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30 de março de 2007

FELIZ ANIVERSÁRIO

Como jargão – sobrevivente de guerra – passo
Com meu – já gasto – cartaz:
À medida que a vida faz-se maciça de vida,
Mais se aproxima da derradeira goela do Fatal.

Feliz aniversário?
Tudo bem! Que essa sua proximidade com a morte
Seja, ao menos, serena, suave.
Feliz aniversário...
Os novos tempos contam com sua contribuição.
Para que se fechem os tempos reservados a você.
Aniversário: já se nasce em morte.
Portanto, gozemos dessa morte-vida incessante

Insight de Amor

Guardei teu primeiro recado.
Para um dia ter me orgulhado:
Eu tive um namorado
Custoso, embora autêntico.

É verdade, bem sei.
Porque desligas o telefone,
Somes,
Reapareces.

Como militar da masculinidade, como os homens, possuis um falo;
Quer espontaneidade maior que a do pênis?
Em felicidade: a antena rígida ascende;
Em frustração: avezinha encolhida a cochilar.

Acredito, sim, no amor, ou melhor dizendo, na afinidade.
Porque o primeiro se equivoca, quando é processado pelo homem.
A afinidade das genitálias, das oratórias, da aura, do esperá-lo sem me entediar é fato.

Por que, então, abster-se da coragem de se entrosar,
A ponto de os sentidos – todos eles – comungarem um mesmo paradigma?
Afinemo-nos sem covardias.

27 de março de 2007

Calendário à brasileirinha

Antes, o Brasil - o Brasil das lojas abertas, dos serviços públicos, do calçadão cheio começava sua atividade em março. O argumento: tudo se ajeita depois do Carnaval. Agora, deram um prazo maior para a ressaca. Um mês inteiro de descanso, de desintoxicação.
A programação da TV inicia-se em abril. O cursinho pré - vestibular, idem.
Os futuros seres humanos herdarão esse calendário à brasileirinha? Viva o ócio do janeiro, do fevereiro e agora do março.

22 de março de 2007

21 de março de 2007

Constituição de 1985

Sou minha maior censura.
Mamãe vem, amontoando palavras pretensiosas, mas travestidas de doçura. As frases são estiletes eficientes que estavam no acervo de nossa intimidade. Rapidamente me recomponho, monto um altar com pequenas oferendas a meu próprio âmago: sou uma nesga de Deus e, conseqüentemente, um farelo da Onipotência.

18 de março de 2007

Vão

Gisela vasculha, numa pretensão de se defender das próprias condições a que a vida a induz, o acervo de possibilidades à origem de cada sofrimentozinho que a rege. Sempre se inclinou ao raciocínio matemático, lógico, exato sobre as coisas.
Desta vez, sofria em nome de um amor inconsistente, desmazelado. Não lhe cabia na psique a própria punição que lhe veio de nascença: uma carência indomesticável. Nenhuma cortesia supriria aquela dor, dor dos incipientes tempos em que se reconhecia como humano. Dor do maquinário outorgado do Mundo.
Dor. A dor morta do dicionário. A dor conotativa. A dor legítima. Mune-se das lupas invisíveis da consciência e sai à busca de endereços; do catálogo que contém todos os dados do motivo de se padecer.
É tudo vão, coitada! A serenidade lhe virá, quando o líquido dos lixos escorrer-lhe do caixão. Só assim!

