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16 de fevereiro de 2007

Carnaval 2007

Nunca concebi aqueles carnavais de que tanto falavam meus avós e até mesmo meus pais. Será que os tempos eram tão diferentes destas temporadas entediantes? As lindas marchinhas salvavam uma existência pelo menos até o final do respectivo ano? O lança perfume, que se acumulava na composição dos ares, aliviava os indivíduos da Melancolia? Os Coquetéis tinham efeito prolongado?
Como os ateus tão presunçosos quanto os fanáticos, descreio nos milagres dos antigos carnavais. Acho que tudo isso é oriundo da grande farsa do “Era melhor porque era antigamente”. Antigamente traz uma noção de cultura erudita, elaboração minuciosa das civilizações greco-romanas. O cume da perfeição, ou da proximidade a ela, pertence ao agorinha, àquele serzinho que acabou de berrar ao Mundo. Bandeira ascendida à vida.
Aproveito, com costume, como quem faz um jejum anual, a mudez do carnaval para atinar à minha posição na Existência. Reparo como foram as manifestações sociais, culturais, sentimentais. Pego meus sentidos e os trato como Playmobil. Uma lascívia abre uma fresta a uma frustração. Daí, nasce um enredo. Meu brinquedo é o desabafo.
Comemorar os bustos fartos, explícitos e lustrados com óleos e postos na feira. Sem preço. Quase gratuitos como os frutos. Embora sem a castidade da ignorância de ser um fruto. Comemorar os bumbuns, incrementados com pecinhas pequenas de pano. Comemorar a falta de sobriedade. Comemorar o xixi público de um pênis anônimo. Comemorar a pornô chanchada livre de tributos. Comemorar a volúpia do guarda que se pune em uma objeção à própria Natureza. Não se sente digno ao se excitar perante as pernas de uma garotinha muito jovem. Mas, se salva rapidamente ao vê-la desmontada de libidos, nos braços de um rapaz bem adulto.
Aproveito meu Carnaval. Minha vocação a Themis perdoa a juventude que se vulgariza. Minha Themis entende o excesso dos outros. Mas, não se enfurna na morbidez. Porque valoriza, com primazia, a fragrância que existe em cada corpo. O que há no lado de cá.
Neste ano, a novidade da fantasia é a casa enorme, esse mausoléu entregue a mim. Simplesmente a mim. Acordarei sem as dívidas do bom dia. Descerei a escadaria e preparei o recheio a meu pão que, bem cedo, o padeiro deixará na grade.
Ai, a solidão me enche de frenesi. O exercício esporádico da Misantropia é salutar.

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