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17 de março de 2007

O outro

O Outro, numa relação (hipoteticamente promissora) de monogamia, dá uma consistência em prováveis hesitações. Nada é certeiro. Portanto, arquivamos outros indivíduos bem quistos em nossos acervos de maridinhos e esposinhas.
(Um filósofo de 2158 disse isso a um Futuro que não me pertencerá. Achei interessante e decidi introduzir esse escrito com este pensamento que segue).
Iramaia, há uns meses que se desviaram das rédeas de minha contabilidade, relaciona-se com Olavo. Este permanece ingênuo perante as metáforas de que tanto ela gosta de falar. Talvez seja um jeito de a moça se proteger da neurastenia do Mundo. Fala doce, cujas ferraduras aludem os outros à sensação mais farejada por qualquer criatura.
Com o carinho de um solitário que faz jogos lúdicos e minuciosos com a existência, ela se aquieta no relacionamento. Ainda que sofra, ainda que sinta a necessidade de um aconchego inumano, prevalece contida, enclausurada em seus próprios pensares. Nada, jamais, poderá servir de ração a minhas aptidões. Fala Iramaia; remetente: inconsciente; destinatário: distinção da consciência.
Iramaia vive em um estoque obscuro, em que seu maquinário não cessa trabalhar. O labor pende de um súbito e fugaz movimento ao tédio cego de possibilidades. Dizem, nessas cirandas que peregrinam pelo calçadão das cidades pequenas, que todas as pessoas, numa fase xis da vida, passam por um período negro. E nesse negrume, não existem estrelas, não existe a lua. O único sentido válido é o que observa a negritude.
O namoro, como todos os naipes do Relacionamento, é uma emenda à vida da garota. Um enxerto que lhe garante, indubitavelmente, tempos voluptuosos, tempos de plenitude dos sentidos e intempéries. Sofrimento. Sofrimento oriundo de temores. Temores todos vãos. Mesmo que a vida se desfaleça, certamente, ter-se-á que a suportar. É tudo outorgado. É tudo força clandestina e soberba como a empáfia dos que negam a Paternidade.

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