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29 de janeiro de 2008

Certidão do Tempo


Em timbre consistente, indubitável:
Eu reconheço o Tempo como legítimo devido ao cumprimento exímio de suas atividades: ele se lembra do ciclo das garotinhas, da menopausa da vovozinha, da careca do baleiro, do menino banguelo, da decomposição da manga que sucumbiu à gravidade.
O Tempo é o funcionário-padrão, a utopia que não contemporiza às cobiças mesquinhas da Humanidade: enriquecer conforme um trabalho à revolução industrial pela visão de Chaplin e torcer a cara para o próprio passado, desfilando um carro recém emplacado.
Os soberbos são os mais medíocres porque desconhecem e/ou ignoram a submissão inquestionável ao tempo. Os soberbos religiosos elegem um horário a devotar a um Deus bonzinho, que mora em uma geografia remota, e fazem-Lhe pequenos cultos semanais que, depois de concluídos, cedem espaço a algumas pretensões psicológicas mais terráqueas e mais modernas. A devoção nunca cessa, por mais que se lhe tente escapar. A devoção tem muitas casas, um patrimônio incalcelável. Está na cobiça, na carência. Na imensa ignorância de não reconhecê-la o tempo todo.

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