriam com uma piscadela de olho simultaneamente. Mal sabia eu que um mundo ainda ia ser apresentado por mim mesma a mim. Um mundo a cujo acesso não me dei muito bem de cara... mas existem pontes a levar-nos a ele.

30 de março de 2005

Choro

Minha vontade era de chorar
Mas meu humano quer a empáfia
dos que ganham sempre
É arriscar a sorte
Eu ficar entregue a frações de mar.

Chorar...
Isso também não tem o dom do acaso
De erradicar.

Chorar é breve demais
E esse martírio já é grande parte
Do meu convívio diário
De um trabalho forçado.

Chorar é a estréia do concerto
Do humano com os deuses.

E os deuses são dissonantes sempre.

Da Natureza

Há um equívoco enorme no clichê "Todos somos iguais". Sou igual a você que é igual a ele. Mas há os singulares. Há quem seja uma vaidade da natureza; tanta beleza existe na mesma quantidade de matéria-prima que vive em mim; só pode ser um capricho dos deuses. A capacidade de dar nome ao "inominável" que habita o cerne das criaturas é bênção de poucos, raros, contáveis criaturas. Bach o sabe. Tristemente sento-me nesta cadeira a buscar recheio pra esse tempo oco. E tristemente esse respeito a claves de sol e fá veste minha tristeza. Agora ela é reconhecível. Ela existe neste instante com platéia, conspiração a seu favor.

29 de março de 2005

Grupo heterogêneo

Que estranho este pensamento que me veio intempestivamente. Meus caprichos em enfeitar meu mural, meus dedinhos ávidos para trocar o som e meus ouvidos ansiosos para o repertório esperado. O banho para daqui a pouco, uma roupa que condiga com esse tempo demasiadamente insano. À espera da mamãe chegar para levar-me à aula. O horário rígido do ônibus na saída da escola. Corre-corre que se finda num pacato fim de noite. Colas, lápis, adesivos bonitos, dinheiro brotando em bolsos e em cantos da casa. Todo esse repertório eclético de sentimentos que entram sem formalidades em mim se tornará um único sentimento em quem restar quando eu me for. Quando eu tiver lutado contra tudo a fim de chegar a um sossego cobiçado desde sempre, talvez não haja mais pretensões e cadeiras confortáveis à minha espera. Minha alminha tênue estará em patamares que descartam a imitação da Natureza.

28 de março de 2005

Pernoite

Não pude decidir. Estava entregue a pensamentos gigantes, destes que consideram o humano irrelevante. Ser humano é ser clichê. Raros são os geniais em aparência; em atitude. Agora, ser espectador do humano, da vastidão que habita esses nossos limites, investigar a nossa acústica, o nosso talhe, os súbitos que vêm de longe mas que estão em nós mesmos. Isso sim! Isso sim é fascinante, é incessante fertilizante para nossa hospedagem nessa Terra de tantas variedades. De tantas predileções. Sinto-me (por que a ênclise? Talvez um certo "status" cai bem)a semente da maçã ou de outra fruta que tenha o mesmo tipo de visual. Porque ainda falta um pouco para eu vir a ser uma fruta, escolhida a dedo. Fico apenas observando a ambiência, talvez eu me dê bem na próxima safra. Desta vez fico com minha lupa a ver, perscrutar e imaginar. Ah! como gosto de imaginar até ser lembrada da existência através de um telefone, de um latido de cão nômade. E quando caio em Terra, assim, intempestivamente, improviso minhas pontes para me levar aos lugares aonde me chamam. E pontes improvisadas apresentam sempre riscos. E então tropeço na escada,,, xingo o mais inocente de todos. Depois tudo se resolve. E volta a igualdade, a democracia dos dias. Que cansa. Cansa muito. Talvez dias de ditadura ou anarquia seriam mais valiosos.

25 de março de 2005

Convívios

Me reconheço em clãs esquecidos
Saio de rodas ensaiadas
Me vejo no que excede convenções
Me sinto sem papel confirmado.

Detesto usar a ênclise
Fica tudo tão impessoal
E de impessoal já chega o mundo.

Já chega de segundos sempre iguais
De sorrisos com propósitos informais
Chega de quem anda falando
como manda o figurino
Dizendo que tudo é lindo.

Estou aquém dessa perfeição
Cobiçada
Religião, amigos, dez mandamentos decorados.

Se esse for o padrão do lícito
Viva a clandestinidade.

