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1 de maio de 2006

Aleijo

Pâmela era a terceira filha do casal. O impacto da carapuça de pai e mãe não foi tão grande na época de seu nascimento. Antes dela já havia Marcelo e Tatiana.
Como quase tudo que ganha notoriedade à consciência, Pâmela não representava surpresas. A Vida – tão complexa e ininteligível – dilui-se no povoado do óbvio que prospera em nossa consciência. Até mesmo os exageros do Mundo culminam no comum.
Pâmela era tão comum como o processo diário e incansável do tingimento do céu. E a Vida era-lhe insípida como a beleza de lindas rosas que são belas devido a uma seta outorgada do Fatal.
“Existir o tempo todo”; “ser incessantemente um gerúndio” a esgotava, a maltratava.
A família da menina era acomodada, rica, bonita... ... ... Mas a caçula, desde que tomara consciência da própria existência, hesitava entre as seduções da felicidade e da infelicidade.
Pâmela peregrinava por transcendentes instantes de volúpia... Pâmela repousava sua alma – na íntegra – em horas de desespero.
No último final de semana de junho de 2006, sob a aura do povoado da Tristeza, Pâmela sucumbiu: matou-se com o lençol com que dividira a noite.
A família ficou mutilada. A alma lhes é um aleijo trabalhoso de ser carregado.

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