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27 de junho de 2008

Brasileiro Padrão


Por Carolina Fellet
O homem brasileiro é um iogue em se tratando da capacidade de se contorcer a fim de olhar a bunda de alguma mulher que lhe passa.
Ele coça o saco.
Fala alto à beça.
Arrota e cospe.

Ocupa uma via e meia para transitar com o carro.
O homem brasileiro é condenado
pelo Inmetro das boas maneiras.

24 de junho de 2008

Morre a ex-primeira dama do Brasil, Ruth Cardoso

por Carolina Fellet

Espanta-me a morte ser notícia.

Qualquer deslize do comum é que é digno do formigueiro das mídias: mulher que engravida aos 60, assassinato de criança, estupro, mulher com quatro braços etc. Morrer é a finalidade infalível da Vida.

Por que, então, noticia-se a morte, se ela existe desde tempos que nossa consciência já não alcança?

Déjà-vu

Por Carol Fellet
Tudo lhe parece íntimo.
O talhe das rosas. A antiguidade dos céus. A América do Norte. O layout do ser humano. O gosto da laranja.
Irene deixa a vida se lhe posicionar, sem que a primeira aparente grandes reações – porque “existir” lhe parece velha de guerra.
Por que é que todos se resignam, em vez de se espantarem com o espetáculo perene com que a vida se apresenta?

O SEDENTARISMO DO SÉCULO VAI PARA...


por Carol Fellet

O sedentarismo do século não vai para as crianças que comem hamburgers no intervalo do colégio e são perseguidas pelo colesterol, nem para os funcionários públicos que ficam hibernados em suas repartições.
O sedentarismo do século vai para os olhos dos internautas e telespectadores compulsivos, já que eles desmobilizam músculos dos olhos que são imprescindíveis para a leitura... Daí, o livro e as formas impressas que veiculam conhecimento ficam ociosos, refletindo a ociosidade de seu pretenso público.

17 de junho de 2008

Chique

por Carolina Fellet

Ser chique não está no o quê se veste, mas no como se veste; não no o quê se come, mas no como se come; não em quantas línguas se falam, mas como se fala.

16 de junho de 2008

Ave
Por Carolina Fellet


Num dia casual, W. Halfeld – neste instante livre de nome e de qualquer status que repercuta no mundo material – perde-se no tempo do banho.
Aproveita da oportunidade de reclusão para lavar os azulejos que estão opacos devido à indiferença e voar – sob as asas invisíveis da consciência humana – ao mundo óbvio e incompreensível em que vivemos. Óbvio porque toda a vitalidade chega-nos inteligível aos cinco sentidos, e incompreensível já que nenhum ser humano é capaz de esclarecer os bastidores da vida.
Depois de recolher suas asas e voltar a sentir a temperatura da água, a qual se estreita feito filetes de chuva biônica – modelada pelos parâmetros do chuveiro, W. Halfeld não se identifica com o bípede ereto e nu, cuja existência parece reduzir-se a corpo, àquele instante. E, de repente, vê-se de fora, conforme um animal irracional por cujos corpo e essência transita a vida, sem que o bicho se atente a ela.
Nessa perplexidade de reduzir-se à função de vegetal é que Deus está alojado. Como outros efeitos sem corpo que refletem absurdamente no dia-a-dia da nossa química.

14 de junho de 2008

TEXTOS DA EXPOSIÇÃO METABOLISMO


por Carolina Fellet
Compromisso 1: Os brigadeiros


Ana Sofia não premedita nada.Comum à idade: ela tem apenas oito anos.No aniversário da Cíntia – a coleguinha de turma a quem Ana é mais apegada – esta comeu doze brigadeiros. Ao voltar da festinha, além dos doze brigadeiros para o metabolismo metabolizar, houve uns xingamentos de dona Maria Gloria, sua mãe, devido à hora a que Sofia voltou para casa – de carona com o avô de uma das convivas.
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No reino sem aparência onde vive, o Metabolismo se queixou da quantidade de coisa para processar:- São 12 brigadeiros com 2 centímetros de raio cada um, e como se não bastasse, todas as palavras esdrúxulas dessa senhora desequilibrada. Não estou agüentando esta sobrecarga de trabalho. Vou recorrer a um estagiário, ainda que ele demore muitos anos para decompor qualquer substância que lhe chegue como incumbência.

por Carolina Fellet

Palavra

A todo tempo a massa encefálica transforma tudo o que é visto em palavra.
Haja metabolismo:
POSTE. TRANSEUNTE. VIRA-LATA.
por carolina feLLet
Silvio Santos

O programa Silvio Santos possui acordo vitalício com a substância do riso.
Porque toda vez que eu lhe assisto,
Quanta gargalhada processa o meu metabolismo.

