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29 de abril de 2006

Vicissitudes

Ana estava quase certa (“quase certa” depois de não simplesmente descobrir, mas sentir a inconsistência da Vida!) de que qualquer etapa da consciência fica submetida a grandes vicissitudes. Mas naquela fase; naquele incipiente momento de 2006, as vicissitudes estavam se proliferando como as pestes históricas que dizimaram gentes e gentes.
Ana, 20 anos, com muito amor e poucos parceiros-transeuntes que interceptaram sua vida, era um termômetro cujo conteúdo desvairava-se às mais baixas áreas e aos mais altos terrenos. Ana acordava feliz e tirava o dia para o sexo incansável com a alegria impensada de se viver. Ana acordava enxergando o dia, ainda latente, como uma penitência a ser cumprida. Ana pensava em suicídio, pensava em se eternizar nos braços de um amor. Ana não pensava, sentia. Captava a emanação do mundo. E entristecia.
Aqueles passos lentos e ardidos do início de 2006 sopravam-lhe a necessidade de se morrer. De se “inconscientizar” integralmente do mundo. Ana estava à mercê de um sofrimento sem remetente. Sofrimento anônimo e potente, destruidor feito um sopro de gente naquela plantinha que Deus fez para fazer um contato lúdico com as criancinhas.
Por que a Vida insiste em tantas vidas frígidas? Vaidades de manter a estética ereta? E dissimular a morte? Mas a mutilação é íntegra. Não há o que tapear. Ana fincava suas esperanças na Morte. Porque a Vida era-lhe pesada demais. E sua alma tem potência de um etíope.

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