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19 de janeiro de 2007

Cacoetes da classe média

Carina é da classe média. Aos vinte e sete anos, se não fosse pelo próprio bem-estar, poderia, sem pudores e/ou temores, abdicar da carreira profissional.
O dinheiro tapeia (aos pensadorezinhos) os vexames que o povão cru (não o travestido de paetês secos e Diesel) poderia causar. O dinheiro possui um discurso implícito que diz: Ou! Eu sou vulgar, eu exponho toda a minha feira em troca de uma volúpia instantânea e fugaz, eu abordo as mulheres como o barulho dos répteis que irrita os mamíferos, eu, com minhas garras – prendo "aqueles bracinhos delgados daquela menininha". Quero me excitar. Nesta noite, quero meu pau duro.
Ela ficou aos cantos. Sua estampa em nada condizia com as vestimentas indígenas, embora de um momento histórico “ultra-civilizado”. Dançou. Até dançou, como uma devoção à profundeza e ao divino que compõem qualquer tipo de música. Mas, à pista, de forma meio induzida, observou o comportamento curioso dos filhos de pais que fazem questão de um complexo estético todo nos trinques (carro presunçoso, roupas com etiquetas reluzentes, bolsas rotuladas de boa reputação... deselegância para a lida com outrem). A soberba tem um componente imprescindível: o de que tudo é permitido e soa até bonito, desde que se adquira ou se herde um status respeitável.
Cansou-se daquela música sem movimentos, que se assemelha a um incipiente aprendiz de piano que insiste pressionar uma, duas ou três teclas do instrumento. Foi à área verde da boate. Olhou e, antes que visse profundamente as coisas, pensou... Abismou-se. Viu um homem servindo de muro a uma mulher a qual estava de costas, com as nádegas beijando-lhe o falo. OK. Carina olhou ao outro lado e, quando se focou novamente no casal, viu as mãos dele manipulando a genitália dela. Excitante. Voluptuoso. Mas, ao reservado, com a intimidade entre dois amantes e uma aura sigilosa de um incenso, uma música, uns quadros acoplados à parede.
Os cacoetes da classe média estão tão berrantes. Sei lá, é pretensão demais afirmar o que o outro quis dizer com o décimo verso da terceira estrofe do poema da página dezessete... Cazuza, de fato, a burguesia fede.

Um comentário:

Anônimo disse...

nussa fia, muito bao esse hein? eu gosto de enxertos narrando o cotidiano de pessoas comuns, mas quando sao visualizadas em zoom, revelam-se cheio das peculiaridades... hehe
to pensando em voltar com blogagens... postar bebado eh o q ha! uahahahau
bj