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30 de setembro de 2008

Por que a Rosa Salopé ganhará as eleições em Juiz de Fora?

Por Carolina Fellet
Perante a sociedade patriarcal em que vivemos, levar o gênero feminino ao poder soa extremamente estranho.
Portanto, Rosa Salopé chegará à Prefeitura devido a seu nível de testosterona no corpo. Caso contrário, se ela fosse franzina e falasse em tons agudos, isso não aconteceria.

27 de setembro de 2008

Carro forte

Por Carolina Fellet

Esqueça a bolsa com seus documentos
E seus pertences lá no bar.


Que tal seguir uma outra ideologia?

Abdicar-se do trabalho mecânico,
E aproveitar dessa sua temporada orgânica.
Porque o resto será transgressão.
E ninguém o perceberá.


Aproveite do decote,
Da carne firme, mas sem vulgarizar.


Use da inteligência
Para destrinchar o óbvio.
Questionar, questionar.
Até chegar a Deus.


E depois de ganhar o Mundo,
Pode voltar para o seu sigilo.

26 de setembro de 2008

Em busca de quê?

Por Carolina Fellet


Dentre as químicas permitidas,
Descobri o antialérgico.
Para aquietar minhas convulsões marítimas.


Nesse dia, não o tinha tomado.
Dentro de mim: pá virada.


Sob os olhos envidraçados da lotação,
Às onze da noite,
Vi um cara de meia-idade tragando um Carlton,
No quinto andar do prédio onde mora.

Imediatamente,
Fiz a estatística entre nossos desesperos.

E:
O meu, eu controlo com o efeito do livro do Osho,
E através de uma série ininterrupta de respiração premeditada.
E ele, coitado, é devoto do inanimado.
Naquele cilindro fumegante, ele deposita a fé, o orçamento, o passatempo, a angústia.


Enquanto eu ensaio a essência a acreditar nos meus hábitos,
Ele terceiriza a paz a cada tragada.

22 de setembro de 2008

Acidente Doméstico


por Carolina Fellet


Acabaram-se as notícias do telejornal.
Aí,
Os mais novos começaram a implicar
Com o velho da família.

Porque este fora sempre um palhaço,
Que chegava com mil e uma novidades no bolso da calça.
De repente,
O velho sentiu-se fatigado.
E aquietou-se.

Véi mal-humorado. PAFT.
Prepotente. PAFT.
Sarcástico. PAFT.
Vou sair de casa. PAFT.
Entoaram os familiares.

Os egos sucumbiram a ampolas dos piores instintos.
Gritos.
Gemidos.
Choros.
Grunhidos.
Anarquias.

No velório desse movimento brusco,
Uns se enfurnaram no quarto e acabaram dormindo.
Outros assistiram à TV e se olharam de soslaio.
E o oxigênio veio-lhes com componentes do constrangimento.

18 de setembro de 2008

O futuro das macumbas

por Carolina Fellet


Esta espécie ofegante e
Toda a versatilidade de Vida,
Vinda das mãos da Onipresença,
Render-se-ão aos formatos –
Ainda inenarráveis –
Da Tecnologia.

E aí:
Adeus pato,
Gato
Rato
Galinha
Vaca
Coel
ho
Leopardo

Tigre
Reinos animal e vegetal.

Com que itens, portanto, serão feitas as macumbas?
Com lanche do Mc Donald´s®

17 de setembro de 2008

E a Vida?


por Carolina Fellet


A Vida é a gravidade que o(a) leva de cara ao chão. E ainda o(a) olha com indiferença depois, diante dos ferimentos.


Seu Juraci recebeu o resultado do exame de sangue.
Quis evitar as verdades,
Mas a Vida extravasa qualquer barreira física:
As frestas.
Os ônibus.
Todo o hermeticamente fechado.
E atinge sua presa,
Cumprindo-se (a Vida).

Quem está lendo –
Às escondidas –
Um livro do Índex,
É vitimado pela Vida.


A Vida é soberba pura.

Porque, querendo ou não querendo,
Ela vem e age
Faz e acontece
Desmorona
Eleva a temperatura
Distrai-se conosco.


Carne nova da criancinha.
Seios consistentes da gostosa.
Pele mole, pelanca, velhinha.
Colágeno...


15 de setembro de 2008

Catarse


Por Carolina Fellet


A MELHOR DELAS (CATARSE) É INGERIR UMA LATA DE COCA-COLA®




Enquanto não conheço o outro lado
E desprezo minha vocação à mediunidade,
Permaneço envolvida por essa película temperamental.

Hoje violaram as cláusulas do verão.
O céu desceu ao chão,
Reduzindo a eternidade.


Há umas tapeações a se fazer
E,
Nesse ínterim,
A Vida – a legítima –
Vai se consumindo
Acreditando que eu esteja distraída.


Mas eu a olho
Nem que seja de soslaio.
E fico humilhada,
Aniquilada,
Perante a aparência blasé que a Vida carrega.

Resolvo uns trabalhos no papel,
Outros invisíveis,
Embora vivos no cotidiano ciberespacial.


E deus imaterial me vem à cabeça
Já que o mundo hoje conta com
As existências sem semblante para funcionar:
Portão eletrônico,
Cancela automática,
Vírus online,
Conta digital.

12 de setembro de 2008

Montanha e Mar

Por Carolina Fellet

Sortudos são os moradores da Atlântica
Ou de qualquer endereço que desemboca no mar.


Eu vivo afundada sob montanhas,
Diante de um cabresto (geográfico) generalizado.


Então, restou-me
Optar por sensações que equivalem à brisa marítima:
o namorado,
amigos desajustados,
tartaruga de aquário e seu metabolismo de vaca.


Regar as plantas para que suba um ar fresquinho
Um caderninho

Para conter as convulsões das minhas ondas cerebrais.

10 de setembro de 2008

A 2

Por Carolina Fellet

Moradas erguidas,
Casais subnutridos de si.
E, por isso,
Encaracolados um no outro.
Inércia de uma avenida.


A primeira marcha do ônibus
É que movimenta a avenida.
Onde uma menina está parada –
À mercê dos trâmites da própria libido.


Da menina vem vindo o namorado
Trajando um casaco pós-moderno,
Cujos tons se confundem em misturas desbotadas.


O resto se embaça
Porque o ônibus já está longe.
Desfigurando os futuros.
Assegurando transgressão à cabeça.

4 de setembro de 2008

Anárquico-manifesto às patricinhas

Por Carolina Fellet

Quem mandou você escolher um mr. Testosterona?
Agora fica aí,
Amontoada junto a sua megalomania.


Sozinha,
Empedernida sob traços desembasados
E inconsistentes de um estilista ovacionado pela mídia.


Perdida sob o pó da maquiagem,
Vaidade.

Não.

A angústia,

Seu legítimo salto.

Você é tão bonita.
Gostosinha.
Tem até um timbre legal.
Mas não articula bem suas idéias.

Você optou pelos códigos mudos:
Bolsa, roupa, brinco, cores e tons, traços e texturas.
Não sabe concatenar um texto interessante.


E aí,
Todos te usam.
E o “te usar” é apenas um sintoma
Do desprezo que a rodeia
E a norteia
Com uma dieta de melancolia.


Coma
Coma muita melancolia
Até chegar a uma rua
Onde rodas de samba,
Diálogos improvisados
Façam você se atentar para valores mais espessos.