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5 de julho de 2007

Escola

Quando pequena, Melissa abstraía com demasia na sala de aula. Os professores olhavam a ela com uma certa preocupação de ela ter dificuldade em concentrar-se; inequívoco: a garota não pousava a atenção sobre o que estava sendo dito. Por instinto, apresentava uma ojeriza a didáticas e a maneiras simplistas de se explicar as coisas; desde as convencionadas às mais transcendentes. E involuntariamente se distraía em outros mundos mudos, embora com oratórias muito mais atraentes.
Em vez de memorizar a representação das coisas e o seu respectivo significado, fazia viagens psicodélicas para culminar no senso comum. Pensava que tudo que havia chegado à obviedade demandou muito estudo, muita filosofia. E, assim, pouco lhe importava a matemática explícita das ciências.
Uma vez, numa aula de redação, a professora pediu aos alunos que fizessem um desenho bem original e o explicassem. Melissa transgrediu o pedido, e esboçou os símbolos que aludem ao feminino e ao masculino. Abaixo da ilustração, escreveu: meu desenho, professora, pode não ser original, mas minha idéia é. E continuou: enquanto todo mundo se satisfaz ao saber que o símbolo tal representa as mulheres e o outro, os homens, eu estabeleci uma relação entre os símbolos e o mundo palpável e quis lhe contar: as meninas devem permanecer virgens para serem respeitadas, endeusadas, canonizadas; por isso, na região da genitália, o bonequinho recebeu um traço que, numa referência a outro símbolo, dá-nos a idéia de proibido. Os homens, no entanto, devem cultivar o falo sempre ereto, rígido, em devoção à masculinidade que lhes cabe. Portanto, dá-lhe ao bonequinho uma seta ascendente.
A inteligência vem do perscrutar individual que algumas raras pessoas têm; elas analisam o espectro das coisas nítidas e inquestionáveis aos comuns.

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