Esparramar

Saí. E toda vez que saio me esparramo em esquinas sádicas. Em belezas e vaidades expostas. Em vidas em andamento. Minhas lentes transcendem janelas entreabertas. Um futuro próximo e um passado demasiadamente remoto se alteram na minha vida mais intrínseca. Sou "flashback" e uma incessante cigana. Uma cigana falível, claro. Não sei se minha tristezasinha nata é traduzida nos martírios dos desconhecidos ou se minha maior volúpia em relação à vida é que se pune ao ver guerrinhas a um palmo de lonjura. Sair é fadar uma volta impregnada de boas e novas.

Tapete Vermelho

Quando evoluo enfim, chego a lugares por indicações. Minha referência é sempre alguém que, em se tratando de hierarquia, me ultrapassa. Detentores de inúmeros que têm limites. Porque tudo que existe nitidamente é contável. Ok. E eu vou sendo de acordo com o que foram antes de mim. Sou o que faz jus a meus documentos que ficarão à mercê quando eu me for daqui. Sempre achei que documento acaba sendo um eco de um dia ter vivido. E meu pensamento pode atiçar diferentes pensamentos, novas idéias, novos pontos fracos. Pensamento vive e faz viver, alastra uma epidemia de berros, orgasmos, sorrisos amarelos, risos de criança. Documentos ocupam pequenas áreas em cômodos esquecidos que, de improviso, servem para súbitas visitas. Pensamentos dão alma a rochas entregues, inertes. Detesto ser recebida com aplausos em dia-a-dia básico. Festas se dão muito bem com a minha solidão. Porque é sozinha que dou vazão à minha índia contemporânea, a toda a nudez trivial para se viver.

20 de março de 2005

Espelhos

Decido intempestivamente sair de carro com Mariana para desvirginar a clausura. E, à medida que o carro, comandado por uma mão versátil, infringe o ar, encontro espelhos por todo lado. Vejo flores púberes, senhoras árvores, vidas que já perderam grandes partes e agora sintetizam novas safras de vidas. E olho para o céu que é apenas a vitrine de uma prévia montagem ininteligível a nós humanos. E então pego meu baldinho, fico na beiradinha das minhas idas, depois um naviozinho se faz necessário e vou, como uma transeunte de mim mesma, pela minha linfa e, finalmente, encaro um submarino. Vou até minhas entranhas já empoeiradas. Pouco lembradas. E fico imaginando toda a ação do tempo. Não há descanso. De domingo a domingo, de hora em hora e do tempo que extravasa os limites inventados pelo homem, o tempo incessantemente muda, faz nascer, tira. São menarcas, menopausas, gravidez, descobertas, cabelos brancos, primeiro passo, primeiro beijo. Folhas secas, sóis, estrelas chegando sem pedir licença, montanhas aproveitando a fresta que a noite lhes deixa para aproveitar no sigilo tudo a que têm direito. Letras depois de letras, escalas diferentes no piano, pano da mesa caindo, telefone chamando e o tempo vai correndo sempre na frente, como se uma criança nos desobedecesse na calçada perigosa.

19 de março de 2005

Meu quarto de fundos

Reis ficam sempre na comissão de frente. Como se isso fosse um privilégio enorme. Não é. Não é mesmo. Meu quarto fica nos fundos. E antes de contracenar com os outros fantoches da vida, confirmo outras existências, outros danos oriundos dos bastidores da vida nas flores, nas folhas e em mim. Porque acordo com a companhia dos meus suseranos. E as folhas, à medida que o tempo se consome, ficam à mercê. Como eu fico à mercê de um dia que ainda vai se fazer. O dia é virão; se vira sozinho. E aí então o destino ou o acaso me incumbem de ver, sentir, discordar(humanamente falando). Vou indo no itinerário cíclico para os que estão como espectadores de minha vida. Mudam-se os compromissos, os fantoches trocam suas roupas, me faço diante da escuridão, mas a vida é redundante. Ainda que súbitos martírios ou súbitas libidos me escolham, no fim, caio em seqüência de dias se traçando. Dias se inclinando para a alegria de estar aqui, mesmo sendo órfã. Dias com tendências doloridas. A vida é uma aquarela com bônus de cores pretas.

18 de março de 2005

Bastidores - II

Vou como um transeunte sem destino.Chego à cortina preta que lacra os bastidores da existência.Transcendê-la me é impossível e então , pairo nesta imaginação filha da puta.Que me assola.Que impede meu humano de fluir.Vão existindo sensações em mim , vão existindo novas partes físicas , novos fiapos de cabelo , novos pensamentos e diálogos e palestras para mim mesma.Transporto este corpo de um lado a outro , essa prévia existência é o enigma que atiça minha curiosidade nas manhãs.E esse emaranhado de coisa que me vem , sem pedir licença , deixa meu dia inconsistente , quase em ruínas. Calendários já amarelados ficam em "néon" , futuros previsíveis existem como o desejo presente de ir ali para olhar pés se apoiando em degraus.Essa minha sensibilidade inerente fada diariamente desespero,gozo,martírio e , ao fim do dia, um sossego outorgado.

