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21 de abril de 2010

Escrever não seca

por carolina fellet
Desde meus contatos incipientes com as letras, enxerguei nelas um atalho que me levava ao “extrapolar”.
De repente, conseguia extravasar através de cartinhas que escrevia à vovó e a toda família. Oficializaram-me como a escrevente dos “Fellet”. Até hoje sou eu quem assina cartões de aniversário, casamento e comemorações que acontecem no meu antro.
Fugindo desse percurso mais informal da escrita, quis fazer uma rota mais formal, a fim de participar de concursos literários e algumas publicações.
Isso, depois de ter sentido, subitamente, uma forte dor no peito no meio de uma madrugada. Porque, a partir desse episódio, comecei a vislumbrar eternidade na vida; o que me pareceu muito promissor para as letras.
Tudo me parecia incessante. Durante uns cinco anos, destrinchei as frutas, os céus, os sons e a metafísica, enfim.
Passada essa temporada, gradativamente, fui me cansando do tema.
Cheguei a pensar que ele era finito e que, portanto, meu grande prazer de escrever estava ameaçado.
Curiosamente, não tive medo.
Meus escritos ficaram meio ralos durante alguns meses, embora vivos.
Algum tempo se passou desse quase-coma e, involuntariamente, a matéria-prima dos meus textos alterou sua natureza.
Abdiquei-me de assuntos transcendentais – como a flor que abre mão de sê-lo e segue rumo à condição de fruto – e me inclinei ao saldo dos diálogos que mantenho com as pessoas e à observação e ao efeito das circunstâncias que interceptam meu dia a dia.
Escrever não seca!

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