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20 de fevereiro de 2007

Pés

Olhando, parece um ser bruto. Os pés, conforme nosso comando, podem tatear suavemente a superfície, extraindo dela a textura, a temperatura e, conseqüentemente, uma afinidade ou uma ojeriza a ela. A ginástica do pé fica sob nossa vontade, embora a composição que o forma esteja à mercê da Vida. Como os grandes rochedos que ilustram a interseção entre o fundo dos mares com a parte rasa, com a praia. O pé, levitando a menos ortodoxa conotação, é uma rocha que corresponde à gastura a que o tempo o submeteu.
Os dedos dos nordestinos de pouco tempo e, no entanto, antigos de trabalho, ficam estáticos. Os sóis, as chuvas, o incessante movimento, os calos os mumificaram. A vocação a contorcionistas cessou-lhes.
Eles resistiram a mil guerras, feridas abertas. Não precisam de histórias, não precisam de um ouvinte. O sentido instantâneo da visão dá o desfecho à trajetória do instrumento andante.

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