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25 de fevereiro de 2008

Civilização das formigas


Lancharam.
Oficialmente, era a última refeição do dia: mesa posta, chaleira borbulhando, pão esfumaçando, pão-de-ló inteiro, guardanapo. Talheres contados.
No entanto, conforme o grau de civilidade, há sempre a gordinha que se excede, espera a casa se aquietar e, a passos de gato, penetra a geladeira. Empanturra-se. Convoca a equipe do Grande Metabolismo para lhe atuar. E o Mundo sempre se farta da esperança de que a qualquer momento irá descansar.
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Sobre a pia, um amontoado de vasilhas – ressaca da última refeição.
Pares de pires, pratos, talheres, pocinhas de água espalhadas pelo granito. Uma xícara com destroços de café com açúcar. De repente, uma fileira de formigas recém-civilizadas que encontram, subitamente, um hábitat. Elas são de tom acaju. E exploram a superfície encontrada. Deleitam-se. Todavia, temem os adventos da Evolução. Elas estão atônitas perante um movimento humano que lhes está próximo. A mulher gorda – com a docilidade que rebaixa e até perdoa a feiúra – apaga as luzes da cozinha e deixa as formigas viverem o êxtase da descoberta.

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