17 de março de 2007

O outro

O Outro, numa relação (hipoteticamente promissora) de monogamia, dá uma consistência em prováveis hesitações. Nada é certeiro. Portanto, arquivamos outros indivíduos bem quistos em nossos acervos de maridinhos e esposinhas.
(Um filósofo de 2158 disse isso a um Futuro que não me pertencerá. Achei interessante e decidi introduzir esse escrito com este pensamento que segue).
Iramaia, há uns meses que se desviaram das rédeas de minha contabilidade, relaciona-se com Olavo. Este permanece ingênuo perante as metáforas de que tanto ela gosta de falar. Talvez seja um jeito de a moça se proteger da neurastenia do Mundo. Fala doce, cujas ferraduras aludem os outros à sensação mais farejada por qualquer criatura.
Com o carinho de um solitário que faz jogos lúdicos e minuciosos com a existência, ela se aquieta no relacionamento. Ainda que sofra, ainda que sinta a necessidade de um aconchego inumano, prevalece contida, enclausurada em seus próprios pensares. Nada, jamais, poderá servir de ração a minhas aptidões. Fala Iramaia; remetente: inconsciente; destinatário: distinção da consciência.
Iramaia vive em um estoque obscuro, em que seu maquinário não cessa trabalhar. O labor pende de um súbito e fugaz movimento ao tédio cego de possibilidades. Dizem, nessas cirandas que peregrinam pelo calçadão das cidades pequenas, que todas as pessoas, numa fase xis da vida, passam por um período negro. E nesse negrume, não existem estrelas, não existe a lua. O único sentido válido é o que observa a negritude.
O namoro, como todos os naipes do Relacionamento, é uma emenda à vida da garota. Um enxerto que lhe garante, indubitavelmente, tempos voluptuosos, tempos de plenitude dos sentidos e intempéries. Sofrimento. Sofrimento oriundo de temores. Temores todos vãos. Mesmo que a vida se desfaleça, certamente, ter-se-á que a suportar. É tudo outorgado. É tudo força clandestina e soberba como a empáfia dos que negam a Paternidade.

"Não" às drogas?

Como pude deixar que a conduta, esta de que nada sei, embora ache, num ínterim indeterminado, que ela seja o condutor-mor da existência, me levasse ao caos? Ao niilismo total?
Os tarjas-pretas, em muito, me ajudaram. As maçantes sessões de ioga me reergueram. Os antidepressivos, muito paulatinamente, possibilitaram serenidade aos sofrimentos carecas, moribundos, agonizantes. Afastaram-me das drogas... Ou, sucumbi às campanhas de combate ao tabagismo? A vida agora vem crua para o meu lado. Nua, crua, repugnante, por vezes. E o sexo é outorgado. Uma masturbação indelicada, que desvia o propósito principal. E, em vez de prazer, atiça a idéia que deu origem às práticas sádico-masoquistas.

16 de março de 2007

Sr. Onomatopéia. Onomatopéia de quê?

A aula do professor Aurélio é irretocável. Possui, inerente à condição solitária dos indivíduos ilustres por nascença, a capacidade de, sem intervenções, fluir perfeita e prazerosamente. Ainda assim, Juca insiste em levantar o braço rígido e ensaiado como um soldadinho temeroso: ô professor... Entre uma palavra e outra, ele solta um som que não faz parte do repertório dos falantes da Língua Portuguesa aqui no Brasil. Ô profelaksjapfsdmvl. Além dessa proeza, onde couber, ele coloca a palavra esdrúxulo.
Gostaria muitíssimo de entender: que som o Juca imita ao estrear seus discursos com um pretenso, embora pelas metades verbete: prof...

11 de março de 2007

Reincidir

A vida é reincidente.
Nasci com fome,
Com sede,
Engolindo tudo que estava à frente.

E isso tudo persiste.
Já estou velha,
Sobrevivente de guerra;
E a fome insiste, não pára.
A sede não se sacia com minha saliva.
O Mundo me vem, entrão.

9 de março de 2007

Plágio

Alertaram-me a possíveis plágios. Mas, diante de qualquer forma de expressão, fica-se exposto e obviamente sujeito a cópias, copiou?! Colou! Portanto, destemida, continuarei a escrever meus textos, meus escritos, meus desenhos, minhas músicas, meus sentidos, minha vida, enfim.

3 de março de 2007

Bochechas Rubras

Há tanto tempo não escrevo;
Fico até meio sem jeito.
Todos os dias eu estendia meus sentimentos,
Em letras bem talhadas,
Em metáforas que tratavam com fineza minhas ousadias.

Há tanto tempo não escrevo,
Mas jamais se esquece do manual dos beijos.
Não se esquece do Amor velho,
Sobrevivente de guerra.

Deus lembra-se da fórmula das vidas,
Embora, às vezes, por um deslize qualquer,
Seja falível como os médicos tão presunçosos
E, no entanto, raquíticos da legítima sabedoria...
De que tudo culmina em nada.