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28 de janeiro de 2007

Templo dos sábados noturnos

Na sexta-feira, Berenice e Silvana combinaram de ir ao bar mais interessante da cidade. Elas estavam cansadas de sair para extravasar e, banhadas em arrependimentos, voltar para casa entediadas, perplexas, insossas; isso tudo devido ao comportamento da juventude fresquinha, que acabou de completar dezoito anos e iniciou o processo de freqüência a lugares que só abrem portas à maioridade.
Sábado iniciou-se sereno. Nada de enormes empolgações, paetês e indumentárias especiais. Nada de frenesi. Calmaria que emana da faxina dos conventos. Lavação de pecinhas miúdas de roupas, arrumação de armário, “isto serve, aquilo é para doação”. Meninas, venham lanchar. Berenice e Silvana são irmãs.
Silvana deu um desfecho à arrumação do quarto. Berenice, ainda aos pingos, saía do banho e velozmente descia os degraus a caminho da copa; provavelmente estava ávida por uma iguaria que sua mãe, certeiramente, preparava-lhe aos finais de semana. Estiveram à mesa por bastante tempo. Ainda que mantivessem o hábito de diariamente se reunir nas horas da refeição, de segunda a sexta era tudo muito prático e rápido, talvez estressante. Aos sábados, aos domingos havia uma extensão à hora de alimentar-se. Fazia-se um resumo dos acontecimentos mais protuberantes da semana... Cada um tinha seu espaço a contar o inusitado, o engraçado. Riam-se. Chegavam ao estopim dos sons humanos e depois, quando todos, parece que ensaiados, decidiam brecar a comilança, o silêncio tornava-se general. Daí, todos saíam da mesa. Silvana, porém, ficava para ajudar sua mãezinha. Tudo OK, louças lavadas, mesa desnuda, chão livre de farelos, a garota subia e aí sim a esteira de entusiasmo para sair se lhe esboçava.
Hoje vou com meu vestido roxo, estilo “antigamente, bem antigamente”, no tempo em que a vovó paquerava outro rapaz que não era o vovô. Essas pulseiras e, para não me exceder na estética, colocarei esses brinquinhos discretíssimos. Banho. Secador. Maquiagem. Roupa. Sandália (fiz as unhas hoje). Creme nas partes expostas do corpo. Perfume. Perfume. Perfume. Vou aproveitar esta semana, a Cenilda disse que tudo da Natura está em promoção. Economia. Que felicidade!
-Berenice, vamos?
-Arrã. Estou lhe esperando já. Só vou acabar de fumar esse cigarrinho.
-OK.
Pegaram o carro. Foram à saída da cidade, lugar onde ficava o pub. Entraram, felizmente, conforme as aptidões delas, o lugar não estava empanturrado de gente. A taxa de entrada estava meio elevada. O horário eleito por elas foi perfeito; em muito breve, a banda começou a tocar. Nostalgia total. Músicas que atiçavam o âmago dos âmagos das duas. Felicidade súbita. Espectro de alegria. Muitas em duas. Dançaram com demasia.
Decidiram ir à varandinha porque o espaço que fazia arredor com o palco emanava um bafo quente e insuportável. Beberam água, cerveja, remelexos mil, mas sutis. De repente, um rapaz alto, largo (isto, devido a esforços antinaturais que se conseguem, através dessas dependências cheias de equipamentos de ferro; equipamentos esses que se parecem com alguma eficiência ao mal em épocas de guerras explícitas). As irmãs olharam e olharam e olharam; perscrutaram, enfim, o monumento (não da metáfora bonita, mas da dimensão colossal que evapora dessa palavrinha de mil destinos). Uma delas – já perdi a noção de quem é quem – disse à outra que o colosso era uma publicidade a uma dessas academias que, presunçosas como deuses responsáveis pelas mutações dos vitais, transformam as estampas dos indivíduos.
Quanta facilidade de se esparramar na vida dos outros. Mas, os sentidos sempre estão em alerta total. Os sentidos têm o Mundo em alerta. Fazer o quê?

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