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30 de junho de 2007

Verônica

Sob um turismo psicodélico, voltou à sua adolescência incipiente. Verônica. Estava ao banho, numa suíte da antiga fazenda de seu avô paterno, homem riquíssimo, embora arraigado a costumes simplistas.
O busto começara a lhe despontar. As gramíneas da puberdade seguiam os mandamentos da Natureza. Uma necessidade de se entrosar com a lascívia, uma paixão não-assumida, a mudança do corte de cabelo, a vaidade, alguns pudores, alguns acnes. Um mal crônico: melancolia.
Delongou-se ao chuveiro. Perscrutou azulejo por azulejo, os detalhes do lavabo, a solidão daquelas acomodações, os vasinhos de flor espalhados pelo interior do banheiro, arranjo por arranjo, capricho, esmero. Pressupunha, a cada ambiente, uma empreitada de um sentimento qualquer; a sombra de uma individualidade selada pelo sofrimento.
O contato entre os mundos animado e inanimado lhe sugeria carência, o estopim de uma carência; um câncer. Talvez a Natureza integrada satisfizesse as desocupações inquietas, todavia com silêncio de convento, e inerentes ao homem.
A inércia hermeticamente fechada por um farelo da civilização induz a vida a movimentar-se. A interpretação por vezes é malfeita, e resolvem mexer-se em ambientes feitos à base de civilização: vão às ruas, às galerias comerciais, ao asfalto, aos clubes, às lanchonetes. O que os alivia é a velocidade de puma com que vão ao encontro do extraordinário. A carência fica esmagada em um cômodo de quinquilharias da entranha. Mais tarde, revela-se; assusta o hospedeiro.
O homem rejeita seus filhos artificiais. Existe um estranhamento entre a vida natural e a vida biônica. O homem é eterno gauche.

29 de junho de 2007

Passeata

Insone, depressivo, desestimulado, cobiçando o próximo aniversário – este lhe era a melhor das expectativas, visto que iluminava a proximidade do fim – inclinou-se aos monstros do pensamento.
Pretendeu pensar aquilo que o deixasse confortável. O que o impulsionou no início foi pensar o bizarro. Elaborou uma cadeia de idéias que comungasse uma onda anti-convenção. A matemática é uma ficção infantil, pouco convincente. As ciências prescindem da grande filosofia que é a nossa não-sabedoria. As religião são presunçosas ao eleger aspecto ao intransponível. O pensamento tem fôlego curto porque está à mercê do limite das palavras e seus sentidos inerentes. As nossas transcendências todas estão impregnadas de tiques culturais. Como o ser humano é volúvel como a água; ele adapta-se praticamente a todas as tendências culturais.
A mulher pudica por devoção às tradições é a mulher vulgarizada por mostrar que também escolhe sua presa. A mulher das roupas impecáveis é a fêmea com chinelas anti-higiênicas que pisa o chão dos espaços públicos. As crianças que passam a fase integralmente na escola dialogam discursos breves, inconsistentes, nada questionadores, emperiquitados por palavras de baixo calão, de grande mau gosto. As pessoas estão falando tão alto. Os garçons são todos impessoais. A lida está mecanizada, enquanto o trabalho é o guia espiritual, o ceticismo do descrente.
O namoro é uma linda conversa dos pequenos lábios com o falo. E a amizade segrega tantos, tudo. A amizade é grande colaboradora de nichos impermeáveis. Os valores são contabilizados, inteligíveis, didáticos.
Quanta inverdade. Somos muito pouco desenvolvidos, enfim. As palavras arquivam grandes sentidos. E a gente insiste em se manifestar instrumentos herdados.

