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30 de julho de 2010

por carolina fellet

Os excessos da natureza surgem sob variados fôlegos: através do ar, do mar, da chuva, do sol...

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As duas irmãs foram para o restaurante – como compensação à ida a uma colação de grau – e fizeram o pedido.

O ínterim da espera foi nutrido pela incontinência verbal-volumétrica de uma jovem senhora que lhes estava sentada atrás.

A mulher conseguia conectar a temática “células-tronco” à natureza extraordinária das salamandras siberianas. Como acontece nessas pesquisas virtuais, em que as pessoas acessam o Google® buscando o horóscopo do dia e acabam se inteirando do novo técnico da seleção brasileira.

Além da variedade de assuntos, a jovem senhora contava seus casos num volume digno de quebrar taças.

Parece que existe uma relação entre falar muito e falar alto. Assim como quem tem incontinência fecal e acaba deixando escapulir um pouco de xixi em cada incontrolável evacuada.

29 de julho de 2010

27 de julho de 2010

Pode parecer mórbido

por carolina fellet

Estava dentro do carro, na avenida principal da cidade, quando um cego foi incorporado pelo meu campo visual. Ele vinha vindo ladeado por três pessoas que lhe davam suporte.

Assim que o vi, tive a reação que todo mundo tem: compaixão. Afinal, a minha cruz – comparada à dele – é de ouro 18 quilates.

Porém, à medida que o engarrafamento inquietava minhas ideias, vislumbrei algumas regalias que só os deficientes possuem.

Assento preferencial, direito a uma fatiazinha de orçamento público, carinho – ou pelo menos respeito – quase unânime das pessoas.

Enquanto quem vem à luz com “tudo nos trinques” é obrigado a exercer as virtudes de que fora incumbido pela Natureza. Tarefa difícil.

Presídio

por carolina fellet

Penitenciária subestima essa multimídia orgânica que são os sentidos. Para exercer a visão, paredes de concreto. Para o olfato, a falta de higiene dos sanitários. Para o paladar, comida insípida ou azeda. Para ouvir e tatear: o Nada.

Quem está preso deixa de exercer o status humano.

Os países baixos da tia Janete

por carolina fellet

O bicho humano, além de ser cíclico diante das determinações da natureza, o é também perante os hábitos adquiridos.

Tem mulheres que cismam com um corte de cabelo e o usam por anos a fio, até se lhe cansarem um dia e mudarem o alvo da paranoia. Aí, elegem uma roupa, um sapato ou uma bijuteria para ser uma extensão delas próprias.

Entre o público masculino, existe sempre a preocupação de conquistar o mulheril. Consequentemente, a tática para consegui-lo é superdesejada por ele. A que for mais persuasiva será a eleita. Caso seja perfume importado... Dá-lhe tina de perfume importado.

Tia Janete é um exemplo clássico de que somos todos cíclicos. Lá pelos 20 e poucos, após ter violado o território do sexo, ela passou a escolher os parceiros de transa a partir de um critério étnico-sazonal: no verão, copulava com descendentes de italiano; no inverno, com japoneses radicados no Brasil há mais de cinco anos. Nas outras estações, optava por brasileiros mesmo, mas de diferentes estados do país.

Pode-se afirmar que a região pélvica – ouvi dizer que existem neurônios espalhados por todo o corpo humano – de tia Janete tem muita bagagem cultural.

23 de julho de 2010

por carolina fellet

À noite, antes de sucumbir ao sono, panorama geral. Momentos intactos na memória, embora moribundos na realidade– em respeito à própria natureza.

por carolina fellet

Quanto conforto traz um afeto verdadeiro. Os postiços, em contrapartida, nos deixam mais inseguros; sem perspectivas.

por carolina fellet

Precisa-se de um amor para exercer a natureza que é minha, embora esteja latente. Quero-o não por acreditar na reação a dois, e sim, no que existe dentro de mim. Amor é puro egoísmo.

19 de julho de 2010

por carolina fellet

Tem gente que administra ingredientes e se diz cozinheiro.
Culinária demanda essa coisa metafísica que é o talento.

17 de julho de 2010

18 de julho

por carolina fellet

Nascer é aumentar a plateia para o espetáculo da vida. Se pensarmos com um pouco de afinco, perceberemos quão extraordinário é viver e processar todas as mensagens que vêm da natureza. Antes dos nove meses que precederam o 18 de julho de 1985 – data em que vim à luz – eu não estava configurada para interagir com a própria existência, nem com a variedade do Cosmo. E, de repente, eis que o Mundo me engloba para si.

por carolina fellet

Estômago cheio não é visto a olho nu. Por isso, brasileiro come mal. Hilux, todavia, quase não cabe no campo visual das pessoas. E, no entanto, ela é vista aos cachos trafegando por aí.

