por carolina fellet
Desde meus contatos incipientes com as letras, enxerguei nelas um atalho que me levava ao “extrapolar”.
De repente, conseguia extravasar através de cartinhas que escrevia à vovó e a toda família. Oficializaram-me como a escrevente dos “Fellet”. Até hoje sou eu quem assina cartões de aniversário, casamento e comemorações que acontecem no meu antro.
Fugindo desse percurso mais informal da escrita, quis fazer uma rota mais formal, a fim de participar de concursos literários e algumas publicações.
Isso, depois de ter sentido, subitamente, uma forte dor no peito no meio de uma madrugada. Porque, a partir desse episódio, comecei a vislumbrar eternidade na vida; o que me pareceu muito promissor para as letras.
Tudo me parecia incessante. Durante uns cinco anos, destrinchei as frutas, os céus, os sons e a metafísica, enfim.
Passada essa temporada, gradativamente, fui me cansando do tema.
Cheguei a pensar que ele era finito e que, portanto, meu grande prazer de escrever estava ameaçado.
Curiosamente, não tive medo.
Meus escritos ficaram meio ralos durante alguns meses, embora vivos.
Algum tempo se passou desse quase-coma e, involuntariamente, a matéria-prima dos meus textos alterou sua natureza.
Abdiquei-me de assuntos transcendentais – como a flor que abre mão de sê-lo e segue rumo à condição de fruto – e me inclinei ao saldo dos diálogos que mantenho com as pessoas e à observação e ao efeito das circunstâncias que interceptam meu dia a dia.
Escrever não seca!
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