Matusalém

Waltencir, o Cizinho, profissionalizou-se em artes cênicas aos cinqüenta e sete anos, após ter sido carteiro, taquígrafo, office boy, entregador de jornal e tantos outros trampolins típicos de carreiras incipientes de trabalho.
Em 2074, aos 78 anos, graduou-se em Direito e advogou na defensoria pública. Por conta desse rompimento da obviedade, virou notícia, e foi convidado por várias mídias a participar de entrevistas, depoimentos e fotografias.
Numa de suas aparições, desta vez num programa exibido às madrugadas pela televisão, uma doninha solteirona e insone contemporizou ao semblante do senhorzinho, a tudo o que ele dizia, aos trejeitos e à aura que emanava dele. O porquê, deixo por conta da Metafísica, mas o velhinho protegeu, ainda que fugazmente, a espectadora de uma melancolia.
Cizinho tem o queixo protuberante. Diria o doutor Edison Stecca, dentista que sempre disserta sobre as expressões hermético-odontológicas, que o velho é um prognata. Talvez por esse desalinho de mandíbulas, é que a dentadura do senhor matusalém não lhe respeite o comando. O movimento da seqüência retilínea dos dentes postiços fica sempre dissonante da gesticulação inerente às palavras pronunciadas. Em poucas palavras, é uma dança bucal.
Na biografia do homem, indubitavelmente, constaria o jeito manso, sereno como fala. Em pouco, uma revelação: ele é preso às tradições mineiras. Waltencir é mineirinho de São João Nepomuceno.
Como ator, envolve-se sempre com as dramaturgias que têm o tempo como personagem-mor. Há dez mil anos, cinqüenta anos em cinco, etc.
Waltencir parece não sucumbir ao tempo. O corpo denota muito mais idade que a registrada. Deus provavelmente está prorrogando a oportunidade de ele se engajar em outros trampolins; quem sabe pregar a palavra de Cristo no centro da cidade; quem sabe foragir-se da crise venezuelana e tocar flauta no calçadão de Juiz de Fora.

28 de junho de 2007

Presunção de quem dá as cartas

Deus pensou a praticidade da vida.
Os filósofos desbotam a interrogação. Quando chegam ao genérico da Ignorância-Mor, criam uma gramática hermética que flui à beça, embora permaneça incompreensível a muita gente.

Blusa de lã, saia jeans, meia opaca: um dia de esteta

Decidiu se produzir um pouco para sair ao fim da tarde. Sem compromisso. Simplesmente para transgredir a inércia de se passar as férias em Juiz de Fora, Minas. Pé ante pé. Centro comercial. Entra em loja, sai de loja. Arruma pretextos para praticar a sociabilidade. Está, há tempos, à mercê de uma misantropia psicótica.
Foi como se um sangue fênix lhe houvesse penetrado. As pessoas lhe penetraram um olhar diferente, Silvana reluziu singularmente. Sintetizou a si mesma várias persuasões efêmeras de mudar um pouco o foco em que a vida estava concentrada. Mas, envolvida em suas tendências de amadurecer os próprios veredictos, creu que o dia-a-dia de um esteta é extremamente nocivo. Certamente o é.
Pensou a vida, conforme um condicionamento crônico.
E se tudo mudasse, não lhe importaria.
Tentou chegar a uma maneira menos pesada de questionar o Fado. Mas o aceitou e voltou pra casa convencionalmente.

27 de junho de 2007

É tudo mentira!

O processamento do fato – para que culmine em comunicação – é submetido ao selo do equívoco. Nada é verdade. É tudo postiço. É tudo dentadurinha fajuta.

26 de junho de 2007

Os insones

Quase cinco horas da manhã. João Luis e Marina estão saindo de um Pub alternativo que fica a São João Del Rey, Minas Gerais. O céu quase sucumbe à claridade, mas o comportamento de recolhimento perante a escuridão persiste. Todos dormem. Os prédios emudecidos; as ruas sem sinais, sem leis; o semáforo, facultativo.
Param ao sinal porque um carro enorme passa lentamente à avenida principal. Enquanto estão em inércia, à espera de uma chance para prosseguir, Marina observa uma lâmpada acesa em uma janela de um prédio de classe média baixa.
A última possibilidade que lhe surge à cabeça é a de que a pessoa do cômodo opta por dormir às claras. Marina imagina um insone crônico, desesperado, que está à beira de suicidar. Como praxe, leva a impressão para a casa. Dorme com a impressão. Cogita, de quando em quando, a impressão.
É sofrido à beça não dormir seqüencialmente. A energia de que a máquina humana precisa para permanecer dignamente viva se esvai. A estética se altera demasiadamente. Os problemas e as maravilhas são dispensados pela fraqueza da eletricidade extrema, que mata. Que corrói dolorosamente. Marina não resiste a um processo de psicose altruísta.

