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8 de setembro de 2007

Vã Filosofia


Após um extenso e cansativo monólogo didático sobre como acontece a gestação nos mamíferos, Neide, professora de Biologia, aponta a um aluno da classe: Waltinho, com base na aula de hoje, você poderia me dizer quando é que um ser humano está pronto para nascer? Enciclopédico, com a memória seletiva condicionada aos parâmetros mais rígidos para ser um intelectual bem sucedido, fez uma perífrase irretocável ao processo ensinado pela mestra. Outras argüições foram feitas; respostas inconsistentes, respostas eloqüentes e uma argumentação memorável.
Tânia, que fora criada à base da liberdade para desenvolver as próprias inteligências, pediu à professora que repetisse a pergunta. Neide, educadamente, cumpriu o pedido. A garota posicionou a voz e concatenou, como num ensaio, as idéias que iria manifestar. Olha, de acordo com meu acervo de informação e percepção, creio que um ser humano está pronto para nascer quando ele se reconhece um ignorante de si mesmo, e mais, um ignorante do Mundo. Enquanto a gente se satisfizer com as cartas que as Ciências nos dão, indubitavelmente, a gente vai deixar de evoluir; a gente vai continuar lustrando as sabedorias raquíticas que compõem os adventos criados pelo Homem. Professora, tenho enorme respeito pela sua profissão, de verdade, mas o homem se mantém como espectador dos movimentos estéticos da vida. Tudo que nos chega pertence ao estopim das manifestações da Vida, e a gente desenvolve uma retórica (acho que a gente já nasce com ela), na qual nós falamos e nós mesmos ouvimos e entramos em um processo de concordância extremamente prático. E, no fim, ótimas noites de sono. Mente leve.
A turma estava entediada. A professora não conseguiu acompanhar a transgressão daquele discurso. O calendário continuou o mesmo. Os céus não se destoaram dos céus mais velhos. Algumas pessoas morreram, mas ninguém deixou de atingir orgasmos por isso. A vida vai se banalizando... Por isso, tantas filosofias vãs.

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