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10 de dezembro de 2006

Grande Circo

Datas imprevisíveis
Artista: Mariana F.
Entrada franca

Mariana alude as pessoas mais observadoras à ingenuidade com que se apresentavam os mágicos de muito antigamente. Da época em que os avós iam ao circo com o propósito principal de ver truques tão bem feitos que esbarravam nos segmentos da realidade.
A família está dentro de casa, discutindo para que endereço vai se mudar. Todos opinam. Querem fidelidade à casa que viram na foto. Sem uma nesga de diferença. Pedro Paulo faz questão de que seu quarto seja de frente para a rua.
Robson, o patriarca, respeita o empenho dos filhos, mas já não possui tanto empenho com as coisas do Mundo. Há bem pouco, perdera o irmão com quem tinha mais afinidade. À mesa, eles festejam uma cobiça. Fogos de Copacabana. Barulho. Emoção. Empenho. Risos. Ao silenciar o assunto, parece que as pretensões não sairão do status de pretensões. Mas, acaba que tudo acontece. A dimensão dos planos é imensurável. A realidade é fúnebre como uma obra inacabada, embora aproveitada para bandinhas alternativas se apresentarem a preços de bananas no Brasil. Que sonhem, portanto a família de Mariana F.
O assunto segue um nexo. A evolução apresentou ao homem a coesão das coisas. Há, obviamente, as mentes vitimadas pelos distúrbios. Daí, pensam sem seqüência.
Ai. Não me interessa as porcentagens da Ciência, da Medicina. Muito me interessa a poesia que se dissimula em tudo que é permeável aos sentidos.
Mariana F., sem consciência disto, retira de uma cartola implícita, palavras que destoam da expectativa dos seus convivas. O marido fala de economia e ela cita versinhos da época em que fazia a quarta-série. E ri sozinha. Diverte-se como um recém nascido que é o mel purinho de autenticidade.
Conto-lhe casos dentro do carro, ao som dos nossos ídolos da MPB. Ela parece estar concentrada em minha amostra de palavras em esteira. Quando cesso, ela me diz:
- Esse Chico Buarque é mesmo um gênio.
Ela nos ilude como um mágico. Todos os dias, posso ter um circo gratuito à disposição. Exatamente um circo. Itinerante. Espalhafatoso. Performático.
Preciso deixar-lhe um bilhete. Faço-o. Quando volto, na tentativa de um pronunciamento mudo, olho-a e ela sugere ter cumprido o que eu lhe havia pedido. De antemão, sorrio a ela.
Partimos para o diálogo dito. Ela me agradece por eu ter lavado as louças. E eu novamente a olho, encharcada da pureza. Da pureza que bafora dos desatentos e ingênuos.
Nenhum bilhete é urgente. Nenhuma burocracia é urgente. A morte até que é um pouquinho urgente, demanda agilidade, velocidade... Antes que a Natureza inicie seu jantar e nos sobre os ossos daquilo que um dia foi imensa dinâmica, imenso mundo.

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