16 de março de 2005

Bastidores

Acordei bem cedo por causa de uma infração à lei do silêncio que , aqui em casa é , viremexe , desrespeitada . Devia haver fiscalização para isso . O país iria arrecadar mais grana para investir em demandas públicas . Tudo bem , não tenho vocação para Gandhi . O fato é que acordei num sobressalto insuportável ...uma hora sucumbo e sofro um ataque qualquer . Mas nem era disso que iria falar ... aproveitei a madrugada (acordei 7 da madrugada) para perscrutar o ápice aonde chego: Os bastidores da existência de tudo .Sou a suma das pretensão do invisível , sobrancelhas , nariz , pele demasiadamente branca existem em mim . Assim como , segundo Pessoa , a flor não é rosa , mas o rosa é que se faz presente nela . Mais uma conclusão : O mundo é mesmo vassalo do que fica por trás das cortinas .

15 de março de 2005

Fantoche

E , à espera do ônibus, me esparramo um pouco em cada transeunte . E vejo a beleza que não é escolha , que é uma concessão desse mistério enjaulado que é o ápice aonde chego. Esse enigma é a minha clausura , é a minha tônica , é a minha avidez sempre . E vejo anomalias:Fruto de um desleixo qualquer dos bastidores dessa vida órfã. Pensamentos me vêm amiúde com a velocidade que transcende minha capacidade de "matematicar". E vejo , sei que vejo , mas desconheço a matéria-prima da visão e sinto e pensam por mim , já nem equivalho a Carolina . Este cara que se sentou ao meu lado tem segundas intenções ... é o que me vem e eu não queria pensar isso , mas a razão é tão exígua , é uma sombrinha em meio a uma tempestade revoltada . E as árvores do outro lado do ponto de ônibus são vassalos do marrom e de uns verdes que se diferem só para os espectadores . Elas não têm vida própria . Elas ficam incessantemente à mercê . Como eu . Como meus olhos , minha libido , meus pensamentos que são milhões de vezes mais cintilantes do que meus pés no chão e essa parafernália nítida a olhos humanos.

14 de março de 2005

À mercê

Fiquemos à mercê dos nossos exércitos internos como as margaridas se entregam sem precauções às decisões do tempo . Talvez o acaso nos dê alegrias para hoje , talvez para amanhã não se tenha tanto com o que vibrar . Aproveitemos a generosidade do espelho logo cedo , sem segundas intenções . Deixemos o sopro do incontrolável fluir sem contaminações do humano , que nem as árvores que cobrem as montanhas que , neste momento , transam com a claridade do céu . Por que se inclinar para a transcendência do mistério ... quem chega ao mistério se enjaula e a estrada que se segue é inacessível . O patamar a que se pode chegar é esse enigma . E o enigma é a tônica da vida ... (in)felizmente o ceticismo é a tônica . Quero acreditar em certezas , mas sempre , sempre mesmo desboto as interrogações .Não consigo sair da clausura . Vim para cá como poderia ter ido a um casebre na Rocinha ou estava fadado a cair nessa habitação . Gozemos do espetáculo sem pensar nos bastidores .

Beleza

Tantas rosas quase obscenas de tão belas , mulheres deslumbrantes que têm o mesmo efeito de um decote ousado , homens que até inibem nossos olhos órgãos .É bom os olhar com o cerne , disfarçadamente . A gente dá todo o mérito às árvores verdinhas , aos rostos bem talhados , mas , na verdade , o valor cabe a essa natureza obscura , desconhecida . As cores são inerentes a elas , a perfeição não é voluntária ... há o inexplicável e o não sabido nos bastidores .

