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28 de maio de 2005

Sorrisos

Não se escreve o sorriso. No máximo o abre nas correspondências: Proteínas básicas para minha perpetuação.

25 de maio de 2005

Expectativa

Saio com o meu fado indo à frente. Nunca fiz o tipo mandável. Ainda que aos hipermétropes e míopes pareça exageradamente flexível este meu jeitinho que agrada e desagrada, que faz desperceber ou engasgar. Meu fado me alimenta, me salva dos dias, me incrementa, me garante sabores atípicos. Sem minhas utopias, eu seria um vegetal enjaulado. Queria poder enxergar o mundo em pedacinhos e desvirginar novidades diariamente. Queria congelar o tempo dos segredos. E, quando enfim se descobrisse o embrião dos esconderijos, quando finalmente entendesse a despoesia de quase tudo, se findasse a carne com um derradeiro suspiro de qualquer sensação forte. Uma dor demandando um alívio, uma libido com memória incessante na vigília; sem a insipidez de voltar à condição de servo dos dias, de atleta que transcende os ponteiros.

20 de maio de 2005

Sinais de Vida

A vida são as inquietações íntimas ou um espirro que se consolida?
A vida é o carro-forte em que desejo esconder minhas fraquezas ou a próxima safra de cabelos?
A vida é minha voz saindo do estado latente e concorrendo com as maritacas?
A vida vem de fora, como o vento rebolando meus cabelos?
A vida vem de fora extraindo meu susto interno?
A vida estimula o que existe silenciosamente em mim?
A vida é querer exageradamente?
O fantoche é a miniatura do que é a vida?
O buquê de rosas é o espelho da vida da juventude?
A vida é fascista. Indiferente a minhas vontades.
A vida é orquestra em dissonância.
A vida é ser travesti.
A vida é assexuada.
A vida é a delicadeza das pálpebras de um velhinho.
A vida é o músculo-flor de trabalho de tantos Zés.
A vida é ser espectador de comédias e tragédias.
A vida são pedaços de sons e imagens.
A vida é uma mistureba de sentido.
A vida não é unidade.
A vida são...
A vida não é braço, ouvido.
Embora braço e ouvido sejam componentes da aquarela do viver.
O que é a vida?

19 de maio de 2005

Doutora Ênclise

(Carolina)-Bom dia, tudo bem com a senhora?
(Drª. Ênclise)-Pode sentar-se na cadeira. Suspenda as suas mãos assim oh!
(Carolina)-OK.
(Drª. Ênclise)-Pode levantar-se e dirigir-se a esta máquina. Olhe neste espaço e diga-me que letras enxerga após a luz acender-se.
Carolina, com sua lentidão inerente, atiça a avidez que se escancara em doutora Ênclise que, coitada! se preocupou, ou melhor, preocupou-se tanto com a exatidão da gramática que se esqueceu da vida. Esquecer de ser. Como pode?! Há quem precise de lembretes em "néon": "Viva, depois se incumba de fazer, não se esquecer...". O tempo dá um prazo curto demais às vidas. E as vidas, acomodadas às incumbências, quase não vivem... porque quando chega a hora de se viver de fato há bônus de cansaço, fadiga, necessidade de dormir. É bom viver agora de uma vez, porque amanhã já se tem menos a se viver.

11 de maio de 2005

Conclusões acerca da vida

Não há conclusões a se chegar quando o assunto é vida. Vida é ter a consciência das manobras dos bastidores de tudo isto; vida é a dinâmica da Natureza; a exposição da Natureza; a beleza e estranheza da Natureza. Vida. Tão estranha é a evolução, a dessabedoria das coisas, a incessante condição de vassalagem, as sensações que se desbotam até o dia do findar de tudo. De todo o estado de consciência pelo menos. Qual é de fato a vantagem de ter a noção de tudo isso sem poder influir em nada? Qual o privilégio em ser ciente dos monstros sem poder remediá-los? Não há engenharia o suficiente para muros anti-erosões íntimas, mares de forças que vêm, não existe ciência mais forte que o que não se sabe. O que não se sabe é sempre o Império onipotente. É o que É de fato; o resto sempre fica na condição de transitoriedade. As confecções ficam sempre à mercê e, conseqüentemente, com a oscilação da moda do tempo, mudam-se. Mudar é a vida. Sair do miolo dos arbustos e ir em direção às civilizações, entrar na imundície de outras vidas fortes, que não sucumbem à precariedade, falar com a eloqüência cedida, emprestada, gritar todas as dores latentes de uma só vez, chorar até tornar-se mera carne; erradicar toda a fonte desta estranheza toda. A vida são as incumbências que nos foram dadas por um desejo de eterno repouso de alguém que teve a pretensão de enxergar a dinâmica de longe; ser espectador das idas, vindas, das vidas. A vida é um feixe desprovido de matéria que nunca vence pelo cansaço; que está sempre em vigília das aberrações do intrínseco. Vida: Vitrine inerente das plantas, acústica perfeita de passarinhos, consciência castradora dos indivíduos humanos. Talvez ser sem saber que se é valha mais a pena. Talvez vida de inseto seja mais gratificante.