por Carolina Fellet

Tristeza

Luiz Marcelo acaba de sair de um funeral.
Do estopim de seu canal lacrimal, custosamente, materializa-se uma tristeza antes embutida, e que agora hidrata o rosto e desemboca salgada na língua.
por Carolina Fellet
Vovó Natividade

Num pé, sapato dourado.
No outro, um tênis Nike®.
O som que desemboca na boca não mais diz nada:
Perdeu o adestramento das palavras.
Os olhos assistem a um espetáculo invisível que excede o tangível.
Vovó enterrou, num cemitério clandestino, todo o seu discernimento.
Hoje é um laboratório da excentricidade do mundo
.
por Carolina Fellet
Amarelar


No meio da selva uma onça está grávida, quase dando à luz.
É preciso a metafísica agilizar seus amarelos para arrematar essa cria que está por vir.

Estresse

O Bené tem míseros vinte e um anos e o Cosmo já está processando sua calvície.
Bené está preocupado em perder a namorada,
E como se não bastasse,
Não mais fazer sucesso entre as gatas.

O que resta a ele é a fé – adquirida a atropelos do fôlego.
Ele reza todos os dias invocando a todo o Invisível que lhe dê pêlo,
Pelo amor de Deus,
Ou que, pelo menos, maneire na devastação.
por Carolina Fellet
Para se comer em público

A aranha, seja por seu aspecto peludo, seja pelas ameaças que carrega sob seu corpo, é temível por todas as faixas etárias.
OPA! Eu me perdi no meio da confusão que impera nesta sala de aula e deixei minha imaginação falando sozinha.
A sorte é que minha memória abocanhou o que aquela dizia. Era da habilidade de a aranha tecer sua teia e deixá-la arquitetonicamente sem pecados.
Quanta técnica ela acumulou para atingir o ápice da habilidade de joão-de-barro.
Depois, me vem à mente a destreza de se higienizar que é inerente aos gatos, os quais, depois de expelirem seus excrementos, dão-lhes o destino dos mortos e os enterram.
Por último, a lanchonete que costumo freqüentar.
Cheguei lá e pedi pão com queijo curado e nescau.
Para não afogar meus objetos em uma poça d´água que havia sobre um dos balcões, tive que espalhá-los sobre uma vitrine de frios.
Na quinta mordida de pão, eis que me chega aos ouvidos o pedido de um senhorzinho à funcionária do café: um pingado e um pastel de carne, por favor.
Deu-me pena de pensar no organismo do homem metabolizando aquela combinação. E como se isso não fosse suficiente para enojar minha vida interior, o velho mordia o pastel e umedecia o conteúdo capturado para dentro da boca com goles de pingado para lhe facilitar a mastigação.
Eu não tenho know how para dar dicas de como comer em público. No entanto,
Xadrez e bolinhas, eu sei que não combinam.
por Carolina Fellet
Destino

O destino materializa seu apetite em formiguinhas e as incumbe de comer os escombros de um monte de coisa: banana mordida, chiclete mastigado, goiaba que sucumbiu à gravidade.
Fim dos textos referentes à exposição Metabolismo.

13 de junho de 2008

(X)Vulgaridade


Por Carolina Fellet
A mulher pós-pílula - do final da década de 1950 para cá – a fim compensar a opressão sexual a que era submetida, tornou-se recalcadíssima, e adotou a vulgaridade como antígeno ao pudor.
A postura de agora é a
VULVOCÊNTRICA.
Seios extravasando os decotes. Desejo imponderável e divulgado de ir ao motel e gozar entoando as sinfonias mais agudas. Comentar as dimensões e as repercussões do falo. Conhecer e se deleitar com vários pênis.
E, no fim, como farelo da antiga essência das fêmeas: melancolia.
A própria anatomia embutida denota a necessidade de a mulher se reservar e perpetuar a fineza inerente ao gênero.

10 de junho de 2008

Novos crimes, novos castigos

Por Carolina Fellet
À medida que a habilidade para o crime avança, é preciso que a punição que lhe disser respeito o acompanhe. Não se trata de olho por olho, dente por dente, mas, a um povo que há pouco vivia na selva e que se proliferou imensuravelmente, haver um semáforo que lhe fique à vigília é imprescindível.

5 de junho de 2008

Diálise

Por Carolina Fellet



Casal de namorado.
Bonitinho, família boa, trabalhador, cortês.
Gostosinha, maquiada, patricinha, mimada, princípios OK.
De nada adianta!
É preciso uma diálise diária para que se agüentem...
A não ser que vivam das necessidades primárias.

3 de junho de 2008

Hilux



Por Carolina Fellet


Prefiro emperiquitar minha habitação a desfilar carros megalômanos que são inversamente proporcionais ao tamanho das vias brasileiras: uma Hilux ocupa duas pistas!