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12 de fevereiro de 2007

Corte de Cabelo

Vanice comprou uma vastidão de revistas no sebo. Todas com as capas referentes a cortes de cabelo. Corte de cabelo. Vale a pena, principalmente quando os dias ficam comprometidos meramente com a hóstia previsível do trabalho, da escola, da ioga, da ginástica. Mudança. Já.
Enquanto os esquemas não variam, enquanto a Economia não oscila, enquanto meu emprego não melhora, enquanto me fatigo com as mesmas ideologias, com a pilha de livros e com a MPB, opto por alterar a jardinagem.
Que novidade. Sou uma intrusa nos textos que não me pertencem... Que fazem parte desse mundo lúdico da minha consciência e do meu devaneio.
A moça vasculhou todas as revistas, analisou cabelo por cabelo... Deu uma grifada naqueles que condiziam com suas pretensões e que combinavam com a forma do próprio rosto. Mostrou à Dorarite, sua mãe. Ela enumerou objeções a todos os modelos de corte. Ah! Minha filha, explica para o cabeleireiro direitinho o que você quer. Vá na sorte. Existe sempre aquele indivíduo que, por mais que o Tempo o faça de presa, prevalece com a apreensão; apreensão perante circunstâncias irrelevantes como cortar o cabelo, fazer uma tatuagem. Não há nada de nocivo em um cabelo mal cortado. A tatuagem, caso não goste, será devorada – muito rapidamente – pelo Leão da Fatalidade.
Vanice preocupa-se com a vicissitude da sua psique. Concordo com ela. Isso é pretexto à hesitação, ao medo. Ainda assim, o medo vai culminar no funil dos finais... Se há um final, uma morte, um assassinato, por que cultivar essa horta que aflige? Por quê?
Corte de cabelo é a ciranda do Lazer. Vamos ousar ser deus. Brincar com simetrias e assimetrias. Olharmo-nos ao espelho e imaginar uma forma redonda, uma franja reta e desfiada. Tudo é deus. Continuo devota do meu Panteísmo.

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