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27 de abril de 2006

As garçonetes que sabotaram meus jardins

Naquele sábado, decidi violentar a insipidez que estava vigente. A idéia de sair para extravasar chegou a mim como o efeito da anilina desvirginando a transparência da água. Abri o guarda-roupa para escolher uma estética que condissesse com meu âmago. Separei uma indumentária toda preta e uma gola branca "estilo década de 30" para fazer cintilar ainda mais a escuridão epidérmica. Respeitando o duo da minha existência, não pude deixar meu cerne à mercê da nudez: vesti-o de coragem. Afinal, demando coragem quando opto por sair sozinha.
Em meio ao carrossel de lugares - os quais se esbanjaram à mente - elegi um bar alternativo da cidade para, junto à noite, me esparramar. Meus incipientes momentos no lugar foram sublinhados por minha vassalagem à música: dancei até ficar anêmica. Subitamente, surgiu um indivíduo que se inclinou a mim. Foi um genuíno repentista. Atiçou, com suas palavras - que vinham de um túnel suave e macio - minha ilusão e minha fascinação. Sucumbi e o beijei. O sindicato da volúpia, instantaneamente, fez império em minha linfa.
Jamais pensei que aquela noite pudesse surtir tanto efeito.
O rapaz que rompeu minha solidão noturna era a pretensão máxima das garçonetes daquele pub. Elas, usando como bengala as próprias aspirações, sabotaram a fluidez de meus jardins intrínsecos. Impediram que eu cultivasse as flores - verbos intempestivos, que delineavam a fé em nova paixão. As mocinhas invalidaram meus instrumentos de jardinagem e carregaram a matéria viva que incumbia meus solos da vida. Fiquei sem jardim; com terras paradas.

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