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25 de novembro de 2006

Atchim

Num súbito, involuntariamente, os sentidos concentram-se na geração e no parto instantâneos do espirro. ATCHIM. A-a-a-a-a-t-t-t-t... Ameaça que não se consolida em atitude. Às vezes, tudo indica que o espirro está por vir e nada. Como tardes cinzentas que iludem o astro rei; como o amor traiçoeiro; como um homem com estampa máscula e voz demasiadamente aguda.
O espirro caiu no antro da obviedade que abocanhou a vida. Tudo é tão evidente que não é curioso investigar as diversas ramificações do existir. Encharcam a consciência com alterações econômicas, com teorias políticas, com apologias, com objeções, com padrões, com anarquias. Pensar, nas atuais conjunturas, denota laboratório de neuroses. Hesitar perante os bastidores de tudo que fica em vigília das existências – cujas conseqüências são nosso único acesso às vidas – é uma prática que muda nossas águas interioranas. Tudo se aglomera na Cohab dos Mistérios.
O ato de espirrar é um mandamento neonazista, afinal, intempestivamente, torna-se fantoche de uma ação que vem de forma outorgada. Que deus fica por trás desse empreendimento pleno de soberba? Quantos deuses são indiferentes às aptidões alheias.
Todas as coisas que desempenham função de ração aos sentidos e ao sentimentalismo são pretexto à arte. A arte bem lapidada possui considerável quantidade de remetentes na ignorância humana.
A destreza inerente ao espirro compõe a grande alquimia da minha tolice. Eu sou tola de mim mesma. As mais belas paisagens o são. O magnífico vôo de um pássaro o é. Tudo são tolices.

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