por carolina fellet
Conforme vislumbrara, a vida não lhe estava fácil, porque a solidão – por mais que lhe trouxesse criatividade – a blindava contra desabafos, carícias e o próprio exercício do humano.
Por sorte, mantinha no apartamento onde morava a atmosfera que era dela. Os cômodos, os pertences, as comidas excediam a natureza de impessoalidade inerente a eles: tudo ali era uma extensão de Blima.
Chegar em casa todos os dias sem ter quem a aconchegasse era como se toda a natureza estivesse à mercê do nada; privada do sentido humano para recepcioná-la.
A situação se agravou e a moça solitária apelou a vizinhos e agendas antigas. Nessa busca, angariou alguns pares de ouvidos e de olhos e um pouco de atenção.
Todavia, como os donos desses materiais vitais possuíam aflições também, quase nada puderam fazer por Blima.
...
Um dia, enfurnada no laboratório das próprias químicas, ela atritou dois emplastos do corpo, reconheceu Deus dentro de si e alcançou o Supremo
Um comentário:
Gostei muito! Muitas vezes nos sentimos desta formae não conseguimos elaborar o que nos incomoda. Você conseguiu!! Parabéns
Sandra Santos
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