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13 de abril de 2010

Biópsia, eletro e afins

por carolina fellet

Para a medicina moderna, a biópsia é como o deus todo-poderoso que decide o destino das almas: foi bonzinho e pagou impostos, vai para o céu; foi mauzinho e não cedeu o assento para o velhinho no ônibus, vai para o inferno.
Se se der um espirro, imediatamente, o doutô lhe falará: “vou recolher esse material e enviá-lo à biópsia”.
Independente de o resultado ser bom ou ruim, o paciente se sente um tanto quanto glamourizado por ter feito esse exame. Dá status dizer aos amigos num evento social: “cara, fiz uma biópsia”. Equivale a dizer “tenho um Chrysler” a uma loira gostosa.
O mesmo acontece com o eletro.
Principalmente se um jovem o fizer. A adrenalina que gira em torno da feitura de um eletro vai além do frisson de se voar de asa-delta.
Caso um playboy queira contar vantagem a um amigo, nada mais eficaz que dizer a este: “manu, fiz um eletro”. Isso é mais potente que revelar ter comido 15 piriguetes no JF Folia.
Por fim, tem o tal do Rivotril® 2mg, né?!
Que convulsão marítima será essa que ninguém consegue conter por conta própria?
É preciso um freio biônico à tristeza e a sentimentos afins.
Antigamente, tristeza era matéria-prima indispensável aos poetas e pensadores.
Hoje ela é reprimida à beça.
Quanto protesto à Natureza.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo com muito do que você falou. Quando foi que nos tiraram o direito a tristesa? Parece que hoje ser triste é ser doente. Vá, tome umas pílulas que isso logo passa. Abraços!