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12 de agosto de 2010

Tatuagem e piercing: novas perspectivas

por Carolina Fellet

Quando a pauta desta matéria foi pensada, sua principal intenção era associar as intervenções estéticas em questão ao fetichismo. Afinal, o próprio habitat das tattoos e dos piercings – a pele – é cheio de regiões erógenas.

No entanto, o foco pretendido cedeu espaço a outras interpretações a essas alterações estéticas.

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Existem muitos registros que relacionam as primeiras tatuagens, feitas entre 4000 e 2000 a.C. no Egito, e os primeiros piercings, utilizados pelos esquimós no Alaska, a, respectivamente, rituais religiosos e demarcação da transição para o mundo adulto.

Na segunda metade do século XIX, o Governo inglês utilizou a tatuagem como forma de identificação de criminosos. Posteriormente, no Brasil, a partir de 1960, os estabelecimentos em que as tatuagens eram feitas situavam-se nas imediações dos portos, onde funcionava também a zona boêmia. Não tardou para que as prostitutas se rendessem aos adereços cravados na própria pele. Por esses motivos, principalmente, é que a tatuagem, por muito tempo, esteve associada à marginalidade.

Atualmente, alterações no corpo são cada vez mais comuns; ora para homogeneizar as pessoas – quase todos querem estar magros e não medem consequências para chegar às medidas desejadas –, ora para diferenciá-las, através de cortes e tintura de cabelo, de tatuagens e perfurações.

O estudante, DJ e pretenso funcionário público Rafael Kegele Lignani, 23 anos, fez seu primeiro piercing aos 18, assim que saiu do colégio ortodoxo onde estudava. “Piercing dentro daquela escola era sinônimo de problemas homéricos”. A primeira tatuagem ele fez por volta dos 20 anos.

Hoje em dia, as perfurações e tattoos de Lignani formam uma família: são dois alargadores – um em cada orelha; um piercing na sobrancelha e outro no queixo. Além de três tatuagens: uma no ombro e mais duas – uma em cada panturrilha.

O porquê dessas intervenções estéticas o jovem atribui, genericamente, ao charme que lhes é natural, mas faz algumas restrições: “uma tatuagem de uma índia ou a de um rosto mal-executado não podem ser incluídas nessa categoria de intervenções extremamente charmosas”.

Com a jornalista Vivian Oliveira Ribeiro, 24, a primeira alteração no próprio corpo aconteceu mais cedo; quando ela tinha 16 anos. “Juntei dinheiro e paguei (um piercing no umbigo). Tudo com o consentimento da minha mãe”. Depois, Vivian fez outros furos nas orelhas e um no nariz. A primeira tatuagem ela fez aos 19, também sob aprovação dos pais.

No seu atual balanço de perfurações e desenhos, encontram-se três tatuagens e três piercings. Cada um deles representa para ela um gesto de vaidade.

Também jornalista, Roberta Barreto, 24, colocou o primeiro piercing muito precocemente; aos 13 anos. O motivo? Um pacto com as colegas da época – que também se submeteram a perfurações – cujo lema era não se afastarem umas das outras.

Aos 21 anos, Roberta tatuou no pé a frase “Papai, obrigada!”, em homenagem a seu falecido e saudoso pai. Hoje, ela já tem uma pequena coleção de alterações feitas na própria pele.

Para ela, tatuagem é muito mais que modismo e ato de vaidade. “Não creio que haja tantas pessoas que marcam o corpo apenas para parecer moderno”.

O que diz o especialista

Segundo o tatuador Hugo de Oliveira Lemos, 24, tatuar é “traduzir a ideia de uma pessoa para um desenho no corpo”, o que ele classifica como expressão artística. O significado dado a esta cabe ao tatuado, que, em muitos casos, escolhe o desenho a ser feito no próprio corpo sob influência da mídia – em especial da televisão – e da situação por que está passando.

Quem não se lembra da tatuagem que a atriz Deborah Secco fez em homenagem ao namorado da época Falcão? Depois de aparecer no Fantástico falando sobre o gesto de amor, muitas “deboras” fizeram tattoos com os nomes de seus amados em diferentes partes do corpo.

De acordo com Hugo, os preços das tatuagens variam. Levam-se em conta o tamanho, o local, o material usado. O preço mínimo cobrado por um profissional que utiliza produtos de qualidade é em torno de R$60,00.

E você, já decidiu a parte do corpo que vai abrigar sua tattoo?

4 comentários:

Tatu Lemos disse...

Oi Carol, muito bom o texto, parabéns!

Unknown disse...

Seu texto prova que temos jornalistas extremamente competentes para trabalhar nas mais prazerosas áreas do jornalismo - o jornalismo cultural e o comportamental. E o que vemos por aí quando folheamos nossos jornais diários? Textos mal escritos, mal apurados e pouco interessantes.
Continue assim, Carol. Seja no jornalismo, seja em divagações, seus textos são sempre uma delícia de se ler - seu trabalho é de uma competência indiscutível.

GCGoulart disse...

cara eu não esperava achar o que eu achei no seu texto. era algo, aliás É, que eu penso sobre o assunto: coisas postas no corpo (materiais) e pinturas (tatuagens) só tem sentido em algumas culturas. Não na nossa, ocidental, capitalista e industrial. Deslocar isso pra nossos corpos além de tirar o significado do significante, forma uma simulação de significação, o que é mais grave! Vc foi no PONTO e puxou lá atrás onde isso era usado com um propósito. Como em cultura indígenas que ainda hoje existe em nosso país. Sem mais: ótimo, lúcido!
PS.: eu não coloco isso em lugar nenhum e nem gosto de uma menina "pintada" ou com uma argola de boi no nariz. Sou tradicional.

Beijos e parabéns!

Anônimo disse...

Ótimo texto, porém uma tatuagem feita por R$60,00 só vai lhe dar uma bela infecção ou doença.

Cuidado, pechinchar tatuagem é algo que ninguém deve fazer, junte 1 dinheirinho, faça com carinho, estude a onde fazer pois uma vez feito, não tem volta.

Boa sorte com sua tatuagem, cuide dela, ela é que nem 1 filho, não descuide-a para que assim ela sempre esteja bonita e iluminada.