16 de julho de 2010

por carolina fellet

Quando se deseja conquistar alguém, talvez por um automatismo embutido no inconsciente, a pessoa apela a um dos próprios predicados e tenta mostrá-lo ao pretenso-parceiro. Os dotados de corpos bonitos apelam a roupas que os realçam. Quem é inteligente investe na lábia. Os vulgares correm para o trópico da própria vulgaridade e ficam lá até pintar a melhor oportunidade voluptuosa. E os sem-jeito permanecem à espera de um amor trazido pela metafísica.

por carolina fellet

Ir para a balada implica o exercício simultâneo dessa multimídia viva que são os cinco sentidos.

por carolina fellet

Como a vegetação está sempre sujeita ao ânimo do tempo – seja para florescer ou murchar completamente – o âmago das pessoas vive em função do ambiente onde elas vivem.

15 de julho de 2010

A língua do "igualzim"

por carolina fellet

Conseguir contabilizar o número de ideias que trafegam pela nossa mente diariamente demanda muita concentração. No ônibus, em casa, no trabalho, na faculdade... Sempre somos uma rodovia demasiadamente movimentada por informações e respectivas reações a elas. Na hora de trazer à luz um dos tantos pensamentos que compõem a nossa psique, muita gente se embaralha. Afinal, não é fácil escolher o melhor assunto para explorar num diálogo, principalmente se ele for inesperado. Por isso, vejo gentes e gentes, na tentativa de equacionar as ideias e introduzir um assunto, dizer: “igualzim (leia-se “igualzinho)”. “Igualzim, saí com o Nenzim pra beber uma cerveja e acabei atrasando pro serviço de manhã”.

Tem também o recurso do “tipo assim”, do “ô, véi”... Todos com a mesma intenção: a de afunilar os tantos e tantos pensamentos que invadem mentes e mentes diariamente, para trazê-los ao conhecimento de outrem. .

por carolina fellet

Se as palavras fossem materializadas a partir de um órgão do corpo, Janete já teria enfartado esse órgão há tempos.

12 de julho de 2010

Choque de gerações

por carolina fellet

As duas filhas – sossegadas com o predicado “abastado” que lhes engloba a família – só pensam em ter um amor.

E a mãe, superpreocupada, concentra toda a sua atenção na queda da Bolsa de Valores.

10 de julho de 2010

por carolina fellet

Não quero saber de amigos ou afins desovando seus recalques em mim. Se eu lido bem com minha hortinha de frustrações, por que é que o outro não pode consegui-lo?

por carolina

Os 25 anos estão se aproximando. Como conseguinte, um afastamento da vida rumo à cova. Processada essa lógica, uma campanha de empolgação me ganha: seja feliz!

por carolina fellet

A existência – essa coisa que não é minha, e sim, manufaturada a partir de mão de obra clandestina – me impele profundamente. Nessa temporada aqui na Vida, a coisa de que mais tenho medo é ter minha integridade física ameaçada.

9 de julho de 2010

por carolina fellet

Ser careca é mais estado de espírito que falta de cabelo.
Tem homem que fica calvo e incorpora como derrota a calvície. Daí, à medida que as pessoas olham para ele, toda a química do fracasso paira no ar.

8 de julho de 2010

por carolina fellet

Em casa foi sempre SIM.
Diante do primeiro NÃO entoado pelo mundo, o subconsciente foi civilizado pelo trauma.
E hoje meu comportamento é todo configurado sob os graus desse impacto.

2 de julho de 2010

por carolina fellet

Muita gente tem vindo para a vida sem a promessa dos sisos no DNA. Há tecidos que não precisam do ferro quente para ficar lisos. o GPS esnobou o cérebro dos taxistas. Ainda que as manicures representem o meio de comunicação mais eficaz, a internet transmite os fatos em tempo real.
O mundo está mais prático. Mas um costume já carequinha e banguelinha se arrasta e se prolifera rumo à consciência das pessoas: a busca por um refúgio.
Há quem acredite que a recompensa a todo cotidiano duro esteja num bom beijo de língua que eleva a voltagem da libido. Então, vassalo dessa crença, esse alguém está sempre atrás de uma presa. Tem os que tentam se acertar com a família - outorgada pelo Divino e muitas vezes tão encalacrada entre si. Há os que se inclinam à caridade e, por fim, os descrentes de tudo,que vislumbram o próprio porto seguro no inanimado.