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17 de agosto de 2009

A cárie de Marilda

Por Carolina Fellet
Marilda cuida com compulsão dos próprios dentes. De seis em seis meses ela vai ao dentista com a mísera intenção de aplicar flúor e fazer uma limpeza bucal com direito a motorzinho.
Desta vez, a partir de uma olhada cuidadosa, o dentista detectou uma pequena cárie no penúltimo dente do lado esquerdo da boca da paciente. Ela, inconformada, acionou o superego, ou seja, a parte exigentíssima da psique, para listar as prováveis causas daquela obstrução, mas não as encontrou.
...
Fatigada de tanta indignação, Marilda recorre a uma rota alternativa e atribui a situação à metafísica, afinal, a mulher estava quieta e inofensiva cumprindo seu itinerário na Vida e, subitamente, o Cosmo a invade através da erosão dentária.
“Que falta de respeito! A metafísica deveria contentar-se com seu voyeurismo: ela já me conhece nua, já é ciente dos meus prazeres e frustrações, sabe exatamente dos meus pensamentos mais sigilosos. Não me conformo. Não mesmo” – reflete Marilda.

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