13 de março de 2005

Ponte

Fico entre a ponte do destino e do acaso . Parece , em certas estações , que sou fantoche de algum livro que contenha meu início , meu ínterim e meus derradeiros instantes na Terra . Eu poderia estar em um casebre sem a solidão que geralmente me assola nos domingos . Ou não ! Era mesmo para eu nascer aqui e ser vizinho da mulher de cabelos rebeldes e adrenalina sempre cem por cento . Eu poderia ter os dedos menos compridos e ser uma negra bem estilosa . Poderia já nascer com a certeza da minha hesitante inteligência . Por que eu não pertenço à safra da geração de 1930 ? Destino? Acaso? Acho que o Fado não é inerente a cada pessoa ... talvez as estrelas mais fulgurantes tenham sido fadadas a sobressair , mas os transeuntes da vida dividam a existência e os acontecimentos com os súbitos meramente . Quanto baralho congelado , tenho essa péssima mania de vasculhar meus baús ... nunca concluo nada ; há sempre uma pendência para um futuro imprevisível.

Interrogação

Subitamente , num domingo típico , num "domingo-clichê" vem uma guerrinha maldita habitar meu território . Sentir-se ameaçado por uma incerteza é tão catastrófico . Ao fim disso tudo , o que poderia ter sido já está em ruínas . E , portanto , não há mais tempo de ser . É isso mesmo o que vivo ,,, não há como extravasar a placa da interrogação. Fico inclinada a meus acontecimentos , já caíram em pretérito e , ainda assim , me vem essa vida cuja origem desconheço . Também desconheço a aquarela do céu , das árvores , das ararinhas . E desconheço quem fornece a matéria-prima das bocas , da gosma dos olhos , da interseção entre a lágrima e o mar . O talhe das bananeiras é tão diferente do que se exibe nas árvores do fundo da minha casa . E eu sou tão diferente da velha criatura que já está impregnada de erosões do tempo . Saímos da mesma ampulheta , feito aquela areiazinha que vai descendo , descendo . Tudo que existe , intempestivamente , vem em minha direção ...e fica uma porção de coisa pendente , um monte de burocracia a se resolver simultaneamente .

12 de março de 2005

Nome

Tantos nomes iguais e que se dissolvem com diferença em cada criatura . É engraçado como o nome impõe uma certa distância . Quem eu já conheço , eu tenho intimidade para entrar pela sala e ir à varanda e tal . Quem eu desconheço me causa uma inércia total ...me imagino parada , sem jeito , no meio da sala de estar . Se não houvesse nomes , a gente teria um sentimento a mais ao cruzar com um sem nome pela rua . Seria uma libido ? Uma compaixão? Um tédio? Não sei . Só sei que nome é a cor da grade , é o talhe do terno .

Ao tempo

Prefiro transbordar ao tempo . Abrir-se às pessoas é já ter uma constatação prévia ...caras de compaixão , dicas que são inéditas feito o céu azul numa manhã de verão , é péssimo ter ouvintes ao redor , mudos , surdos , cegos , convencionais . O tempo , pelo menos , me trará a cura ... ainda que a matéria-prima esteja em falta e que eu adquira marcas de expressão no ínterim da espera . O tempo atenua meu mal ...só o tempo .Ficam erosões , ficam relevos frescos . Mas novos tempos sempre são novas propostas , uma maquiagem íntima .

10 de março de 2005

Nome e Sobrenome

Logo cedo , antes mesmo de eu estar acordada (em se tratando de alma) , já há um estoque de gente a cumprimentar . Julianas , Marianas , Danis (sufixos meio atípicos , por isso a omissão) , Carolinas ... e o pensamento é um só . O pensamento transcende toda a parafernália que vem simultaneamente à existência :documentos , registros , carimbos ... quem fica isento disso vive na candestinidade . E às vezes é regozijante sentir-se clandestino , infrator . Como em um amor proibido . Eu falo com eufemismos para não danificar minha reputação , eu emudeço e não deixo minhas máscaras revelarem o que se passa pelo âmago ...seria um desrespito às leis vigentes . Queria ser um indivíduo apenas . Isento de nomes . Feito ruas que não foram inauguradas . Se minha eloqüência fica meio insossa , de repente , descubro o mundo batendo a minha porta . Contra mim . O mundo só se move para ir de encontro ou então para exercer a compaixão diante da tragédia alheia .

9 de março de 2005

Total

Cobrirei com veludo este texto. Seria ilícito delinear a mera verdade .

Inicio. A razão tentando ser a arquibancada , a torcida , toda a animação compactada . E a sensatez engatinha e este "néon" interno sempre sobressai , não tem jeito . Eu versus meu mundo . Este , sempre discreto , sem empáfia , sem semblante , isento de vacina , de moléstia . Ainda assim , manda e desmanda ;faz e acontece ; aparece .E meu mundo vive em dissonância ...Carol vai e o seu mundo quer ficar mais um pouquinho .Estranho é a rede do pescador ... vai e volta cheia , vai novamente ...a natureza sofre com as perdas , mas é masoquista , porque tem sempre mercadorias disponíveis . Fada o próprio martírio. Sucumbo aos tempos a preencher . Vou-me . Deixando meu Éden para trás . Mas volto . Volto para fazer jus a um dos propósitos da vida .