9 de maio de 2005

Assaltos

Funerais livres de aparência e de hora marcada são a tônica de um domingo pós-ressaca de extravasada do sábado. A Natureza mudou a moda, desfilou todas as indumentárias disponíveis enquanto estive acesa e a minha natureza peculiar manteve-se inalterável; desbotou no fim do dia. Funerais e lágrimas sem águas do mar vinham a mim com a nitidez mais nítida que conheci neste até então itinerário pela vida. Minhas modas, minhas estações são versáteis. Depois de funerais, nada como um lindo buquê em nome da felicidade de ainda se poder lembrar de uma tristeza que agora esconde-se por trás destes limites ditatoriais. Todos os meninos, as meninas, uns e outros, meus previsíveis sentimentos e os excessos vivem latentes. Tudo que não se vive agora está latente. Há sempre uma pré-existência. Basta o fato sofrer uma mudança de estado. Para que minhas rosas ou meus solos áridos com chuvas raras adquiram um semblante. Não sei por que tenho mania de arquitetar o ininteligível.

8 de maio de 2005

Dia das Mães

Contração que foi incumbida de ser. De me ser.

Invisível

Toda história sem semblante
Toda eloqüência muda deste íntimo
Tudo que me vem e que vai a tempo
De a razão dar as conclusões finais
São o findar dos oceanos,
São o preparo das rosas,
são o arremate das vozes dos pássaros.

Toda minha acústica
Toda minha miopia
São a simetria dos troncos e galhos.
Tudo isto sai das fontes utópicas.

Quantos desvirginaram uma fração de ar
No instante de juventude de uma árvore?
Quantos saíram de túneis ao encontro de um grande buraco?
Quantos foram incumbidos de ser a partir de hoje?
Quem tentou em vão a última balbuciada?
Hoje quantas rosas brotaram?
Por que há tanta sintonia na Natureza?
Por que o sol curte braços de fora?

Eu poderia estar em outra moda?
Este feixe incumbido de ser e de pensar
Poderia habitar outro transeunte?
Poderia estar em outro tempo?

Por que se cresce?
Como é o processo?
Quais as incumbências dos que não têm aparência?
De onde sai o sabor que é latente em mim?
E que vem junto à morte das coisas?

Estranheza

Tanto pudor diante do desconhecido e ousadas florestas ainda por se fazerem. Vêm sem consultas, sem licenças. Natureza. Que estranha e magnífica! Tudo me vem assim, assaltos incessantes como galhos de árvores que não sucumbem às máximas do tempo. Tempo... labirinto de sensação. Chuvas e intempéries que nos chegam como a manada que passa, com toda força que a máxima força que já se viveu pode ter. A máxima força é sempre esta do atual instante. Não sei por quê. Vida: Estranheza pura e mistura de segundos planos, ilusões de ótica. Começo: Flor do eco de outros instantes, itinerário sendo moldado de acordo com a pretensão do acaso e fim. Final da dinâmica, dos pagamentos rápidos, das vozes, dos beijos, das mais paradoxais sensações, das lágrimas que vivem latentes neste pote gigante. Final de todos os tempos que se incumbiram de nos transportar aos momentos, de nos moldar, de nos mostrar a verdade- às vezes cactus e às vezes rosa macia. Todo dia há fins, há conclusões, há pontos finais. E todo dia se começa, sente-se um desvirginar da atmosfera nova. Haja tamanho para tantos ares, tantos verdes, tantos sons. Haja sabedoria para não entender nada.

4 de maio de 2005

Interseção, céu e mar

Como o tom inarrável da interseção Céu e Mar são minhas esperanças. Elas têm vida própria estando bem longe de mim. Quando ouso aproximá-las à realidade, há uma anemia de um verde-pálido. Verde-capim ou aquele verde a qual nunca sabemos dar o nome certo. Minhas certezas são vírus fracos que sucumbem a qualquer aspirinazinha. Ainda assim, ainda convivendo com conselheiras e companheiras que moram em endereços cujo acesso é sempre difícil, há um pouco de mim nelas e um pouco delas em mim. A gente se corresponde através de tudo que não tem semblante. Minhas esperanças são sopros tênues de crianças aprendizes. São as vicissitudes: Verdadeiras convenções travestidas da adolescência.

1 de maio de 2005

Mamãe e Papai

Maçãs entregues à dissimulada personalidade do Tempo. Ávidas por aconchego. Toda carência demanda conforto. E a terra é a mãe das maçãs órfãs. Na hora da crise, na hora da queda é a terra quem as consola. Toda crise de existência das frutas é acolhida pelo tão generoso solo. Aquelas se derretem de desespero e o chão se abre a elas. Assim são mamãe e papai em minha tão estranha vidinha. Sigo a tentativa de me contemporizar ao mundo. De me contorcer de acordo com a posição das arcadas. Tento erradicar naturezas equivocadas em caras manjadas. Adoraria manobrar as circunstâncias como a Terra nos manobra nesse "dia-noite" incessante. Haja músculo à Terra. Haja fexibilidade em meus mitinhos que entendem meu despertar azul e no outro dia total indiferença a um dia ter sido aquarela.