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27 de novembro de 2006

Genialidade. Genitálias

Não temo perdê-lo. As minhas posses são inconsistentes.
Sou distante deste próprio corpo,
Das coisas que meu mundinho foi abocanhando.
Sempre me sinto pingente de mim mesma...
Sou o mundo esfumaçado.

Não temo perdê-lo.
De fato.
As águas se esgotam perante as movimentações da intimidade;
Intimidade que sonega as carências de meus sentimentos.

Maldita intimidade.
Maldito bicho esperto esse homem;
Estica-se em uma vitrine qualquer e sobrevive das ovações alheias.
Sobrevive da reputação.
Reputações são uma plêiade de enormes equívocos.

Quero, quando estiver encharcada de melancolias, conviver com trivialidades.
Nada de túneis entre mim e o outro.
Nada de pistas duplas e penetrações frígidas.
Dividir minha mesquinhez é estender o sofrimento, que se locomove feito o vôo de baratas aptas a fazê-lo, às pessoas.

Não há o que mereça a repercussão das aspas.
Vamos viver o comum.
Aceitar o comum,
Até que o segundo encontro fatal nos venha,
Meu Amor sem nome, sem status, sem orgânico.

26 de novembro de 2006

Equipamento da Antropologia

O vital mutável está inerte perante esse dia de orgias, curvas e irreverências.
Sábado.
Lira acostumou-se com a marcha dos dias úteis.
Promoveu o fim de semana à santidade.
Salvação.
Hoje, por lamentos orgânicos e prostrações íntimas, optou pela solidão.

Pouco lhe adianta:
A solidão bafora, amiúde, o verbo estendido de tudo que foi existido.
A solidão é um antro de memórias extraordinárias.
A solidão é a certeira nudez da estirpe humana.
A solidão é uma ingênua criança que é tapeada nas rodelas sociais,
Nos parques com ares virgens,
Nos frenéticos discursos sexuais.
Mostra-se, por vezes, ainda que cadavérica,
Lúcida.

Não o ama.
Não saliva amor.
Não é altruísta e, portanto, não carrega o sentimento alheio às próprias dependências.
Não tem muitas coisas a elaborar.
O fluxo de sentimento corta a cútis da mulher.

Sábado.
Produções salvariam um âmago penitente.
A beleza é uma mola imensurável ao bem-estar.
Mas funciona com a potência e com a fugacidade das alopatias.
A solidão, fatalmente, mostra-se, ainda que cadavérica,
Lúcida.

Elabora a forma de exterminar o grande martírio.
Basta-lhe extirpar a consciência.
Basta-lhe a coragem, a covardia dos que – num ato antropológico – mutilam-se por inteiro.

25 de novembro de 2006

Atchim

Num súbito, involuntariamente, os sentidos concentram-se na geração e no parto instantâneos do espirro. ATCHIM. A-a-a-a-a-t-t-t-t... Ameaça que não se consolida em atitude. Às vezes, tudo indica que o espirro está por vir e nada. Como tardes cinzentas que iludem o astro rei; como o amor traiçoeiro; como um homem com estampa máscula e voz demasiadamente aguda.
O espirro caiu no antro da obviedade que abocanhou a vida. Tudo é tão evidente que não é curioso investigar as diversas ramificações do existir. Encharcam a consciência com alterações econômicas, com teorias políticas, com apologias, com objeções, com padrões, com anarquias. Pensar, nas atuais conjunturas, denota laboratório de neuroses. Hesitar perante os bastidores de tudo que fica em vigília das existências – cujas conseqüências são nosso único acesso às vidas – é uma prática que muda nossas águas interioranas. Tudo se aglomera na Cohab dos Mistérios.
O ato de espirrar é um mandamento neonazista, afinal, intempestivamente, torna-se fantoche de uma ação que vem de forma outorgada. Que deus fica por trás desse empreendimento pleno de soberba? Quantos deuses são indiferentes às aptidões alheias.
Todas as coisas que desempenham função de ração aos sentidos e ao sentimentalismo são pretexto à arte. A arte bem lapidada possui considerável quantidade de remetentes na ignorância humana.
A destreza inerente ao espirro compõe a grande alquimia da minha tolice. Eu sou tola de mim mesma. As mais belas paisagens o são. O magnífico vôo de um pássaro o é. Tudo são tolices.

