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9 de fevereiro de 2008

Sujeito Oculto


Mayara namorou Marcos por quase três anos. Agora – sábado, dez e meia da noite – ela está sem banho, com os cabelos oleosos, sobre o colchão da cama do quarto de princesa que lhe foi feito sob medida e gosto. Ela chora muito. Desde pequena. Vai à escola e chora. Almoça e se atenta ao noticiário e chora. Perscruta a vida dos próximos e dos distantes e chora.
Curiosa que é, quis, cedo, descobrir por que aquela sensibilidade toda a escolhera. Teorias espíritas. Horóscopos. Destino. Acaso. Pensou possibilidades. Desbotou-se. Provavelmente, o ter sido materializada àquela época justifica a cruz de uma sensibilidade enorme e perene.
Aos dezessete anos – numa era Pós – Moderna, em que, quanto antes se antecipar nos conhecimentos empíricos melhor – ela experimentou o beijo. Apresentou-lhe inúmeras objeções, mas como os costumes se travestem, por vezes, de natureza, ela insistiu beijar. Beijou poucos. Mas a mil por hora. Alguns foram descartáveis como a duração de um copo plástico em festinha de criança que começa às 18h30 e termina às 21h30. Outros a acompanharam por algumas semanas, por algumas sessões informais de conhecimento mútuo da psicologia prática.
Marcos a decepcionou. Divertiu-a. Excitou-a. Trouxe-lhe presentinhos impregnados de metáforas e declarações. Transformou cada canto por onde passou com ela em vida. Como o Deus materializando o Nada em qualquer coisa. Marcos foi magia. No entanto, metástase de descaso.
Fatal.
Hedonismo é nocivo. As seqüelas vêm à tona.
Marcos não mais pertence às citações, às perguntas casuais que chegam a Mayara, às fotografias acopladas a quadros de ímã. Todavia, está subliminar em tudo que a moça diz. E em tudo que ela faz. Na inércia. Na dinâmica.
As memórias são sempre contemporâneas. Nunca se tornam obsoletas.

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