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29 de janeiro de 2007

Evocação à concha

Há algo que a alude às unhas. Ana Maria, quando criança, quando jovem – ainda que muito inclinada às próprias bússolas de volúpia – inquietava-se toda perante o poder imperscrutável do Universo. Atualmente, aos sessenta e três anos, prevalece, embora branda, a barulhenta dúvida sobre a síntese de qualquer manifestação vital.
A concha que está sobre sua mão possui três tons que compõem um efeito degrade. Todas as coisas possuem tantos efeitos. Qualquer coisa, melhor dizendo, que se torna incumbida do Mundo, é vitimada por tanta beleza ou por tanto desastre. Não se pode ousar entender. Pira-se.
Há perfeitas linhas paralelas que revestem toda a superfície deste ser bruto que se aconchega aos mares. As fachadas das casas mais modernas, numa mímica inconsciente, reproduzem os relevos dessas habitantes oceânicas. Existe uma temperatura toda dela. Num instante em que se apóia a concha sobre um dos braços, sente-se a diferença de realidade. Uma existência é imiscível à outra. A sisudez de ambas é uma etiqueta que as acompanha desde a nascença.
Que experimento mirabolante dos deuses. Há um côncavo com utilidades múltiplas, como o orifício trivial para capturar os zunidos, os sons clássicos, os gozos, os gemidos de quem agoniza. As conchas em seu nicho silencioso, fúnebres como o impacto da morte no corpo atingido. As gentes em seus nichos, mascaradas com a estética em que culmina cada sentimento. E é tudo origem clandestina a um mesmo destino.

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