23 de novembro de 2006

Caridade

Finalmente, tenho restos e sobras de tempo. Estou corroída pela própria condição a que o Tempo me submeteu. O dia foi um gerúndio com letras ininteligíveis de um recente aprendiz da linguagem escrita. Confusão. Muita demanda a uma essência inábil a mil e uma burocracias vãs.
O bicho civilizado andou a passos velozes pelo dia todo. Correu feito répteis assustados perante o colosso de um bicho-gente. O meu colosso são os prédios imensuráveis do centro da cidade, as falações que assassinam meu ouvido defeituoso, sapatos altos exalando maus hábitos, sóis dissonantes com a fome da minha cegueira.
As pernas se desgastaram a uma proporção que equivale a dez anos de uma máquina comprada com garantia de troca (em caso de surgimento de desgastes precipitados). Envelheci muito do que a Fatalidade tinha para me envelhecer. Num ato presunçoso e dessabido, ignorei a Natureza.
Nem a rixa inerente ao existir foi respeitada. A consciência, brigando com o frenesi da inconsciência, culminou em desrespeito a ambas. O ritmo continuou, a tentativa de calmaria foi vã e arrisquei-me nos parâmetros da indiferença. Enganei-me. Equívocos acontecem. O organismo, em sua homogeneidade, peregrina – com seus pés possantes – por toda a agonia de quem tenta abdicar-se da própria vida e não consegue. O organismo é um vestibulando despreparado para a potência que se imagina da Morte.
Meus devaneios já estão inaugurando um manicômio próspero de grandes existências intraduzíveis. Espécies inimagináveis pelos grandes sábios cientistas lançam-se a mim; num, ainda que involuntário, gesto de carinho ao Homem, acolho cada novidade viva.

15 de novembro de 2006

Agonizar

Como sempre, ela. Ela, que é o meu regimento, embora seja genérica e insensivelmente tratada como vida. Parece tão simples como a arrumação de uma pessoa que ainda não se percebe, embora se sinta atraída por alguma força sexual.
O interior humano são coletâneas de sentimentos que culminam numa eternidade de águas. Tudo é amor. As águas em que culminam as nossas veias são iguais. Tudo é amor.
As aptidões pelo ontem que ainda era futuro promissor foram medidas a partir dos parâmetros imensuráveis do desejo de um amor utópico. Ontem. Futuro. Hoje. Passado. A vida, tão genérica e reduzida a uma besteirinha paraguaia, quando analisada por uma concentração de psicologias que emanam de uma existência, torna-se casa de costureira altamente requisitada.
Hoje repete a melancolia que arremata as minhas diárias neste planetazinho de sentimentos equivocados por temer o risco.

14 de novembro de 2006

Sala de cirurgia

Abstenha-se, não sei através de que apelos, de toda soberba que envolve sua linfa. Neste instante, é o orgânico o único fluxo de experimentos. Constranja, enclausure sua essência. Senão, ela chegará ao estopim do desespero. Os sentidos todos ficarão em alerta.
Mate sua alma. Reduza-se ao bicho que deveras é, embora se esqueça dele por vezes. Agora, no ínterim da peregrinação temerosa ao açougue entre congêneres. Morra. Que o orgânico viva sem a vigília da existência intrínseca.

7 de novembro de 2006

Um belo chupão

Por Thalita Oliveira
Homenagem ao chupão de maior repercussão que já aconteceu nas imediações do meu pescoço.

