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16 de junho de 2008

Ave
Por Carolina Fellet


Num dia casual, W. Halfeld – neste instante livre de nome e de qualquer status que repercuta no mundo material – perde-se no tempo do banho.
Aproveita da oportunidade de reclusão para lavar os azulejos que estão opacos devido à indiferença e voar – sob as asas invisíveis da consciência humana – ao mundo óbvio e incompreensível em que vivemos. Óbvio porque toda a vitalidade chega-nos inteligível aos cinco sentidos, e incompreensível já que nenhum ser humano é capaz de esclarecer os bastidores da vida.
Depois de recolher suas asas e voltar a sentir a temperatura da água, a qual se estreita feito filetes de chuva biônica – modelada pelos parâmetros do chuveiro, W. Halfeld não se identifica com o bípede ereto e nu, cuja existência parece reduzir-se a corpo, àquele instante. E, de repente, vê-se de fora, conforme um animal irracional por cujos corpo e essência transita a vida, sem que o bicho se atente a ela.
Nessa perplexidade de reduzir-se à função de vegetal é que Deus está alojado. Como outros efeitos sem corpo que refletem absurdamente no dia-a-dia da nossa química.

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