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13 de novembro de 2009

Chuva, funk, suor

por carolina fellet

É preciso mudar de estação. Como é!
Tem tanto literato que insiste numa mesma temática e, por isso, perde muito do movimento da Vida. Perde nascimento da noite. Metafísica envolvida na gargalhada. Um voyeurismo. Perde um beijo, uma dança-catarse, uma boa balada.
...
Ema e Samuca. Casamento de quatro anos. Ainda que o balanço final da relação deixe boiar sobre o líquido da consciência boas (ou ótimas?) memórias, ambos ficaram desgastados: esgotaram-se empolgação, lascívia, diálogo e expectativas. Motivados pela natureza da paixão e da covardia, Samuca e Ema pelejaram várias reconciliações. Empreitadas fracassadas. No entanto, sob um súbito flash de sensatez, decidiram acabar com o casamento e ser felizes.
Na última quinta-feira, Ema, recatada por DNA, esbaldou-se ao som do MC Marcinho no Privilège*. Antes de entrar na boate, a chuva competia com o vento para se manifestar à população de Juiz de Fora, sua cidade querida. O vestidinho azul, o cabelo ajeitado e a maquiagem foram sabotados pela convulsão climática. Mas o pique para a noite manteve-se inteiro, inviolável.
Quem conhece Ema do centro espírita, do curso de inglês, dos sorrisos dóceis e do ponto de ônibus, não a identificaria naquela noite. Um acesso de adrenalina a enlaçou. Foi tão fatal quanto a machadada da morte. Só que o golpe lhe escorria pelo corpo através de populações e populações de suor. Era a vida. Era a vida muito em dia com Ema.


*Privilège é uma casa noturna de Juiz de Fora

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