Uma denominação um tanto quanto pejorativa a esse ato de amor.Amor ou sacanagem?Eis a questão.
Violenta-se um pescoço.Sim, o pescoço.O chupão poder ser dado em qualquer outra parte do corpo e pode ter a pior marca que não causará tanto rebuliço quanto no pescoço.
Nos brancos, o vermelho.Nos morenos,o roxo.Ninguém escapa ao constrangimento da marquinha indesejável. Pode ser dada a desculpa que for: “É alergia a cordão”, “Fui trocar o perfume,olha só no que deu”, “O gato da minha vizinha me arranhou” e pode até ser que sejam mesmo desculpas verdadeiras(menos a última que é pouco improvável,ou não, se interpretada em outro sentido),mas as piadinhas sempre aparecem tão fortes e insistentemente como o chupão.
Para esconder ou eliminar essa temível marca todos os remédios são aceitos. A blusa de gola é a mais usada,mesmo em um calor de 40°,melhor morrer de insolação do que ser vítima do deboche alheio.Os lencinhos amarrados no pescoço, que um dia estiveram na moda, também aparecem com força total nessa época do ano.Já ouvi falar até em passar o pente no lugar da marca para acelerar o seu desaparecimento.Será?Não custa nada tentar!Tem pessoas que até cultivam e cultuam a marquinha expondo como se fosse um troféu.Vai entender!
Mas sem hipocrisias!Quem nunca teve um chupão que atire a primeira blusa de gola.Acontece sim,nas melhores e piores famílias.E não ficarei dando dicas de como evitar.Ser humano nos permite tudo até mesmo chupar e sermos chupados.Pode ser um absurdo pra sociedade,mas é fascinante para quem recebe.Então usem essa arma do amor ou da sacanagem e boa sorte!

5 de novembro de 2006

Desamor

É como se, ainda que eu não escolhesse o objeto de minha lascívia e de minha necessidade de apego, a vida me induzisse a desejá-la (o). É como se tudo de que tenho conhecimento me tornasse fiel, dependente de um grande desconhecido que me perturba com sua ausência. Sim, quando não se ama, sente-se uma ausência em irreparável vigília. O desamor é o incumbido-mor da melancolia que me abate. Quando, enfim, aproxima-se de mim um indivíduo amável, na mais léxica instância, a consciência faz uma nova leitura da tristeza. Numa demissão de pensamentos e de sensações, prevalece sempre a tristeza. Por quê? Meu incansável e humilde questionário desbotado pela eterna disposição: por que se sentir assim?
Tudo são tolices. Porque, felizmente, a memória reconhece e tatua a existência da morte. Caso pensasse com sustância, não reclamaria do afeto, do desafeto, da frustração amorosa. Meu pensar é penoso. Meu pensar é ignorante; colossalmente ignorante.
Pormenorizar o sofrimento não é sadio. Mas passa; passa como aquele amor perfeito e involuntariamente findado. Num átimo de instantes, acorda-se e o veneno do equívoco aparta-se do corpo, deixando-o permeável à capacidade de amar o novo.
Quero muito destacá-lo. Pô-lo vivo nas limitações de um advento humano. Quero muito estender os sentimentos ao governo da Escrita. Como a pretensão de cada artista com sua penitente arte.

2 de novembro de 2006

Amar

Rejeita minha consciência o elemento natural que atribuem ao amor. O amor parece às gentes um automatismo cósmico. Não deixa de sê-lo. Embora, para atingi-lo, é necessário romper o desconhecimento com que a vida surge.
Antes não o conhecia. Meu conteúdo estava em incansável alerta quanto à própria capacidade de se sustentar. A solteirice é nociva quanto um amor hesitante. Todo amor é hesitante. Aquela se desespera perante a solidão de ser individual, de ser incapaz de se ajeitar com os instrumentos de que o Cosmo nos dispõe. Este outro nos torna carnavalescos ostensivos sem recursos. Carnavalescos frustrados, munidos com oratórias – justificativas.
Sentidos que me são irreparáveis. Desde que o Mundo me é Mundo, sentidos. Ah! Sentidos. A estatura de quem não sucumbe me alude ao amor. O amor é um decalque que, aos pouquinhos, colocam-se por entre nossa composição intrínseca. À medida que se vive, tende-se a crescer, crescer, crescer, crescer... ... ... Crescer, crescer, crescer. Ainda que meramente organicamente. Enxertos sem remetentes se apropriam do nosso despropósito diário. Assim é o esquema de que não se sabe do Amor.
Os sentidos precisam fulgurar, inconscientemente, alguém para que o amor dê as caras a quem lhe procura. Ou a quem não o deseja. Os sentidos possuem a capacidade autônoma de seleção. Elegem. Optam. Estendem-se a um desconhecido. Inicia-se um processo de emperiquitar o enigma com verdades inconsistentes e persuasivas.