25 de junho de 2007

Susto

Com mais e mais abundância, a metafísica se radica nas dimensões de nossos sentidos. Mas ela sempre me assusta. Sempre me parece inédita e digna de uma grafia qualquer acerca de sua origem, de seu porquê, de seu destino. Mas é vão. Nossas destrezas não o permitem.
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Escrever o quê?

O mundo já está no estopim de nosso entendimento. O que posso lhe fazer é tapear um pouquinho esta espera; eriçar sua capacidade para paciência.
Samuca entrou ao carro e revelou odiar esperar; que seja por cinco minutinhos. Ele ODEIA esperar. Indubitavelmente, não atinou à vida, a um sentidozinho, que não os mais convencionais, acerca da existência. A vida, Samuquinha, é uma espera travestida de trabalhos, estudos, pesquisas, ciências, religiões, música, movimento, discursos, etc.
Quem não se enfurna nas possibilidades da paciência, sucumbe: pula de janela, toma veneno, enforca-se, afoga-se. A vida é garantia dos serenos, dos que serenamente aguardam. O grande estranho disso tudo é que aguardam algo de que sequer sabem.
Paciência, Samuca.

23 de junho de 2007

Ph ácido

Em relâmpagos de tempos, a vida explicita performances de frigidez. Pois não se excita diante das informações trazidas pelos sentidos, pelos instintos, pelos sentimentos; diante de qualquer que seja a novidade ou, por que não, diante da velha verdade de trivialidades? As nossas capacidades, e o mérito que a gente traz do BIG BANG ficam todos pousados sobre uma pilha de papéis que nos apontam compromissos.
Compromissos. Deixa eu me apressar. É tão sério. Se a vida burocrática morrer, o que é que fazem com o respectivo cadáver? Existem filosofias à vida das coisas que não as coisas vivas, naturalmente vivas? É tão banalizado o assunto das burocracias, e das necessidades de se combatê-las. Mas a questão é séria. Viva e presente, como a perpetuação desta coisa velha, que me faz sombra e conteúdo e realidade: VIDA.
Tudo de que se fala é vivo. Mesmo a morte. São as novas consciências que a tornam triste e lhe garantem atributos. Mas a lâmpada agora diagrama o quesito bu-ro-cra-ci-a. Qualquer pretensão demanda um ato burocrático. Casa. Cem gramas de peito de peru defumado. Água taxada (gratuidade divina taxada? RISADA). Pães de sal para a fome das quatro da tarde, etc.
A culpa é da mutação do primitivo para o civilizado. A cultura a que fomos adequados, sisudamente, se comporta como divindade e altera nossas águas. Ph ácido.

20 de junho de 2007

Ensaio aos mortos

É bom amar os mortos.
Como é bom, a um brasileiro, amar um camarada lá da Austrália.
As dificuldades das relações surgem geralmente do face a face e do incesto em que culmina a intimidade.
O diagrama da nossa sabedoria não nos põe à frente dos mortos. Portanto, atribuímos a eles o nosso grau de amar e, postiçamente, julgamos que aprendemos a amar, e nos enobrecemos. Por vaidade. Por egocentrismo.

18 de junho de 2007

É só aquecer

O pensamento massificado é uma das raízes da carência.
Quando você se enfurna em uma esteira de correntes intelectuais pré-estabelecidas, veste-se de um pensamento, a cujo parto não assistiu. E se perde nos automatismos com que esse raciocínio lhe surge. E esgoelado, fatigado e atônito, corre atrás de uma freqüência mental dissonante da sua. Diálogo de rixas. Disputa entre dois egos antônimos. Secura da vida interior; morte interior. Cadáver inorgânico. Fim. Vida vegetativa do cerne.

?

