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3 de agosto de 2010

O ipê

por carolina fellet

Sabe aqueles dias em que, numa súbita reflexão sobre a vida, a gente diagnostica um vazio total; nada de perspectivas? E sair da inércia é tão arriscado que é preferível permanecer onde está, porque qualquer movimento pode ser letal?

Transitar pela casa de um lado a outro apenas cumprindo a natureza humana. Essa é a ação que se espera dos melancólicos, os quais se dividem em dois grupos: os melancólicos-burros e os melancólicos-inteligentes.

Os primeiros se matam precocemente; sem antes cogitar a possibilidade – positiva ou negativa – de vida pós-túmulo. Já os últimos aproveitam dos recursos de que dispõem desde o nascimento para transformar as percepções em algum feito.

Rejane é uma melancólica-inteligente.

Por isso, em um de seus acessos de melancolia, ela foi para a sacada de sua casa para observar – entre transeuntes e automóveis – o ânimo da natureza. Olhou primeiro o céu, depois uns arbustos que formavam uma cerca natural em toda a extensão da rua. Por fim, seu campo visual foi invadido por um ipê amarelo e recém-nascido num quadrado de terra em meio à calçada para pedestres.

A imposição daquela vida ali no meio-fio transportou Rejane a 360º de horizonte.

...

Nunca mais ela se esqueceu do ipê de sua rua.

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