8 de março de 2005

Bem-vindo

Prazo de pilhas vencido. Início de calvície.Árvores perdendo as suas flores . E continuo com a vida redundante ... o prazer de acordar ao meio-dia já me é clichê. Hoje é dia de vencer meu lado misantropo . Hoje o convívio me obriga a ir a seu encontro. Estou sem exército para me defender e prefiro não me arriscar sozinha. É dia de ver como anda o humano , como mexem os fantoches . Começar o que já terminei é um BIS imposto , é o de uma banda de que não gosto muito. Mas tá OK. Porque depois pego um ônibus e dou vazão à minha revolução ...depois saio desse ideal que é máxima de todos que têm a pretensão de ser o máximo. Vejo o pobre com seu império todo ali , naqueles dentes , naquele olhar , nos centavos extras para o pastel . E vejo transeuntes , cães à deriva e vejo pés e vaidades guiando pessoas e fragilidades e volúpia ... uma volúpia digna de um sigilo total .

7 de março de 2005

Amor

Existem setimentos sobre os quais a razão faz muito efeito .Como um sopro naquelas flores que me parecem algodão . Insegurança , hesitação , ansiedade ... uma pitada de sensatez os erradica . Uma chave que cai ao chão é recuperável e , no entanto , o poema mais belo que me foi entregue voa ...perde-se e , talvez , não preencha o cerne de quem o acha . O trator para transcender todos os seus muros eu já tenho , a penca de chaves está em minhas mãos , mas não quero entrar porque gosto do requinte da recepção .

6 de março de 2005

Indumentária

Tanto pano para o inverno . Sedas para o verão que assola . Isso acaba sendo pretexto para exibir-se . E tantos lenços sobre o linguajar . Mostrar-se verdadeiramente seria um crime . Por que não falar "caralho" ? Escolhe-se sempre uma máscara muito mais potente do que um verbete censurado . "Vestir" parece ser a tônica das pessoas . Que mania a gente tem de vestir tudo . Computador novo é sempre bem cuidado com aquelas capas horríveis ; médico recente sai às ruas de branquinho sempre ; novo rico põe capa preta no passado ... ... Quero conseguir ser índio no ínterim da minha vida . Sair com meus sorrisos homeopáticos , chorar com minhas lágrimas heperbólicas . Quero as roupas para fazer jus a minhas vaidades simplesmente . Não para castrar estas , mas para alimentá-las ...sem medo ... sem invenção de pretextos e justificativas .

3 de março de 2005

deus

O que é deus? Para mim equivale ao já desbotado clichê sem resposta "Por que o céu é azul?" . É muito cômodo adorar alguém que está muito longe , que não bate sua campainha nos dias de seu sossego . É tão fácil amar um loiro lindo dos olhos azuis . Mas é tão difícil aceitar uma filha meio devassa . Amar algo remoto é não se comprometer . É ter a consciência mergulhada em tranqüilidade .Censurar o mundo é lícito e danificar um passarinho azul acarreta punição. Deus pra mim é estar sempre cultivando a natureza íntima , é não deixar que as próprias tempestades erradiquem suas rosas , deus é descartar todo o verniz em prol da felicidade , deus é ter todo o próprio oceano impregnado de altruísmo . Talvez se esse deus amado por todos estivesse em nossa ambiência , ele seria um maltrapilho discriminado . Porque filantropo raramente tem credibilidade .

2 de março de 2005

Devaneios

No banho pensei no ano de 2757 . Nem pós de minha hospedagem restarão aqui . Tantas Carolinas espalhadas , com repertórios diferentes , lutas e vadiagens . Identidades inválidas , documentos à mercê de pragas e epidemias e meus versos não terão sentido algum a futuras gerações talvez. Meus caprichos , minha avidez , minha tranqüilidade serão pretérito , serão um verbo que não mais faz , nem mais acontece . E fico assim , espectadora da vida , das gentes , das árvores que são os muros desse Vale , dos passarinhos que mexem suas cabecinhas sem rumo . Fico pensando nas maçãs que surgem e amanhã nova safra já existe para substituí-las . Como a vida . Como a menina linda que hoje não passa de uma transeunte qualquer . Meu banho foi tão rápido , tão efêmero quanto o incêndio vindo do atrito das folhas e que a própria natureza apagou com a chuva .