Malgrado a individualidade explícita da nossa condição, queremos que nossas cartas reverberem aos cachos. Faz-se sempre necessário um selo de aprovação, uma porta aberta por mão que não as nossas. Nosso estímulo próprio é raquítico à beça; ele não chega ao estopim. Seria legal se o atingisse, para que tomássemos atitudes incomuns, mas ele sucumbe prematuramente.
A forma como meu âmago desemboca neste mundo virtual, de verdades postiças às quais nos agregamos, desperta-me dúvida. Será que é arte? Será que é mediocridade? Será que estou transportando com eficiência o mundo da ignorância ao cubículo da nossa sabedoria? Meu chão é de lamas traiçoeiras. Eu queria que meu eco me satisfizesse. Mas eu confesso depender de outros timbres, de outras dicções.

17 de junho de 2007

Docentes

Durante toda a vida acadêmica, sob um equívoco genérico, tende-se a pensar que o professor é o mais destro dentro de uma sala de aula crivada de alunos. No entanto, muitos pensamentos, que morrem por estar emudecidos, extravasam a capacidade dos mestres.
Seguindo as máximas da estirpe humana, o educador, como qualquer pessoa, é limitado. Se não no assunto que pulveriza a outras pessoas, em algum tema, indubitavelmente. Nenhuma pessoa, enfim, filosofa acerca dos pronunciamentos instantâneos que emana a um e a outro. As pessoas são condicionadas à gramática vigente e, independente de saber a etimologia, os significados intrínsecos das palavras, etc. se expressam. Isso é a prova de que se é muito vulnerável à cultura e muito abstraído do âmago.
O professor vai ao encontro do conteúdo a ser veiculado aos alunos, assimila-o e o contemporiza a didáticas inteligíveis. O processo é feito através da linha de raciocínio individual do profissional, a qual, várias vezes, é intransponível.
Nenhuma criatura possui o domínio supremo do que diz. Por um motivo filosófico: a cultura das formas de expressão é uma adaptação. A verdade indiscutível de tudo pertence à seção da nossa ignorância.

16 de junho de 2007

Juiz de Fora, 16 de junho de 2007

Gazeta Experimental
Acústico do Lobão no Cine-Theatro Central
Dez e cinco da noite. Transgredindo o clichê das aberturas megalômanas e tradicionais de shows, surge ao palco – low profile, clássico e por que não bonito – João Luis Woerdenbag Filho – o Lobão.
A música que abriu o show já alertou o público do comportamento do músico: ele tem uma necessidade – provavelmente nata – de gritar. A letra da canção se embaçou em meio à voz de Lobão e às performances musicais que inquietaram o chão do Cine-Theatro Central.
Pausa para um breve cumprimento ao público. Depois, uma seqüência ininterrupta de músicas. No repertório escolhido, sobressai a dicção dos arranjos e dos acordes e isso acaba por comprometer o talento poético do músico. Talento esse que está bem nítido em “A terrores noturnos minha alma se leva/ É um insight soturno, é o futuro passando”.
Havia umas trezentas pessoas no teatro. Apesar do público pequeno, a adrenalina entre os artistas e a platéia atingiu uma dimensão típica das apresentações superlotadas: a certo momento do show, todos os espectadores ficaram de pé e dançaram conforme a melodia frenética de Lobão.
Os ecos que acompanham todos que estiveram lá na última sexta, 15 de junho, entoam a doçura, a sabedoria, o talento e a eletricidade inerentes à fera do roque.

Cultura

Ivalda não contemporizou a nenhuma culturazinha. Antes de se adaptar à dicção das fêmeas, é uma criatura que se abdica dos pudores e neutraliza a proximidade com os homens e com as pessoas, em geral.
Ivalda não se acomoda às profissões que vigoram. O único talento que possui é o de dar destino às pessoas. Da última vez que o fez, sofreu com o suicídio em que culminou um de seus personagens.

Pesquisa sobre a Alopatia

A alopatia, em regra, é uma mímica toda especial do Acaso.

