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5 de novembro de 2006

Desamor

É como se, ainda que eu não escolhesse o objeto de minha lascívia e de minha necessidade de apego, a vida me induzisse a desejá-la (o). É como se tudo de que tenho conhecimento me tornasse fiel, dependente de um grande desconhecido que me perturba com sua ausência. Sim, quando não se ama, sente-se uma ausência em irreparável vigília. O desamor é o incumbido-mor da melancolia que me abate. Quando, enfim, aproxima-se de mim um indivíduo amável, na mais léxica instância, a consciência faz uma nova leitura da tristeza. Numa demissão de pensamentos e de sensações, prevalece sempre a tristeza. Por quê? Meu incansável e humilde questionário desbotado pela eterna disposição: por que se sentir assim?
Tudo são tolices. Porque, felizmente, a memória reconhece e tatua a existência da morte. Caso pensasse com sustância, não reclamaria do afeto, do desafeto, da frustração amorosa. Meu pensar é penoso. Meu pensar é ignorante; colossalmente ignorante.
Pormenorizar o sofrimento não é sadio. Mas passa; passa como aquele amor perfeito e involuntariamente findado. Num átimo de instantes, acorda-se e o veneno do equívoco aparta-se do corpo, deixando-o permeável à capacidade de amar o novo.
Quero muito destacá-lo. Pô-lo vivo nas limitações de um advento humano. Quero muito estender os sentimentos ao governo da Escrita. Como a pretensão de cada artista com sua penitente arte.

Um comentário:

Hernany Tafuri disse...

Fingir

Finjo ser dia
a escura noite que se aproxima.
Finjo ser alegria
a enorme tristeza que me alucina.

Como nadar em esperança,
se tudo o que tenho é dor?
Manter passo firme, andança,
se não tenho o teu amor?

Viver sem ti, é duro -
olhar fixo no horizonte -
carregar um sentimento puro,
sem dividi-lo, não é o bastante.

Amo-te, a vida inteira
tento somente sonhar...
Mas, de qualquer maneira,
não consigo, volto a chorar.

Finjo ser linda
a angústia, firme tormento;
agrura que um dia finda,
quando voltares, por um momento