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12 de fevereiro de 2008

Se ele entende a maldade como maldade


Pedro Paulo estava defecando no banheiro.
Seus dois irmãos – Verônica e Leonardo – conversam na sala de televisão.
Sua mãe, ainda que não se lhe saiba o destino neste exato momento, compreende. O kit de sobrevivência de dona Maria Carmem, em vez de Oxigênio, valores recomendáveis de pressão e de temperatura, é o compreender intransitivo. Ela compreende. Ainda que seja bandido, banido, desvalido, esteta. Não importa sua causa. Ela compreende.
Quanto conforto, não?
Pedro Paulo foi traído por sua mulher. Faz dois anos que eles se casaram e ele a ama muito. O perdão para ele é natural. Não demanda, sequer, muitos esforços. A maior dificuldade é resistir às verdades dos seus congêneres.
Hierarquia é papo furado.
Pedir conselho para a mesma espécie, principalmente se ela é contemporânea ao que hesita, não tem muita significância. Estamos todos sob as mesmas experiências, sob a mesma receita divina, afinal.
Pedro Paulo aproveita dos momentos de claustro para dar chance, meio involuntariamente, às catarses. A um homem contemporizado à velocidade do século XXI, quinze minutos de banho, dez minutos de evacuação impelem à reflexão.
Decidiu. Irá perdoar Ana Flávia, a esposa.
Agora produz, em sua alquimia intrínseca, os antídotos à censura – velada ou evidente – que emana das pessoas que se entrosam com o extrínseco, que se identificam com automóveis, com o talhe de Armani. E fazem fofoca demasiadamente.
Pedro Paulo não está muito aquém do atraso dos que envenenam as circunstâncias. As pessoas. Porque sua linfa muda de química perante a maldade do outro. A freqüência coincide. Se ele interpreta a maldade como maldade, é porque a bondade anda esquálida.

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