15 de junho de 2007

Jesus Cristo

Escrevi a biografia de Jesus Cristo, quando tentei lhe explicar a minha verdade. Quanto equívoco! A minha verdade só serve a mim; só me serve de conforto psicológico. Eu estava precipitada. Por isso, cri que lhe devia confessar. Eu te amo, mas não preciso passar um bisturi e esparramar-lhe todas as minhas intimidades.

12 de junho de 2007

Morte prematura

A educação com que cortejas um indivíduo que nunca viras antes é uma habilidade do teu sentimento de superioridade. Tu insistes em omitir tua condição animalesca, mas o teu comportamento classudo tem fôlego curto.

11 de junho de 2007

Cigana Soraya em "Dia dos Namorados"

Namorado convencional: ele vai chegar lhe dedicando um buquê de flores, um cartão com dizeres manjados e, como trecho de salvação, um versinho de Camões.
Namorado desligado: seu manequim é 34 e ele lhe dá uma calça tamanho 42. Não se ofenda! Nem apele a interpretações ultra-psicológicas: pô, ele me acha uma magrela. Ele queria que eu tivesse o quadril largo.
Namorado pseudo-desprendido: há um mês, ele lhe comprou uma lembrança; o papel de presente já está amassado e, para não se delatar um precavido invejável, ele pediu à mãe dele, à sua sogrinha que lhe fizesse um outro embrulho.
Observação: à hora em que ele for entregar-lhe o presente, dirá: eu tive que comprar de última hora. Portanto, fique à vontade se quiser trocar, certo?
Namorado psicótico: pede folga ao chefe, a fim de ter a tarde inteira para escolher o presente. E entra em depressão, ao chegar a casa e verificar que, num equívoco qualquer da vendedora, em vez da blusa branca com listras pretas e espessas em diagonal, veio uma blusa branca com listras pretas e delgadas em diagonal.
Namorado ciumento: apreça sapatos, lingeries, bolsa LV, óculos Armani, mas opta por uma caixa de bombons recheados, extremamente calóricos. Nada pode embelezar a fêmea dele, afinal.
Namorado carnívoro: passa num sexy shop não registrado e, depois de insistentes pedidos de desconto, leva um dado erótico e lhe exige as posições mais cansativas para a hora da cópula. Depois das sessões, sugiro que você faça um check up.
Namorado prestes a ser canonizado: ele lhe dá uma blusa gola alta. Depois, a muito custo, dá-lhe um selinho e fica com as bochechas enrubescidas. Despede-se da sogra e do sogro e ajuda a lavar algumas louças sem proprietários que estavam sobre a pia.

3 de junho de 2007

O Ciúme

ESTE É DEDICADO ÀS MULHERES
Você está bolando uma programação maravilhosa para extravasar com seu afim no sábado. Neste dia, perante um distúrbio qualquer da Metafísica, você acorda depressiva, frustrada com não se sabe o quê, extremamente introspectiva, enfim.
Passadas algumas horas da sua luz, você coloca suas mazelas dentro de um diagrama e cogita: eu descarto esse conjunto de intempéries, se fulaninho sair comigo e a gente eleger muita luxúria à nossa noite. (Observação: isso tudo é um discurso oriundo do Inconsciente, uma carta posta sobre a mesa da nossa percepção).
Daí, você envia a ele a proposta da saída - via mensagem de celular. Frações e mais frações de hora. De repente, o celular - sob um ataque epilético - anuncia a resposta do convite. Sem muitas delongas, ele afirma estar cansadíssimo.
Instantaneamente, surge o ciúme na sua entranha feminina. A sensação é a de derrota diante de uma disputa, em que sequer se avalia a natureza do (pseudo)ganhador. Este pode ser imaterial; pode representar uma mísera transgressão à rotina. Não existe publicidade alguma que convença o ciumento do equívoco de que, na maioria das vezes, ele se sustenta.
A mente tem uma tendência a se nutrir de ficção, por vezes. A sabedoria que se pode tirar disso é se satisfazer com as mentirinhas que vigoram nossa individualidade. O problema é que somos muito pouco sábios. Acabamos sucumbindo à solidão. Ao cadáver que se mantém ereto.