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9 de setembro de 2006

Prognósticos líricos

Maria Inês inocula verdades a cada coisa viva que intercepta a dinâmica de seu tempo. Uma prepotência que se revela nas disponibilidades dos gestos causa-lhe um frenesi instantâneo. Como os excrementos são artesanatos instantâneos da Fatalidade.
Os dois rapazes mais velhos, nos quais ela pousa o olhar, exalam destreza de leão fajutamente disfarçado. Salivam uma carne que atingiu seu estopim. Querem metonímia de corpos. Um opta por um bumbum que tem sua própria oratória. Outro escolhe seios que quase se esparramam do sutiã. Leões ingenuamente incorporados na linhagem humana. Quantos equívocos do Divino.
A mulher se produziu. Antecipou momentos e, numa certeza consistente, acreditou que a Vida poderia dar-lhe, naquela noite, um broto de inovação sentimental. À espera de uma carona, com perfeita assistência a todos os sentidos (olhos maquiados, nariz alimentando-se de fragrância noturna, boca pintada, unhas pintadas, anéis, música que eriça a adrenalina positiva), ficava esboçando a própria arte de ilustrar anseios sem demandar despistes.
Estranha mania de ter fé na vida. Estranha mania de ter fé na vida. Estranha mania de ter fé na vida. Estranha mania de ter fé na vida. Estranha mania de ter fé na vida. O veredicto de um Mundo Novo penetra-lhe. Várias vezes, em projetos involuntários, Novos Mundos se lhe apresentavam. A insipidez da peregrinação de dia-após-dia se exaure. Como salvação dos vitais, os deuses vêm e – como um enfeitezinho de docinho caseiro – põem fantasias nas casas humanas. Alegorias que sucumbem ao primeiro ventinho de melancolia. Ao fim, maquiagem fora dos focos... Reinício da decadência inevitável de cada dia.

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